|

 Prédica: 1 Reis 19.1-18
Autor: Martin Weingärtner
Data Litúrgica: 5º. Domingo após Trindade
Data da Pregação: 25/06/1978
Proclamar Libertação – Volume: III


l – O Texto

l. Versão.

V.1: Aí Acabe denunciou à rainha Jezabel tudo que Elias fizera e tudo a respeito de como este matara todos os profetas de Baal com a espada.

V.2: E ela mandou um mensageiro a Elias com o recado: Tu és Elias, mas eu sou Jezabel! Portanto: ‘Juro por Deus’ que amanhã por esta igualarei tua vida à de cada um dos meus profetas.

V. 3: Então Elias viu a situação, ergueu-se, correu pela sua vida e fugiu para Berseba, cidade situada em Judá, e lá deixou para trás seu ajudante.

V. 4: Ele mesmo continuou caminhando o dia todo deserto a dentro. Por fim sentou-se debaixo de um arbusto solitário e desejou para si a morte, dizendo: Basta! Senhor, toma agora a minha vida, porque eu não sou melhor do que meus pais.

V.5: Depois deitou-se e adormeceu debaixo do arbusto solitário. Subitamente um anjo tocou-o e lhe disse: Levanta-te e come!

V.6: Abrindo os olhos viu junto à cabeceira um pão assado sobre pedras e um caneco d’água: comeu, bebeu e tornou a deitar-se.

V. 7: Mas o anjo do Senhor voltou pela segunda vez e o tocou,, dizendo: Levanta-te e come, porque senão o teu caminho ficará longo demais.

V. 8: Levantou-se, pois, comeu e bebeu e, fortalecido pela comida, caminhou quarenta dias e quarenta noites ao monte de Deus, chamado Horebe.

V.9: Ali entrou na caverna, onde pernoitou. Subitamente o Senhor lhe perguntou:
Por que tu estás aqui, Elias?

V.10. Este respondeu: Com empenho lutei pelo Senhor, Deus todo-poderoso, porque os filhos de Israel abandonaram a tua aliança, demoliram os teus altares e mataram teus profetas com a espada. Apenas eu sobrei e, agora, procuram tirar-me a vida também.

V.11. Então ordenou-lhe o Senhor: loca-te no monte diante de mim! E, passando o Senhor, uma ventania forte e violenta rasgava montes e despedaçava rochedos perante o Senhor – mas o Senhor não estava na ventania; depois da ventania: um terremoto – mas o Senhor não estava no terremoto;

V. 12. depois do terremoto: um fogo – mas o Senhor não estava no fogo; e, depois do fogo: um silencio profundo e tranqüilo.

V. 13. Ao ouvi-lo, Elias envolveu o rosto no seu manto, saiu e colocou-se na entrada da caverna. Ai uma voz lhe perguntou: Por que tu estás aqui, Elias?

V.14. Este respondeu: Com empenho, lutei pelo Senhor, Deus todo-poderoso, porque os filhos de Israel abandonaram tua aliança, demoliram os teus altares e mataram teus profetas com a espada. Apenas eu sobrei e, agora, procuram tirar-me a vida também.

V.15: Ordenou-lhe o Senhor: Vai! Da meia-volta! Teu caminho seguirá até o deserto de Damasco. Quando chegares, nomearás Hasael rei sobre a Síria;

V. 16: Jeú (filho de Ninsi) nomearás rei sobre Israel e Eliseu (filho de Safate natural de Abel-Meolã) nomearás profeta em teu lugar.

V.17: E será assim: Quem escapar à espada de Hazael, Jeú o matará. Quem escapar à espada de Jeú, Eliseu o matará.

V.18: E farei restar em Israel 7.000 – todos os joelhos que não se dobraram perante Baal e toda boca que não o beijou.

A versão acima apresentada procura ser fiel ao original, sem deixar de ser aproveitável na liturgia. Por isto ela parafraseia diversas passagens, a fim de facilitar a compreensão ao ouvinte no culto.

2. Variantes

Numa ocasião a versão acima não acompanha o texto masorético, acatando a sugestão do aparato. No v.2 a Septuaginta bem como a Vetus Latina incluem: Tu és Elias, mas eu sou Jezabel. Esta frase enquadra-se perfeitamente no retrato bíblico da rainha, e o texto masorêtico talvez a omitiu por um erro de cópia, como convincentemente pressupôs Otto Eissfeld (op.cit.).

