Jesus perdoou os pecados do paralítico. Além disso, restaurou sua saúde. O povo admirou-se dos ensinamentos do Mestre e também do seu poder. De repente criou-se um clima estranho. Alguns líderes religiosos começam a acusa-lo de blasfêmia. Diziam que Jesus estava abusando do nome de Deus. Apaixonado pelo mar, o Mestre escapa daquelas quatro paredes, daquele clima pesado de acusação em direção ao mar. Quem não se sente aliviado ao colocar os pés na areia, ouvindo o som manso das ondas? Mas, ele não está só. Os discípulos o acompanham. Há muita gente curiosa que segue a Jesus. De fato, não apenas curiosos. Na verdade, carentes. Eles percebem algo diferente em Jesus. Ele é o próprio carinho de Deus. Além disso, percebem também autenticidade. Não há segundas ou terceiras intenções. Jesus simplesmente ama. Somente isso, ele ama. As pessoas querem ouvir, sentir, tocar… Mesmo sendo incomodado, Jesus segue adiante, sempre ensinando e chamando outros para serem seus discípulos. A semente lançada à beira mar em Cafarnaum crescerá mais e mais, vindo a ser a primeira igreja, da qual ainda fazemos parte. Na caminhada em direção à praia ocorre um encontro muito especial que é assim descrito pelo evangelista Marcos…
Jesus saiu outra vez para a beira-mar. Uma grande multidão aproximou-se. Ele começou a ensiná-los. Então, viu Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria. Disse-lhe: Siga-me! Levi levantou-se e o seguiu. Durante uma refeição na casa de Levi, muitos publicanos e pecadores estavam comendo com Jesus e seus discípulos, pois havia muitos que o seguiam. Quando os mestres da lei que eram fariseus o viram comendo com os pecadores e publicanos, perguntaram aos discípulos de Jesus: Por que ele come com eles? Ouvindo isso, Jesus lhes disse: Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim para chamar justos, mas pecadores (Marcos 2.13-17).
A missão de Jesus é pregar, ensinar e formar pessoas que pensam, que são livres para escolher a quem desejam seguir. A missão da igreja é despertar a fé nas pessoas, dando-lhes liberdade de expressão e favorecendo opções de serviço. Ninguém deve ser forçado a nada. Não é o estilo de Jesus. Ele nos inspira a agir do mesmo jeito em nossa casa, no círculo de amizades e na vida profissional. Com Jesus, não é apenas uma questão de voz de comando, com exigência e leis que precisam ser cumpridas. O Mestre mostra com sua própria conduta. Na compreensão luterana, o estilo de vida proposto por Cristo é simples: Somos chamados para servir em amor. Somos livres para servir. Então, somente seguia a Jesus quem tinha disposição para isso. Ainda hoje é assim. Deus não quer robôs ou servos rancorosos. Os discípulos reconhecem Jesus com Filho de Deus. Compreendem o chamado que receberam. Executam a missão com amor.
Jesus encontra Levi. Outro evangelista o chama de Mateus. É um judeu, circuncidado dentro da tradição. Ele tem família. O nome do pai (Alfeu) é citado. Ou seja, todos o conheciam. Mas, ele é socialmente malvisto. Porque? Pela sua profissão, ele é um vendido aos romanos, o povo invasor. Ele trabalha na coletoria, cobrando impostos. Os judeus não gostavam dos cobradores. Aliás, não importa a época, ninguém gosta de ser cobrado. O “imposto” sempre era alto. Além do que, alguns publicanos mais espertinhos cobravam uma sobretaxa para o próprio bolso. Não que esse fosse o caso do Levi. Mas, era a imagem da categoria. Não é que todo político seja um mau político. Mas, é a imagem geral, infelizmente.
