|

 

João faz questão de iniciar seu Evangelho anunciando que a Palavra de Deus se fez carne e veio ao mundo em forma de criança, a qual iluminou o mundo. Lucas conta em detalhes todo planejamento divino para que o Salvador do mundo chegasse como criança. Não no palácio em meio às sedas, mas no rincão, no meio da palha. Passo a passo, os anjos anunciaram o nascimento do menino que veio carregando o Evangelho em si. Mateus destaca que, mesmo os pagãos que vieram do Oriente, chamados por alguns de Sábio e por outros de Magos, se dobraram e adoraram ao Menino Rei. Nesta manhã, somos desafiados a abrir o Evangelho de Marcos para observar a paixão que Jesus tinha pelas crianças. Em meio aos adultos, ele faz questão de chamar os pequenos ao meio, fazendo deles uma lição àqueles que se dizem adultos e maduros, sabedores de tudo. Você deseja aprender a lição? Então, ouça.

ALGUMAS PESSOAS TRAZIAM PARA JESUS AS CRIANÇAS, A FIM DE QUE ELE TOCASSE NELAS. CONTUDO, OS DISCÍPULOS AS REPREENDIAM. QUANDO JESUS NOTOU ISSO, FICOU INDIGNADO. DISSE-LHES: DEIXEM QUE AS CRIANÇAS SE ACHEGUEM. NÃO AS IMPEÇAM. O REINO DE DEUS PERTENCE AOS QUE SÃO SEMELHANTES A ELAS. DIGO-LHES A VERDADE: QUEM NÃO RECEBER O REINO DE DEUS COMO UMA CRIANÇA, NUNCA ENTRARÁ NELE. EM SEGUIDA, TOMOU AS CRIANÇAS NOS BRAÇOS. IMPONDO-LHES AS MÃOS, AS ABENÇOOU (MARCOS 10.13-16).

Passo a passo, convido você para uma caminhada com o objetivo de melhor compreender o Evangelho e assim atualizar as suas lições. No texto lido, não fica bem claro quem trazia as crianças para Jesus. Pressupõe-se que sejam os pais. Provavelmente, as mães. Que fique bem claro, a partir da Criação de Deus – com exceção de Adão e Eva – todos nascem como bebês e são dependentes de cuidados dos adultos. Deus fez assim. É a ordem da criação. Uma geração conduz a seguinte e assim por diante. Os grandes nos ensinaram a caminhar, falar, comer… Também, os adultos deveriam conduzir os pequenos nas questões relacionadas à fé. Assim com se ensina a falar, é possível igualmente a ensinar a orar. Assim como se ensina a caminhar é importante que se coloque os pequenos no caminho da igreja. Como luteranos insistimos para que os padrinhos e madrinhas sejam vinculados numa comunidade de fé, não importando a denominação. Se eles não são ligados a uma igreja, como conduzir à comunhão? Pensem nisso. É da nossa responsabilidade, como família e igreja, encaminharmos os pequenos.

Sigo adiante com outras duas questões advindas do texto: Primeira, como é que a gente leva uma criança para Jesus? Deveras saudável é o hábito de orar com os filhos antes de dormir, quem sabe ainda contar uma pequena história. Deveras saudável é trazê-las ao Culto ou ao Culto Infantil. Deveras importante é mostrar por palavras e atitudes o quanto dependemos e podemos ser ligados a Deus. O louvor e a gratidão, aprendemos em casa, assim como dizer palavrão e reclamar. Então, o que escolhemos? Segunda questão, como é que Jesus toca as crianças? Com pastor, tenho insistido bastante no fato de que cada pessoa tem uma história particular com Deus. Com alguns, começa na mais tenra idade. Às vezes é uma historinha bíblica que toca, noutras é um retiro ou EBF. Comigo, me marcou uma Bíblia das Crianças que recebi da minha madrinha. Foi o meu primeiro contato com a Palavra. Quanto antes descobrimos quem é Jesus e lhe entregamos nossa vida, menos perdemos tempo correndo atrás daquilo que não traz satisfação, antes engano. Você que é adulto, se ainda não entregou sua vida a Jesus, faça e verá como tudo fica diferente, como a vida ganha novo sentido.

