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Não por força, nem por violência…

Uma Paróquia na serra gaúcha foi o meu primeiro campo de trabalho. O atendimento de onze Comunidades Evangélicas espalhadas em quatro municípios foi uma tarefa assustadora para um rapaz recém formado. Levei alguns anos até lembrar um pouco das pessoas de cada lugar diferente. Era um único culto por mês em cada local de pregação. E olha lá; quando chovia no fim de semana, o culto era recuperado na quarta feira ou sexta feira seguinte – isso quando o tempo permitia. Se não, era cancelado. Viagens feitas com jipe com capota de lona…

Naquele tempo tive amizade com um missionário metodista americano instalado na cidade vizinha. Ele atendia um campo de trabalho pequeno, com apenas uns 10% do número de membros aos quais eu tinha que dar atendimento, mas aos quais ele podia oferecer um culto a cada domingo. Eu o invejava por isso.

Quando certa vez lhe contei das dificuldades geográficas da minha Paróquia ele muito se admirou que uma Igreja pudesse ficar fechada em três domingos do mês. Quando eu lhe disse, então, que em épocas de chuva no inverno aquele culto mensal às vezes nem acontecia, ele ficou ainda mais admirado e perguntou: “Quando você não pode ira para celebrar o culto, quem, então, o dirige?”, e, um pouco brincalhão, acrescentou: “Já sei, é o Espírito Santo!”

O meu amigo Alberto naquele momento não acreditou nas suas próprias palavras. Nem eu. Mas aquela palavra jogada fora na conversa, dali para frente me permaneceu na lembrança como uma advertência.

Se o Espírito Santo de Deus não estiver pregando, de nada adianta o culto, seja mensal ou semanal! O texto sobre a intercessão do Espírito de Rm 8.26 dali para frente se tornou o meu versículo preferido da Bíblia. Era a Ele que eu precisava, quando olhava para o grande número de pessoas que me foram confiadas e eu nem sabia onde começar a trabalhar.

Sendo pastor da Igreja Luterana não posso correr atrás de cada pessoa. Por natureza somos uma Igreja Popular. O máximo que podemos fazer é BALIZAR levemente a condução da vida de fé do nosso povo através de uma prédica bem preparada. Preparada com livros, com oração e com respeito pelo que Deus tem feito na vida dos ouvintes no correr das gerações até aquele momento.

Hoje minha mulher e eu estamos aposentados. A cachorrinha do nosso vizinho sempre nos vem visitar, depois que seus donos vão trabalhar. Minha mulher já fez amizade com ela, que até já se deixa afagar. Eu também gostaria que o animal se deixasse alisar o pêlo – mas de mim ele passa longe. É que eu logo quero pegar no bicho, tomá-lo no colo ou dar-lhe banho. Mas isso ela recusa. Por isso ela prefere minha mulher, que não fica sempre mexendo nela, mas carinhosamente a faz deitar sobre o pelego e a cobre com uma cobertinha – e a deixa sossegada…

Minha mulher é mais sábia do que eu, e mais humilde. Já na criação dos nossos filhos ela não se julgava capaz nem chamada a jogar algum método pedagógico sobre as crianças. O máximo que ela fazia era BALIZAR um pouco a natureza, confiando, protegendo, incentivando, se alegrando, orando, amparando, dando liberdade… Enquanto que a minha atitude de homem era mais de impor por força, por disciplina e por treinamento um novo comportamento – o que hoje vejo como um erro.

É preciso ter mais fé na natureza das coisas. Também no Espírito de Deus, que não age nem por força nem por violência (Zc 4.6) – e mesmo assim alcança os seus objetivos…

Em parte alguma da Bíblia nem profetas nem apóstolos saíam de casa para pregar com efeitos “impactantes”. Isso é coisa dos produtores de marketing com seus slogans de meias verdades que respingaram para dentro da Igreja.

Os velhos romanos tinham um provérbio que diz: “Non multa, sed multum.” – Não “muitas coisas”, “mas muito”. Sim, a intercessão do Espírito Santo de nosso Deus nos permite ficar tranqüilos, mesmo se não conseguimos fazer “muitas coisas” como talvez algum colega de ministério ou pastor de outra denominação. Eu até acredito que fazendo “muitas coisas” acabamos “abafando o Espírito” e espantando mais os membros da nossa Igreja do que se para início de conversa os deixamos em paz – para avançar apenas quando somos procurados e perguntados.

P. Werner J. Dietz