Anteriormente, Jesus chamou pescadores, que eram homens rudes, acostumados ao serviço braçal e pesado. Agora, escolhe um administrador, acostumado a lidar com papel e dinheiro. Só imagino Pedro torcendo o nariz e dizendo: Pô, Jesus! Ele, não. Mesmo assim, o Mestre o chamou. Não se iluda. Você também não escolhe quem está contigo na igreja. Há aqueles com os quais você tem mais afinidade. Com outros, não. Todavia, seguimos pelo mesmo caminho, que é Jesus. A igreja pertence a Deus. A equipe é de Jesus. Além de pescadores, agora Jesus tem um funcionário público. Na opinião dos judeus, um vira-casaca dos odiados romanos. Nos planos de Jesus, um servo estudado, capaz de administrar os recursos do grupo, alguém que veio para somar.
Aproveito para dedicar um parágrafo para uma hipótese, ou melhor, uma suspeita que compartilho. Levi é a mesma pessoa que Mateus, cobrador de impostos. De fato, Levi é apenas um apelido. Ou, seria uma função? O terceiro filho de Jacó foi Levi. Ele gerou uma tribo que não recebeu herança na Terra Prometida. Ao levitas coube o cuidado pela religião, templo e culto. Eles eram administradores, sacerdotes e músicos na Casa de Deus. Ao citar “Levi”, o evangelista Marcos não estaria insinuando que o jovem citado estava deslocado de sua função original? Agora, pelo chamado de Jesus, seria novamente adequado à sua devida vocação? Creio que Deus desperta dons e nos dá a oportunidade de servir no local certo. Creio que todos têm um chamdo e um espaço para servir à sociedade e também à comunidade. Pense nisso!
Logo após o chamado, Jesus aparece na casa do Levi. Teoria e prática foi o tema do culto anterior pelo Dia Mundial de Oração. Não basta ouvir a palavra. É preciso praticar. Levi convida Jesus para entrar na sua vida, na sua casa, para sentar-se à sua mesa. É o momento do testemunho. Em casa, Levi apresenta a família, os amigos, os comparsas de profissão. Mas, novamente os críticos religiosos estavam de prontidão. Eles espreitavam Jesus, para achar motivo de questioná-lo. Então, aquele momento de comunhão à mesa foi malvisto pelos fariseus. Aos olhos deles, eram apenas pecadores reunidos. Gente da pior espécie. Então, vale o ditado: “Me diga com quem tu andas, eu direi quem tu és”. Aos escribas, aquele que se diz Filho de Deus estava comungando com os pecadores.
Via de regra, o ditado é verdadeiro. Na vida o fraco se deixa influenciar pelo grupo. Bons maridos, boas esposas, bons filhos se perdem pelas más companhias. Bons cristãos se deixam levar por seitas ou abdicam da fé. É preciso muito cuidado para não se deixar levar pelas modas e maus costumes. Mas, aqui não se trata de qualquer um. É Jesus, o próprio Filho de Deus. O questionamento legítimo dos fariseus encontra uma resposta firme e certa: Minha missão é salvar! Diz Jesus. Eu aponto um caminho novo aos perdidos. Eu tenho a saúde física, emocional e espiritual. Estou oferecendo “vida abundante” aos que se sentem fracos e sem razão de viver. Eu sou a cura e a salvação. Jesus aproveita o momento de comunhão para evangelizar, além de Levi, agora sua família e amigos. De maneira inesperada, também estende sua palavra aos fariseus, que se acham donos da verdade. Mesmo sendo perseguido e questionado, o Mestre não perde o foco. Ele continua pregando e ensinando. Na sequência, curando corações endurecidos, trazendo vida.
Concluo o sermão com dois rápidos desafios. Primeiro, não importa qual seja a sua profissão ou responsabilidade social, o único que pode dar rumo à tua vida é Jesus. Por isso, ouça o seu chamado, reorganize sua jornada a partir dos propósitos dele, convide-o para entrar na sua vida, família e trabalho. Segunda lição: Faça do seu dia a dia uma oportunidade de evangelização. Não force a barra dos outros. Deixe acontecer naturalmente, Levi queria apenas que os outros tivessem comunhão com Jesus. De coração curado, você será um bom instrumento de salvação na vida de tantos outros. Que Deus te abençoe, amém!