No v. 3 a Septuaginta alterou a vocalização do primeiro verbo, lendo ‘ficou com medo’ em vez de ‘viu’. Ainda que a vocalização da Septuaginta sintonize perfeitamente com o contexto, parece-me ser ela uma interpretação que procura nivelar a estranheza da vocalização do texto masorético, ao qual se deve dar preferência por ser a versão mais complicada do texto.

II – Análise

1. Contexto

A intenção fundamentalmente querigmática da tradição bíblica, inclusive daqueles textos que narram acontecimentos passados, dificulta e muitas vezes impossibilita a reconstrução duma história nos moldes da historiografia moderna. Isto também ocorre com o presente texto e seu contexto: Não podemos reconstituir uma biografia de Elias. Os textos não se prestam para tanto e nem o querem.

Esta ressalva inicial naturalmente não nos isenta do esforço pela compreensão do texto a partir do seu contexto histórico, mas neste empreendimento não podemos ignorar o caráter sumamente hipotético de nossas histórias de Israel. O profeta Elias atuou no reino do norte sob o governo do rei Acabe, que durou de 875 a 953 a.C. Influenciado pela sua mulher fenícia Jezabel, este oficializou em Israel o culto às divindades de Baal, erguendo inclusive um santuário real para ele em Samaria, a capital. Este procedimento sincretista agravou a contenda com os seguidores de Javé, travando-se agora uma luta ferrenha pela soberania de Javé, na qual Elias torna-se o grande adversário de Jezabel, patrocinadora do culto às divindades de Baal.

Durante o exílio babilônico do povo judeu, assim supõe-se, compiladores influenciados pela teologia do Deuteronômio redigiram os Livros dos Reis, selecionando e aproveitando material mais antigo. Eles são responsáveis pela atual sequência e forma das narrações, visando chamar o povo de Israel exilado a aceitar o juízo de Deus e a dar meia-volta (cf. H. W. Wolf, op.cit.).

Pela sua disposição o presente texto é antecedido pelo julgamento dos profetas de Baal no monte Carmelo, que encerra com a matança dos mesmos, e pela oração de Elias pelo fim da seca, que culmina na corrida triunfal deste à frente de Acabe. E, imediatamente após o texto, segue a vocação de Eliseu.

É possível que esta sequência de narrações não corresponda ao desenrolar histórico dos fatos, mas para que entendamos a mensagem da perícope em apreço é imprescindível que a interpretemos no seu contexto atual, pois neste contexto, e não num que nós conjeturamos, os compiladores dos Livros dos Reis viram sua mensagem.

A subdivisão do texto em duas perícopes, sugerida pela Ordem de perícopes das igrejas alemãs, é sumamente problemática, porque adultera o texto literária e teologicamente. Os versículos 1-8 não formam uma unidade para si e nem tem conteúdo teológico próprio, pois estão em função do texto todo. Por isto propomos que se pregue sobre a narração inteira, mesmo que seja necessário falar mais do que vinte minutos (dogma este que parece ter motivado a subdivisão do texto em duas perícopes!).

2. Enfoque detalhado

Vv.1-2: Ao retorno triunfal do Carmelo contrapõe-se aqui bruscamente a delação, transformando a vitória em acusação. Houve quem duvidas se seriamente da veracidade desta mudança abrupta, mas parece-me que os compiladores hebreus conheciam melhor o dia a dia do testemunho da fé bem como determinados relacionamentos conjugais do que muitos de seus intérpretes hodiernos. A proximidade do ‘Hosana’ ao ‘Crucifica-o’ é uma realidade incontestável na história salvífica: Derrotado no Carmelo, Acabe segue à jornada triunfal de Elias e, chegando em casa, delata tudo o que acontecera ao ‘rei do rei’, sua mulher. Jezabel, patrocinadora do culto às divindades de Baal, não entrega os pontos, reagindo sem demora. Ameaça Elias com a morte: ‘Tu és Elias’ (= conseguiste assassinar meus profetas e derrotaste meu ‘maridinho’), ‘mas eu sou Jezabel! ( agora terás de enfrentar uma ‘muié macho’, como diria Luiz Gonzaga do Nascimento; outros correram, mas eu não o farei). Não é por menos, não que Jezabel figure entre os grandes personagens da história mundial: Ela sabia impor-se. Mesmo não tendo escrúpulos de tramar um crime traiçoeiro, ela avisa seu adversário, dando-lhe assim a possibilidade de fugir, o que, aliás, representaria uma vitória maior do que um martírio heróico de Elias.

