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Antes de lermos o texto bíblico gostaria de perguntar: Vocês acham que as coisas que vocês têm são suficientes para uma vida boa? (leitura)
O texto do profeta Amós é bastante crítico ao modo de vida de algumas pessoas ricas de seu tempo. O profeta condena o luxo, a riqueza em excesso e a festa que as pessoas ricas da cidade de Jerusalém faziam.
Para entender esta mensagem de Amós necessitamos entender quem é este profeta e qual o contexto de sua mensagem. Amós era um camponês, um pastor de ovelhas na cidade de Tecoa, perto de Belém (v. 1.1). Muito conhecedor da realidade social das pessoas que viviam no campo, Amós profere sua mensagem de forte crítica contra as injustiças sociais. Uma mensagem muito dura e que atinge os mais ricos de Israel. Estes ricos esbanjavam às custas do impostos cobrados dos camponeses, que trabalhavam duro para produzir alimentos.
Dessa forma, a perspectiva de Amós é o olhar misericordioso a partir das parcelas da população de camponeses livres, que estavam vivento um processo de empobrecimento. Neste contexto, Amós se torna uma liderança com um grande carisma, que usa para condenar a exploração do povo do campo.
O principal alvo das profecias de Amós são as festas com grandes banquetes dos poderosos (v. 7). Para o profeta, todo aquele comer carnes especiais (v. 6), as festas em camas de marfim (sofás luxuosos – v. 4) e o beber vinho em taças enormes (v.6) é sinal de pura ostentação e luxúria. Faziam tudo isso sem se importar com a desgraça do povo (v. 7). Não apenas uma ofensa contra o povo trabalhador, mas também contra Deus, que tinha conduzido, no passado, o povo de Israel para aquela terra.
Todo aquele modo de vida de ostentação e de esbanjar, no modo de comer e beber em demasia (v. 4), de comer coisas de primeira (chiques), é apontado pelo profeta como acontecendo às custas do povo camponês. Povo que trabalha muito e paga altos impostos. Aproveitar-se dessa riqueza desvia os ricos da época do caminho de Deus. Amós chega ao ponto de chamá-los de vacas de Basã (v. 4.1).
Amós quer que as pessoas se lembrem da promessa de Deus ao seu povo com a terra prometida. Da época em que as pessoas compartilhavam da terra dada por Deus, que mana leite e mel. E não da ostentação e da injustiça.
E nos dias de hoje, podemos nos perguntar, a nossa realidade é diferente? Há pessoas muito ricas que vivem no luxo? Ou melhor, quem são os ricos de hoje? (Comunidade responde). Quais são as pessoas mais ricas do Brasil e do Mundo?
A revista Forbes divulgou nesta 4º feira (25.set.2019) a lista das pessoas mais ricas do Brasil em 2019. Lá estão banqueiros, como o dono do Banco Safra com R$ 95 bilhões, do BTG Pactual que tem $ 20,8 bilhões; donos de empresas de bebidas alcoólicas com R$ 44 bilhões, sócio fundador do Facebook com R$ 43,2 bilhões, e dona da rede de lojas Americanas com R$ 37,4 bilhões, e ainda proprietários de conglomerado de comércio de carnes (JBS) com R$ 29 bilhões de reais.
Com isso se chega ao injusto e estarrecedor dado de que as 5 pessoas mais ricas do Brasil tem mais riqueza do que 100 milhões de pessoas. Ou seja, mais que a metade da população junta tem menos que 5 pessoas. O contexto do mundo também não é diferente: pouquíssimas pessoas tem mais riqueza do que bilhões de pessoas juntas.
Ao mesmo tempo, a pobreza e a fome assolam o mundo e o nosso país. Essa realidade social injusta porque o apego ao dinheiro e ao brilho da riqueza e do ouro tomaram o lugar de devoção a Deus. O dinheiro e o viver para a riqueza afastam as pessoas de Deus. Podemos nos perguntar se essas pessoas muito ricas seguem verdadeiramente a mensagem de Deus. Se elas se preocupam com a vida do próximo.
