O Centro Burnier Fé e Justiça, de Cuiabá, em parceria com o Instituto Humanitas Unisinos, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic) e o movimento Círculo da Paz, promoveram ciclo de videoforum sobre “As religiões do mundo e a ética global”.
A primeira exibição, ocorrida no dia 6 de maio, reuniu pessoas interessadas em conhecer um pouco mais da busca do ser humano pelo divino em diversos pontos do planeta, seja nas cidades e até mesmo em comunidades isoladas, informou a jornalista Keka Werneck.
A participação crescente empolgou os organizadores. O videoforum exibiu documentários e abriu o debate, sempre coordenado por um especialista. Para esta tarefa o grupo concordou com o teólogo Hans Küng. Ele disse que não haverá paz no mundo sem o diálogo entre as religiões e não haverá diálogo entre as religiões sem que se conheçam e se respeitem, lembrou o padre João Inácio Werner.
Na exibição do fórum sobre Judaísmo, participou dos debater o cirurgião Jairo Lew; no Cristianismo, o padre José Cobo; o Islamismo, o sheik egípcio Omar Hussein Hallak; Religiões Chinesas, com o professor Luiz Augusto Passos; o Budismo, com Ivan Deus Ribas; o Hinduísmo, com a professora Darcy Gomes Neto; as Religiões Tribais, com o pastor luterano e militante de Direitos Humanos Teobaldo Witter; as Religiões Afro-Brasileiras, com o educador e babalorixá João Bosco; e as religiões indígenas em Mato Grosso, com a professora indígena Darlene Taukane.
As sessões começaram com o Judaísmo, no dia 6 de maio, reunindo mais de 60 pessoas no debate sobre a primeira religião monoteísta do mundo. A comunidade judaica em Cuiabá e Mato Grosso é muito pequena. “Eu tentei identificar os judeus aqui uma vez e só consegui reunir 12 famílias, todas misturadas, a começar pela minha”, brincou Lew.
O documentário focou nas três figuras proféticas do Judaísmo: Abraão, Moisés e Davi. Lew fez questão de frisar que Deus, para o Judaísmo, não é o déspota que aparece no Velho Testamento, mas um Deus salvador e libertador.
No dia 13 de maio, o padre espanhol José Cobo, mestre em Teologia, explicou que o Cristianismo é um movimento humano amplo, orientado por Jesus Cristo. O documentário alinhavou o desenvolvimento do Cristianismo, desde o primitivo, praticado na época de Jesus, até o atual. Mostrou o Cristianismo conservador europeu, forte em ritos e vestimentas, focando a Igreja Ortodoxa russa.
Lembrou o forte questionamento levantado a partir de 1516 pelo monge alemão Martin Lutero, considerado pai do Protestantismo e reformador da Igreja Católica, conhecido por ter questionado as indulgências, a venda do perdão dos pecados pela Igreja de Roma. E apresentou o Cristianismo atual, como o praticado na América Latina, que busca resgatar a figura de um Jesus Cristo de pés descalços ao lado dos pobres.
Uma religião rigorosa na subserviência a Deus. Assim o sheikh egípcio Amer Hikal mostrou o Islamismo, numa palestra em árabe, traduzido pelo muçulmano brasileiro, Omar Hussein Hallak, no terceiro encontro, no dia 20 de maio.
O egípcio Amer Hikal é o líder islamita em Mato Grosso e enfatiza que a regra é seguir à risca o Alcorão, livro sagrado do Islamismo, herança de Maomé, chamado pelos islâmicos de profeta Mohamed. “É seguir as regras ou a pessoa não é muçulmana”. A ameaça do inferno está presente em várias falas do líder, como punição para os que não cumprem as verdadeiras leis de Deus que constam no Alcorão.
Cenas da lindíssima “Dança dos Leões”, milenar tradição oriental que tem o significado de trazer uma chuva de boa sorte, abriu o vídeo sobre as Religiões Chinesas, apresentado na quinta-feira, 27 de maio.
Em meio a essa China de paisagens deslumbrantes, de imensas dimensões geográficas, que mistura o tradicional ao contemporâneo, foram mostrados o Confucionismo, o Taoísmo, o Budismo e o Cristianismo de raiz chinesa. O teólogo Luiz Augusto Passos, professor da Universidade Federal de Mato Grosso, lembrou ainda o Xintoísmo, que não aparece no vídeo, e outras crenças chinesas. Ele disse que o melhor que temos para aprender com os chineses no campo da fé é o caminho para o ‘esvaziamento’ e a reconciliação com a terra.
Numa palestra emotiva, Ivan Deus Ribas, da Associação Meditar de Cuiabá, acolheu a plateia presente no quinto encontro do videoforum, realizado no dia 10 de junho, sobre o Budismo. Ribas conduziu o grupo para 2.600 anos atrás, fazendo uma viagem ao mundo oriental. O Budismo nasceu na Índia, foi se ramificando por diversos países, até chegar ao Brasil, onde ainda tenta encontrar identidade própria. “Quem medita, toma contato com as próprias dificuldades”, afirmou.
O sexto encontro do videoforum foi realizado no dia 17 de junho. A professora doutora aposentada da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Darcy Gomes Neto, falou sobre esta complexa religião, que, na visão do autor do documentário, Hans Kung, é alegre e não ignora a força da sexualidade.
O Hinduísmo é tido como a mais antiga das religiões com registros sagrados, politeísta e panteísta, extremamente mística e rica simbolicamente, com origem na Índia antiga. A enorme pobreza na qual está inserida foi o foco da palestrante. O documentário seguiu as águas do rio Ganges, símbolo desta fé, que propõe a purificação do corpo e da mente.
Os aborígenes da Austrália, que há mais de 50 mil anos são nômades, têm um profundo respeito à natureza, ao ponto de se confundirem com ela. Quando vão beber a água em rios e fontes, eles lançam, em primeiro lugar, uma pedra no manancial, pedindo licença.
Nessa relação profunda com o meio ambiente, os nômades da Austrália também buscam Deus, embora tenham sido difamados e até proscritos por séculos pela antropologia e a teologia, sendo tratados como seres sem cultura e sem religião. Na África, uma comunidade do Zimbábue também chamada de selvagem, grosseira e destituída de cultura e religião, mostrou com seus ritos de cura do corpo e da alma e do exorcismo, que tem tradição e forte crença.
Por esses dois caminhos, o autor do documentário “Religiões Tribais”, o suíço Hans Küng, tenta explicar porque, mesmo em rincões do mundo, o ser humano reza e constrói sua espiritualidade.
Este foi o sétimo documentário do videoforum, exibido dia 24 de junho. As pessoas presentes no 8º encontro, sobre “As religiões do mundo e a ética global”, realizado no dia 1 de julho, em Cuiabá, sobre as Religiões Afro-brasileiras, desconheciam que a palavra macumba não tem raiz africana, mas sim indígena e significa rezar.
Foi uma noite para quebrar preconceitos e obter informações novas e mais precisas sobre o que seja o candomblé, a umbanda e outras religiões brasileiras, com raiz africana. O vídeoforum pode ser encontrado na página do Centro Burnier de Fé e Justiça (http://www.centroburnier.com.br/).
Fonte: ALC
negrito: Portal Luteranos