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Domingo, 10/02/2013

Domingo

Estomihi

8:45 h: Culto no Salão Comunitário em Diadema (Rua Equador, 309)

10:30 h: Culto na Capela de Cristo (P. Guilherme)

Domingo, 17/02/2013

1° Domingo

na Paixão

8:45 h: Culto no Salão Comunitário em Diadema (Rua Equador, 309)
     
10:30 h: Culto com Santa Ceia na Capela de Cristo (P. Guilherme)
 
10:30 h: Culto das Crianças

 

 

 

 

 

 

Caros Membros e Amigos
da Paróquia Vila Campo Grande – Diadema!

Neste Domingo, que leva o nome latim Estomihi (= tu és a minha rocha e a minha fortaleza… – Salmo 31,3 ), refletimos sobre o texto de Lucas 18,31-43. Lá encontramos duas histórias diferentes que a primeira vista não combinam. Uma vez Jesus aplica um balde de água frio em seus discípulos com quem está a caminho de Jerusalém. Ele anuncia que irá ter que pagar o preço para sua vida, suas palavras e suas ações de filho de Deus que não agradaram a muita gente. Para ele está claro que ele não pode continuar com sua opção radical de vida para sempre porque principalmente os influentes ficaram encomodados com sua forma de aliviar o peso das pessoas simples com o perdão e aceitação incondicional.

Aos dicípulos este discurso de Jesus não agrada de jeito nenhum. Eles querem que ele continue para sempre eles. É a maior experiência das suas vidas e agora ele fica falando que vai sofrer e morrer. A quem nós amamos, esta pessoa não queremos ver sofrer, muito menos morrer. É compreensível a reação dos discípulos, mas Jesus é não quer ser visto somente pelos sucessos e vitórias, mas sim como alguém que é submetido as contradições deste mundo e terá que pagar o preço por elas, mesmo que a contragosto como veremos em Getsemane quando Jesus tem medo da morte e pede para ser poupado.

Logo em seguida vimos como Jesus vem em benefício justamente dos fracos e necessitados, sempre em prol da vida. O cego grita por ele, o chama com o título de honra: Filho de Daví. Os outros querem afastá-lo, mas ele é recebido por Jesus e volta a enxergar. Quem chora não mama – tua fé te ajudou. Jesus fica ao lado dos mais fracos, ao lado de todos que sofrem – até a morte na cruz. Inversão das coisas: o cego vê e os sãos estão cegos.

A tua fé te ajudou, diz Jesus. O que vivemos na profunda confiança em Deus, isto nós leva adiante. A fé neste sentido é a dádiva de Deus, que faz enxergar o que importa na vida, tanto na bonança como na adversidade. Ninguém cai mais fundo que na mão de Deus.

Saudações

P. Guilherme Nordmann


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Máscaras – Rubem Alves

Tenho de confessar que o carnaval me cansa. O desfile das escolas de samba me causa um tédio sem fim. As plumas coloridas, as fantasias caras, o ritmo das baterias, o virtuosismo dos sambistas, o tremor das nádegas e seios nenhuma emoção me provocam a não ser o tédio. O que desfila no sambódromo é de uma mesmice chatíssima, que se repete a cada ano. Quem viu um viu todos.

Isso não se deve a nenhuma implicância minha com o carnaval. Eu até que gostaria de sentir entusiasmo. Pensei, então, que, quem sabe, um carnaval diferente… Quando eu era menino e estudava piano aprendi a tocar uma versão facilitada do Carnaval de Veneza. Fiquei sabendo, então, que em Veneza há um carnaval famoso. Mas nenhuma idéia eu tinha de como ele era, e ainda não tenho. Exceto que se trata de uma imensa orgia de máscaras. Veneza é uma cidade de máscaras que se vendem o ano inteiro, e eu mesmo comprei algumas.

As máscaras fascinaram Bachelard. Sobre elas escreveu um ensaio em que chama a nossa atenção para o fato de que, antes de existirem como objetos usados para esconder o rosto, as máscaras moram dentro de nós como entidades do nosso psiquismo. Todas as vezes que olhamos para um rosto e ele nos parece misterioso, lugar onde um segredo se esconde, estamos pressupondo que ele não é um rosto mas uma máscara, uma dissimulação.