A Bíblia diz que havia boa intenção naquelas famílias que levavam as crianças para Jesus. Mas, infelizmente houve impedimento, justamente daqueles que estavam sendo discipulados. Os adultos, com pensamentos e atitudes de gente grande, por vezes travam o desenvolvimento das crianças. Vou citar apenas dois exemplos bem comuns. É dia de Culto Infantil e o pai vem com a desculpa: Hoje eu não posso te levar na igreja por que tenho outro compromisso. Não pode ou não quer. Se quer, não haveria outro jeito? Basta combinar uma carona. Outra situação: Dizer aos pequenos que devem ficar quieto na igreja, senão o pastor pega. Pega e faz o quê? Assustar as crianças com respeito a Deus e à igreja não ajuda ninguém. Vou assumir também a minha parcela de culpa no impedimento quando fico enrolando ou falo coisas difíceis que nem adulto – muito menos criança – entendem. Precisamos, em conjunto, refletir e revisar atitudes, mudando nossa prática familiar e comunitária.

Vamos adiante no texto… Quando o evangelista cita os “pequeninos” logicamente se refere às crianças, mas não somente. Os pequenos podem ser pela idade, mas também por estarem há pouco envolvidos na comunidade. São aqueles que estão aprendendo a Palavra e precisam de uma atenção especial. Amplio minha visão ao perceber as pessoas fragilizadas pela idade (os idosos), pela falta de saúde (doentes), pela crise financeira (os empobrecidos), pela falta de sentido para a vida (os depressivos). Enfim, sempre haverá “pequeninos” à nossa volta, aos quais precisamos dar atenção especial e abrir espaço para chegarem até Jesus que é a solução, que é a salvação. Por isso, precisamos constantemente verificar se estamos atrapalhando ou ajudando os pequenos. Seja em casa, seja na igreja, sempre há a possibilidade de mudar e melhorar.

No Evangelho deste domingo, ouvimos uma situação bem concreta vivida por Jesus, pelos discípulos, pelas famílias e pelas crianças. De uma maneira ou outra, todos aprenderam e cresceram com a experiência vivida. Ao menos, assim aconteceu se houve humildade e maturidade. Não existe escolha melhor do que estar ao lado de Jesus, bem pertinho dele, ouvindo as suas palavras amorosas, recebendo a sua bênção. Fisicamente, houve tal privilégio há dois mil anos atrás. Hoje a presença se dá na vida comunitária. É aqui que você vive com Jesus. Por isso, ter uma comunidade e viver em comunhão é uma forma de crescimento, de ser abençoado e de se tornar uma bênção na vida dos outros. Coloque sempre de novo tal desafio diante de ti. Eu preciso e eu quero viver em comunidade.

Por último, no texto há um ensinamento de Jesus, o qual precisamos assumir como um desafio constante. Jesus diz: Quem deseja fazer parte do Reino de Deus – noutras palavras, ser salvo ou viver no céu – precisa ser como uma criança. Relaciono tal desafio com a prática do Batismo. Em última análise, a nossa percepção da vida do que somos e de tudo aquilo que temos é GRAÇA DE DEUS. No Batismo proclamamos que é Deus quem nos escolhe por sua total e exclusiva bondade. Ao trazerem seus filhos ao Batismo, pais e padrinhos apenas seguem um ordenamento de Jesus. Eles não estão salvando a criança, apenas encaminhando. Uma tarefa que é contínua. Da mesma forma, diferente do que muitas igrejas ensinam e determinam, o Batismo não é obra humana. Não sou eu que me deixo batizar. Não é a minha igreja que me batiza. Receber como uma criança é confiar no cuidado e na graça de Deus que nos escolhe e salva. Amém!

Um dilema apresentado pelo poeta e jornalista Giuseppe Artidoro Ghiaroni na canção “Sou uma Criança Não Entendo Nada” cantada por Erasmo Carlos. Lembra?