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Série: Quer seja oportuno, quer não

Tema : O índio: Nosso irmão na caminhada pela libertação.

Explicação do tema : A partir dos primeiros contatos com os brancos, os índios foram — e continuam sendo — vítimas da exploração e da opressão. Os órgãos criados pelo Estado para fazer valer os direitos dos índios são extremamente prejudiciais aos interesses destes povos. Até mesmo a igreja cristã, em sua ação missionária, contribuiu em muitos momentos para que o processo de extermínio dos povos indígenas se acelerasse. Nossas escolas e os meios de comunicação sugerem uma imagem distorcida do índio, apresentando-o como ignorante, preguiçoso, incompetente. A discriminação em relação ao índio mostra-se mais acentuada na população que vive em contato direto com ele: as terras dele são cobiçadas, sua madeira e caça são exterminadas. Negócios fraudulentos, bebidas alcoólicas, prostituição e desonestidade estão distorcendo a identidade cultural do índio e corrompem seu legítimo direito de autodeterminação. Neste contexto alienante as comunidades da IECLB não representam exceção, pois também nelas o índio é menosprezado e discriminado.

Texto para a prédica : Efésios 2.11-22

Edson Edílio Streck

l — índio: aquele que deve morrer

1. A partir dos primeiros contatos com os brancos, os índios fo¬ram vítimas da exploração e da opressão.

Os europeus que descobriram a América chamaram de índios os povos que aqui moravam. Viam-nos com olhos de conquistadores, tratando-os como pagãos, não-brancos que precisavam ser devidamente civilizados. Com técnicas mais avançadas e bem armados, os conquistadores conseguiram exterminar milhares de índios, tomando para si os territórios deles. Nosso livros de História costumam apresentar como heróis alguns destes conquistadores: é o caso de bandeirantes como António Raposo Tavares, Domingos Jorge Velho e outros que saíam à caça de índios para vendê-los como escravos.

Aumenta a tentativa de ver os acontecimentos do passado a partir da situação do vencido, do derrotado. O Brasil descoberto pelos portugueses não era um território despovoado. Para nele estabelecer-se era necessário ou dominar ou eliminar os indígenas. Os portugueses fizeram uma coisa e outra: dominaram e eliminaram a população existente … A luta foi desigual . . . Quando não eram mortos pelas armas, o eram pelo trabalho servil, pelas doenças trazidas pelo invasor e pelo abalo de todo o sistema económico e social (M. Bergmann, p. 136 s). O massacre dos índios no litoral brasileiro foi tal que em 1804 se constata: Duzentos e sessenta e três sobreviventes de um século e meio de massacres! (id. p. 144). Estes 263 índios eram os sobreviventes nos estados litorâneos do Nordeste brasileiro.

Os índios também têm olhos e entendimento para ver e analisar a descoberta do Brasil. Os portugueses chegaram numa praia que hoje se chama Bahia. ESSA PRAIA ERA TERRA DA NAÇÃO TUPINIKIM. Fazia muito tempo que os índios Tupinikim moravam naquela terra! … Os portugueses puseram um marco de pedra na terra Tupinikim. Puseram um marco com sinal do Portugal. Puseram um marco com cruz. Cruz da religião do povo de Portugal. Puseram um marco para dizer que aquela terra era do rei de Portugal … Os índios Tupinikim não sabiam que os portugueses tinham vindo ocupar a nossa terra . . . Por isso, eles até deram presente para os portugueses (E. Paula, p. 87 s). Os portugueses só pensavam num jeito de ficar mais ricos! A terra da Europa não dá cana. A nossa terra era boa para plantar cana. Então, os donos das Capitanias ocuparam as terras dos índios, expulsaram os índios de suas terras e começaram a derrubar todas as matas dos índios , , . O açúcar dava muito dinheiro. Todo esse dinheiro enriquecia, cada vez mais, o Governo e os homens ricos de Portugal … Os portugueses pre-cisavam de gente para trabalhar. Precisavam de gente para trabalhar duro, gente para fazer muito açúcar. Mas eles mesmos não queriam trabalhar. . . Eles só queriam escravos para traba-lhar para eles. POR ISSO, ELES COMEÇARAM A PEGAR ÍNDIOS … OS ÍNDIOS, QUE ERAM PESSOAS LIVRES, FO¬RAM FICANDO ESCRAVOS . . .-(id., p. 114ss).

2…. e continuam sendo vítimas da exploração e da opressão.

A exploração continua, porque os conquistadores continuam a cobiçar as terras ainda pertencentes aos índios. Há muitas maneiras de tirar do índio o pouco que lhe pertence. De forma mais sutil, sempre em nome do progresso da nação e da civilização, os índios são acuados. São construídas estradas que rasgam territórios desde sempre habitados por indígenas (BR 174 entre os Waimirí/Atroari, Transaraguaia entre os Javaé e Karajá, Transacreana entre os Kulina e Kaxinauá…). Mineradoras recebem permissão para exploração de minérios em terras desde sempre habitadas por índios, (graças ao Decreto presidencial n? 88985 de novembro de 1983 (Waimirí/Atroari, Yanomani…). As áreas de terras pertencentes aos índios não são demarcadas, motivo que gera os maiores conflitos da atualidade (Pataxó Hã-Hã-Hãe, Txucarramães, Mangueirinha no PR, Toldo Ximbangue em SC…). Parte das terras dos índios é inundada por construções de hidrelétricas (Balbina entre os Waimir/Atroari, Itaipu entre os Avá-Guarani, barragem entre os índios em Ibirama em SC…). Fazendeiros, colonizadoras, posseiros invadem territórios habitados por índios (Tembé, Potiguara, Maxakalí, área no Toldo Ximbangue em SC…). Doenças consideradas normais entre os brancos (sarampo, gripe, varíola e outras) conseguem levar a morte aos índios com incrível rapidez.