Isso já é sabido de longa data. Está dito na palavra “pessoa”, que vem do latim persona, que quer dizer “máscara de teatro”. O teatro é algo que precisa de um público para existir. Sem um público ele não tem sentido. As personae, as máscaras de teatro, portanto, são usadas para um público. O público vai ao teatro para ver a “máscara”, a “representação” de um papel. Não lhe interessa o rosto verdadeiro por detrás da máscara. Esse rosto desconhecido é ignorado pelo público, não tem nome. São as máscaras que têm nome. O meu nome, Rubem Alves, não é o nome do meu eu verdadeiro. É o nome da máscara pela qual sou reconhecido pelo público. É o nome do papel que esse público pede que eu represente. A aplicação do nome persona, máscara de teatro, a nós mesmos, implica no reconhecimento implícito de que a vida é uma farsa, uma representação, um carnaval de Veneza.

Não somos nós que pintamos as nossas máscaras. Álvaro de Campos dizia que ele era o “intervalo” entre o seu desejo, o seu eu verdadeiro e aquilo que os desejos dos outros haviam feito dele, a máscara. Essa máscara que se chama pessoa e que é representada pelo meu nome é uma evidência de que eu não me pertenço. Pertenço ao público. Pela máscara torno-me um peixe apanhado nas malhas das redes do público. Pela máscara não sou meu. Sou deles. Aí eles me fritam do jeito que desejam.

Há um princípio da medicina homeopática que diz que o semelhante se cura pelo semelhante. Sugiro aos psicodramatistas que o carnaval de Veneza é uma terapia coletiva em que esse princípio homeopático é usado: máscaras se curam com máscaras. Máscaras de papel e tinta para nos libertar da tirania da máscara colada em nosso rosto. Ponho a máscara de papel e tinta sobre a máscara de carne e ninguém fica sabendo quem sou. Fico desconhecido, sem nome. Estou livre do público. Posso deixar que o meu eu verdadeiro saia.

Mas as máscaras de papel e tinta padecem de grave limitação. Chega sempre a hora em que elas têm de ser tiradas. Sobre isso se escreveu um conto, não me recordo o autor. Marido e mulher procuraram conventos onde ficar a salvo das tentações do carnaval. Representavam fielmente o papel que estava escrito nas máscaras coladas sobre os seus rostos. Mas dentro de suas malas os seus eus verdadeiros haviam colocado secretamente máscaras de papel e tinta: escondidos atrás delas eles seriam livres, pelo menos durante os curtos dias de carnaval. As despedidas de marido e mulher nem bem haviam terminado e já as mãos procuravam as máscaras. Adeus conventos! Três dias com máscaras de papel e tinta, três dias livres das imposições das máscaras de carne, três dias sem nome, três dias de liberdade. Marido e mulher, escondidos atrás das máscaras, descobriram parceiros maravilhosos com quem dançaram, brincaram e tiveram prazeres nunca tidos um com o outro. Mas, finalmente, a hora de se tirarem as máscaras. Meia-noite: tiradas as máscaras marido e mulher se descobrem um nos braços do outro…

Carnaval é usar máscara para tirar a máscara. Trata-se de um artifício complicado, que só se usa diante daqueles que é preciso enganar para se ser livre.

Mas não será possível simplesmente tirar a máscara de carne e osso e sermos nós mesmos, sem nenhum disfarce? É essa busca que se encontra descrita num dos poemas de Alberto Caeiro. “Procuro despir-me do que aprendi,/ procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,/ e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, desencaixotar minhas emoções verdadeiras e ser eu, não Alberto Caeiro…” O poeta não quer ser Alberto Caeiro. Alberto Caeiro é máscara, um nome, criatura do público, um impostor que se alojou no lugar do se eu verdadeiro. Também o Amilcar Herrera não queria ser Amilcar Herrera. Queria poder tirar a máscara, esquecer-se do seu nome, ser ele mesmo, um ser que ninguém conhecia…

O que é que se vê quando se tira máscara? Quem responde é Álvaro de Campos. “Depus a máscara e vi-me no espelho./ Era a criança de há quantos anos./ Não tinha mudado nada…/ Essa é a vantagem de saber tirar a máscara./ É-se sempre criança…”

A criança sempre horroriza o público. A criança ainda não aprendeu o papel, não usa máscaras, não participa da farsa, não representa. Seu rosto e o seu eu são a mesma coisa. A qualquer momento a verdade que não devia ser dita pode ser dita pela sua boca.

As máscaras de carnaval podem ser colocadas e tiradas pela própria pessoa. Mas a máscara colada no nosso rosto só pode ser retirada por uma outra pessoa. Ela só se desprega da nossa pele quando tocada pelo toque do amor. E assim sabemos que estamos amando: quando, diante daquela pessoa, a máscara cai e voltamos a ser crianças…

(Correio Popular, 18/02/1996)