Por isso, mais do que o acúmulo da riqueza, o profeta Amós condena a ostentação e ganância. O mesmo ouvimos do evangelho de Lucas ao nos contar a parábola de Lázaro e do rico que Jesus contou. Jesus mostra que o rico se acostuma com a riqueza e vive em função dela. Não se preocupou mais em saber que precisa da Palavra de Deus. Jesus também condena essa atitude que a riqueza traz, que é de fazer as pessoas se acharem melhores. De ficarem ostentando o que tem.
Para ilustrar essa mensagem gostaria de contar uma pequena história, parecida com a de Jesus:
“Um homem fez um pacto com o diabo para se enriquecer. O diabo dava-lhe uma grande quantia, que ele deveria gastar. Quando ele não conseguisse gastá-la toda, o diabo viria buscá-lo. Até que, um dia, ele não mais conseguiu gastar o dinheiro, pois já tinha tudo o que desejava. O diabo veio e, antes de desaparecer com ele nas profundezas do inferno, disse-lhe: Havia um meio muito fácil de gastar o dinheiro e de se salvar da condenação. Como? perguntou-lhe o usurário. Bastava tê-lo distribuído entre os outros.
O apego à riqueza faz a gente se esquecer do mais importante. Por isso perdemos, as coisas mais valiosas. Nos dias de hoje não é diferente, a ganância pelo dinheiro faz as pessoas serem desonestas e corruptas. Aliás, sobre corrupção já estamos cansados de saber notícias. Além da corrupção, há quem se satisfaça com a ostentação, que fazem questão de mostrar para os outros o que tem.
O que essa história nos mostra, como a de Jesus, é que devemos ficar felizes e agradecidos com o que conquistamos. É o oposto da ostentação e da ganância. Possivelmente tem a ver com um princípio de vida mais nobre, que é o de nos contentarmos com aquilo que é suficiente.
Suficiente, pois temos uma vida confortável, segura e boa, a partir do fruto do nosso trabalho;
Suficiente porque temos uma casa boa, com carro confortável, educação para os filhos.
Suficiente porque temos um bom comércio, um bom emprego, uma boa empresa que gera empregos, uma boa aposentadoria. Todas essas coisas fruto de anos de vida lutando e batalhando. Do esforço nos estudos, do levantar cedo e dormir e até mais tarde. Isto é, fruto do nosso árduo trabalho.
Avareza é o contrário do prinípio do suficiente. Avareza é desejar mais do que se precisa, e ostentação é mostrar o brilho do ouro e do dinheiro para esconder o vazio que as pessoas.
A mensagem de Amós, especialmente de Jesus, nos mostra que devemos saber o que nos é SUFUCIENTE. Não condena termos uma vida confortável. Muito menos questiona batalhar para se ter uma vida boa. Ou seja, Deus que ver o nosso bem e a nossa prosperidade.
Pois sabemos que a boa nova de Jesus nos que tudo o que podemos ter de valioso vem Deus. Jesus nos mostrou que o caminho até ele não ocorre através do brilho do ouro, mas da luz de seu amor e de sua compaixão.
Saber dessas coisas deveria nos estimular a sermos solidários com os que mais necessitam. Quando sabemos que o que temos é SUFICENTE; ou ainda, quando temos a sabedoria de reconhecer que a busca por uma vida mais confortável, não pode se confundir com a ganância¸ estaremos sempre dispostos a nos solidarizarmos com as pessoas mais necessitadas. E também a denunciar a injustiças e os males deste mundo.
Que Deus nos ilumine a ajudarmos o próximo e estarmos dispostos a sermos ricos em boas obras, como fala o apóstolo Paulo à Timóteo (1 Tm 6.18). E também a levar a mensagem desse Deus amoroso e misericordioso do qual fala Jesus a todas as pessoas que precisam. Que Deus nos dê forças para lutar por um mundo mais justo, onde haja menos desigualdade.
Literatura de apoio:
REIMER, Haroldo. A festa dos pândegos: sobre o comer e beber no livro de Amós. Estudos Teológicos, v. 49, n. 2, p. 344-355, 2009.
IECLB e FACULDADES EST. Proclamar Libertação. V. 43. São Leopoldo: Sinodal, 2018. p. 291-295.