Dom Tomás Balduíno, bispo de Goiás, escreveu: E como em quase toda guerra o fim justifica os meios, nesta já foram usadas todas as armas: os cães, os laços, a Winchester 44, a metralhadora, o napalm, o arsênico, as roupas contaminadas com varíola, as pressões político-empresariais no gabinete do Ministério do Interior, o protecionismo oficial entreguista, as mentirosas certidões negativas, as transferências e deportações, a estrada e a cerca, a derrubada e o fogo, o capim e o boi, as declarações oficiais e os oficiais desmentidos, os expurgos e as nomeações no Órgão tutelar, os decretos de direito e suas anulações de fato. Numa palavra: a impostura (Carelli/Severino, p. 4).

Os próprios índios falam dos problemas que sentem, índios Maxakalí escrevem em carta ao deputado Juruna: O fazendeiro quer terra, O índio quer terra. Negro quer terra também. Pobre quer terra também. Por que fazendeiro quer terra só pra ele?… Por que brasileiro mata os índios? Por que brasileiro tem cabeça e não tem miolo? Os índios têm miolo, nunca matou brasileiro. Índio tem dois pé, brasileiro tem dois pé. Índio não é bicho. Nós somos irmãos, filhos de Deus (Porantim n. 55, p. 3). O índio Marcai de Souza falou em nome dos povos indígenas ao Papa João Paulo II quando de sua visita ao Brasil: As tribos indígenas brasileiras estão sendo massacradas, exploradas, mortas por pistoleiros que nos matam como animais. No descobrimento do Brasil, éramos uma grande nação e hoje vivemos como um povo à margem deste país, sem nenhuma condição de vida. Hoje estamos sendo assassinados, vivemos na miséria, assassinados que somos pelos que têm o nosso chão deste grande Brasil, chamado de país cristão (Tempo e Presença n. 189, p. 11). O autor desta denúncia foi assassinado a 25 de novembro de 1983.

3. Os órgãos criados pelo Estado para fazer valer os direitos dos índios são extremamente prejudiciais aos interesses destes povos.

Em 1910 criou-se o Serviço de Proteção ao Índio (SPI) com a intenção de ajudar os índios. O SPI foi extinto em 1967, em meio a acusações de incompetência e corrupção. Em seu lugar foi criada a Fundação Nacional do índio (FUNAI). Em 1973 surgiu o Estatuto do índio, trazendo leis muito bem formuladas – mas é flagrante e vergonhosa a morosidade em executar estas leis. A FUNAI não consegue ser uma ajuda real e eficiente a favor dos povos indígenas. Um exemplo de ajuda da FUNAI: A FUNAI tem procedido à transferência de grupos indígenas, toda vez que estes ocupam terras almejadas por fazendeiros ou cortadas por uma nova estrada. Ora, a transferência costuma levar à destribalização, e mesmo à extinção, pois a tribo não resiste ao transplante. Deste modo, o desmatamento e a colonização da região amazonense está causando o aniquilamento do que resta dos indígenas brasileiros. A FUNAI é apenas o órgão que executa a política praticada pelo país (M. Bergmann, p. 165).

Os índios têm palavras suas para falar do papel do Estado junto a eles. Aílton Krenak comenta: O Estado não pode continuar tratando o índio como inimigo, num processo de guerra de ocupação, em que a população remanescente, hoje, é apenas sobrevivente dessa guerra de ocupação que vem sendo mantida há 400 anos. O Estado não pode continuar querendo matar de desespero, de falta de expectativa de vida, de envergonhamento por pertencer a outra cultura e incapazes de dirigir a própria vida. Nessa guerra sistemática nunca nos deram o status de inimigo. Mas nos deram o status de filhos: são os tutores. Forma muito estranha de combater! (Porantim n. 55, p. 10). O índio Francisco Ribeiro fala dos chefes dos postos da FUNAI em Guarita e São João do Irapuá no RS: Eles chegam aqui com apenas uma mala e saem com um caminhão de coisas. E referindo-se ao novo chefe do posto: … como os outros, não deve durar muito tempo. E vai sair com os bolsos cheios de dinheiro (Zero Hora de 29/01/84, p. 31).

4. Até mesmo a igreja cristã, em sua ação missionária, contribuiu em muitos momentos para que o processo de extermínio dos povos indí¬genas se acelerasse.

