Infelizmente não posso me orgulhar muito do tempo de escola. Não fui um aluno exemplar. Jamais reprovei. Sempre completei o ano. Mas, as recuperações de nota eram frequentes. No Ensino Fundamental minha maior dificuldade era com a “Língua Portuguesa”. No Ensino Médio, as “Ciências Físico-Biológicas”. A recuperação não era um castigo. Antes, era um momento onde poderiam ser revistos e firmados certos conceitos. Após a recuperação, podia seguir adiante. No Evangelho de Marcos há um momento de recuperação, onde Jesus repete um milagre diante dos discípulos. Ao ler o Evangelho sequer damos conta de que houve duas multiplicações de alimentos, nos capítulos 6 e 8. Assim como um professor repete o exame final com pequenas variações nas questões, assim Jesus alimenta 5 e depois 4 mil pessoas. Ele usa 5 e depois 7 pães. Também recolhe 12 e logo adiante outros 7 cestos de sobras. Parece-me que fica quase evidente a pergunta do evangelista aos leitores: Agora vocês entenderam? Fixaram o conteúdo? Se foi tão importante repetir o milagre… Se Marcos fez questão de resgatar tal conteúdo, com certeza, ainda hoje as lições são preciosas e precisam ser bem aprendidas pela igreja. Ou melhor, postas em prática. Vamos, então, ouvir o texto e depois refletir nas lições.
OUTRA VEZ REUNIU-SE UMA GRANDE MULTIDÃO. VISTO QUE NÃO TINHAM NADA PARA COMER, JESUS CHAMOU OS SEUS DISCÍPULOS E COMENTOU: TENHO COMPAIXÃO DO POVO. JÁ FAZ TRÊS DIAS QUE ELES ESTÃO COMIGO E NADA TÊM PARA COMER. SE EU OS MANDAR PARA CASA COM FOME, VÃO CAIR PELO CAMINHO, POIS ALGUNS VIERAM DE MUITO LONGE. OS SEUS DISCÍPULOS QUESTIONARAM: NESTE LUGAR DESERTO, ONDE VAMOS CONSEGUIR PÃO? PERGUNTOU JESUS: QUANTOS PÃES VOCÊS TÊM? RESPONDERAM: SETE! ENTÃO, ORDENOU À MULTIDÃO QUE SE ASSENTASSE. DEPOIS DEU GRAÇAS, PARTIU O PÃO E OS ENTREGOU AOS SEUS DISCÍPULOS, PARA QUE OS SERVISSEM. ELES ASSIM OBEDECERAM. APARECERAM TAMBÉM ALGUNS PEIXES PEQUENOS. NOVAMENTE, DEU GRAÇAS. OS DISCÍPULOS OS DISTRIBUÍRAM. O POVO COMEU ATÉ SE FARTAR. POR FIM, AJUNTARAM SETE CESTOS CHEIOS DE PEDAÇOS QUE SOBRARAM. CERCA DE QUATRO MIL PESSOAS ESTAVAM PRESENTES. TENDO-AS DESPEDIDO, ENTROU NO BARCO COM SEUS DISCÍPULOS E FOI PARA A REGIÃO DE DALMANUTA MARCOS 8.1-10).
Então, vamos recuperar a nota? Quais lições aprendemos com as duas multiplicações dos pães feitas por Jesus? Entre muitas possibilidades, destaco três questões essenciais à fé. Primeiro, não importa o lugar ou a época em que você vive, as dificuldades aparecem. Podemos buscar a solução sozinhos ou em equipe. Jesus sempre aponta à coletividade. É bom conversar e buscar alternativas em conjunto. Jesus conversa com os seus discípulos sobre a fome do povo. Mesmo sendo Deus, ele apela às pessoas. A solução se encontra no meio da própria coletividade. Os pães não caíram do céu. Ele veio do povo, pronto para ser repartido. Mas, o que seriam sete pães para 4 mil pessoas? De fato, o ponto de partida ao milagre não está no pão. Antes, o milagre se dá pelo desejo de repartir o que se tem. Quando você abre a mão, o milagre acontece. Eis a primeira lição. Diante da necessidade é preciso aprender a repartir. Toda ação feita em amor (não por mera obrigação) opera um milagre. Se você parar e pensar, descobrirá que já presenciou muitos milagres de multiplicação.
Uma segunda lição importante diz respeito à gratidão. A distribuição não acontece de qualquer jeito. Jesus ordena ao povo que se assente e sossegue. Mesmo hoje em dia, estar na mesa exige ordem e respeito. Algumas famílias costumam escutar Minutos com Deus (na rádio) ou ler o devocionário do dia. Os pais aconselham o lavar as mãos, evitar o celular, não ligar a TV. Em algumas casas, servem-se primeiros os mais velhos. Noutras, as crianças. Cada qual segue seu ordenamento. Todavia, Jesus nos mostra a necessidade de orar e agradecer pelo alimento. Agora pensem comigo… Se Jesus, que é Deus, agradece, quem dirá a gente. É bom e necessário colocarmos a ideia em ordem, reconhecendo que o alimento servido é dádiva de Deus. Deus manda o sol e a chuva no tempo exato. Ele nos dá força para plantar, colher e produzir o alimento.
A terceira lição serve bem às pessoas e também ao governo. É a questão da economia. O Brasil é o maior produtor de alimentos do mundo. Mas, também uma das nações onde há maior desigualdade social, com gente passando fome. Entre as muitas respostas ao problema, entra, com certeza, a questão do desperdício. Vai desde o cuidado em deixar uma torneira aberta, quanto uma lâmpada acesa. Vai desde o transporte de grãos quanto ao que deixamos no prato depois do almoço. Sempre me assustava com o desperdício em nossas festas. Depois de algumas chamadas de atenção, melhorou sensivelmente. Mas, o que acontece na igreja é reflexo do que se dá em casa. A economia precisa ser exercitada dia após dia. O evangelista relata que Jesus pediu que as sobras fossem recolhidas em sete cestos. Entendo que, da nossa responsabilidade com o dia de hoje, também se efetivará a proteção do nosso futuro. Por isso, diga não ao desperdício.
Jesus era e é Mestre. Ele fala. Ele educa. Ele mostra na prática o que é ser cristão. De nada adiante ter fé ou ter um discurso religioso se a prática não é coerente com a pregação, por isso aprenda a partilhar para ver o milagre acontecer. Seja uma pessoa grata pelo que é e pelo que tem. Quando agradecemos, recebemos dos céus impulso para seguirmos adiante, de bênção em bênção. Por último, olhe para cada copo de água como uma dádiva. Cuide bem daquilo que Deus colocou sob tua responsabilidade, seja em casa ou na escola, empresa e igreja. Que Deus nos abençoe. Amém!
Em 1982, o P. Oziel de Oliveira Campos compôs “Arde a Voz em Meu Peito”…