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UM EXEMPLO DE VIDA

Katharina von Bora

A família Lutero em oração Confie no Deus Eterno e faça o bem; more com toda a segurança na terra prometida. Que a sua felicidade esteja no Eterno; ele lhe dará o que seu coração deseja. Ponha a sua vida nas mãos do Deus Eterno, confie nele e o mais ele fará. Na certeza de que podemos confiar em Deus, queremos louvar e agradecer e, ainda, ouvir e contar muitas histórias de Deus com seu povo.

Como esposa do renomado Dr. Martim Lutero, Katharina von Bora entrou na história. Mas a sua memória deve ser resgatada pela mulher que ela foi. Ela foi incumbida de desempenhar um determinado papel, assim como tantas outras mulheres em sua época (e em outras épocas, até na nossa…).

Não é intenção escrever uma minibiografia neste estudo, mas apenas um breve resumo de sua história, que vai introduzir e ilustrar um precioso dom de Katharina, que ela soube colocar a serviço de muitas pessoas.

Filha de uma família de nobres empobrecidos, nasceu no dia 29 de janeiro de 1499, provavelmente em Zülsdorf, junto à Lippendorf, povoado situado ao sul da cidade de Leipzig. Ainda nos primeiros anos de vida, perdeu a sua mãe, também de nome Katharina. Depois do segundo casamento de seu pai, passou a viver em dois conventos, primeiramente em Brehna e, a partir de 1508, no mosteiro Marienthron em Nimbschen, onde viveu durante 13 ou 14 anos.

Sua vida era a clausura, a obediência, pobreza, castidade, silêncio, além de outras regras bastante rígidas. O tempo era intercalado por trabalho, canto, meditações. Tudo isso era justificado como obra, para assim agradar a Deus e conseguir a salvação.
Os escritos de Lutero, que tiveram penetração em toda a Alemanha, também chegaram ao convento de Nimbschen. Katharina e outras onze freiras se

entusiasmaram com as idéias da Reforma e, a partir da nova doutrina, não mais viram sentido em uma vida de clausura. Decidiram fugir. E a fuga das doze monjas aconteceu na madrugada do Domingo de Páscoa, no dia 5 de abril de 1523, com o auxílio do próprio Martim Lutero.

Cada uma seguiu o seu caminho. Algumas poucas foram acolhidas pelas suas famílias, mas a maioria delas passou a viver temporariamente com famílias de boas condições financeiras, até que a sua situação fosse definida. A melhor (ou então a única) alternativa para elas era o casamento. Katharina viveu com as famílias Reichenbach e Cranach até casar-se com Lutero.

Sua vida tomou outro rumo. De monja católica para esposa do Reformador; para mulher e mãe de três filhos e três filhas; para dona-de-casa e administradora de um pensionato e dos bens que a família Lutero passou a adquirir, graças à sua capacidade administrativa e sua visão econômica. Seu papel estava definido, tanto na casa e na família, bem como na comunidade.

Ela não estava alheia aos acontecimentos da Reforma. Lutero a manteve informada do que acontecia, do desenrolar das reuniões e decisões. Muitas das cartas que lhe escreve falam de questões teológicas com as quais estava ocupado, bem como de questões politico-clesiásticas. Também participava das conversas à mesa, não só ouvindo, mas também com opiniões.

Ela viveu a sua vida de fé de forma muito diferente do que nos tempos do convento. Agora era uma fé unida à ação. Pode-se dizer, uma fé com prática diaconal, colocando os seus dons a serviço da comunidade.

Ela tinha uma habilidade especial no cuidado de doentes. Seu próprio esposo, não rafas vezes, foi seu paciente. Katharina tinha em sua casa uma farmácia caseira, com medicamentos que ela mesma preparava. Eram preparados de ervas, chás, pomadas para ferimentos e dores reumáticas e para doenças internas. Além disso, tinha conhecimentos de técnicas de massagens. Seus conhecimentos não estavam destinados somente à sua casa e família, mas também para quem deles necessitava em Wittenberg. Conta-se que ela nem sempre pôde assistir os cultos de seu marido porque estava ocupada fazendo visitas a pessoas idosas, doentes, enlutadas.

Nos anos de 1527 e 1535, Wittenberg foi tomada pela peste. A maior parte da população saiu da cidade. Inclusive as aulas na universidade foram suspensas. A família Luther, no entanto, permaneceu na cidade. Eles hospedaram e cuidaram de doentes em sua casa, e, logicamente, a maior responsabilidade estava sobre os ombros de Katharina. Tem-se notícias de que algumas pessoas aos seus cuidados conseguiram resistir à doença.

Os cuidados de Katharina se estendiam também aos estudantes e outros hóspedes que viviam em sua casa, pois estes não raramente ficavam doentes. Naquela época, Wittenberg não era uma cidade com pessoas saudáveis. Doenças infantis como sarampo e varicela, além de pestes, atingiam a cidade de tempos em tempos. Uma dessas doenças era a febre intermitente, que era característica do clima úmido dos arredores de Wittenberg.

Naquela época, era comum que mulheres tinham algum conhecimento de medicina caseira, inclusive mulheres nobres. O conhecimento e a habilidade de Katharina Luther, no entanto, eram especiais. Anos depois, seu filho, Paul Luther (que tornou-se médico), escreveu que sua mãe ajudou muitas pessoas, principalmente mulheres, com aconselhamentos e tratamentos. Ela também preparava o tônico beneditino, o qual ajudou no restabelecimento de seu esposo em janeiro de 1527. Os ingredientes de seus medicamentos nem sempre eram os mais apetitosos. Em sua carta do dia 27 de fevereiro de 1537, Lutero os chama de remédio de esterco.

Ela foi persistente em sua dedicação, mesmo em tempos difíceis e de perigo. Percebe-se sua confiança em Deus, que a abençoou com esse dom especial de cuidar de doentes e com a habilidade no preparo de medicamentos caseiros. Ela poderia ter priorizado cuidar primeiramente de si, de seu marido e de seus filhos e filhas (principalmente durante a peste), mas se sentiu comprometida com a população em geral.

PARA REFLEXÃO

Sugiro um diálogo sobre as muitas mulheres e homens que também hoje vivem esse tipo de solidariedade e, por que não dizer, a partir de sua fé, sustentadas pelo amor de Deus… no serviço ao próximo. Penso aqui, por exemplo:

*Nas muitas médicas(os) e enfermeiras(os) que se colocam voluntariamente à disposição para atuar em momentos de catástrofes, em regiões de guerra, etc. A sua dedicação e comprometimento falam mais alto do que o temor pela própria segurança.

*Você conhece alguém que vive a solidariedade, colocando a si e seus dons à disposição?

* O que somos, o que sabemos — nossos dons — recebemos de Deus. E em resposta ao seu amor, nos dispomos a fazer o que está ao nosso alcance pela nossa comunidade, pelas pessoas que necessitam. Relembremos o lema e o tema da IECLB de 2002: Mãos à obra, porque Deus nos amou primeiro.

Sugestão de leitura: Dalferth, Heloisa Gralow: Katharina von Bora. Uma biografia. São Leopoldo: Editora Sinodal, 2000.

Pa. Heloisa Gralow Dalferth
Santa Cruz do SuVRS


Roteiro da OASE, p. 80