Às vezes de forma consciente, outras vezes de modo involuntário, a ação missionária da igreja cristã ajudou os conquistadores, em prejuízo dos índios. Alguns missionários tentaram defender os índios das garras dos colonizadores europeus. Não conseguiam, entretanto, deixar de vê-los a partir da ótica do europeu, com mentalidade de seres brancos que se consideravam superiores. O padre Antônio Vieira, por exemplo, que é apontado como advogado da causa dos índios contra os colonizadores que pretendiam escravizá-los, referia-se a eles com os seguintes adjetivos: brutos animais, feras, bárbaros, incultos, incrédulos, infiéis, rudes, ignorantes, pobres, miseráveis, gentios… A igreja cristã andava de mãos dadas com os conquistadores: viam os índios como pagãos que necessitavam da catequese. Dizia Vieira em seus sermões: Se imos em missões mais largas a reduzir e descer os gentios… imos em serviço da Fé e da Republica, para que tenha mais súbditos a Igreja e mais vassallos a Coroa (Sermão da Epifania, 1662). … nesta missão do rio das Amazonas, que amanhã parte… que português vai de escolta, que não vá fazendo ofício de apóstolo? Não só são apóstolos os missionários, senão também os soldados e capitães; porque todos vão buscar gentios e trazê-los ao lume da fé e ao grémio da Igreja… porque muitas vezes é necessário que os soldados com suas armas abram e franqueiem a porta, para que por esta porta aberta e franqueada se comunique o sangue da redenção e a água do batismo (Sermão do Espírito Santo). Apesar das boas intenções de muitos missionários que inclusive deram a vida pelos índios, sua catequese acabou favorecendo os conquistadores. Povos indígenas reunidos em aldeamentos, domesticados, tornaram-se presa fácil para bandeirantes, caçadores de índios. Este passado comprometedor deve levar a igreja a definir de forma clara a sua tarefa junto aos indígenas nos dias atuais. Pois também hoje ela corre o risco de ser usada pelos poderosos, na tentativa de enfraquecer a resistência dos índios. Quando se coloca entre os índios, a igreja deve tentar ver, em primeiro lugar, quem acabará sendo o beneficiado pela sua ação missionária: conquistadores modernos ou índios remanescentes?

Índios aprendem a articular desta forma a ação missionária da igreja, olhando para o passado: Os donos das Capitanias precisavam de escravos. Eles queriam os índios para serem escravos. Os índios lutavam e resistiam. Os índios fugiam. Os índios não aceitavam trabalhar para o branco. Então o Governador trouxe padres … Naquele tempo, muita gente pensava que o índio não tinha religião. Pensava que o índio não era gente, que índio não tinha alma … Os missionários iam longe atrás dos índios. Iam para todo canto procurar índios … Falavam que só no meio do branco, só na religião do branco o índio poderia viver feliz … O missionário conversava muito com o chefe. Dava presentes para amolecer o chefe. Dava presentes para amolecer o Povo. O missionário ia falando, ia falando, ia falando… Falava até na língua do índio. Ele falava na língua do índio, até o Povo amolecer. Até que o Povo todo aceitava viver no meio do branco… Quando o padre levava os nossos Povos para longe de suas terras, nossas terras ficavam sem dono. Aí, o português rico podia morar na terra do índio, podia plantar cana na terra do índio, podia criar gado na terra do índio. A nossa terra dava muito lucro para os portugueses. A riqueza toda de nossa terra ia para Portugal. Era isso que o Governo queria. Era isso que o rei de Portugal queria… Por isso, os aldeamentos que os padres faziam eram importantes para o Governo de Portugal… Os missionários ensinavam que: Os índios tinham que ter paciência. Cristão bom tem que ser manso. Cristão bom não pode se revoltar. Cristão bom tem que respeitar os padres. Tem que respeitar o governador. Cristão bom tem que aguentar todo sofrimento aqui na terra, para ser feliz, depois, lá no céu. Com esses ensinamentos, os índios foram ficando calados, foram ficando mansos, e trabalhavam, trabalhavam, sem se revoltar… Quando os índios faziam diferente, quando os índios não viviam do jeito que os missionários ensinavam, eles eram castigados (E. Paula, p. 124-149).

5. Nossas escolas e os meios de comunicação sugerem uma imagem distorcida do índio, apresentando-o como ignorante, preguiçoso, incompetente.

Em livro didático para a quarta série do 1º. grau apresenta o seguinte diálogo entre índio e bandeirante:

Índio — Você quer me explicar, Bandeirante, qual é a diferença entre entradas e bandeiras?

Bandeirante — As bandeiras eram expedições, geralmente particulares, organizadas pela necessidade de encontrar mão-de-obra para a lavoura (…)

Índio — Prazer em conhecê-lo, sr. Bandeirante. Os brasileiros agradecem a magnífica contribuição que vocês deram à nossa Pátria (Porantim n. 55, p. 16).

Desta e de outras formas, livros didáticos e meios de comunicação criam nos adolescentes e na opinião pública uma imagem do índio que não passa de caricatura: filmes do far-west norte-americano mostram índios ignorantes que em táticas suicidas são constantemente derrotados pelos inteligentes e heroicos soldados da cavalaria; pessoas do porte de um ministro do atual go-verno apontam o índio como um ser aculturado exótico; programas de humor na televisão apresentam o índio como uma pessoa ridícula; em momentos distintos os índios são apresentados como bêbados, preguiçosos, antropófagos, ignorantes, selvagens, vingativos, supersticiosos, polígamos, etc. Esta imagem interessa sobremodo a todos aqueles que querem tirar do índio o pouco que lhe resta em terra, dignidade, honra, direitos, orgulho … Esta imagem vem ao encontro da ideia de que é necessário levar aos índios as vantagens da civilização dos brancos, salvando-os da ignorância.

