|

No dia 09 de novembro, a Paróquia Evangélica de Confissão Luterana dos Migrantes de Cacoal, localizada à Avenida JK, 574, no Bairro Novo Horizonte, completa 40 anos de atividades.

No dia 15 teremos uma belíssima comemoração com diversas atividades durante o dia, como o culto festivo com a presença do primeiro pastor da Paróquia, João Artur Muller da Silva e sua esposa Cilene Muller da Silva, que residem em São Leopoldo-RS.

Foi uma comemoração bonita, com presença de muitas pessoas, muitas lembranças foram revividas com o levantamento histórico da paróquia que foi mostrado até mesmo com a ata de fundação da Paróquia, bem como fotos antigas e mais recentes.

Quem se interessar pode ler abaixo como tudo começou na paróquia.

Como tudo começou

Quando em 1972 a IECLB enviou a Rondônia o P. Geraldo Schach, não havia nenhuma forma estrutural de paróquia e comunidade. Haviam sim, membros de nossa Igreja oriundos do Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e um homem, disposto a enfrentar toda a sorte de dificuldades para levar o evangelho a este povo disperso na mata. Tudo estava por ser feito. E lentamente foi surgindo núcleos de membros e comunidades. Assim o trabalho missionário e pastoral do P. Geraldo foi se ampliando. Na ocasião, a IECLB achou por bem situar a sede do trabalho e a residência pastoral, em Pimenta Bueno. Nesse mesmo ano, conforme depoimentos de membros e do próprio P. Geraldo, o local onde hoje se ergue Cacoal era puro mato e havia apenas algumas taperas (barracos). Inicialmente, o P. Geraldo atendia os membros em Espigão D Oeste, Vila de Rondônia, Cacoal, Ouro Preto, Vilhena, Porto Velho e adjacências. Onde havia um membro, lá estava o pastor. Além das tarefas pastorais comuns, precisava localizar, reunir e congregar os membros migrantes.

Ano após ano, o número de paus-de-arara lotados de famílias chegando a Rondônia aumentavam. E uma grande maioria dos colonos que aqui chegavam pertencia a nossa igreja no Espírito Santo, em Minas Gerais ou em outras comunidades. Isto fez com que o trabalho do P. Geraldo fosse sendo cada vez mais solicitado. Por outro lado, o Departamento de Migração começara a se preocupar seriamente, com sua responsabilidade, para com todo este povo que se instalava na Rondônia.

A Paróquia de Pimenta Bueno comportava um grande número de comunidades e pontos de pregação separados, pelas longas distâncias. Se não fossem as péssimas condições de estrada, não haveria tantos problemas de atendimento. Quantas vezes foram necessárias ao P. Geraldo abandonar seu carro no atoleiro e, montar numa mula, ou então, se aproveitar das pernas para chegar aos locais de culto.

Foi então, em 1975, numa Assembléia Geral da Paróquia de Pimenta Bueno, com a presença de membros de todos os lugares e recantos, que foi realizada a divisão e a criação de mais uma paróquia. Acontece que, com a chegada cada vez mais intensa de colonos para a região de Cacoal, se fazia necessário um atendimento pastoral regular. Nesta Assembléia ficou decidida a delimitação entre as duas paróquias. Como Cacoal está dentro de um projeto de colonização (Projeto Gy-Paraná) programado pelo INCRA, ficou estabelecido que de Riozinho (Linha 14) em direção a Porto Velho, ao longo da BR-364, seria a área da Paróquia Evangélica de Cacoal. A Paróquia de Pimenta Bueno ficou com sua área delimitada pela Linha 15, Espigão D Oeste e ao longo da BR-364 em direção a Vilhena. E assim estava sendo dado mais um passo para a estruturação eclesiástica da IECLB na Rondônia.

Ao se realizar a divisão da Paróquia de Pimenta Bueno, em 1975, já estava sendo estudada pelo Departamento de Migração a instalação de uma equipe de trabalho na Paróquia Evangélica de Cacoal. Esta equipe de trabalho seria formada por um pastor, uma atendente de enfermagem e um técnico agrícola.

