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Povo é povo. Gosta de pão e circo. Nada como uma boa diversão ou uma novidade. Mesmo com pandemia, gosta de aglomerar e fazer festa. É uma realidade contínua desde a antiguidade. Jesus lidava constantemente com a multidão. Ele pregava, curava e alimentava o povo, que ouvia com atenção e o buscava por curiosidade. O povo se beneficiava das maravilhas e dos milagres, sem de fato ter compromisso com o Reino de Deus. Por isso, sempre de novo, o Mestre precisava “dispensar” a multidão, voltando seu foco ao grupo seleto de discípulos. Eles estavam sendo preparados para levar adiante o Evangelho.

Entre a multidão e o discipulado, a igreja se encontra num dilema. Sabemos que a quantidade de pessoas necessariamente não significa qualidade. Uma igreja cheia nem sempre é sinal de conversão ou traz transformação social. É sempre bom se aproximar da luz. É bom escutar uma pregação bem temperada com sal. Todavia, ser luz e ser sal no viver diário – fora das quatro paredes do templo – nem sempre é fácil. Por isso, repetidamente precisamos ser confrontados com o desafio de abandonar a multidão, assumindo nossa vez no discipulado. É uma decisão. O Reino de Deus acontece quando deixo Cristo governar meu viver, quando as decisões que tomo partem da vontade Deus para mim e às pessoas que me cercam. Isso não é uma coisa simples. A decisão precisa ser tomada, uma vez e repetidas vezes. Somente aí, observam-se as consequências da vida com Cristo.

Em Marcos 5 aparece Jesus, a multidão, os discípulos e Jairo, que precisava tomar uma decisão. Será que permaneço no meio do povo ou me torno um discípulo? Eis a questão. A história da doença, morte e ressurreição da filha de 12 anos é um marco divisor na sua vida. Em meio à tragédia, Deus estava lhe oportunizando um momento de consagração e entrega. De fato, não sabemos qual foi a resposta de Jairo. De propósito, Marcos deixou aberta a questão a fim de cada leitor – ao ouvir o Evangelho – tome a sua própria decisão. Nada, absolutamente nada com Deus ocorre na marra. Ele sempre nos dá a liberdade de escolher e assim também de assumir as consequências de nossa decisão que afetam – obviamente, tanto a nossa vida, quanto a daqueles que nos cercam. Ouçam o texto…

“Tendo Jesus voltado para a outra margem, uma grande multidão se reuniu ao seu redor. Então chegou ali um dos dirigentes da sinagoga, chamado Jairo. Vendo Jesus, prostrou-se aos seus pés e lhe implorou insistentemente: Minha filhinha está morrendo! Por favor, vem e impõe as mãos sobre ela, para que seja curada e que viva. Jesus foi com ele. Uma grande multidão o seguia e o comprimia. / PAUSA / Enquanto Jesus ainda estava falando, chegaram algumas pessoas da casa de Jairo, que disseram: Sua filha morreu. Não precisa mais incomodar o Mestre. Não fazendo caso do que eles disseram, Jesus disse ao pai: Não tenha medo. Tão somente creia. O Mestre não deixou ninguém os seguisse senão Pedro, Tiago e João. Quando chegaram à casa, Jesus viu um alvoroço, com gente chorando e se lamentando em alta voz. Então entrou e disse: Por que todo este alvoroço e lamento? A criança não está morta, mas dorme”. Mas, todos começaram a rir de Jesus. Ele, porém, ordenou que eles saíssem. Tomou consigo os pais da criança e os discípulos que estavam com ele, entrando aonde se encontrava a criança. Tomou-a pela mão e lhe disse: Eu te mando que se levante! Imediatamente a menina de doze anos se levantou e começou a andar. Isso os deixou atônitos. Ele deu ordens expressas para que não dissessem nada a ninguém. Também pediu que dessem alguma coisa para ela comer” (Marcos 5.21-24, 35-43).

Jairo era um sujeito religioso. Era judeu praticante. Era líder na sua comunidade. Mas, como qualquer pessoa, isso não o isentava de passar por momentos difíceis. O sol nasce para todos. A chuva cai sobre bons e maus. A dor bate na porta de todas as casas. O sofrimento sempre nos leva à pergunta: Onde busco forças para lutar? Ou, a quem estou servindo com minhas forças e inteligência para vencer a dor? Doravante quero refletir com vocês sobre as decisões de Jairo. Como é que ele agiu quando sua filha adoeceu? Não é dito, mas provavelmente ele procurou todos os recursos disponíveis, sem resultado. É importante que lembremos aqui do último culto, onde os discípulos lutaram até às últimas forças para manter o barco sobre o mar. Mas, mesmo assim, o fim se aproximava. Somente aí apelaram a Jesus, que colocou ordem na situação.