Daniel Matenho Cabixi, índio Paresi, usa estas palavras para falar de seus sentimentos em relação aos brancos que o observam: … Vi muitas pessoas postarem-se diante de mim, um índio, e ficar horas e horas a olhar-me. Além de me lançarem uma série de perguntas, entre elas, se não existe mais índio brabo. Penso comigo: que estarão eles pensando? Esforço-me para penetrar em seus pensamentos. Afinal, um descendente de índios selvagens, descendente de seres mitológicos, índios, está postado diante deles, de calças, camisa e sapatos. Neste momento, a imaginação desse povo simples voa pelo mundo da fantasia. Como será que vivem? O que comem? Será que ele pensa igual! a nós? Será descendente de comedores de gente? Terá ele provado alguma carne humana? Tem ele algum sentimento humano de amor e compaixão? Enfim, percebo que as interpretações e comparações que nos fazem não passam da categoria de animais exóticos que habitam a selva (Terra Sim…, p. 6).

6. A discriminação em relação ao índio mostra-se mais acentuada na população que vive em contato direto com ele: as terras dele são cobiçadas, sua madeira e caça são exterminadas.

São inúmeros os conflitos criados pelas pessoas que se aproximam dos índios, de sul a norte e de leste a oeste em nosso país. O que aconteceu aos Kulina e Kaxinauá tem acontecido a praticamente todos os povos indígenas em contato com os brancos: … o contato das populações nativas com os brancos trouxe as doenças contagiosas, além da luta pela terra, que provocou massacres de aldeias inteiras, com o objetivo de limpar a área para a instalação dos seringais. O resultado foi a quase exterminação das tribos. Hoje, os Kulina e os Kaxinauá não chegam a 600 índios (Informação IECLB, n. 59, p. 7). A constatação do P. Helmuth Burger revela o causador dos conflitos: … todos os conflitos sérios são provocados por não-índios… (idem, p. 4).

O índio Natalino Góg Crespo, monitor bilíngue, comenta os arrendamentos das terras indígenas a colonos, causa de violentos choques em Guarita no RS e em outras áreas: … pelo que vejo sobre arrendamento é os nosso irmão não índio ensinaram errado. Porque os nosso irmão não índio oferecem dinheirinhos por terra para os índios. Isso eu não acho certo meus irmãos em Cristo (Kanhgág Jagfy-vi-ti n. 10, p. 2),

7. Negócios fraudulentos, bebidas alcoólicas, prostituição e desonestidade estão distorcendo a identidade cultural do índio e corrompem seu legítimo direito de autodeterminação.

Para conseguir seus intentos, os colonizadores usam todos os meios possíveis para exterminar o índio. Separá-lo de seus costumes, afastá-lo de sua tradição, levar a ele vícios da organização social dos brancos, ensiná-lo a ter vergonha de ser índio: são alguns dos meios usados para afastar o índio do que ainda é seu. Alguns elementos da civilização branca penetram, desta forma, na organização social de grupos indígenas, levando-os ao abandono do seu passado e acelerando assim a sua decadência. O comércio veio substituir o costume natural de repartir, trocar, conservar a natureza de forma racional, compartilhar. Bebidas alcoólicas e prostituição trouxeram a desagregação a muitos grupos. Dinheiro trouxe a corrupção, a venda e a locação ilegal de terras e madeira. A vergonha de ser índio, o consequente desejo de ser branco, fez com que maus exemplos de nossa civilização fossem copiados: o abuso de poder (certos chefes têm exércitos particulares e abusam do poder da mesma forma como soldados brancos os tratam), a divisão interna da tribo em classes sociais que se combatem e exploram … Palavras de quem atua entre os índios no Acre: … quando foram abertos os seringais nas áreas indígenas: a entrada de pessoas estranhas levou o alcoolismo e a prostituição ao meio indígena, além de provocar a exploração do trabalho do índio em regime de semi-escravidão … por trás das medidas estão interesses de grandes empresas estrangeiras de exploração agrícola e mineral, além da pressão para se liberar as terras indígenas para exploração (Informação IECLB, p. 6).

Os índios veem assim este problema: Hoje em dia, os donos das fazendas, os donos dos garimpos, os donos dos seringais, usam o gerente, usam o gato para enganar os índios, para os índios acharem bom trabalhar para eles. Então o gato, o gerente, ficam amigos dos índios. Dão presentes, dão camisa, fumo, cachaça. E os índios acham que é bom trabalhar nas fazendas, nos garimpes, nos seringais. Os índios pensam que estão ganhando dinheiro, e até acham que vão ficar ricos. Mas quem fica rico mesmo é: o dono da fazenda, o dono do seringai, o dono do garimpo. ELES FICAM RICOS COM O TRABALHO DOS ÍNDIOS. Os índios mesmos são explorados e ganham muito pouco dinheiro (E. Paula, p. 121).

8. Neste contexto alienante as comunidades da IECLB não representam exceção, pois também nelas o índio é menosprezado e discriminado.

