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Marcos 14.1-9

A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai – que nos cuida e nos protege – também com amor de mãe e a comunhão do Espírito Santo estejam entre nós. Amém.
Queridos irmãos e queridas irmãs:

Jesus está na casa de Simão, o leproso. Esse Simão certamente foi um homem que pode voltar ao convívio de sua família, por conta da cura de sua lepra. O fato desse homem ser mencionado pelo nome e que Jesus estava reclinado à mesa, indica que se tratava de uma pessoa importante e que estava apoiando a missão de Jesus. O fato de Jesus estar dentro da casa, reclinado a mesa – indica enorme simpatia de Simão por Jesus.

De repente entra uma mulher naquela casa e vai em direção a Jesus. Ela traz nas mãos um vaso. Era perfume de nardo puro, muito caro, provavelmente importado da Índia. Até o frasco era caro – pois era de alabastro – uma pedra semipreciosa do Egito.

Quando aquela mulher quebra o gargalo do vaso, significa que ela não vai guardar nem um pouco desse perfume para si. Ela veio decidida a derramar todo o perfume sobre a cabeça de Jesus. Algumas pessoas que estavam ali se indignaram: Mas que desperdício! Esse perfume poderia ter sido vendido por mais de 300 moedas de prata e o dinheiro ajudado os pobres. Uma moeda de prata era o salário de um diarista, hoje o equivalente a 150 reais. As 300 moedas representavam mais ou menos 45 mil reais. Quanta gente poderia ter sido ajudada com esse dinheiro? Que desperdício!

O Evangelho de Lucas – no capitulo 8 – diz que um grupo de mulheres – algumas delas muito ricas – costumavam ajudar financeiramente a Jesus e os seus discípulos. Elas eram mulheres importantes como Maria Madalena, Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Susana e muitas outras, as quais prestavam assistência a Jesus com os seus bens (Lucas 8.1-3). Muitas delas haviam sido curadas por Jesus de espíritos malignos e de enfermidades.
Diante do murmúrio e da irritação de algumas pessoas com o “desperdício” daquela mulher que derramou aquele perfume caríssimo sobre a cabeça de Jesus, Jesus defende a sua atitude e diz: Ela fez uma coisa boa para mim. Jesus sabia que os líderes judeus estavam tramando a sua prisão e a sua morte. Por isso, ele disse: Ela antecipou-se a ungir-me para a sepultura(v.8). Ungir o corpo dos mortos com substâncias oleosas e especiarias perfumadas, preparar o corpo para um enterro digno, fazia parte do ritual do sepultamento. E Jesus sabia que tem um grupo de pessoas que está tramando a sua morte. Deus não impede as tramóias dos adversários de Jesus. Sem saber – aquela mulher confortou a Jesus, pois ela estava preparando Jesus para o sofrimento de morte na cruz.

Mas Deus transforma essa intenções e atitudes malignas dos adversários de Jesus, num sinal de salvação. Com a ressurreição de Jesus, Deus transforma o sofrimento e a cruz num símbolo da vitória e da autoridade de Jesus sobre os poderes da morte.

Mas, Jesus chama a atenção para a importância, para o valor da atitude daquela mulher. Aquela mulher – quer mostrar a todos que a presença de Jesus foi algo precioso em sua vida. Ela tinha por Jesus um enorme sentimento de gratidão. E ela queria expressar essa gratidão a Jesus. Ao trazer aquele perfume de nardo puro – ela demonstra que não tinha nada tão precioso em sua vida como a presença de Jesus. Por isso, ela quis entregar a Jesus algo que simbolicamente expressasse a grandeza de seu sentimento de gratidão.

Mas, e os pobres? Não teria sido melhor ter vendido o perfume e ter dado o dinheiro aos pobres? Jesus disse que sempre devemos cuidar dos pobres. Para Jesus, a questão não é optar entre ofertar algo a Deus ou ajudar os pobres. Ou dar o dinheiro aos pobres ou contribuir com a igreja?
Devemos cuidar para não cair nessa armadilha. Jesus nos ensina que nossa contribuição a igreja deve partir de nossa gratidão a Deus. Uma pessoa agradecida a Deus faz ofertas espontâneas para a igreja. E ao mesmo tempo, essa pessoa não deixa de ajudar os pobres, de envolver-se com instituições que ajudam os pobres. As duas coisas não estão em contradição. Elas se complementam. Jesus não diz: uma coisa ou outra, mas ele diz: uma coisa e também a outra. Pois é no serviço aos pobres, que se pratica a nossa fé em Deus.

Esse tempo de pandemia nos fez valorizar muitas coisas em nossas vidas. Muitos de nós temos enorme saudades dos encontros de família nos aniversários. Dos almoços de domingo com os filhos/netos. Da troca de presentes e de abraços no Natal e Ano Novo. Dos encontros de amigos. Dos grupos da igreja. Dos cultos e das conversas no pátio da igreja depois dos cultos. Dos colegas de trabalho e dos amigos e amigas que faleceram e dos quais não nos foi permitido ir ao velório para nos despedir. Tomara que essa pandemia nos tenha lembrado quais são as coisas realmente importantes que devemos preservar em nossa vida.

Claro que o dinheiro também é importante e Jesus aceitou o precioso presente daquela mulher. Mas a epidemia nos mostra a cada dia que a vida que Deus nos deu e ainda nos conserva, tem um valor muito maior do que o que o dinheiro pode comprar. Nesses dias em que os hospitais SUS e os hospitais particulares estão lotados, – não tem vaga em UTI nem mesmo para quem pode pagar.

Aquela mulher quis agradecer a Jesus pela importância que a mensagem de Deus tinha em sua vida. A gratidão dela não podia ficar apenas num “muito obrigado” guardado no seu coração. A verdadeira gratidão a Deus precisa se expressar em atitudes.

Por isso, deveríamos também nos perguntar: Qual é o nosso gesto de gratidão por tudo aquilo que Deus já tem feito por nós? Assim como aquela mulher perfumou todo o ambiente da casa de Simão, assim também nós somos convidados hoje a tomar atitudes para deixar o nosso perfume de gratidão no ar.

Como fazer isso?

O pastor da Igreja Reformada da Argentina, Gerardo Oberman, certa vez escreveu assim:

Existem pessoas que, com a sua simples presença,
Perfumam os espaços que visitam.
Perfumam com suas palavras e até com seus silêncios,
Perfumam quando sorriem e também quando choram,
Perfumam ao entrar e deixam generoso perfume ao sair,
Porque essas pessoas não guardam o perfume, com vaidoso egoísmo, somente para si.
Essas pessoas são uma bênção,

Elas perfumam os lugares que cheiram a mofo,
Os espaços que foram esvaziados.
De qualquer fragrância de vida,
de sonhos, de esperança, de solidariedade,
de sensação de harmonia e de paz,
de buscas sinceras por paz com justiça social,

Existem pessoas que esbanjam perfumes,
Cujos aromas nutrem o tempo e as esperas,
Acendem os diálogos e os olhares,
Essas pessoas apaixonam pelas ações e pelas pausas,
Colocam sentido onde antes havia confusão, hipocrisias malcheirosas e os odores podres da inveja e do ódio.

Existem mulheres e homens
Que não ficam para si com o que lhes foi dado,
mas entendem que aquilo que possuem é por graça de Deus e algo disso deve ser colocado à serviço de Deus e para cuidar dos pobres.

Obrigado – SENHOR – por essas vidas,
Pelos seus aromas perfumados de plenitude
Que perfumam o cotidiano viver
Em um tempo como o de hoje – com tanto cheiro de morte!

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo permaneçam sempre no meio de nós. Amém.