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Gálatas 6. 1-16

Irmãos e irmãs em Cristo!


Nesse ano de 2019 nós celebramos em todo o Brasil o aniversário 195 da imigração alemã no Brasil. Foi no ano de 1824, com a imigração de luteranos(as) ao Brasil, que iniciou também a história da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil.

Para os nossos antepassados, a igreja e a vida em comunidade era um porto seguro, um espaço para aprender a superar as dificuldades, um espaço para praticar o respeito, a ajuda solidária. A igreja era um lugar para aprender a conviver com pessoas diferentes.

O que mudou? O mundo mudou. A cabeça das pessoas mudou. A vida de hoje, o individualismo, fez com que nós perdêssemos muitos valores éticos. Hoje em dia nós vivemos mais concentrados em cidades que os nossos antepassados. Mas nós desaprendemos os valores da convivência que são a paciência, o respeito, a tolerância e a capacidade de perdoar.

O apóstolo Paulo, no texto que ouvimos da Carta aos Gálatas, nos lembra algumas coisas importantes que nunca deveríamos abrir mão. São coisas que toda pessoa cristã deveria cultivar e praticar: Ajudar uns aos outros, corrigir uns aos outros com humildade, que cada pessoa examine o seu próprio modo de agir, ser solidários, não ficar comparando o seu modo de agir com o dos outros, ajudar as pessoas a carregar seus próprios fardos e fazer o bem, sempre que pudermos.

Esses são valores éticos do povo – da família de Deus. Essas são formas concretas de cumprir e de obedecer a lei de Cristo. A solidariedade, o amor, o perdão, a disposição de carregar os fardos uns dos outros – é assim que vive a vontade de Deus.

Quando nós recontamos as histórias dos nossos antepassados, nós logo descobrimos que eles passaram por muitos problemas, por crises, por falta de dinheiro, mas eles não mediram esforços nem sacrifícios para criar uma comunidade, construir uma igreja, ter um pastor ou uma pastora e e fazer funcionar os serviços da igreja. O que os motivava? Por que a igreja era tão importante para eles?

Existia neles algo que era maior do que todas as dificuldades: A GRATIDÃO A DEUS! Confessar a fé luterana da justificação por graça de Deus é reconhecer que tudo o que nós somos e temos vem do profundo e infinito amor que Deus nos presenteia por meio de Jesus Cristo.

Por isso, uma pessoa luterana sempre foi ensinada que não se deve ir culto por obrigação ou contribuir com a igreja por obrigação. A participação no culto, a contribuição com a igreja deve dar-se por GRATIDÃO A DEUS. Evangelizar para nós luteranos é dizer que cada pessoa pode saber-se amparada e carregada pelo amor de Deus, sobretudo nas situações mais difíceis e incertas da vida. A gratidão pelo amor de Deus, deve fazer com que tenhamos um comportamento diferente do que é comum neste mundo repleto de um individualismo egoísta.

A igreja deve ser um refúgio onde as pessoas procuram fortalecer a sua fé e encontram orientação na Palavra de Deus para conduzir suas vidas. A igreja deve ser um lugar onde os valores éticos de Jesus – lembrados aqui pelo apóstolo Paulo – devem ser lembrados também por todos nós.
Algumas pessoas dizem que a igreja não deve tratar dos problemas do mundo. De acordo com o apóstolo Paulo, esse é um pensamento equivocado. A igreja deve ser o lugar onde podemos interagir e falar sobre os desafios, sobre os problemas, sobre as seduções de nossa época, que tentam nos escravizar e nos afastar uns dos outros, da família e da Comunidade. Os psicólogos dizem que a gente tem domínio sobre aquilo que consegue expressa pelas palavras (se você conseguir falar sobre os seus medos, você vai tenho domínio sobre eles – se eu identifico o que tenta me escravizar, eu conseguirei resistir a essa sedução). Por isso, é preciso falar mais sobre o que está acontecendo ao nosso redor e nos afetando diretamente, prejudicando nossa comunhão matrimonial, familiar e comunitária. A partir do evangelho, Deus nos quer ajudar a fazer frente aos desafios e os problemas de nossa época.
Nunca devemos esquecer que a Comunidade/Igreja é uma obra do amor de Deus. A Comunidade/Igreja é a família de Deus. Jesus Cristo é o Senhor da Igreja. Por isso, não devemos colocar empecilhos para que as pessoas integrem a família de Deus. Toda pessoa é bem-vinda. Na leitura de Gálatas nós ouvimos que – lá no tempo do apóstolo Paulo – algumas pessoas colocavam a circuncisão, ou seja, a conversão ao judaísmo como pré-requisito para tornar-se cristão. O apóstolo Paulo se opõe a esse tipo de condição. A família de Deus não está limitada a um lugar, a um povo, a uma raça. Antigamente muitas pessoas pensavam que para ser da igreja luterana era preciso falar alemão. O apóstolo Paulo diria hoje: para ser uma pessoa cristã, para ser membro da igreja luterana – não precisa ter descendência alemã – basta confiar e e querer viver a sua vida pelos valores éticos de Jesus Cristo. O povo de Deus não se diferencia por uma raça, mas se diferencia do mundo pela forma que cada pessoa escolheu viver a sua vida.

