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Na madrugada de 12 de outubro de 1995, o bispo da Universal Sérgio von Helder durante um culto televisivo chutou a imagem de Nossa Senhora Aparecida, criando um estardalhaço entre católicos e não-católicos. A atitude de desrespeito com a fé alheia fez com que o poderoso Edir Macedo o removesse ao exterior. Nossa Senhora Aparecida é uma das inúmeras representações da Virgem Maria.

Uma distinção básica entre católicos e os evangélicos está em relação aos santos. Todavia, o ponto de partida dos católicos é mal interpretado. O mesmo ocorre entre os evangélicos. Evidentemente, o único digno de adoração é Deus. Assim determina o 1º Mandamento. O “santo” deve ser apenas venerado. Ou seja, ele inspira o cristão na prática da fé. A Carta aos Hebreus cita algumas pessoas do Antigo Testamento como heróis na fé. Não devemos adorá-los. Apenas, seguir o exemplo. O mesmo desafio ocorre em relação aos “santos” canonizados pela igreja.

Por outro lado, o Credo Apostólico apresenta – como obra do Espírito Santo – a igreja que é a “comunhão dos santos”. Ou seja, como cristão estou inserido num corpo maior que é a igreja, onde todos somos desafiados à santidade. Deus nos escolheu e separou para ser seu povo. Como diz Lutero: Sou simultaneamente santo e pecador, sob a graça. Todavia, sob o Espírito, caminhamos em busca da perfeição. Isso se dá na obediência à Palavra e na vida em comunidade.

Via de regra, quem condena a endeusamento da Virgem Maria parte de argumentação errônea. Por outro lado, tenta esconder seus próprios deuses. Com telhado de vidro, sempre é perigoso atirar pedra na casa dos outros. Há muita denominação, pastor, padre, bispo, missionário e líderes históricos que são endeusados. Há muita teologia, política e capital que querem tomar o lugar de Deus. Maldito o homem que confia no homem (Jeremias 17.5). Ou, como diz Jesus: “Onde estiver o teu tesouro, aí estará o teu coração”, referindo-se às riquezas deste mundo (Mateus 6.21).

De fato, entre milhões de outras, Deus escolheu uma menina chamada Maria para ser mãe do Salvador. Deus desceu do céu e se tornou gente com a gente. Assim, Ele concretiza seu plano de salvação num menino chamado Jesus, ao qual Maria deu à luz. Com certeza, pela santa vontade divina, ela foi escolhida. Diante do chamado, ela corajosamente afirmou: “Eis aqui a tua SERVA. Dispõe de mim” (Lucas 1.38). Por si só, a disposição dela é exemplar aos cristãos. Basta tal atitude, para ser incluída como uma heroína na listagem de Hebreus.

Como serva de Deus, esposa de José e mãe de Jesus era mulher. Acertou e falhou. Educou e acompanhou o Messias no cumprimento do seu chamado. Orou pelo filho. Chorou na sua morte. Alegrou-se com a ressurreição. Nos evangelhos, inúmeras vezes é citada. Em relação ao ministério de Jesus, vou destacar um encontro e duas lições: Uma bem geral à vida, outra particular à cada cristão.

Em João 2.1-10 aparece a narrativa da transformação de água em vinho no casamento em Caná da Galileia. Possivelmente era uma festa familiar, onde Maria, Jesus e os discípulos eram convidados. À semelhança de hoje, havia noivos, familiares e amigos. Havia comida, bebida e dança. Também, um organizador e uma equipe de servidores. Tudo corria muito bem até que…

No meio da festa, Maria percebe que o vinho estava no fim. Seria um fiasco geral. Todavia, como mãe, ela conhecia as capacidades do filho que tinha. Primeiro, ela pediu socorro ao filho. Depois, apontou sua direção aos servos. Reticente, Jesus conseguiu ajudar, pois jamais fez questão do sucesso, como muitos dos seus supostos seguidores hoje desejam. Ele não queria ser visto como um “quebra-galho”, muito menos como um “fazedor de milagres”.

Sutilmente, Jesus solicita que grandes barris sejam enchidos com água e levados de imediato ao organizador da festa. Não houve um “abracadabra”. Ele não chamou a atenção sobre si. Ficou à sombra dos serviçais que fizeram o que foi ordenado. O organizador experimentou o vinho novo e o elogiou, não sabendo donde tinha vindo. Apenas disse: É muito melhor do que o anterior! Com certeza, vindo da mão do próprio Deus, era o melhor vinho de todos.

Provavelmente, os empregados ficaram boquiabertos, não compreendendo em sua totalidade a ocorrência. Contudo, os discípulos puderam enxergar naquele jovem Mestre algo a mais, um poder sobrenatural e também uma humildade exemplar. Por outro lado, os olhos mais atentos perceberam uma mãe que conhecia o filho, apontando em sua direção, dando-lhe oportunidade de se manifestar.

Quem sabe aqui há uma boa lição à cristandade com respeito à nossa relação com Maria. Ela simplesmente aponta aos méritos do filho. Ela não salva. Ela é apenas um exemplo. Ela encaminha as situações e as pessoas “encrencadas” para que Jesus apresente uma proposta de salvação. Um pouco adiante, o evangelista João é categórico ao afirmar: “Ele é o caminho, a verdade e a vida. Ninguém chega até Deus a não ser por ele somente” (João 14.6).