O tema índio foi escolhido como uma das prioridades da IECLB nos últimos anos e para os próximos anos. Ela atua em áreas indígenas entre os Kulina no Acre e no Toldo Guarita no RS. São passos importantes, mas pequenos quando comparados aos muitos desafios que envolvem a questão indígena. Se a nível de cúpula e de pequenos grupos na IECLB já existe o conhecimento da necessidade de apoiar o índio na sua luta por justiça, a nível de comunidade ainda há muitos preconceitos a serem vencidos. Fornos doutrinados a encarar a História a partir da ótica do vencedor, que foi o branco conquistador e colonizador. Permitimos que aumentem as barreiras entre nós e os povos indígenas quando aceitamos sem crítica tantas informações mal intencionadas veiculadas pelos meios de comunicação social. Mostramos nossa fraqueza ao encararmos o índio apenas como um ser diferente, digno de compaixão por estar determinado a morrer. O bugre, como é tratado em meio a muitas de nossas comunidades, continua a ser visto mais como rival que como irmão.

Um pastor da IECLB dirigiu-se a um colega, que dedica boa parte do seu tempo ao trabalho junto a índios e atua na defesa da causa indígena, com a seguinte pergunta: “Por que você se dedica tanto aos índios? É este o seu único hobby? Nesta colocação se mostra o quanto ainda temos a caminhar, como igreja, em direção ao nosso irmão índio.

II — índio e branco: aqueles que devem viver (Ef 2.11-22)

1. Considerações gerais sobre o texto

Ef 2.17-22 encontra-se nas séries convencionais de perícopes, previsto para o 1º. ou 2º. domingo após Trindade. A maioria dos exegetas, porém, não vê com agrado a delimitação da perícope para os vv. 17-22. Ef 2.11-22 forma o centro teológico desta carta. Encerra esclarecimentos aos cristãos de antecedentes pagãos: antes distantes, agora eles estão próximos (vv. 11-13); em Jesus eles receberam a paz (vv. 14-18); as consequências da ação de Jesus são visíveis na vida da igreja (vv. 19-22).

Paulo (provavelmente um discípulo dele) dirige à comunidade cristã de Éfeso (talvez a carta tenha sido originalmente escrita a Laodiceia ou a outra comunidade) um escrito, em forma de carta, que parece ser um tratado teológico sobre a unidade da igreja composta por cristãos vindos do judaísmo e do paganismo. Paulo escreve da prisão (3.1; 4.1; 6.20). Suas palavras dirigem-se especialmente aos gentílico-cristãos que estão expostos ao perigo de esquecer a origem judaico-cristã da igreja e de ignorar que sua entrada na igreja se deu pela graça de Deus. No final do 1? século os cristãos provenientes do judaísmo constituem minoria. Jerusalém já não ocupa o lugar central de que desfrutava no início da formação da igreja. Pessoas influentes como os apóstolos, que exerciam autoridade sobre toda a igreja, já não vivem mais (Fischer, p. 280). Há momentos em que é colocada em dúvida a continuidade entre a História da Salvação iniciada com o povo de Israel e a História da igreja cristã, em virtude de certa rivalidade entre judaico e gentílico-cristãos. Em algumas comunidades pretenda-se, inclusive, eliminar determinados elementos da fé ligados ao judaísmo. As comunidades locais sentem-se autónomas para zelar pela sua própria organização: correm, assim, o perigo de ficarem demais isoladas das outras comunidades e de ignorarem os elementos comuns que formam a base teológica da igreja cristã. A unidade da igreja parece estar bastante ameaçada.

O texto lembra que, no momento em que passamos a ser de Cristo, tomamos parte de uma história de fé e salvação que teve início no povo de Israel. Nenhum cristão, individualmente ou em grupo, pode isolar-se dá igreja. Ela é o lugar visível em que Deus não apenas está, mas intervém para nós; é o lugar no qual nós podemos ver e colocar sinais de que também nós estamos aí para ele e para os outros Só na comunhão dos santos (v. 19) o cristão consegue encontrar paz (v. 17), acesso ao Pai (v. 18); torna-se uma pedra viva (v. 22) e cresce (v. 21). A igreja não é, portanto, a m amontoado de indivíduos, mas família de Deus (v. 19): pertencer a ela é dádiva e compromisso. Judeu ou pagão passam a pertencer à família de Deus não por mérito próprio, mas pela graça de Deus. Ef 2.11-22 liberta de uma falsa compreensão individualista do batismo, da vida cristã, de igreja.

2. Ef 2.11-13

É quase impossível colocar em palavras mais claras a falta de esperança de pessoas marginalizadas: outrora vocês estavam sem Cristo, excluídos da comunidade de Israel, estranhos às alianças da promessa; vocês viviam sem esperança e sem Deus neste mundo! Esta era a situação em que antigamente os gentios se encontravam quando comparados aos judeus. Estavam longe, distantes, afastados, à margem, sem futuro. Israel era o povo da velha aliança, o povo eleito por Deus. Mas o sangue de Cristo aproximou os que antes eram mantidos à distância. Judeus e gentios, em Cristo, agora estão irmanados na igreja. Pela graça de Deus. Em Cristo, que perde toda a sua vida dando-a ao mundo, Deus cria a possibilidade de uma nova existência entre as pessoas (cf. G. Casalis, p. 225).