Dias atrás esteve aqui em Belo Horizonte a Pastora Silvia Genz, que é atualmente a Pastora Presidente da IECLB. Ela nos falava que as nossas comunidades devem inclusivas, solidárias, acolhedoras, um lugar onde as pessoas encontrem orientação segundo a Palavra de Deus. E a carta pastoral deste mês de julho nos lembra de uma característica cristã que cada um de nós deve resgatar: a importância do ouvir. A carta pastoral diz assim:

“Cada pessoa esteja pronta para ouvir, mas demore para falar e ficar com raiva” (Tiago 1.19)

É com grande alegria que nos dirigimos a vocês. Nossos corações jubilam ao dizer que, por onde quer que andemos pela IECLB, enxergamos pessoas e Comunidades motivadas e engajadas na missão de Deus. Isso nos orgulha, incentiva e fortalece. Agradecemos a todas as pessoas que trabalham na seara do Senhor, colocando seus dons, seu tempo e seus recursos à disposição. Mas nem tudo é harmonioso e saudável na IECLB. Também encontramos problemas e dificuldades, muitas delas geradas pela falta de diálogo e compreensão. Neste sentido, o lema bíblico de julho é muito oportuno para o assunto que vamos abordar nesta carta: a importância do ouvir.

Percebemos uma dificuldade crescente de ouvir. Parece tão mais fácil falar, julgar e difamar. A intolerância e a raiva não permitem ouvir e dialogar sobre opiniões divergentes. O anonimato das redes sociais contribui para gerar um clima de desconfiança e hostilidade. É doloroso ver este movimento de ódio ganhando vulto na Igreja. Causa preocupação o fato de que estão ocorrendo ataques difamatórios contra membros, Ministras e Ministros. Pessoas estão se sentindo coagidas e constrangidas. Isto é grave e inadequado à vivência da fé. Nada justifica que alguém seja alvo de palavras de baixo calão, de generalizações e difamações pessoais. No caso específico de Ministras e Ministros, coação e constrangimento prejudicam o exercício do Ministério, cuja função é anunciar o Evangelho de Jesus Cristo com tudo aquilo que ele implica.

Na IECLB há lugar para todas as pessoas e para diferentes formas de pensar. As pessoas têm direito de defender suas compreensões sobre a vida e o papel da Igreja, desde que alicerçadas na ética e no Evangelho de Jesus Cristo, o Senhor da Igreja. A possibilidade de compreensões diferentes não nos isenta da tarefa de discernir entre aquilo que é certo e errado, entre aquilo que é ou não conveniente. Mas, nesta busca por discernimento, precisamos reconhecer que ninguém detém a verdade absoluta, a não ser Deus. Deus é a própria verdade. A busca por discernimento e a vivência comunitária são orientadas pelas instruções que Deus deu ao povo de Israel e que Jesus resumiu no mandamento do amor a Deus e ao próximo (Marcos 12.28-31). Para cumprir com o mandamento do amor, não podemos deixar o ódio se alastrar. Precisamos dar um basta na intolerância. Para isto, é necessário ouvir mais: cada pessoa seja rápida para ouvir, mas lenta para falar e ficar com raiva . A lentidão para falar pressupõe que devemos refletir se queremos, por meio de nossas palavras, edificar ou derrubar, animar ou reprimir, unir ou dividir.

O apóstolo Tiago admoesta a manter serenidade, a controlar a raiva e os pré-julgamentos. É um conselho bem oportuno em nossos tempos. A ira e o furor podem obscurecer a justiça e a graça de Deus. Por isto clamamos pela mansidão, que é um fruto do Espírito Santo. Como IECLB, queremos trilhar caminhos de compreensão, de respeito, de solidariedade. Vamos ouvir mais! E quando falarmos, que seja com amor e compaixão! É isto que permite o diálogo e a união. Dificilmente teremos posicionamentos iguais sobre todas as coisas, mas podemos conviver com quem pensa diferente, a partir do compromisso do amor. Precisamos da união para nos fortalecer. (assinam) Pa. Sílvia Beatrice Genz Pastora Presidente, P. Odair Airton Braun Pastor 1º Vice-Presidente, P. Dr. Mauro Batista de Souza Pastor 2º Vice-Presidente

O bom relacionamento, cultivar o respeito, aprender a ouvir. Não comparar o seu modo de agir com o dos outros. Ser mais generoso e mais compreensivo. Entender que a vida só tem sentido quando vivida em comunhão. Seja no matrimônio, na vida familiar, na Comunidade – só seremos felizes se fizermos outros felizes, esses são valores éticos cristãos que devemos resgatar e praticar. A carta aos Gálatas e a Carta Pastoral da presidência da IECLB dizem que é nisso que precisamos investir.
Que o amor e a bondade de Deus sejam visíveis em nossas palavras e em nossas atitudes. Amém.