Vv.3-5a: A jogada de Jezabel dá certo: Elias não se torna mártir; vítima de sua fidelidade a Javé! Concretiza a pior das opções: ridiculariza-se, fugindo como um criminoso comum do encalço da polícia real. Elias ‘viu’ a sua situação: Olhando para si e para a sua luta, reconhece a sua impotência e incapacidade de chamar ao arrependimento. E justamente este olhar para si mesmo e sua situação cria o vazio em Elias, abrindo espaço para o medo que toma conta dele e que o leva a fugir sem demora. Sua fuga ruma para o sul, através do país vizinho, onde deixa seu secretário à margem do deserto Neguev. Ele mesmo continua sozinho deserto adentro, para morrer em solidão absoluta. Não quer mais importar-se com ninguém e por isto devolve o seu encargo a Deus, dizendo: ‘Basta!’ Eu fiz o que pude e não alcancei mais do que meus pais, pois teu povo continua como antes.

No consentimento e na transmissão do fracasso de seus personagens, a Bíblia distingue-se de nossa historiografia, cuja ideologia não lhe permite fazê-lo. Justamente neste consentimento reside a humanidade dos personagens bíblicos, que não são super-homens, mas gente qual tu e eu. A Bíblia pode mencionar a fraqueza de seus personagens, porque não é a força ou fraqueza destes, mas sim o poder de Deus que produz história.

Vv.5b-8: Elias deitou-se debaixo do arbusto solitário na expectativa de não mais precisar levantar. Deitou-se para morrer. Mas Deus não abandona seu servo fracassado à morte: Deixa-o dormir e lhe fornece alimento para preservar-lhe a vida. Assim Deus inicia a consolação do seu servo na profanidade e vulgaridade dum pedaço de pão e dum caneco d’âgua, importando-se até mesmo em alimentá-lo bem. Por isto envia o anjo duas vezes ao profeta. Apenas na segunda vez Elias é conscientizado do fato de que este alimento quer pô-lo novamente a caminho. A pergunta surpresa de Deus no Horebe indica que Deus queria enviá-lo de volta ao seu povo. Mas Elias aproveita a força que recebera para afastar-se ainda mais do seu povo, continuando a caminhar para o sul, rumo ao monte de Deus. Os 40 dias desta jornada lembram os 40 anos de peregrinação do povo entre o monte de Deus e a terra prometida: Elias retorna ao posto de partida da história de Deus com o seu povo, convicto de que esta história fracassara.

Vv.9-10: Ao pernoitar na caverna, o Senhor lhe pergunta: Por que estás aqui, Elias? Deus parece surpreso em encontrar Elias no Horebe, pois o enviara a Israel. Aí vem o desabafo de Elias: ‘Eu fiz o que pude, mas o teu povo…’ Segue o relatório duma frustração pastoral que simultaneamente é acusação dum povo descrente. O profeta termina com a constatação lapidar: ‘Apenas eu sobrei, e agora também procuram tirar-me a vida.’ Este desabafo de Elias não intenciona ser uma autojustificação, mas desafia o juízo de Deus.

Vv. 11-13a: A ordem de Deus de Elias sair da caverna e colocar-se ‘diante do Senhor’ levou muitos intérpretes a ver no que ali sucedeu uma teofania, comparável àquela que Moisés presenciara no mesmo local, concluindo, por isto, que agora é revelada a Elias a presença de Deus, não nos fenômenos estrondosos da natureza, mas sim naqueles que são praticamente imperceptíveis (cf. G. v.Rad, Theologie des AT II, 29). Esta interpretação não satisfaz, porque a comparação com a revelação a Moisés ignora a parte final do texto, no qual Deus envia Elias novamente.

Creio que outro enfoque talvez seja mais promissor: Elias está na expectativa do juízo de Deus e os fenômenos que ele presencia são justamente instrumentos do juízo: A ventania é um instrumento relativamente ameno do juízo (Cf. Jó 1.19; Jr 4.11-13; Ez 13.11+13; Jn 1.4; Êx l0.l3; Sl 11.6). Já o terremoto é instrumento potenciado do juízo (Cf. Ez 38.18-23; Mt 27.52 + 5M e, por fim, o fogo é o instrumento por excelência do juízo de Deus, desde Sodoma e Gomorra (Gn 19.24) até o juízo final (Ml 3.19; Is 66.15s; Ez 38.22; 39.6).