3. Ef 2.14-18

A paz não é produto somente de esforços humanos. A paz é, acima de tudo, um presente de Céus na pessoa de Jesus Cristo. Em sua encarnação, Deus termina com a barreira entre ele e o mundo e coloca fim às barreiras entre os homens. Deus derruba o muro de separação que havia. É derrubado o muro da lei: em seus mandamentos e ordens casuísticos a lei não conseguia levar os judeus à verdadeira obediência a Deus; além disso ela separava judeus e não-judeus. Derruba-se o muro cósmico, o firmamento: este separava céu e terra, colocava Deus e os homens em esferas separadas. É derrubado também o muro no templo de Jerusalém: uma parede dentro do templo não permitia o acesso de gentios ao interior desta casa de Deus; a não observação desta proibição podia levar o gentio à morte. Há, portanto, vários muros que separam Deus dos homens e põem limites à convivência entre as pessoas. Muros trazem a marca da separação e da inimizade. Deus os derruba: traz a paz. Estão abertos os caminhos entre Deus e as pessoas. Abolindo a lei, em sua carne, ele aproxima as pessoas entre si: elimina a concorrência, a discriminação e a rivalidade que caracterizam a vida que se orienta pela lei. Acabam-se as antigas distinções: vencedores x vencidos, aceitos x rejeitados por Deus, salvos x perdidos, próximos x distantes, esperançosos x desesperados … Surge um novo homem. A pergunta pela sua origem, distante ou próxima, torna-se desinteressante. Esta reconciliação vem pela cruz: é obra que Deus torna possível, por amor. O acesso a Deus, desta forma, torna-se possível para todos que aceitam a cruz de Cristo e a salvação que ela traz.

Abre-se, assim, a possibilidade aos gentios de pertencerem à família de Deus, sem a necessidade de transformarem-se antes em judeus. O v. 17 retoma Is 57.19 e fala da paz que toma corpo na igreja, de forma visível, histórica. As antigas categorias próximo e distante continuam existindo. Recebem, porém, novo conteúdo: próximo é aquele que aceita ser construído junto, como pedra viva, tomando parte na igreja que é morada de Deus no Espírito (v. 22); distante é aquele que vive sem tomar conhecimento da salvação que Deus oferece. O acesso a Deus não está mais limitado e condicionado a divisões étnicas. Pode chegar a ele quem o tem como Pai e toma o outro como irmão. Entre irmãos os direitos são iguais. O amor de Deus, como amor de pai, não faz distinção entre filhos.

4. Ef 2.19-22

No bloco final deste texto são tomadas figuras conhecidas dos ouvintes e leitores daquela época. Em certos momentos estas imagens se fundem. Apontam-se aqui consequências para a vida e a conduta da igreja a partir das palavras ditas anteriormente.

XENOS, estranho, é a pessoa que não chega a se fixar num lugar, já que permanece nele por curto espaço de tempo. Não tem direitos de cidadão. PAROIKOS, estrangeiros, também designa aquele que não é cidadão. Trata-se de uma pessoa que tem poucos direitos numa cidade. Ambos são lembrados neste texto como pessoas que estão fora da sua terra, longe de sua casa, sem pátria. Estas comparações querem trazer aos gentílico-cristãos a lembrança de que eles, antes pagãos, agora são considerados concidadãos dos santos e da família de Deus. Não são mais estranhos e estrangeiros.

Da lembrança do relacionamento existente numa cidade, passa-se ao exemplo do relacionamento que há em família. Na família de Deus ele é Pai para seus filhos e estes são irmãos para irmãos: uma imagem que procura retratar o clima de total confiança, aceitação incondicional e quebra de barreiras. Encarnação, morte e ressurreição de Cristo afastam na comunidade a marginalização do homem pelo homem. A igreja, como nova pátria, como família de Deus, quer ser o lugar em que pessoas não agridem outras com palavras carregadas de discriminação e rejeição: estrangeiro, estranho, distante … Pertencer à igreja significa sentir-se em casa, ter um lar, ter pátria, ter direitos, ser gente e não apenas alguém que é tolerado por compaixão.

A igreja passa a ser descrita com a figura da construção, muitas vezes usada no NT para retratar com clareza o lugar e a tarefa de Cristo e para lembrar da necessidade de ajuda mútua entre as partes integrantes da construção. O fundamento da igreja são os apóstolos e os profetas. Cristo é comparado à pedra angular. Apóstolos são as testemunhas da ressurreição de Cristo, as pessoas autorizadas e fortalecidas por ele para a edificação das primeiras etapas da igreja. Eles são lembrados aqui, numa época pós-apostólica, pela credibilidade de sua pregação. Cristo torna-se acessível através da pregação destes e dos profetas. O texto certamente não se refere aos profetas do AT, mas aos pregadores da Palavra de Deus nas comunidades primitivas. Jesus Cristo permanece sendo início e fim da igreja. É designado como AKROGONIAÍOS, a pedra angular. Há duas maneiras de interpretar o lugar e a função desta pedra: pode ser a pedra fundamental que é colocada na parte mais importante da obra e determina o tamanho e a forma da construção; pode ser, também, a pedra final que ocupa o centro da abóbada, acima do portal, uma pedra que sofre pressão de todos os lados e dá, assim, toda a segurança e a firmeza necessárias à construção. Cristo pode ser tomado, portanto, nesta comparação tanto por pedra fundamental como por pedra final da construção que é a sua igreja: é seu começo, é sua meta. Teologicamente ambas estão corretas: a partir de Cristo a igreja tem origem; Cristo é, ao mesmo tempo, o ponto de chegada, o futuro, da igreja. Cristo lhe dá estabilidade e direção estando em seu fundamento. Cristo lhe dá dinamismo e esperança estando à sua frente e sustentando-a, em direção a seu Reino.

