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Era para ser uma celebração de Bodas de Prata. Coisa simples e tranquila para qualquer pastor. Mas, este é um caso diferente: Depois de ficar o dia inteiro em uma das pontas da Paróquia no Encontro Paroquial de Mulheres, cheguei a casa, tomei meu banho, arrumei as coisas (violão, livro de liturgia, talar,…) e fui para o destino: a casa do casal Deolindo e Roseli!

Saindo de casa, isso já era de noite (bem escuro), caiu um toró d’água. Graças a Deus que choveu. Estávamos precisando! Porém, esse vai ser o detalhe fundamental da história: a chuva!

Com a chuva e a serração que surgiu ficou mais difícil encontrar o lugar onde eu deveria celebrar as Bodas. Esta aconteceria no interior e na casa do casal. Eu não sabia muito bem onde era. Tinha vagas informações. Fui chegando e pedindo informação de porteira em porteira.

Numa dessas porteiras, entradas e estradas (carreadores) o carro atolou. Na verdade atolar é um termo sutil. Ele grudou num monte de barro e não saía de jeito algum.

Saí em busca de ajuda. Ao chegar à casa mais próxima aconteceu o primeiro evento: o cachorro se soltou da corrente e veio corredo em minha direção, latindo e com ar de feroz. Com tanto medo, soltei um berro que o cachorro recuou.

Dois garotinhos me atenderam. Pedi se eles sabiam onde era a propriedade do casal Deolindo e Roseli, com quem eu iria celebrar as Bodas. Eles disseram, é logo ali (mas esse logo ali…)

Eles pegaram uma lanterna e foram me levar. Atravessei umas 6 ou 7 cercas. Entrei em pasto, saí de pasto, entrei em pasto. Isso tudo com camisa social, calça social e sapato social.

Quando pensei que já estava chegando um dos meninos disse: cuidado que a vaca que deu bezerro está vindo e está brava. Eles pularam a cerca do curral e eu, no desespero, consegui escalar mais de dois metros de cerca de madeira. Pulei para o outro lado do curral e dei de cara com uma cerca de arame farpado. (não sei se você ainda se recorda, mas – como já falei – isso foi de noite, no escuro, com uma lanterninha na mão.)

Continuamos o trajeto pasto adentro para chegar à casa dos noivos. Quando eu pensei que nada mais poderia acontecer, um dos garotos grita: cuidado com a represa! Quando vi já estava com os pés molhados quase entrando na represa de peixes.

Assim, finalmente cheguei à propriedade do casal onde fui prontamente atendido. Logo conseguiram um trator. Aí fui eu novamente, rumo ao mesmo lugar de onde havia saído para, de TRATOR, desatolar o carro e conseguir chegar ao lugar certo para as bodas (Andei de trator pela primeira vez na minha vida, hoje!).
A celebração aconteceu, ainda que com um considerável tempo de atraso. Os meus sapatos, esses eu posso jogar fora, porque o solado rasgou de fora-a-fora. Entrou barro em cada parte deles. E assim se resume a noite de hoje. Ao final, deu tudo certo.

Agora, o que mais vai me marcar nesta noite não será o atolamento do carro, nem o cachorro que quase me atacou, muito menos a vaca brava ou a represa na qual eu quase caí. O que vai me marcar na noite de hoje são outros detalhes.

O que fica comigo é a simplicidade e o carinho das pessoas aqui de Rondônia.

Esses dois garotinhos (Zé e Tiago) que me ajudaram na travessia, não tiveram medo de andar comigo no escuro e na chuva para me ajudar a chegar ao meu destino. Deixaram o conforto do seu lar para me apoiar num momento de dificuldade. Eles nem me conheciam, mas não hesitaram em me ajudar.

O povo que estava preparado para a festa não hesitou em me dar apoio. Estavam todos arrumados para a festa, limpos e perfumados. Porém, não se preocuparam por ter que pisar no barro comigo para tirar o carro do atoleiro. Subiram comigo no trator e fomos baixo uma forte chuva para fazer o socorro.

Cada dia mais esse povo querido, simples, singelo e fraterno aqui de Rondônia está me ensinando a ser e viver Igreja de Jesus Cristo. Louvado seja Deus!

Pastor Marcelo Peter
Paróquia Luterana Caminho da Fé
Alta Floresta – Rondônia