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1. Fundamentação:

O que dizem manifestos e posicionamentos da Direção da IECLB sobre saúde:
Do ponto de vista teológico, reconhecemos toda e qualquer enfermidade como um desafio ao cuidado que devemos ter para com todas as pessoas, criaturas amadas por Deus. Jesus, em seu ministério, demonstrou particular cuidado para com as pessoas enfermas, restituindo a saúde a não poucas delas e reinserindo-as no convívio social. Rejeitou a noção de que as doenças fossem causadas pelo pecado pessoal dos enfermos ou de seus pais (João 9.1-3). Portanto, devemos rejeitar toda e qualquer pregação que enfatize ser a doença resultado do pecado das pessoas enfermas. As pessoas nessas condições necessitam solidariedade e conforto, não acusações. Tampouco vemos qualquer fundamento bíblico na concepção, lamentavelmente bastante propagada, de que as doenças, em geral, fossem resultado da ação de demônios ou de Satanás. Devemos, antes, ver na doença e no sofrimento por ela causado, um chamado a debelar as enfermidades ou limitar seus efeitos danosos, num espírito de misericórdia, compaixão e cuidado para com nosso próximo. Apoiamos os esforços da medicina, dos corpos médicos e da saúde na cura e na diminuição das dores, bem como o empenho dos gestores públicos em orientar adequadamente a população a adotar medidas que auxiliem na prevenção.

Como igreja, oferecemos o acompanhamento pastoral às pessoas enfermas e seus familiares. Não devemos, tampouco, deixar passar a oportunidade de refletirmos com as comunidades sobre nossa condição humana e o sentido da vida. Como seres humanos, estamos sujeitos a enfermidades e, em definitiva, à morte. Em momentos como estes, somos recordados de nossas limitações e vulnerabilidades, bem como da transitoriedade da vida. A doença é uma ameaça à vida, e a cura um fortalecimento para a vida. Enfermidades prolongadas limitam seriamente a qualidade de vida; contudo, não raramente também despertam para dimensões positivas da vida até então não detectadas ou negligenciadas. Ademais, a enfermidade nunca é um episódio que afeta apenas individualmente as pessoas, quando adoecem. Ela também atinge o tecido social e as relações humanas. Ela “perturba” a convivência, mas também é oportunidade ímpar para exercermos o cuidado para com a vida e de umas pessoas para com as outras. Em diálogo com Deus, em oração, pessoas enfermas podem até mesmo encontrar, positivamente, uma possibilidade e finalidade oculta em sua condição. Não caberá, porém, a outras pessoas, muito menos ao conselheiro espiritual, sugerir possibilidades desse tipo, mas devem limitar-se ao apoio solidário, à palavra amiga, à proclamação da graça divina e à intercessão.

(…)  Em sua pregação, a igreja deverá auxiliar a que as possibilidades positivas aqui mencionadas sejam fortalecidas e as negativas combatidas. Por fim, ela animará à fé e à confiança em Deus, ao proclamar que o sentido de nossa vida não se limita aos dias entre nosso nascimento e nossa morte, mas repousa no próprio Deus que nos criou, “nos chamou pelo nosso nome” e nos acolhe em seu reino. “Na verdade não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que há de vir.” (Hebreus 13.14)
Manifesto acerca da Gripe A – 2009
Texto completo do Manifesto

 

(…) a Igreja necessita quebrar o silêncio sobre HIV/Aids, não por causa do vírus, mas por causa das pessoas e do evangelho de Jesus Cristo. Reconhecemos, contudo, a nossa dificuldade de falar sobre HIV/Aids. Confessamos que existe preconceito e falta de solidariedade para com pessoas que vivem com Aids. Também constatamos que tudo isso, associado à falta de informação e de compreensão, pode agravar a enfermidade e impedir a melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV. Por isso, como Igreja, precisamos pedir perdão a todas as pessoas que vivem com Aids pelo nosso silêncio que, certamente, contribuiu para a exclusão e o preconceito e fez aumentar o seu sofrimento e de seus familiares nestes mais de 20 anos da epidemia.

Contudo, como pessoas acolhidas por Deus e feitas um em Cristo Jesus no batismo (Gálatas 3.23-29), assumimos, agora, o compromisso de ser Igreja que serve, acolhe, ampara, consola, orienta, profetiza (Lucas 4.18-21). Isso implica no resgate de valores éticos cristãos como a fidelidade, a solidariedade, a esperança e o amor nos relacionamentos humanos. (…) Também em nossas comunidades há pessoas que vivem com HIV/Aids. Por isso, as comunidades e seus membros são desafiados a abordar o tema transversalmente nos grupos de Ensino Confirmatório, de Jovens, de Mulheres, de Casais, de Terceira Idade, na OASE, nos presbitérios, entre outros.