Os exemplos da construção e do corpo fundem-se (v. 21): a construção se ergue, cresce. A partir de Cristo e em direção a ele a igreja cresce. Ela não está pronta. É dinâmica. Todos os que se encontram em casa junto a Deus tornam-se finalmente parte desta casa: como pedras vivas são construídos junto para morada de Deus no Espírito (v. 22). São integrados à construção. Uma pedra, isolada da obra, não contribui para o conjunto. Torna-se inútil. Na parede, entretanto, uma pedra segura a outra, dando consistência e segurança à construção. Os ouvintes e leitores desta carta são convidados a deixarem-se integrar nesta construção viva. Para que ela cresça em direção à sua realização plena no Reino de Deus.

As imagens trazidas neste texto mostram a total dependência da igreja em relação a Jesus Cristo: ele é seu ponto de partida, sua meta, ele é a única fonte que a alimenta, ele é o único plano que a reorienta constantemente em direção a um futuro de paz e justiça, ele é quem a mantém unida, ele é o único acesso ao Pai…

III — Índio: vida? … morte? … Há esperança:

A partir de elementos acima compartilhados que apontam para a injusta realidade vivida pelos índios, confrontados com a mensagem contida em Ef 2.11-22, surgem vários apontamentos, perguntas, auto-acusações, dúvidas, pontos de apoio, motivos de esperança… Coloco alguns a seguir, na esperança de que possam servir de estímulo a prédicas, a estudos e a reflexões conjuntas com a comunidade. Coloco-os na certeza de que muitas outras colocações importantes surgirão a partir da leitura da realidade que envolve a questão indígena e a partir da leitura da Bíblia.

Torna-se visível a necessidade de ver a História a partir da ótica dos que hoje estão e são marginalizados. Inclusive a História dos índios no Brasil. A visão de História que geralmente chega até nós é escrita por aqueles que no passado e no presente afirmam o índio precisa desaparecer. Ef 2 aponta para o acesso ao Pai, que está aberto tanto aos que se consideram próximos como aos que, marginalizados, são mantidos à distância e sem esperança por futuro.

Após quase dois mil anos de existência da igreja cristã, nós, que a ela pertencemos por nascimento, por tradição ou por opção, nos consideramos os mais próximos a Deus. E quem são os distantes, de quem nós nos afastamos? Quem são os distantes que se afastam do nosso convívio? Torna-se necessário identificá-los, mesmo que variem de lugar para lugar e de época para época, para que saibamos de quem Deus nos aproxima. Há várias tentativas de identificar próximos e distantes dentro da atual estrutura da igreja: cristãos x judeus; membros inscritos na comunidade x gente que vive afastada da igreja; cristãos atuantes x sócios da igreja adormecidos e omissos; cristãos integrados à sociedade x pessoas que nela não têm oportunidade de participação; cristãos de países ou classes ricas x cristãos de países subdesenvolvidos ou pobres; cristãos brancos x índios…

Ef 2 lembra que o acesso ao Pai se dá pela graça de Deus e não por força da lei e da tradição. O texto afirma que os muros de inimizade foram derrubados pela carne e pelo sangue de Cristo. Esta verdade não permite que nos sintamos como filhos únicos de Deus, dignos merecedores de sua herança. Todas as pessoas, grupos e povos que vão ao seu encontro à procura de aceitação, de paz e de justiça são bem-vindos em sua família. Excluindo outros do convívio com Deus e roubando-lhes a esperança, corremos o risco de estarmos jogando por terra a graça de Deus e de nos tornarmos estranhos e estrangeiros na cidade e na família dele. Resta-nos, pois, analisarmos a nossa ação como igreja: estamos tomando, ou não, a graça de Deus como algo por demais natural e exclusivo? não ternos insistido em levantar e justificar muros que Deus há muito derrubou? Ef 2 alerta para o perigo que grupos eclesiásticos correm quando procuram iso-lar-se da grande família de Deus. Igreja não é clube formado por homens que a dirigem de acordo com seus interesses particulares. Igreja é criação de Deus: ele a dirige. Sua vontade é soberana.

A igreja é dinâmica. Cresce em direção ao Reino de Deus, fortalecida e guiada por Cristo. Não se trata de um sonho utópico. Recebemos fé para derrubar muros que mãos humanas constroem para afastar-nos de Deus. Somos convidados para abrir brechas nos muros que nos separam de outros filhos de Deus, nossos irmãos. Para nos aproximarmos também de nossos irmãos índios: Recebemos força de Deus para deitar por chão os muros de preconceitos, de injustiças, de opressão que continuam matando nossos irmãos índios, nossos irmãos negros e tantos outros. Ef 2 lembra que as paredes da igreja, morada de Deus, não permanecem estagnadas e ainda não estão prontas. Elas crescem, irmãos ao lado de irmãos, pedras sustentando pedras, em atuação conjunta e ajuda mútua. Cabe-nos perguntar: são estes os braços, abertos e amigos, que estendemos aos nossos irmãos índios?, é esta a ajuda que lhes damos quando são tratados com tanto ódio pelos poderosos e com tanto descaso e desinteresse pela sociedade e por comunidades religiosas? A História mostra que os índios têm motivos suficientes para não confiar mais na ação e nas boas intenções da igreja: estamos cientes da necessidade de confessarmos os nossos pecados?, estamos dispostos a aceitar a reconciliação que Cristo nos traz?, e queremos tentar uma caminhada em conjunto em direção à plena libertação oferecida por Deus?