Se, portanto, Elias está na expectativa do juízo (final!), a ausência de Deus nos fenômenos que presencia apenas faz sentido como negação do juízo que esperava!’Mas o Senhor não estava na ventania,… no terremoto,… no fogo’: Deus deixa bem claro a Elias que não deseja nem quer a morte do seu povo incrédulo e desobediente. Deus não se identifica com o juízo. O juízo não é sua última palavra!  ‘E, depois do fogo, um silêncio profundo e tranquilo1: Deus se faz presente justamente num fenômeno que não representa juízo. Haverá outra conclusão do que a de que Deus quer agraciar e salvar? Agraciação é a última palavra de Deus. E a esta perspectiva graciosa Deus quer introduzir seu servo, para que nela encare sua atuação no povo de Israel. A política a longo prazo do Senhor da história é graciosa e salvadora.

Vv.13b-14: A repetição da pergunta é pura pedagogia de Deus com o seu profeta. Deus quer ver se o seu servo tirou a lição daquilo que presenciou. O exegeta formalista dirá que esta duplicação é secundária e que turva a forma.Não duvido que este fead-back estorva formalmente, mas ele é imprescindível teologicamente: A tradição bíblica não está interessada num purismo formal na mensagem. E, justamente por causa desta mensagem e de sua aceitação por Elias, é necessário o fead-back pedagógico: Elias viu, mas não enxergou! Ele ainda está preso ao passado. Para ele importa, apenas, o que o povo fez e é. O simples fato de ver e presenciar ainda não lhe concede a visão da perspectiva de Deus.

Vv.l5-l8: A visão é turva demais para perceber o recado de Deus. Apenas a palavra traz clareza: ‘Vai! Dá meia-volta, Elias!’ Em vez do juízo final Deus envia Elias para ‘ungir’ os homens que escolhera para servirem de instrumentos do seu agir: Hazael, Jeú e Eliseu. A incumbência destes é nitidamente de juízo: ‘Quem escapar da espada de Hazael, Jeú o matará. Quem escapar da espada de Jeú, Eliseu o matará.’ Encontramos, aqui, novamente uma progressão de juízo, paralela à progressão ventania-terremoto-fogo. ‘Mas o Senhor não estava no fogo’: O juízo para o qual Elias ungirá Hazael, Jeú e Eliseu não é a última palavra de Deus, não é o que Deus realmente intenciona. Esta certo, o juízo vem de Deus, assim como o Senhor fizera a ventania. Mas para Deus este juízo não tem seu fim em si mesmo, mas está em função da salvação. Por isto mesmo a palavra de Deus não termina com o juízo, mas encerra com a perspectiva redentora: ‘Eu farei restar1 não é o mesmo como ‘vão sobrar’. O juízo de Deus não é uma peneira que apenas separa os salvos. A agraciaçao ninguém merece, mas é obra de Deus. Ele a concede, pois do juízo ninguém escapa. Implicitamente Deus concorda com a frustração de Elias,que dissera ‘Sobrei apenas eu’. O profeta empiricamente, isto é, baseado no passado, tem razão e não está acometido de pessimismo agudo! Por isto os ‘7.000’ que Deus contrapõe à mesquinhez de Elias, não advêm duma recontagem feita pelo departamento de estatística divino. Deus não corrige o Elias solitário, mas contrapõe à sua solidão, ao passado que o marca a multidão dos salvos, o futuro que Deus mesmo garante. O número 7 simboliza a plenitude, e mil a multidão: A salvação da plenitude da multidão é a perspectiva última da história de Deus com seu povo e com o mundo.

Agora Elias entende e aceita: Animado pela perspectiva da graça, pelo futuro promissor de Deus, ele vai e volta ao povo que Deus lhe confiara .

Nesta narração acerca de Elias podemos sentir também o latejar do coração dos compiladores deuteronomistas que, no Exílio Babilônico, atormentados pela catástrofe experimentada, encontraram consolo e esperança nesta antiga tradição profética. Sua perspectiva graciosa animou-os a refletir o juízo experimentado: ele não revela nem é a vontade última e verdadeira de Deus. Deus identifica-se com a salvação de seu povo, que ele mesmo garante. Eis a motivação teológica para a compilação da Obra Historiográfica Deuteronomística.

