|

 

João batizava junto ao Jordão, por isso ganhou o apelido de “Batista”. O Jordão é o maior rio da Palestina com 121 km de extensão. Recebe em seu leito diversos rios menores. Mas, tem suas nascentes no Monte Hermon, que desaguam no pequeno Lago Hulé. Em seguida, o rio segue ao Lago de Tiberíades (ou Mar da Galileia). A vida é abundante dentro do lago e em torno do mesmo. Existem muitas aldeias de pescadores. Jesus conhecia bem a região. Escolheu ali os seus discípulos. Do Tiberíades, o rio corre rápido em direção ao Mar Morto. Da água doce e abundante às águas paradas, salgadas e mortas, sem vida alguma. A palavra “Jordão” significa “aquele que desce”. Nada mais natural ao rio, que desagua no oceano. Contudo, o Mar Morto fica numa depressão, 210 metros abaixo do nível dos oceanos. Ele só recebe a água. Ele não passa adiante como os lagos de Hulé ou Tiberíades. Ele não permite o ciclo natural de evaporação como nos oceanos. Somente receber é a sua regra. Porém, o Evangelho é bem claro quanto ao “dar e receber” (Atos 20.35). A vida se dá numa constante troca. O rio que desce nos ensina a respeito da humildade. Com seus pecados, as pessoas se colocavam diante da pregação de João: Arrependei-vos! Mesmo, o Cristo colocou-se sob a bênção de João. Mas, também, de nada adianta uma fé egoísta que só pensa em si. Eis a segunda lição do Rio Jordão. O Evangelho nos leva em direção ao outro. Jesus é exemplar. Ele é a mão estendida do Pai em nossa direção. Doar-se é promover vida.

João vivia no deserto (João 3.1). Melhor do que ninguém conhecia as privações. No Antigo Testamento, o deserto é a escola onde o povo aprende sobre os cuidados de Deus. Nos momentos em que cruzados pelo deserto, aprendemos a dar valor à vida. Também, ao socorro de Deus. No deserto, a nossa fé é provada. No deserto, tomamos decisões importantes. Ou deixamo-nos levar pelo mal, ou seguimos o caminho bem. Não podemos esquecer que lá Cristo foi tentado. João é a voz que clama no deserto, preparando o caminho do Senhor. Ele aponta ao arrependimento e à decisão consciente pela mudança. Aqueles que procuravam João no deserto ouviam um chamado do próprio Deus, mudando de vida. Naquela manhã, Jesus se achegou. Não que precisasse abandonar o pecado, pois não tinha. Mas, era o momento de assumir “publicamente” o Reino de Deus. O batismo de João não tem nada a ver com o sacramento do Batismo nas igrejas cristãs. Não serve de modelo. Era um rito de decisão. Hoje, muitas igrejas ditas “cristãs” seguem apenas o rito de João, não compreendendo de fato que Batismo cristão é o sacramento de pertença a Deus. Os ministérios de João e Jesus estão vinculados desde o nascimento. No momento do batismo, Jesus assume o caminho da cruz. João compreende: Convém que ele cresça e que eu fique menor. Assim narra o evangelista…

NAQUELES DIAS, JESUS FOI DA GALILEIA ATÉ O RIO JORDÃO A FIM DE SER BATIZADO POR JOÃO BATISTA. MAS, JOÃO TENTOU CONVENCÊ-LO A MUDAR DE IDEIA, DIZENDO: EU É QUE PRECISO SER BATIZADO POR VOCÊ. CONTUDO, VOCÊ ESTÁ QUERENDO QUE EU O BATIZE? ENTÃO, JESUS RESPONDEU: DEIXE QUE SEJA ASSIM AGORA, POIS É DESSA MANEIRA QUE FAREMOS TUDO O QUE DEUS QUER. JOÃO CONCORDOU. LOGO QUE FOI BATIZADO, JESUS SAIU DA ÁGUA. EIS QUE O CÉU SE ABRIU E ELE VIU O ESPÍRITO DE DEUS DESCER COMO UMA POMBA E POUSAR SOBRE SI. DO CÉU VEIO UMA VOZ QUE DISSE: ELE É O MEU FILHO QUERIDO. ELE ME DÁ MUITA ALEGRIA!

Dentro do Ciclo da Epifania, observamos o Salvador se revelando aos gentios. Os Magos do Oriente veem na estrela um sinal e, em Jesus, de joelhos, reconhecem a salvação. Passaram-se 30 anos da primeira revelação. João – o primo de Jesus – está pregando no deserto e batizando no Jordão. Até aquele momento, Jesus viveu dentro da normalidade. Era o filho que ajudava à mãe nas lidas domésticas e ao pai na carpintaria. Mas, de Nazaré, Jesus parte ao encontro de João, cumprindo a profecia onde se dizia que “um preparará o caminho do outro”. João já estava exercendo seu ministério. Chegou a hora de Jesus se revelar. Eis a nova Epifania! Provavelmente os dois se conheciam. Eles tinham consciência de que viviam um projeto comum. Mas, no momento do batismo, surge a questão: Quem batiza quem? De antemão, João sabia da importância do “Cordeiro de Deus”. Contudo, Jesus esclarece. Você faz comigo o que faz com os outros. Estimule o compromisso com Deus! Eis é o meu desejo. No diálogo dos primos, o projeto maior é definido como “cumprir a justiça”. Até aquele momento, cada qual pagava pelos seus próprios pecados com o sangue do sacrifício. Agora, a justiça de Deus se completa em Jesus que assume nossa culpa.

De fato, Jesus assume a pregação de João. Coloca-se na condição de “cidadão” que precisa de mudança. Como ele não tinha culpa, faz do batismo um ato de compromisso com os planos do Pai, que esperava por tal momento. Por isso, os céus se abrem. Aliás, em Jesus ainda hoje a porta do céu se abre ao que crê. É pura graça. A Trindade se apresentou no Filho Obediente, no Pai Cuidadoso e no Espírito em forma de pomba, que significa mansidão e sacrifício, desafio de Cristo. A obra de Deus é sempre maior do que toda e qualquer percepção humana. Todavia, aqui Deus se apresenta claramente. Do céu Deus deixa claro que sua voz, outrora presente pelas leis e pelos profetas, agora está em Jesus. Ele é o próprio Verbo de Deus. Ao cumprir o seu chamado, Jesus permite que Deus expresse sua intensa alegria. Convém lembrar que, ainda hoje, toda vez que nos colocamos debaixo dos planos e da vontade de Deus não somente o céu se abre, mas também Deus vai sorrir dizendo: Você é meu/minha filho/a amado/a!

Vivemos tempos de Epifania. Jesus nasceu numa estrebaria. Apresentou-se aos gentios, que levaram bom testemunho à terra natal. Jesus foi criado em Nazaré por José e Maria, dentro da tradição judaica. Zelou por sua casa sem abandonar jamais a sua vocação. Agora, em momento oportuno, ele se revela diante de João, o precursor. Chegou o tempo da graça. Eis que o Cordeiro de Deus se apresenta. Diante de Jesus está a proclamação da Nova Aliança no seu sangue. Ele é o próprio Deus presente, em carne e osso. Então, inicia-se à caminhada rumo à cruz. Reconhecemos o projeto de Deus em Jesus? Somos parceiros nessa caminhada? É momento de decisão. Amém!