É evidente a necessidade de definirmos a serviço de quem nos colocamos como igreja. Deus criou a igreja para ser um instrumento de comunhão, para ser um lugar visível de sua paz. Lutar por paz não significa apagar todas as diferenças que há entre poderosos e fracos, entre índios e brancos. Lutar por paz significa colocar-se ao lado do injustiçado, prestar-lhe ajuda nos conflitos. Zelar pela paz não significa tapar as contradições em nossa sociedade com a peneira do falso amor ao próximo e reprimir os choques que existem. Zelar pela paz significa trazer à luz as injustiças, procurar descobrir e apontar os causadores da discórdia.

Que resta aos povos indígenas? Morte, dizem os poderosos.

Que resta aos povos indígenas? Vida, diz Deus.

Sejamos portadores da esperança: irmãos, há esperança;


IV — Subsídios litúrgicos

1 Introito: Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo (Ap3.20); ou 1 Jo4.10s.

2. Confissão de pecados: Deus, querido Pai, teu amor nos aproxima de ti. Os últimos muros que havia entre ti e os homens tu derrubaste quando vieste ao mundo em Jesus Cristo. Para que nós pudéssemos chegar a ti. Cristo morreu. Para que nós tivéssemos vida, tu o ressuscitaste. Deus, os muros de separação e inimizade que ainda havia entre as pessoas, tu derrubaste. Perdoa-nos, Senhor, por insistirmos em construir e reerguer muros ao redor de nós: nos escondemos de ti e das pessoas necessitadas. Temos falhado também em relação aos índios: ficamos atrás dos muros, porque não queremos ver as desgraças que nossos irmãos índios estão sofrendo. Eles são teus filhos, como nós, e os tratamos com nosso silêncio, com descaso, com distante compaixão. Dá-nos, querido Pai, o teu perdão: aproxima-nos de ti, aproximando-nos de nossos irmãos que sofrem. Tem piedade de nós, Senhor

3. Anúncio da graça: Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os de espírito oprimido … dos que nele confiam, nenhum será condenado (SI 34.18,22b).

4. Oração de coleta: Senhor, o teu perdão nos refaz. Alimenta-nos sempre com a tua Palavra, para que possamos enfrentar com a tua força as dificuldades que o mundo coloca à nossa frente. Renova as esperanças dos cristãos em todo o mundo, para que juntos possamos confessar que tu és a paz, que tu queres a justiça, que o teu Reino vencerá. Em nome de Jesus Cristo. Amém.

5. Leitura bíblica: Mt 20.1-16.

6. Assuntos para a oração final: agradecimento pela Palavra que abre nossos ouvidos para ouvirmos a tua vontade, que abre nosso entendimento para a tua verdade, que abre nossas bocas para falar da tua esperança, que fortalece nossas vidas para lutar pela tua justiça e esperar pelo teu Reino; perdão: pelos pecados cometidos em relação aos índios, por omissão, preconceitos, riso, pouco caso pelo sofrimento deles, pelo nosso silêncio que acelera o seu extermínio; força: para ir ao encontro deles, aceitá-los como irmãos, ajudá-los em suas necessidades; intercessão por: famílias e grupos indígenas que se sentem ameaçados pela morte; autoridades que se coloquem ao lado deles; missionários e todas as pessoas que dedicam sua vida para que os índios tenham restabelecida sua dignidade como filhos de Deus e seus direitos como cidadãos…

Cito apenas alguns subsídios usados nesta pesquisa, que são de fácil acesso:

– BERGMANN, M. Nasce um povo. 2. ed. Petrópolis, 1978.
– CARELLI, V. & SEVERIANO, M. Mão branca contra o povo cinza. s. 1., 1980.
– CNBB/CIMI. Terra sim/violência não. s. 1., 1983.
– CNBB/CIMI. Terra é vida. Belém, 1984.
– IECLB. informação IECLB. Porto Alegre, 5 (59): 4-7.
– PAULA, E. et alii. História dos povos indígenas; 500 anos de luta no Brasil. Petrópolis, 1982.

Sobre Ef 2.11-22:

– CASALIS, G. Meditação sobre Efésios 2.17-22. In: Göttinger Predigtmeditationen. Göttingen, 53 (5): 222-6, 1964.
– CONZELMANN, H. Der Brief an die Epheser. In: Das Neue Testament Deutsch. v. 8. 11. ed.Göttingen 1968.
– FISCHER, K. M. Meditação sobre Efésios 2.17-22. In: Göttinger Predigtmeditationen. Göttingen, 65 (5): 278-83, 1976.
– GOPPELT. L. Meditação sobre Efésios 2.17-22. In: Calwer Predigthilfen. v. 8. Stuttgart, 1969.
– LANG, F. Meditação sobre Efésios 2.17-22. In: Hören und Fragen. v, 4/2. Neukirchen-VIuyn, 1976.

– SCHMOLD, H. Meditação sobre Efésios 2.17-22. In: Neue Calwer Predigthilfen. v. 2B. Stuttgart, 1980.
– VOIGT, G. Meditação sobre Efésios 2.17-22. In:- Dasheilige Volk. Göttingen, 1979.