Enquanto no sul tudo corria normalmente, no norte, em Rondônia, a movimentação era grande. Sob os cuidados do P. Geraldo Schach, desbravador da IECLB em Floresta Amazônica, estava sendo construída a casa paroquial, na vila de Cacoal, futura sede de trabalho da equipe. As despesas de construção, em parte, foram custeadas pelo Projeto U.M.A. (United Mission Appeal), resultado de um convênio com A.L.C. (American Lutheran Church). Esse projeto financiou o trabalho da equipe em Cacoal, até 1980. Após esse ano, os membros da Paróquia Evangélica de Cacoal foram responsáveis pela autonomia financeira. Sabemos que não foi fácil andar com os próprios pés. Por muitas vezes a IECLB nos socorreu com os nossos pedidos de ajuda financeira.

No decorrer de 1975, ano de exames finais para o futuro Pastor João Artur Muller da Silva. Foi num destes tradicionais e inesquecíveis cafezinhos, na Faculdade de Teologia em São Leopoldo/RS, que o mesmo encontrou-se com o P. Arteno Ilson Spellmeier, onde se deu o primeiro passo para atuação pastoral em Rondônia. Assim, foram vários os encontros até que o futuro Pastor João aceitou o convite. Ainda nesse ano, teve a oportunidade de participar da inauguração da casa paroquial, na vila de Cacoal, no dia 30 de novembro de 1975.

Após uma longa viagem de avião até Porto Velho e de ônibus, o futuro Pastor João chegou à vila de Pimenta Bueno. De táxi chegou à residência do Pastor Geraldo Schach e família, professor Adalberto Reenche e o Pastor Rodolfo Schneider (Secretário Geral da IECLB) que se encontrava em visita a essa região.

Os preparativos da festa de inauguração da casa paroquial estavam ao encargo do Pastor Geraldo e dos membros da recém formada Paróquia Evangélica de Cacoal. E finalmente, sob chuva, chegou 30 de novembro, dia da inauguração. Na viagem da vila de Pimenta Bueno a vila de Cacoal (40 km), o futuro Pastor João, já sentiu o que esperaria em janeiro de 1976: barro, atoleiros e muita chuva. Mas, ao invés de desanimar, estava animado em assumir as funções pastorais, junto aos membros de nossa Igreja, carente de atendimento pastoral, assistencial e de aconselhamento.

Como em novembro já se faz sentir a época das águas, a chuva que caiu não estragou a festa de inauguração. Quando deu uma parada na chuva, aproveitamos para celebrar a inauguração da casa, sendo a locução feita pelo futuro Pastor João. Na ocasião, a chave da casa foi entregue para o futuro Pastor João, pelo então presidente da Paróquia Evangélica de Cacoal, Sr. Otto Raasch.

Retornando para o sul, participou do curso de coordenação e atualização, em janeiro de 1976, que o Departamento de Migração ofereceu a todos os obreiros da IECLB em novas áreas de colonização. Estavam presentes: Rondônia, Mato Grosso e Pará.

Depois do curso, o Pastor João e os demais prepararam a viagem para a vila de Cacoal. Foi colocada à disposição da equipe, uma camionete Toyota Bandeirante. Pela manhã do dia 13 de janeiro de 1976, carregaram o material básico como projetor de Slides, filmes, um grupo gerador, material de trabalho, a mudança do Pastor João, malas, pacotes, mimeógrafo, remédios, vacinas, sementes, etc. Partiram rumo ao Norte. A viagem durou nove dias entre Porto Alegre e Cacoal, atraso de três dias como estava previsto.

A diretoria paroquial e as diretorias das comunidades foram eleitas provisoriamente em reuniões comunitárias com a presença do P. Geraldo. A diretoria da Paróquia era composta: presidente, Sr. Otto Raasch; vice-presidente, Frederico Kester; tesoureiro, Ricardo Alberto Raasch; secretário, Sr. Carlos Gaede. O número de membros por comunidades era de Jacamim 16; Cacoal – Centro 48; Cacoal 6 34; Linha 5 28; Vila de Rondônia 09; Ouro Preto 16; Riozinho 10. Assim que o P. João A. M. da Silva assumiu o trabalho na Paróquia, procurou reunir todas as diretorias e solicitou que permanecessem na direção das comunidades até as assembléias em novembro de 1976. A turma aceitou a sugestão e assim fomos juntos caminhando em direção à edificação da Paróquia e das comunidades.

As distâncias que separavam as comunidades e os pontos de pregação de Cacoal variam entre 13 km até 500 km. Como as estações do ano se reduzem em duas, estação das águas e a estação das secas, as estradas se apresentavam seguidamente em péssimas condições, sendo até, em certas épocas, intransitáveis.

