O teólogo e escritor Rubem Alves me fez refletir sobre minha postura espiritual numa crônica onde relembra o encontro com uma velha amiga, não vista há muito tempo, que havia se convertido. Agora ela era “crente” e “conquistadora” de novos adeptos à sua fé.
Primeiro, será que sou “crente”? Estou consciente sobre qual é ou são as minhas verdades? Afinal, vivo no Brasil, país cristão. Pelo menos é o que a grande maioria dos brasileiros cita no censo do IBGE. Ainda mais, venho de berço luterano, culto cristão muito antigo e tradicional. Mas, será que isso, de fato, me torna um cristão “crente”? Sei que a religião está intimamente ligada à cultura. Posso, então, ter certos paradigmas e posições éticas, não por princípios pessoais refletidos e assumidos, mas simplesmente como bagagem que recebi de minha família ou sociedade na qual estou inserido. Evidentemente, para que eu seja de fato um cristão convicto, preciso conhecer quais são os princípios da fé cristã, assumindo-os conscientemente no meu viver diário. A fé atuante não pode ser apenas herdada, antes precisa ser assumida. Por isso, muito que vemos por aí, são pessoas assumindo e defendendo uma cultura cristã. E, muitas vezes nem isso, apenas certas leis, em certos momentos, como convém. Noutros, sem o menor constrangimento, se nega a fé cristã em detrimentos de outra nova moda que surge. Em suma, se quero ser cristão, preciso conhecer a minha fé e vivê-la de modo regular.
Segundo, será que o fato de eu ter uma crença me dá o direito de querer conquistar outros para o mesmo caminho, às vezes usando inclusive à força? Observando o comportamento de Jesus Cristo, aquele que deu origem ao cristianismo, notamos que, nem mesmo ele, obrigou ou importunou alguém para segui-lo. Sempre houve liberdade de escolha. Àqueles que o seguiam de maneira irrefletida foram chamados à atenção sobre o compromisso que era viver na fé. Jesus respeitava as pessoas. Era tolerante com o diferente. Somente ao hipócrita é que combatia com rigor. Justamente aqueles que abusavam dos demais, manipulando a fé, os quais não viviam o que pregavam, é que Jesus questionava sem medida. A maior arma usada por Cristo no chamado às pessoas à fé foi o amor, através de suas palavras e atitudes. Quem sabe podemos aprender com ele, revelando ao mundo o amor que se entrega a Deus e busca o próximo em suas necessidades. Quem sabe podemos aprender com ele a questionar àqueles que vivem uma fé aparente e não vivem o que pregam.
Resumindo, os dias atuais, mais do que nunca, necessitam de pessoas que, de fato, conheçam sua fé (não só a cristã), defendendo-a com conhecimento de causa. Mas, não esquecendo jamais o amor, a capacidade de ouvir, defender suas posições, trocar idéias, fazendo com que haja entendimento e crescimento entre as pessoas.
P. Euclécio Schieck