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“Não fostes vós que me escolhestes a mim, pelo contrário, eu vos escolhi a vós, e vos designei para que vades e deis frutos e vosso fruto permaneça”.

 Essa palavra de Jesus Cristo, registrada no Evangelho de João, nos acompanha neste ano como o lema bíblico para o tema do ano da IECLB: “Não fostes vós que me escolhestes a mim, pelo contrário, eu vos escolhi, e vos designei, pelo batismo, a serem meus discípulos e minhas discípulas.”

Este lema bíblico entrecruzo com uma palavra em Gênesis 2, versículo 19, que diz: “Havendo pois o Senhor Deus formado da Terra todos os animais do campo e todas a aves dos céus, trouxe-os ao ser humano, para ver como este lhe chamaria, e o nome que o ser humano desse a todos os seres viventes esse seria o nome deles”.

Muito fecundo para a fé esse entrecruzamento de um texto de uma palavra de Jesus – de que somos designados e designadas por ele para darmos bons frutos a partir de nosso Batismo -, e de uma palavra do Primeiro Testamento que diz que Deus nos chamou para que designássemos os animais criados por Deus. Tanto para com os animais do campo, quanto para com as aves dos céus, o ser humano recebe de Deus Criador a tarefa de nomear, de identificar outros seres viventes e isto é grande responsabilidade. Uma linda responsabilidade, recebida pelo ser humano. 

Designar, dar nome, não significa possuir ou tomar posse. Significa identificar. Significa reconhecer. Nesse texto mítico-fundante da Criação, portanto, o Supremo Criador chama o ser humano a identificar e reconhecer outros animais, outros seres viventes, outras criaturas suas, criaturas assim como também nós somos, enquanto seres humanos. 

Para esta reflexão me coloquei em frente a uma árvore simbólica que criamos na Comunidade de Belo Horizonte por ocasião de nossa Ação de Graças. Nessa árvore, enlaçamos fitas verdes a galhos secos. Mais do que nunca, queridos irmãos e irmãs, colocar verde em galhos secos é muito significativo.

Nos últimos dias, temos nos consternado e nos comovido profundamente porque o solo brasileiro e matas em muitos locais estão ressecados pelo fogo que toma conta de tudo. O fogo que pecaminosamente mata muitos seres viventes, criaturas de Deus assim como nós, nos deixa profundamente machucados. Há pecado para com a Criação de Deus quando o ser humano recebe a incumbência de identificar outros seres e por tanto cuidar destes, mas não o faz. Esse pecado tem nos acometido, confessamos.

Precisamos refletir sobre isso. Não queremos mais galhos secos e morte ao nosso redor. Queremos que o verde brote. Queremos campos e matas à nossa volta, onde todas as criaturas de Deus, aves dos céus, animais do campo, possam viver e não sejam exterminados, machucados e feridos.
Nossa tarefa, portanto, é grandiosa. Fomos designados e designadas, fomos chamados e chamadas, fomos escolhidos e escolhidas por Deus. E isto está posto determinantemente em nosso Batismo, no qual há designação e chamamento para cuidar da Criação, para a convivência que abre mão do antropocentrismo, para colocarmos sinais de vida onde há morte.

Por conseguinte, nesse momento onde choramos a morte de tantos seres vivos por conta das queimadas que assolam o território brasileiro, nos colocamos em oração. E também nos colocamos em ação, para que o verde brote, para que prepondere a vida acima da morte.

Este é o convite nesta meditação, ficando a pergunta sobre o que nós podemos fazer para modificar cenário tão tenebroso. Esse cenário de galhos secos e queimados, esse cenário que contraria a Vontade Suprema de Deus, esse cenário resultante de ações que acabam com a natureza, na qual nos incluímos. Fica a pergunta: o que nós podemos fazer? 

Que Deus em sua infinita bondade e sabedoria nos guie para ações concretas em favor da vida que grita, que clama, que pede socorro. Que a gente possa, sim, a partir do nosso Batismo nos entendermos profundamente designados como cuidadores e cuidadoras da linda e perfeita criação de Deus.
Assim seja.