Você já parou para pensar qual sua origem? Quais são seus descendentes? De onde eles vieram? Ao pensar um pouco sobre isso, logo nos (re) descobriremos migrantes. A história de nossos pais, avós ou bisavós revelam momentos de imigração. Momentos de saída de um lugar e chegada noutro. Quantas pessoas saíram da Alemanha e vieram para cá, no Brasil? Quantos de nós já ouvimos de familiares as dificuldades e desafios de chegar num país sem lenço, sem documento?!
Se ousarmos olhar mais atrás ainda para nossa história como povo de Deus, somos migrantes de uma terra onde a vida estava muito dura e insustentável.
Vários textos bíblicos falam da questão da migração.
A história do Antigo Testamento nos lembra que somos povo migrante. Povo sofrido pela escravidão, pela opressão e pela total falta de direitos nas terras do Egito. E Deus vê tudo isso. Ouve seu povo. Se inclina e age, libertando-nos (Ex. 3.7-9). E a cada momento, durante todo Antigo Testamento, Deus lembra seu povo do que Ele fez. E que o agir do povo não pode se tornar insensível à dor, à opressão. Em diversas passagens, Deus orienta o povo a manter os olhares e cuidados para pessoa imigrante, para o estrangeiro – “Respeitem os direitos dos órfãos e dos estrangeiros que moram nas cidades de vocês. Lembrem que vocês foram escravos no Egito, e que o Senhor, nosso Deus, os tirou dali.” (Dt. 24.17-18)
No Novo Testamento, o texto forte de Jesus onde ele diz “pois eu estava com fome e me deste de comer, estava com sede e me deste de beber, era estrangeiro e me recebeste em sua casa.” (Mt 25.35-36) nos aponta que não há justificação para a indiferença ou exclusão. Para quem vive do Evangelho, a mão que estendemos à outra pessoa, é a mão que estendemos à Cristo.
Nos dias 19 e 20 de setembro, na Paróquia dos Apóstolos, em Joinville, ocorreu a Oficina Pessoas Imigrantes e Refugiadas; com o apoio do Sínodo Norte Catarinense e sob a coordenação da Fundação Luterana de Diaconia. Estavam presentes pessoas de entidades do município, como Conselho dos Direitos Humanos, pastorais católicas e departamentos da Igreja Luterana, pessoas de diferentes grupos paroquiais e de diferentes igrejas e também pessoas imigrantes. A Diácona Angela Lenke conduziu a abertura com devocional, refletindo sobre Marcos 7. 24-30. O texto trata do encontro de Jesus com uma mulher estrangeira. Ao longo da história pessoas foram excluídas, apesar da lei social de amparar o estrangeiro, ajudar as pessoas em necessidades, fazer justiça pelo que sofre. Percebemos a coragem dessa mulher e sua inteligência ao conversar com Jesus. Quantas vezes ser imigrante é sinônimo de incapacidade? Quantas são as pessoas que vivem das migalhas que caem da mesa? O texto nos desafia ao diálogo de igual para igual. Imaginemos a cena: pessoas ao redor da mesa, comendo, bebendo e decidindo sobre as que estão debaixo da mesa e comendo as sobras. O texto revela que não é certo que alguns vivam de migalhas e que não tenham o direito de também sentar à mesa e participar da conversa. O diálogo é importantíssimo quando falamos em transformação e é algo que aparece na metodologia de Jesus ao ajudar as pessoas. Que o assunto migração não nos seja indiferente!
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