|

Foi no princípio de 1975 que se reuniram professores da Faculdade de Teologia com o objetivo de refletir sobre a publicação de auxílios homiléticos. Nesse grupo de professores se tomaram as decisões que levaram à concretização da ideia. Do primeiro Conselho Editorial, que teve a tarefa de traçar as primeiras orientações e sugerir nomes de autores, fizeram parte Walter Altmann e Nelson Kirst. Ambos foram decisivos para o rumo que Proclamar Libertação (PL) foi tomando. Como professor de Homilética recém-ingressado na Faculdade de Teologia, recebi a tarefa de coordenar a publicação. Augusto E. Kunert, pastor 1° vice-presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), procurado por mim, se congratulou com a iniciativa. Rodolfo Schneider, secretário-geral da IECLB, pôs à disposição a soma para iniciar os trabalhos de publicação. Johannes F. Hasenack, da Editora Sinodal, incentivou desde o começo o projeto.

Recordo como foi trabalhosa a revisão dos primeiros manuscritos. Só alguns colegas tinham experiência em escrever. A pontuação, virgulação e acentuação nos trabalhos enviados variavam muito, também a maneira de citar. Eu mesmo tive que comprar algumas gramáticas para entender melhor a lógica da virgulação. Lembro-me que ainda no preparo do volume 3 estávamos aprendendo. A princípio fiquei satisfeito com os tipos maiores que a Editora estava usando na impressão do volume 3. Foi somente depois de publicado o volume que percebi que tipos maiores também significavam um aumento significativo no número de páginas de um livro.

No início de 1976 foi posto em circulação então aquele primeiro volume que inaugurou a série que ora chega ao jubileu de prata. O volume tinha na capa a ilustração de uma porta que é aberta. Os contornos da capa eram de cor roxa. O nome: Proclamar libertação : auxílios homiléticos. Na parte de baixo da capa constava: volume I. O livro continha 22 auxílios homiléticos e era editado pela Faculdade de Teologia em colaboração com pastores da IECLB. Os professores de Teologia eram um esteio entre os autores. PL estava aí, no cenário da IECLB, ainda humilde, mas com boa apresentação, oferecendo pistas para a pregação na realidade de nosso país e de nossa Igreja. A tiragem inicial foi de 300 exemplares. A dúvida levantada por alguns colegas de que os pastores da IECLB não comprariam auxílios homiléticos em português, porque estavam supridos de material homilético da Alemanha, se revelou como infundada. Em verdade, para muitos obreiros/obreiras este seria o principal material de consulta no preparo das pregações nos próximos anos.

O primeiro volume de PL teve uma peculiaridade. Ele oferecia, em parte, dois auxílios homiléticos sobre o mesmo texto. Assim PL queria declarar que não pretendia ideologizar/ bitolar, que não queria dar a resposta final sobre o texto, mas que desejava envolver os pregadores e as pregadoras em um processo de reflexão homilética. PL apostava na responsabilidade própria de cada pregador/ pregadora. Nos volumes seguintes esta particularidade não foi repetida, mas o objetivo estava colocado.

Com seu título, editores e autores confessavam, por outro lado, que estavam convencidos de que a palavra que vem de Deus é palavra libertadora. Quando PL iniciou sua caminhada, havia um questionamento muito duro da atuação e da pregação da Igreja, principalmente entre estudantes de Teologia e pastores jovens. Foi naqueles anos que um grupo de estudantes abandonou a Faculdade de Teologia com o propósito de vivenciar o evangelho ao lado dos pobres. PL queria confessar, nessa situação, já com o seu título, que onde a palavra de Deus vem a nós, todo um mundo de desamor e de injustiças inicia a desmoronar e começa a nascer um mundo alternativo.

Quando, em junho de 1978, foi realizado o primeiro encontro de autores de PL, do qual participaram 37 colegas, não havia dúvidas sobre a continuação de PL. Ele era algo nosso, algo luterano, um auxílio real, e deveria continuar. Nesse encontro se estudaram modelos de auxílios homiléticos e traçaram-se as orientações que prevalecem em grande parte até hoje.

Avaliando a caminhada de PL nestes 25 anos, penso poder afirmar que o seu aparecimento foi um acontecimento essencial na caminhada da IECLB:

1) PL tem oferecido — durante todos esses anos — com regularidade subsídios para pregadores e pregadoras.

2) Com PL começaram a ser publicados no âmbito da IECLB auxílios homiléticos pensados e escritos no Brasil e que tomam em conta a realidade de nossa gente e da Igreja no Brasil.

3) PL veio a ser, através dos anos, o órgão em que mais obreiros e obreiras participam na IECLB de um processo de reflexão exegética/teológica/hermenêutica, que beneficia o todo da Igreja.

4) Através de PL, a IECLB começou a prestar um serviço a igrejas-irmãs no Brasil e na América Latina.

Não é fácil medir o uso real de PL. Uma rápida pesquisa que fiz no Sínodo Paranapanema me leva a suspeitar que PL atinge talvez a metade dos pastores IECLB. Se isto for certo, muito ainda poderá e deverá ser feito para conquistar leitores.

Pensando no futuro, creio que PL terá leitores atentos na medida em que oferecer nos auxílios homiléticos algo que for “nutritivo”. Cada autor/autora deverá estar consciente dessa responsabilidade.

A meu ver, um desafio futuro será o de aprofundar a reflexão homilética. O que é uma linguagem libertadora e o que é uma linguagem que oprime? Como apontar para a vida alternativa na qual o evangelho introduz? Como anunciar o evangelho em tempos em que se propaga o sentimento angustiante de que muitas pessoas estão se tornando supérfluas no mundo globalizado em que vivemos? Como envolver os ouvintes na descoberta libertadora daquilo que em um texto bíblico é eterno e o que nele é humano?

PL poderia complementar, por outro lado, a predominância da exegese histórico-crítica com a oferta de interpretações alternativas. No ano em que PL celebra o seu jubileu de prata rendemos graças a Deus pelas bênçãos que Ele tem derramado através destes auxílios homiléticos sobre a Igreja. É gratificante poder ver que o número de autores que se ocupam com o estudo da palavra de Deus vem aumentando. Que Deus nos conceda também que — como autores/as de PL — sejamos ouvintes atentos de sua palavra a fim de que o que escrevermos nos auxílios homiléticos seja mais do que aquilo que pensamos em nossos corações.