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Entre 27 de novembro e 2 de dezembro, Porto Alegre acolheu uma edição temática do Fórum Social Mundial (FSM) dedicada ao conflito na Palestina e Israel. O ciclo de debates e ações de incidência ocorreu paralelamente à votação na ONU que elevou a Palestina ao status de Estado Observador. Participantes ecumênicos ligados ao Conselho Mundial de Igrejas (CMI) repercutiram a decisão histórica e o significado do fórum.

O CMI esteve envolvido no FSM Palestina Livre através de jovens voluntários que participaram, entre 2011 e 2012, do Programa Ecumênico de Acompanhamento na Palestina e Israel (PEAPI), uma iniciativa do CMI que, há dez anos, possibilita a presença de observadores internacionais em áreas de conflito naquela região. O coordenador do PEAPI, Manuel Quintero, e o coordenador do programa do CMI no Oriente Médio, Michel Nseir, também estiveram em Porto Alegre nos dias do FSM.

Conhecida por ter acolhido várias edições do FSM, desde 2001, Porto Alegre sediou, em 2006, a 9ª Assembleia do CMI. O FSM é um evento amplo, organizado por diversos níveis e movimentos da sociedade civil com o intuito de promover debates e convergências no campo da incidência e luta por direitos humanos, econômicos, políticos, culturais e ambientais.

Os brasileiros Erico Loyola, Natalia Novaes Alves e Eduardo Minossi, que participaram do programa do CMI na Palestina e Israel, tiveram a oportunidade de partilhar suas experiências numa oficina do FSM e de integrar-se aos esforços ecumênicos locais em torno da construção de uma resposta brasileira ao documento Kairós Palestina.

Os três jovens mostraram otimismo em relação à mudança de status da Palestina nas Nações Unidas. Erico, de 27 anos, considerou o resultado da votação como “uma vitória da comunidade internacional”, mas acredita que ainda há um longo caminho a ser percorrido. “O grande benefício desta resolução é que ela pode ajudar a criar e melhorar o acesso das vítimas do conflito a melhores mecanismos de ajuda humanitária”, disse.

“Realmente espero que esta mudança de status afete a maneira como a ONU intervém no conflito”, ressaltou Natalia, que também tem 27 anos. Ela participou do PEAPI entre novembro de 2011 e fevereiro de 2012. “Diversas organizações de ajuda humanitária já trabalham naquela região, mas muitas delas limitam-se a registrar violações aos direitos humanos que testemunham. Espero que possamos ver mais que isto em termos de resolução do conflito”, acrescentou.

Falando acerca do impacto da experiência de três meses como observador na Terra Santa, Eduardo, de 26 anos, destacou o que aprendeu naquele período: “a abordagem do movimento ecumênico aos temas de paz e justiça preza o diálogo. Acredito que o programa de acompanhamento nos ensina diferentes níveis e formas de fortalecer o diálogo em busca da paz”, concluiu Eduardo que, assim como Erico, é membro da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).

“A decisão da ONU oferece ao povo palestino a sensação de que há uma possibilidade real de que consigam estabelecer um Estado independente depois deste longo período de luta por liberdade e dignidade”, afirmou Michel Nseir.

“Esta edição temática do FSM acerca do conflito na Palestina e Israel, especialmente no momento crítico atual, é um sinal da solidariedade dos movimentos de base da sociedade civil que consideram a causa palestina não só um problema social, mas também político”, acrescentou.

Manuel Quintero, por sua vez, apontou para o valor simbólico da decisão da ONU. “Isto significa um pequeno passo à frente, uma possibilidade de inaugurar um novo período de negociações sobre questões centrais do conflito, como a segurança humanitária, o direito à terra, o fim das ocupações e a possibilidade de retorno dos refugiados”, disse.

“Considero extremamente significativo que esta edição do FSM tenha acontecido aqui em Porto Alegre. Tendo acolhido tantas edições do evento, esta cidade promoveu um novo tempo nas relações dos movimentos sociais e, de nossa parte, acreditamos que a sociedade civil global pode e deve desempenhar um papel importante na busca por justiça e paz no conflito na Palestina e Israel”, concluiu.

Perguntados sobre que mensagem gostariam de transmitir aos próximos acompanhantes ecumênicos a desembarcar na Terra Santa, Natalia e Eduardo tiveram repostas similares. “Aprenda”, disse Natalia. “Este povo tem tanto a ensinar com sua dignidade, força e alegria’. Eduardo acrescentou: “Faça tudo que puder para realmente conhecer o outro e ouvir o que dizem. Muitas pessoas nesta região sofrem com restrições de toda sorte de barreiras, fronteiras ou isolamento”, disse.

Em 2012, o PEAPI chegou aos dez anos e já enviou mais de 1000 voluntários para Palestina e Israel, que passaram cerca de três meses na região oferecendo um importante serviço às comunidades afetadas. Os acompanhantes ecumênicos vieram de 23 países diferentes, principalmente da Europa e da América do Norte. Mais recentemente, graças ao apoio de conselhos regionais, como o Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), países como Brasil, Venezuela, Equador, Argentina, Uruguai, Paraguai, Austrália e Nova Zelândia também passaram a enviar representantes. Em dezembro deste ano, o PEAPI vai contar com o primeiro acompanhante vindo da Coreia do Sul.

Marcelo Schneider/CMI