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Apesar do imenso progresso desde que a AIDS foi identificada pela primeira vez há 35 anos, a ameaça da AIDS ainda amedronta grande parte do mundo. Atualmente, 21 milhões de pessoas não têm acesso ao tratamento do HIV e as doenças relacionadas à AIDS são agora a principal causa de morte de adolescentes na África. Mais de 2 milhões de pessoas são infectadas anualmente. O mundo está enfrentando a catástrofe de 6 milhões de órfãos relacionados à AIDS e esses números estão crescendo.

Essas estatísticas alarmantes são parte do motivo pelo qual, em sua reunião do Comitê Central em Trondheim, Noruega no final de junho, o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) reafirmou seu compromisso de eliminar a AIDS como uma ameaça à saúde pública até 2030.

Nyambura Njoroge, Ministra presbiteriana e Executiva do Programa Ecumenical HIV and AIDS Initiatives and Advocacy declara que a reafirmação é vital porque as igrejas “continuam a enterrar pessoas de suas congregações. Precisamos garantir que as pessoas nos bancos das igrejas tenham acesso a esta carta pastoral para que se sintam parte da comunidade cristã. Para aqueles que convivem com o HIV, continuamos a nos comprometer a acompanhá-las.”

De fato, desde 1984 o CMI está na vanguarda daqueles que respondem ao HIV tanto na forma de assistência e compaixão como em defesa contra as causas raízes da vulnerabilidade à infecção. Entre muitas outras iniciativas revolucionárias, em 1996 o CMI lembrou as igrejas de reconhecer o elo entre a AIDS e a pobreza. Comunidades baseadas na fé foram exortadas a defender a acessibilidade de tratamentos antirretrovirais a todos. Aqueles envolvidos no combate à doença foram forçados a lidar com estigma e discriminação e, ao mesmo tempo, encorajar a responsabilização de governos e igrejas. O CMI apoia ainda o acesso universal ao tratamento e ajuda a superar barreiras políticas e legais que negam direitos a pessoas que convivem com o HIV enquanto promove a obtenção sustentável de recursos.

Njoroge é, portanto, encorajada pelo fato de tanto progresso já ter sido alcançado. Ela exorta “todos os cristãos a lembrar do quanto rezamos. Às vezes nos esquecemos do quão longe chegamos e de quantas das nossas orações foram atendidas.”

Como resultado do imenso ativismo global em todos os setores, quase 16 milhões de pessoas estão em tratamento hoje. Mas ainda há mais coisas a fazer.
“A situação é muito séria agora porque há novas infecções entre adolescentes. Muitas pessoas HIV-negativas estão vulneráveis” afirma. “Algumas mães transmitem involuntariamente o vírus aos bebês recém-nascidos. É especialmente difícil para uma mãe acordar e saber que ela passou o HIV adiante. Isso envolve culpa, vergonha e até mesmo trauma.”

A carta pastoral apela para os líderes das igrejas que liderem pelo exemplo, que supram as necessidades daqueles que precisam e que usem a voz profética das igrejas. Como diz Njoroge: “Se você é um líder na igreja é bom que você seja testado, porque figuras religiosas ainda são bastante respeitadas em muitas comunidades. Quando o líder de uma igreja fala sobre o HIV, ele dá à congregação a permissão de abordar assuntos que são tabu. Existe um segmento da comunidade cristã que ainda acredita que o HIV é uma punição de Deus pela imoralidade sexual. Pessoas conservadoras ainda vêem isso como uma questão moral.”

Ela ainda estimula as pessoas a “ver a conexão entre um ambiente violento, especialmente a violência sexual e baseada em gênero, e o HIV. Contextos violentos são um dos maiores promotores da pandemia ou pelo menos atrapalham seu tratamento.”

Esse é um ponto reproduzido pelo Dr. Manoj Kurian, o coordenador da Aliança de Defesa Ecumênica do CMI, cuja campanha “Viva a Promessa” coordena o apoio internacional às igrejas no que tange o HIV. “HIV e AIDS,” afirma, “nos alertam para uma condição particular que é muito mais do que médica, é uma condição social que revela as vulnerabilidades que sentimos como seres humanos e sociedades. É um sintoma de questões muito mais profundas que precisamos continuar a abordar não importa a situação.”

Além do mais, ele – talvez de maneira controversa – enxerga o clima econômico atual não tanto como um obstáculo, mas como um desafio. “São tempos de crise que nos fazem trabalhar juntos e muito melhor. Recursos são um desafio, mas só um desafio. Ter menos recursos não é desculpa, mas sim uma oportunidade de fazer perguntas difíceis a nós mesmos e continuar a investir nas nossas sociedades para garantir que possamos superar o HIV.

“Essas questões de pobreza e doença nos lembram do porquê de estarmos aqui e do que fazemos. Elas nos lembram que cabe a nós estar ao lado daqueles que se encontram às margens da sociedade. Jesus nos desafia hoje.”

* Robert Bartram é especialista em comunicações com mais de 20 anos de experiência obtida em uma série de organizações governamentais, intergovernamentais e de mídia, sediadas em Genebra.