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A cada ano que passa, a cada novo natal celebrado, nos deparamos com uma característica marcante de nossa sociedade atual. A relatividade das coisas. Não só o tempo é relativo, como diria Einstein, mas parece que tudo se tornou relativo. A é relativa, a esperança é relativa, o amor é relativo. Tudo depende do ponto vista, do contexto, do que se deseja, do que se anseia, do próprio tempo.

Porém quando damos atenção devida a mensagem do Advento e do Natal vamos perceber que nada é relativo, mas tudo está em relação à.

Profecias, promessas, fé, esperança, amor… tudo tem seu tempo determinado, como diria Salomão. Por isso, advento é tempo, para parar e investir tempo. Esperar com paciência pelo tempo de Deus, por seu agir no tempo e no espaço desse mundo e de nossas vidas.

Advento e Natal é o tempo de Deus em nosso tempo.

Isso vamos perceber quando olhamos com fé, esperança e amor para o tempo, registrado na história dos tempos, e ver que há sim um TEMPO que se insere em nosso tempo e nele intervém para além do tempo. Não se trata do nosso tempo cronológico, que se conta pelas batidas do coração e nos faz ter a sensação estranha de não saber se é o tempo que correr de nós ou nós corremos atrás dele.

Trata-se do tempo de Deus, o Kairós. Esse tempo não é relativo, mas se vive na relação com o Senhor do Tempo, a qual é chamado na Bíblia de “tempo oportuno”, ou tempo gracioso, ou ainda, tempo de Salvação.

O apóstolo Paulo, ao resgatar o profeta Isaías 49.8 em sua 2ª carta aos Coríntios, lembra os irmãos na fé que a graça de Deus não pode ser recebida de forma inútil, porque Deus não relativiza sua graça, mas a oferece a cada dia, pois todos dia é tempo oportuno de salvação. Esse tempo, só Deus conhece e nós só podemos usufruir dele a partir do nosso relacionamento com o Pai Eterno, por meio da fé em Cristo e em comunhão com o Espírito Santo.

É no tempo de Deus que as profecias se cumprem, que as Suas promessas se concretizam, que o agir do Messias se manifesta. No tempo de Deus “há sinais de paz e esperança para este mundo que ainda é de Deus” (HPD 165)…. porém sem tempo pra nada.

Não há mais tempo para parar curtir a vida e a Criação. De sentar embaixo de um pé de tangerina com os amigos e degustar cada gomo azedo daquela doce fruta enquanto o sol brilha sorridente entre as folhas da árvore. De convidar alguém para dar uma volta na praça e comer cada grão de pipoca ao som das crianças brincando no parque. De ver as ondas quebrarem uma a uma a cada nova maré que vai e volta na praia.

Não há mais tempo para a família. De sentar juntos ao redor da mesa para compartilhar a refeição, as novidades, os sonhos, sem interferência da TV, da internet, dos ruídos da vida que correr lá fora atrás do tempo. 

Não há mais tempo para presentear com dedicação. Tudo é correria, fila, estresse, agitação. No final não se pensa mais na pessoa que será presenteada, mas apenas no presente cujo custo e benefício possa condizer com o pouco tempo que tenho para realizar essa tarefa já obrigatória no natal.


É nesses momentos de falta de tempo, inserido nessa agitação do natal, na expectativa do advento, no recenciamento emergente, na busca por um lugar para se hospedar, nas incertezas do porvir, no ardor do trabalho do dia a dia….que o anúncio da Boa Nova de Grande Alegria, no tempo e no espaço de nossas vidas, acontece.
Na mensagem do Natal, é possível ver o Tempo de Deus agindo em nosso tempo e também as contradições relativas a esse tempo.

Lucas registra que no tempo oportuno Maria ficou grávida. Mas não houve tempo necessário para que ela e José encontrassem pouso em Belém. No tempo gracioso, nasceu Jesus: O Deus conosco. Mas poucos tiveram tempo para dar ouvidos aos anjos e ao sinal da estrela e ir ao encontro do Deus menino. Houve até quem tirou tempo para organizar um infanticídio. Porém, no tempo certo, José e Maria foram alertados e fugiram para o Egito.

É nesse encontro e desencontro do Kairós com o Cronos, do tempo de Deus em nosso tempo, que se manifesta o dia de salvação. Tempo oportuno de graça em que Deus revelou Jesus Cristo ao mundo como Salvador.

Advento é tempo de Deus, pois é tempo de anunciar a Graça e a Salvação que Cristo nos dá e de que em tempo oportuno ele também voltará.

Teremos nós, tempo para viver esse tempo de Deus em nosso tempo? Ou vamos menosprezar justamente aquele que investiu todo o seu tempo (e continua investindo) em nosso favor, relativizando a fé, a esperança e o amor que só Cristo pode nos dar.
Advento e Natal, é o Tempo de Deus em nosso tempo. Advento e Natal é tempo de anunciar a Redenção como o fez o profeta Isaías e os anjos.

Que neste Natal deixemo-nos ser preenchidos pela graça de Deus em Cristo.

Que ao badalarem os sinos, que ao acenderem os pisca-piscas, que ao sentarmos na mesa para comer aquele peru assado, que ao abrirmos uma garrafa de vinho com os amigos, que ao nos presentearmos ao redor do pinheirinho, nos lembremos que tudo isso só faz sentido, porque todo dia é dia de Salvação, todo dia é tempo de deixar o tempo de Deus invadir as nossas vidas e agir para além de nosso tempo. Amém!