Em 30 de novembro de 1975, por ocasião da inauguração da casa paroquial, o Pastor João conheceu os demais membros que iriam compor a equipe de trabalho da Paróquia Evangélica de Cacoal: Sr. Adolfo Buttow (Pelotas-RS), formado em técnicas agrícolas e a esposa Lenir Torchelsen Buttow (Pelotas-RS) atendente de enfermagem.

De acordo com o projeto elaborado para a atuação da equipe em Cacoal ficou reservada ao Sr. Adolfo, a orientação agrícola e pecuária aos membros e a Lenir ficou encarregada da orientação sanitária, higiênica e alimentar. Como também a realização de cursos de treinamento e formação de líderes rurais, dispostos a servir na comunidade com a orientação recebida, procurando contatos e apoios com grupos profissionais.

No primeiro ano a equipe teve a oportunidade de se conhecer, de se aproximar um do outro, e isto aconteceu tão intensivamente porque residiam todos juntos na casa paroquial.

Neste primeiro ano de trabalho objetivaram conhecer e visitar os membros para assim colher subsídios para o planejamento do trabalho, de cada um em seu setor. Para a equipe foram inesquecíveis os atoleiros que juntos enfrentaram, assim como foram inesquecíveis as noites dormidas em paiol (tulha).

Na Assembléia Geral Paroquial do dia 14 de novembro de 1976, foi eleita a nova diretoria paroquial, assim composta: presidente, o Sr. Martinho Raasch, vice-presidente, o Sr. Floriano Kach, secretário, o Sr. Adriano Berger, vice-secretário, o Sr. Herberto Rossmann, tesoureiro, o Sr. Artur Klipel, vice-tesoureiro, o Sr. Nicolau Gumps e os vogais, os Srs. Luiz Gumps, Nicolau Haize e Germano Rossmann.

Em 1977, começaram os encontros em casas de colonos ou nas capelas, a fim de preparar lideranças rurais no campo da enfermagem e de técnicas agrícolas. O objetivo desses encontros era promover entre os membros um sentimento de servir, de cooperativismo sadio e desinteressado. O trabalho era aberto a toda população da vila de Cacoal.

Na quadra de terra que pertence à Paróquia Evangélica de Cacoal, o técnico agrícola realizou e cultivou uma horta experimental e um pomar de variadas árvores frutíferas. Esse tipo de trabalho, nesta época, visava incentivar e mostrar ao colono como aplicar técnicas no plantio e na conservação de uma horta e de um pomar.

Em março de 1977, a Paróquia Evangélica de Cacoal foi composta das seguintes comunidades: Cacoal Centro, Linha 8 (Jacamim), Linha 6, Linha 5 (Vista Alegre), Vila de Rondônia, Linha 24 (Ouro Preto). Todas estas comunidades possuem suas diretorias e algumas já construíram suas capelas. Outras destas comunidades estão em fase de construção e pretendem terminar este ano com a sua capela. Os pontos de pregação estão localizados nas seguintes regiões: Linha E, Linha 10, Linha 9, Linha 3, Linha8(Ouro Preto), Ariquemes e PortoVelho.

Em junho de 1977, a Paróquia recebeu o estudante Walter Fensterseifer. Foi apresentado aos membros em uma reunião. Iniciou o seu estágio a partir de 01 de julho. Nessa mesma reunião, o Pastor João comunicou a sua ausência do dia 27 de junho até 12 de julho, para uma viagem pastoral às comunidades de Porto Velho, Manaus e Boa Vista.

Entre vários assuntos que foram discutidos na Assembléia Geral Paroquial, no dia 17 de dezembro de 1977, foram sugeridos dois nomes para a Paróquia Evangélica de Cacoal: Paróquia dos Migrantes e Paróquia Evangélica Luterana dos Migrantes do Cacoal. Os membros presentes nesta Assembléia foram unânimes pelo nome Paróquia Evangélica Luterana dos Migrantes do Cacoal. Também foi estudado e aprovado o Estatuto da Paróquia.

Não podemos deixar de agradecer ao Pastor João Artur Muller da Silva, por ter aceitado o desafio de viver, sentir e experimentar uma vida dedicada aos membros, na região Norte, exatamente, em janeiro de 1976 até 1978, na vila de Cacoal/RO. Nós sabemos que não foi fácil, embrenhar-se mato à dentro a procura de membros, de famílias carentes por uma palavra edificante. Mas que valeu a pena. Graças a Deus!

Pesquisado por Clarice Boeck – Fontes consultadas: Artigo escrito pelo Pastor João Artur Muller da Silva e atas da Paróquia.