3 – Síntese querigmática

Atormentado pela ineficiência do seu testemunho e pelo isolamento do povo desobediente, Elias quer devolver seu encargo a Deus, convicto de que Deus desistiu e aguardando o seu juízo definitivo. Deus, porém, consola seu servo frustrado e solitário com a perspectiva derradeira de sua história com o mundo e o envia novamente a servir-lhe de instrumento de juízo que é a palavra penúltima e provisória de Deus (uneigentliches Wort Gottes!) . Confortado, Elias vai.

III – Meditação

Interpretando esta narração post Christum natum, devemos considerar o fato de que a história de Deus com o mundo continuou, e neste enfoque ressaltam duas coisas:

a) A situação do mundo é que todos abandonaram a Deus. O ‘Sobrei apenas eu’ de Elias é radicalizado no NT: ‘Não há justo, nem sequer um,… não há quem busque a Deus’ (Rm3.10s). 

b) Os contornos do ‘Eu farei sobrar 7-000’ tornaram-se nítidos em Jesus Cristo, que é a verdadeira palavra de Deus, na qual este revelou sua identidade. ‘Mas o Senhor não estava no fogo’: ele está em Cristo. Por meio dele Deus gratuitamente salva a plenitude da multidão.

Neste contexto modificado cabe-nos identificar a frustração e solidão do testemunha hodierno. Mas não nos iludamos identificando-a apressada e enganosamente com a lamentação padronizada de pastores de suas comunidades, nem com a de leigos dos pastores. Esta requintada modalidade de autojustificação serve para esconder nossa falta de ‘zelo’ pelo Senhor! Não, a lamentação de Elias não é a de quem não produz fruto, mas sim daquele que vê decair todo o fruto de seu trabalho, reconhecendo, abismado, que mesmo participa desta decadência: A frustração dos pais que procuraram encaminhar para a fé os seus filhos e que, perplexos, constatam que sua própria fraqueza desfaz tudo; a frustração do dirigente de estudo bíblico que vê murchar o grupo de participantes e mesmo conscientiza-se do vazio em si mesmo; a frustração do pastor que, após longos anos de trabalho, vê decair os frutos deste e reconhece sua corresponsabilidade na mesma.

Estas testemunhas precisam ser consoladas qual Elias. Estes que estão profundamente magoados com o seu povo ‘porque abandonaram a aliança’, e consigo mesmos ‘porque não são melhores do que seus pais’, homens não consolam, não. Muito menos os dados estatísticos do banco de dados eclesiástico o farão! A amargura e tristeza que tornou-lhes o coração, esperando somente mais o fim, somente Deus mesmo poderá vencer. Ele consola, iniciando com o pão de cada dia que ele não deixa faltar ao seu servo fugitivo. E do morro da cruz, Gólgota, abre-lhe a visão de sua salvação, que ele mesmo garante em Cristo, apesar do nosso fracasso constante. Orientados no futuro prometido e garantido por Deus, cuja primícia é o Cristo ressurreto, deixam enviar-se novamente ao seu trabalho na roça do Senhor.

IV – Bibliografia

– BUBER, Martin. Bücher der Geschichte.Köln, 1956.
– EISSFELDT, Otto. Bist du Elia, so bin ich Izebel..“ In: Kleine Schriften. Vol.V. Tübingen,l973 p 34.
– FICHTNER, Johannes. Das erste Buch von den Königen. Stuttgart, 1965.
– HERRMANN, Siegfried. Geschichte Israels in alttestamentlicher Zeit. München, 1973.
– LOWE, Richard. l Könige 19.8b-13a. 15-18. In: Hören und Fragen.Vol. 5. Neukirchen-Vluyn, 1967, p.538 ss .
– RAD, Gerhard von. Theologie des Alten Testaments. Vol. II. Berlin, 1969.
– RAD, Gerhard von. l Könige 19,1-8 (18). In: Göttinger Predigtmeditationen 1965/l966.Göttingen.
– WEINGÄRTNER, Lindolfo. O profeta que quis desistir. In: Vigia, põe-te a clamar. São Leopoldo, 1975.
– WOLFF, Hans Walter. Das Kerygma des deuteronomistischen Geschichtswerkes. In: Zeitschrift für alttestamentliche Wissenschaft. Ano 73,1961, p.l 71ss.