(…) Não há, nem pode haver, qualquer dúvida de que a proclamação e o ensino dos dez mandamentos (Êxodo 20) é parte integrante e irrenunciável da prática da IECLB. Igualmente é sabido que Jesus Cristo resumiu todos os mandamentos no duplo mandamento do amor a Deus e ao próximo (Mateus 22.34-40). De nossa confissão luterana sabemos que o cumprimento da lei de Deus não se dá por nossas próprias forças, mas apenas a partir da graça de Deus. Assim, o cumprimento do primeiro mandamento, reconhecer que Deus está acima de todas as coisas, é a base para o cumprimento de todos os demais mandamentos. Por isso, em sua explicação dos mandamentos, no Catecismo Menor, Lutero, iniciou todos eles com “Devemos temer e amar a Deus, para que…” Ou seja, o pleno cumprimento dos mandamentos se dá apenas no temor e amor a Deus, em fé, sob a orientação do Espírito Santo.

Assim, não podemos pressupor que a proclamação dos mandamentos por si só possa levar ao seu cumprimento. Concretamente, isso significa que a fidelidade matrimonial, fruto do evangelho, deve ser sempre proclamada em conjunção com a proclamação do senhorio de Deus, mas não pode ser transformada em programa social. Na esfera pública, temos que ter em conta a realidade assim como ela se apresenta e aí servir em solidariedade e amor. Como sabemos, hoje impera em larga escala a permissividade nas relações sexuais, o que é alentado, não por último, por programas de grande audiência na televisão. É bem verdade que um casal mutuamente fiel e soronegativo não corre risco de ser infectado pelo vírus do HIV através de suas relações sexuais, e devemos proclamar essa verdade. Mas essa não pode ser a base de uma política pública de prevenção ao HIV e à Aids. Nos casos em que apenas um dos parceiros é fiel (e muitas vezes supõe que a outra parte também o é) a pessoa fiel corre grande risco de contrair a enfermidade através do parceiro que não mantém a fidelidade. Infelizmente muitas pessoas – particularmente mulheres – são assim infectadas por seus parceiros. Tampouco podemos assumir que todas as pessoas que abraçaram a fé tenham um comportamento irrepreensível na área sexual. O pecado, obviamente, se faz sentir também nesta área.

Na esfera pública, pois, será preciso, empenhar-se por modalidades de prevenção mais eficazes, como seja a promoção do uso do condom (“camisinha”) nas relações sexuais. É terrível que paire hoje sobre essa dádiva maravilhosa da criação de Deus, a sexualidade humana, em cujo exercício toda vida humana tem sua origem, o espectro de que possa ser também o veículo transmissor de uma enfermidade para a morte, enfermidade para a qual ainda não dispomos de cura. A ciência deve dedicar esforços ainda maiores e os governos alocar recursos ainda mais substanciais, na busca de meios para superar em definitivo esse insidioso mal. Enquanto isso somos chamados a de todas as formas possíveis minorar o mal e apoiar as pessoas que sob ele padecem.
Manifesto Dia mundial de luta contra a AIDS – 2004
Texto completo do Manifesto

 

Doenças psicossomáticas e psicossociais requerem tratamento especializado e, sobretudo, a acolhida, através de uma comunidade que promove cura em todos os sentidos. Falamos em comunidade terapêutica. Tais recursos Deus os coloca à disposição através da intermediação humana. Deus coloca muitos meios à disposição, como por exemplo: visitação, aconselhamento, encaminhamento para atendimento especializado, intercessão com imposição de mãos, além dos recursos médicos que nunca devem ser desprezados. Nos cultos e nas reuniões dos grupos pode e deve haver espaço onde as alegrias bem como as dores e os sofrimentos são compartilhados. Pois alegria compartilhada duplica o seu sentido e alcance, e dor repartida perde a metade do seu peso. A comunidade cristã ora em favor das pessoas que estão enfermas. Tudo isso devemos afirmar; é o sinal verde do semáforo.

Doenças psicossomáticas e semelhantes requerem especial serenidade, responsabilidade e discrição da nossa parte. É preciso haver discernimento entre a competência espiritual e psicossomática. Esse é o alerta do sinal amarelo.

Tais doenças não poderão ser curadas por decreto, muito menos em forma de show e espetáculo público, ou seja, em assim chamados cultos de libertação. Quando há suspeita de que uma pessoa seja possessa,“necessário se faz um criterioso e abalizado estudo, assessoramento de especialistas na área da saúde e envolvimento da liderança da comunidade para uma tomada de decisão a mais objetiva possível. Como em outras áreas, também nesse assunto decisões monopolizadas pelo pastor ou pastora e, mesmo, por um pequeno grupo exclusivo, abrem portas ao abuso e à arbitrariedade.

