Zezinho tinha 10 anos. Era famoso na Vila da Saudade. Ele era o melhor fazedor de pipas. De todos os tamanhos, cores e materiais. Para ele, uma sombrinha velha jogada na beira da estrada era material de primeira. Quando enxergava uma pilha de lixo já ia selecionando o que lhe servia. Mas, ele não fabricava apenas, gostava demais também de empinar as pipas. Fazia manobras radicais, com pouco ou muito vento, nos lugares mais variados possíveis. Zezinho tinha uma grande virtude. Não era egoísta. Sempre estava pronto para repartir seus conhecimentos, seja na construção de pipas, bem como na arte de empiná-las. Por isso, tinha muitos amigos. Todos o cumprimentavam. Todos gostavam deles, menos…
Seu Geraldo era o pai do Zezinho. Admirava o filho, mas brigava com ele, quando, ao invés de brincar, deveria estar estudando. Ao invés de ficar na rua, deveria estar em casa fazendo seus deveres. Volta e meia, o menino entrava em castigo. Mas, logo faziam um acerto de contas. Voltava a reinar a paz entre pai e filho. Assim levavam a vida.
Certo dia, ao entardecer, seu Geraldo recebeu o aviso de que sua irmã estava bem doente. Noutro dia, pela manhã deveria ir até Curitiba. Zezinho foi convidado para viajar junto. Cedo embarcaram. Perto do meio dia estavam em Curitiba. Geraldo decidiu fazer o trajeto a pé. Aquele dia, em especial, o movimento no centro era fora do normal. Muita gente, carro, barulho… Zezinho estava espantado e zonzo. Viram um palhaço, um carrão esporte, pessoas diferentes, até que… Ficou paralisado diante de uma vitrine, onde à amostra havia uma bicicleta de marcha, amortecedor e freio a disco. Era o seu sonho.
Após breves segundos, olhou ao lado, percebendo que tinha perdido seu pai de vista. Paiê! Paiê! Olhou pra cá, prá lá, uns passinhos e nada. Seu Geraldo sumiu. Lembrava somente que ele estava de boné azul.
Zezinho sentiu uma forte dor no estômago, misto de fome e medo. O que fazer? Sentou-se num cantinho e esperou. O medo aumentava. A fome, também. Até que se lembrou do Culto Infantil. Na igreja, a professora dizia que nunca estamos sozinhos. Deus está sempre com a gente. E, quando precisamos, podemos lhe pedir ajuda. Assim, bem baixinho ele fez sua oração ao Pai do céu, pedindo socorro. Ao terminar sua prece olhou ao céu e viu uma linda nuvem, calmamente a vagar no espaço. Teve, então, uma idéia, uma “inspiração” divina. Viu um moço vendendo algodão doce. Havia alguns palitos jogados ao chão, à sua volta. Viu uma padaria. Educadamente pediu algumas folhas de papel. De um camelô conseguiu um retrós de linha. Só faltava a cola, que arranjou nos Correios. Assim construiu, com habilidade única, sua pipa. O desafio era grande, nunca visto antes, mas sem dificuldade empinou sua pipa “da hora” no meio daquele povo em movimento.
Um pouco adiante, noutro lado da praça, estava seu Geraldo agarrado no braço do guarda: Por favor, moço, ajude a achar meu menino? Somos de fora. Estamos perdidos. Ao olhar para cima, gritou: Achei! Ele viu a pipa e saiu correndo ao seu encontro. O guardinha não entendeu nada. Em poucos minutos, pai e filho estavam abraçados. Geraldo agradeceu a Deus pelo “dom” do seu filho: Construir e empinar pipa. Agradeceu por estarem juntos de novo.
P. Euclécio Schieck