Jairo era um crente tradicional. A princípio, como fariseu, ele não era favorável a Jesus. Mas, diante da doença de sua filha, foi ao encontro do Mestre. Como agiu? Então, vamos às lições. Primeiramente é necessário dizer que a mudança começa em nossa vida quando caminhamos em direção a Jesus. É a primeira decisão. É obra do Espírito Santo. Ele nos ajuda a observar as maravilhas que acontecem com aqueles que acompanham o Mestre. Ele transforma. Ele cura. E, principalmente, ele nos enche de amor. Agora, é preciso humildade. Não adianta se vangloriar dizendo: Sou crente. Sou luterano. Dou o dízimo. Ajudei aqui, ajudei ali. Não adianta apresentar certidão de Batismo ou Confirmação ou dizer que foi batizado nas águas ou que fala em línguas. O que precisamos dizer constantemente é “sou pecador” e “vem me socorrer, pois sozinho não posso mais”.

Ele se ajoelha, suplica e confessa: Jesus! Basta teu toque para que minha filha volte a ter saúde! Diz o Salmista: O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra (Salmo 121.2). Só Jesus pode mudar a minha vida. Só Jesus pode salvar o mundo. Só Jesus vence o ódio, a ignorância e a maldade. Eis a confissão de Jairo, a qual acabou por se tornar um testemunho público de sua fé. Quem sabe antes sentia raiva ou repulsa ao ouvir o nome de Jesus. Agora, o toque do Mestre se torna a única possibilidade de salvação. De maneira nenhuma deveríamos ter vergonha de expressar nossa fé, de dar nosso testemunho. Outros também podem se sentir tocados.

Jesus se sensibiliza e acompanha o pai na sua dor. Mas, bem que ele podia ter dito: Vai em paz, que a tua filha está curada. Não! Inicia-se naquele momento uma caminhada de fé. Um percurso doloroso. De fato, uma prova contínua de fé. Jairo passa por dois momentos nos quais poderia ter abandonado a caminhada. Primeiro, Jesus encontra e cura uma mulher com hemorragia. Havia tumultuo e um princípio de confusão. Em seguida, um diálogo e cura. Mas, ele não perde a paciência. Fica ao lado de Jesus, deixando-o agir sem apressar. Logo adiante, encontra os mensageiros que vem de sua casa com a notícia da morte da filha. É momento de desistir? Jesus o anima e diz: Não dê atenção às notícias. Continue confiando.

Caminhar em direção a Jesus, abrir o coração e agora colocar-se ao lado com o Mestre, passo a passo na fé. Nesse ponto, Jesus dispensa a multidão e, quando chega à casa, dispensa os curiosos e lamentadores. Mas, antes Jairo ainda precisa escutar o deboche de alguns quando Jesus afirma que a menina vive. Ele não se junta aos escarnecedores. Continua confiante. Agora, o Mestre entra no quarto onde a menina está desfalecida. A caminhada se afunila, sobrando Jesus e os discípulos Pedro, Tiago e João. Da multidão, dos parentes, amigos, vizinhos e curiosos só resta Jairo, a esposa e a filha. Então, acontece o milagre. A única solução àquela menina de 12 anos era Jesus que tinha e tem poder sobre a morte. Menina! Levanta-te… Ordenou Jesus. Ela se levantou e começou a andar.

Por fim, uma última ordem dada àqueles pais: Deem de comer à menina! A partir do momento que caminho ao lado do Mestre, passo à condição de discípulo e servo. Não somente ajudo, como também ofereço – com o meu testemunho – alimento aos outros. Isso começa no lar. Repito o que disse no início do sermão. Não sabemos se Jairo e sua família continuaram seguindo Jesus. O que se apresenta aqui é um desafio para cada pessoa diante das dores que a vida nos impõe: Buscar Jesus, entregar-lhe a causa, caminhar com ele, ser uma testemunha já dentro do próprio lar. Que Deus continue nos abençoando hoje e sempre. Amém!