Constatada a veracidade do caso, o exorcismo dar-se-á pela oração, com o envolvimento do pastor ou pastora e da liderança da comunidade. A cura requer também discrição, em respeito ao paciente e à sobriedade da atuação do Espírito. De modo algum, a oração deve ser desvirtuada, pelo exorcismo, em espetáculo público para a atração de novos fiéis” (cf. IECLB – às portas …, cad. 1, item 2.7; 2.18,6). Aí o semáforo passa para o sinal vermelho.
Posicionamento IECLB no Pluralismo Religioso – 2000
Texto completo do Posicionamento

 

Não é raro ouvir-se dizer que AIDS é o justo castigo de Deus para o libertinismo sexual, as drogas e outras aberrações da atualidade. Tal juízo é perigoso. Pode incorrer em injustiça. Posso eu dizer exatamente quem merece o juízo de Deus, quem não? Jesus assumiu atitude diferente (cf Lc 13.1s). Ademais, não será arrogante tal juízo emitido por quem se considera justo? No Novo Testamento, doença é sem dúvida um mal. Mas Jesus não admite seja interpretado como castigo para determinadas pessoas (cf Jo 9.1 s). Que toda doença seja um castigo de Deus é opinião pagã, não cristã. Naturalmente, pode haver culpa na contração de certas doenças. No entanto, proíbe-se equacionar doença e pecado. AIDS atinge muita gente que, humanamente falando, é inocente. Quem tem a coragem de dizer ser castigo de Deus?
Aliás, é muito comum tentar-se fazer uma distinção entre aidéticos “inocentes” e outros “culpados”. Aos primeiros pertenceriam as vítimas de transfusões de sangue; os culpados seriam os demais. Novamente é preciso alertar para a injustiça que desta forma se poderá fazer. Separar entre o joio e o trigo (Mt 13.24 s) também neste caso vai terminar em desastre.

No fundo, porém, toda esta discussão sobre culpa e pecado é supérflua quando se trata de socorrer os doentes. Jesus não excomungou os pecadores. Manteve com eles comunhão de mesa (cf Lc 15.2). Não aprovou o pecado. Entretanto não fez depender sua ajuda de méritos ou dignidade. Se nós negarmos ajuda e comunhão aos que são considerados ou que realmente são pecadores, nós nos colocamos fora da comunhão com Jesus. Porventura não pertencemos também nós aos pecadores? Comunidade cristã é a comunhão dos pecadores agraciados. É por isto também uma comunidade terapêutica. Somos chamados a nos ajudar mutuamente. Um exemplo de tal ajuda temos nos quatro homens que não se renderam diante das dificuldades até terem posto o paralítico aos pés de Jesus (Mc 2.1 s). Culpa, se de fato existe, não é motivo para negar aos aidéticos a ajuda e a proximidade humana.

“Percorria Jesus toda a Galiléia ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo” (Mt 4.23). Nosso poder de cura não é igual ao de Jesus. Especialmente frente à AIDS sentimos dolorosamente nossas limitações. Ainda assim, alguma coisa é possível fazer.
Manifesto sobre AIDS – 1989
Texto completo do Manifesto

 

2. Desdobramentos práticos sobre saúde:

Animo, pois, nossas comunidades e setores de serviço a constituir grupos de interesse e ação, bem como a desenvolver programas voltados para a prevenção do HIV/Aids e para o cuidado das pessoas soropositivas e que vivem com a Aids. Importante será, nesse particular, desenvolver parcerias com o setor público, seja da área da educação quanto da saúde.
Como comunidade de fé, nos conscientizamos uma vez mais e nos motivamos renovadamente à ação quando nos recordamos da palavra de Jesus: “Os sãos não necessitam de médico, e sim os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórcia quero e não holocaustos; pois não vim chamar justos, e sim pecadores.” (Mateus 9.12-13)
Manifesto sobre o Dia mundial de luta contra a AIDS – 2004
Texto completo do Manifesto

 

AIDS é uma doença mortal, mas em princípio evitável. Há como se proteger:

Os aidéticos, eles mesmos, têm responsabilidade em barrar o curso da doença e evitar a transmissão. Já nos referimos ao exemplo da doação de sangue. É claro que a responsabilidade é bem maior. AIDS requer comportamento ético em todos os sentidos. Requer também o respeito dos doentes aos sãos.

De igual forma, porém, os sãos devem o respeito aos aidéticos. Está comprovado que a falta de solidariedade e a rejeição aceleram em muito o ritmo da doença. A excomunhão do aidético colabora com sua morte. Assim como todos necessitamos do ambiente familiar e social para nosso bem-estar, assim também o doente. Lembremo-nos mais uma vez do exemplo de Jesus: deu sua companhia aos doentes e os curou. Comunhão tem força terapêutica. Comunidade cristã sabe disto. É por que solicitamos:

A AIDS, por sua vez, confronta o ser humano com a perspectiva da morte. Não deixa de ser um problema espiritual. Ceifa, não raro, pessoas jovens. Exige dos doentes e dos que os acompanham enormes energias psíquicas. AIDS lança as pessoas em profundas crises. Nelas as forças da fé são vitais. Por isto é importante a oração, a aprendizagem da obediência a Deus, a comunhão dos irmãos e das irmãs. Diz o Novo Testamento ser a fé a vitória que vence o mundo (1 Jo 5.4). É capaz de vencer também a AIDS.
Manifesto sobre a AIDS – 1989
Texto completo do Manifesto