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HPD 242 Dai graças ao Senhor

O autor da letra e também da melodia deste maravilhoso coral é Martin Rinckart. Como filho de um caldeireiro (Kupferschmied) pobre Martin nasceu aos 23 de abril de 1586 em Leipzig, Saxônia, Alemanha. Ele conquistou seu espaço na Universidade de Leipzig por meio de bolsas de estudo e os seus dons musicais. Formado em teologia, inicialmente ganhou seu pão como Cantor da igreja em Eisleben.

Com 31 anos de idade foi lhe oferecido o lugar de Arquidiácono (Pastor) na sua cidade natal de Eilenburg, na Saxônia. Ele foi para lá em 1618, quando a guerra começou, e ali permaneceu até sua morte em 8 de dezembro de 1649, pouco após a paz firmada em1648. E ao longo destes 30 anos ele pastoreava o seu rebanho, e o ajudou com toda a dedicação. mesmo debaixo de todo tipo de angústia. Claro que ele teve que suportar o aquartelamento de soldados na sua casa, e saques freqüentes do seu pequeno estoque de grãos e outros bens de casa. Mas estes eram coisas pequenas.

A atuação de Rinckart é marcada pela inclinação a história confessional. Ele é um representante excelente dos poetas cristãos da época do Confessionalismo. No Luteranismo ele viu a perfeição do plano de Deus. Para Rinckart, Martim Lutero era o vencedor heróico sobre o papa, Calvino e anticristos de qualquer tipo. Os anos que Rinckart vivia em Eisleben, a cidade onde Lutero nasceu e faleceu, sem dúvida, colaboraram a amar o Reformador. Rinckart prestou sua homenagem a este herói escrevendo um ciclo de sete peças teatrais sobre certas passagens da vida de Lutero e sobre a história da Reforma, para, com elas, fortalecer a fé dos seus contemporâneos.

A obra mais conhecida de Rinckart é o coral “Dai graças ao Senhor, louvai seu nome santo” (HPD nº 242), no original Nun danket alle Gott mit Herzen, Mund und Händen” (EG nº 245). E´ um hino de louvor e gratidão, cheio de confiança em Deus. Por isso já foi chamado de “Tedeum germânico”. O texto baseia-se quase que literalmente nas palavras de Siraque 50,22-23, (um livro apócrifo do Antigo Testamento, que nas edições católicas é chamado de Eclesiástico): Bendizei o Deus do universo que faz maravilhas em toda a terra, exaltando nossos dias desde o ventre de nossas mães e agindo conosco segundo a sua misericórdia. Que ele nos dê a alegria do coração e que haja paz em nossos dias

Durante algum tempo supunha-se que este seria um hino de gratidão pelo fim da Guerra dos Trinta Anos (1648). Porém, este hino nasceu já por volta de 1630, como hino de louvor por ocasião do centenário da Confissão de Augsburgo. Ele faz parte dos dramas que Rinckart escreveu sobre a Reforma e expressa a gratidão pelo puro evangelho, o qual foi confessado em Augsburgo perante o Imperador e outras Autoridades no ano de 1530, e até hoje é o fundamento das Igrejas evangélicas luteranas. – Mas o texto usa termos tão gerais que o hino pode ser cantado nas mais diversas ocasiões, mesmo como oração antes das refeições ou louvor na Festa da Colheita.

Este hino foi publicado por Martin Rinckart em seu Jesu-hertz-Büchlein in geistlichen Oden no ano 1636, e Johann Crüger o aceitou em 1647 no seu hinário Práxis pietatis mélica, com pequena modificação na melodia. E em 1730 (ano do bi-centenário da Confissão de Augsburgo) Johann Sebastian Bach em Leipzig compôs a Cantata BWV 192 Nun danket alle Gott para a Festa da Reforma Luterana. (II.Tess,2,3-8 e Apoc.14,6-8)

Martin Rinckart não foi poupado dos horrores da grande Guerra (1618-1648). Como muitos outros poetas desta época, ele igualmente experimentou a dor do falecimento da esposa e de filhos e passou por peste, fome e dificuldades várias. Alguns versos (não traduzidos) do hino dão uma impressão dos sofrimentos da época. P. ex. “Kreuz, Trübsal, Angt und Leiden, Anfechtung, Not und Tod kein Christenmensch kann meiden, es ist sein täglich Brot” (Cruz, aflição, temor e sofrimento, tentação, perigo e morte nenhuma pessoa cristã pode evitar, isso faz parte do seu pão de cada dia). Ou no HPD 242, no final da 2ª estrofe: “e em luta, angústia e dor nos venha confortar”. – Apesar disso, o acento principal no hino de Rinckart está na confiança em Deus e na gratidão pela ajuda graciosa de Deus.