Para começo de conversa… Jamais podemos esquecer que o Filho de Deus era gente como a gente. Como vimos no último culto, ele gostava inclusive de apanhar uma fruta na própria árvore. Ele tomava banho, dormia e sonhava. Como cidadão, também seguia as regras da sociedade. Cumprindo os ritos religiosos, ele frequentava a Sinagoga. Exercendo suas obrigações sociais, pagava impostos. Ouçam o que diz o Evangelho…
ALGUNS FARISEUS E HERODIANOS APROXIMARAM-SE DE JESUS COM A INTENÇÃO DE COLOCÁ-LO EM CONTRADIÇÃO. ELES DISSERAM: MESTRE! SABEMOS QUE VOCÊ É AUTÊNTICO. NINGUÉM CONSEGUE PERTURBÁ-LO. VOCÊ NÃO OLHA SÓ A APARÊNCIA. ANTES, SEGUNDO A VERDADE, ENSINA O CAMINHO DE DEUS. MAS, ESTAMOS COM UMA DÚVIDA: É CERTO PAGAR TRIBUTO PARA CÉSAR OU NÃO? DEVEMOS OU NÃO DEVEMOS PAGAR? PERCEBENDO A HIPOCRISIA, JESUS RESPONDEU: POR QUE AFINAL VOCÊS ESTÃO ME EXPERIMENTANDO? ALCANCEM-ME UMA MOEDA PARA QUE EU A VEJA. ASSIM LHE ALCANÇARAM UM DENÁRIO. ENTÃO, O MESTRE PERGUNTOU: DE QUEM É ESTA ESFINGE? DE QUEM É ESTA INSCRIÇÃO? ELES RESPONDERAM: DE CÉSAR! JESUS CONTINUOU: DEEM A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR. DEEM A DEUS O QUE É DE DEUS. TODOS SE ADMIRARAM DE SUA RESPOSTA (MARCOS 12.13-17).
Desde a antiguidade, a humanidade é cercada de tributos. Os impostos mantinham palácios, exércitos e impérios. Os impostos favoreciam alguns serviços essenciais à população. Era e deveria ser assim ainda hoje. Aqui no Brasil, os poderes executivos, legislativos e judiciários são mantidos com nossos impostos. As forças armadas e a segurança pública se sustentam com nossos impostos. As garantias básicas de educação e saúde são proporcionadas graças aos tributos. Tanto outrora, quanto hoje, a sonegação traz prejuízo e aumenta a carga daqueles que contribuem.
O Evangelho diz que dois grupos “rivais” (fariseus e herodianos) se unem para passar uma “tranca” em Jesus. Os fariseus zelavam ao máximo pela lei, incentivando sempre uma vida regrada pela letra da lei. Eles defendiam a superioridade racial do povo escolhido por Deus. Por isso, também, não suportavam e questionavam a carga de impostos dos “gentios”. Por outro lado, os herodianos – como já diz o próprio nome – eram religiosos partidários de Herodes. Ou seja, uma religião vendida ao governo. Eles defendiam os impostos. Ao se colocarem juntos diante do Mestre, ambos grupos queriam saber qual lado Jesus defenderia. A favor do povo ou a favor do governo? Aparentemente, qualquer resposta dada agradaria um grupo e desagradaria ao outro, dando motivo de acusação.
Interessante é que os acusadores – mesmo com suas diferenças – conheciam bem a Jesus, valorizando sua integridade, imparcialidade e devoção à verdade. De fato, ele era um Mestre de valor. Todavia, os elogios não passavam de bajulação, disfarçando as más-intenções. A situação novamente reforça o tema já abordado na “Parábola da Figueira Estéril”. Há muita folha (ostentação) e pouco fruto. É um culto de aparências. Jesus percebe a hipocrisia. Como noutras oportunidade, ele reverte o questionamento com outro questionamento. Inicialmente, Jesus solicita que lhe alcancem uma moeda. Diante dele é posto um “Denário”, moeda da época. Ele aponta e pergunta: De quem é a estampa sobre a moeda? O que está escrito?
POR CURIOSIDADE, PARE E PENSE… DE QUEM É A GRAVURA DA NOSSA MOEDA (TAMBÉM NAS CÉDULAS)? SABE-SE QUE A “EFÍGIE DA REPÚBLICA” TEM O NOME DE MARIANNE. É UMA FIGURA DO SEXO FEMININO QUE SIMBOLIZA A LIBERDADE DA REPÚBLICA FRANCESA, FOI INSPIRADA NA OBRA ‘A LIBERDADE GUIANDO O POVO’, DO PINTOR FERDINAND VICTOR EUGÈNE DELACROIX, EM 1830.
Contudo, no Denário está o rosto do imperador Tibério César e a inscrição “César Augusto Tibério, filho do divino Augusto”. Era a moeda em circulação. Era a moeda dos impostos. Era a moeda da manutenção do governo temporal, que de certa forma valoriza o culto ao imperador. Jesus não nega responsabilidade. Jesus se mostra cidadão do império, cumprindo as regras do jogo. Todavia, deixa claro a “dedicação” exclusiva ao Pai.
Ele aproveita para deixar claro: Deem a César o que é de César. Ou seja, como cristãos não devemos nos isentar do compromisso civil, seja votar, seguir as leis, prestar serviço militar, pagar impostos… Por outro lado, precisamos usufruir e exigir os direitos que nos cabem. O apóstolo Paulo livrou sua vida inúmeras vezes, lembrando aos seus carrascos que era “cidadão romano”. Por outro lado, Jesus faz questão de destacar aos seus acusadores e, consequentemente, ao povo: Deem a Deus o que lhe pertence. Ou seja, vivo aqui no mundo sobre as regras do governo. Mas, a maior autoridade sobre mim é Deus. Onde há uma contraposição entre as duas autoridades, prevalece a lei divina. “Antes importa obedecer a Deus do que aos homens” (Atos 5.29).
Jesus não se joga nos braços dos fariseus, nem dos herodianos. Jesus também não discute. Ele apenas apresenta a realidade, acrescentando um desafio radical. A moeda é de César, ponto final. Cada qual cumpra com suas obrigações, sem deixar a desejar. Todavia, destaca que, acima de tudo, pertencemos e servimos a Deus. Se um determinado imposto ou norma é colocada e não afeta a fé, cumpram. Martinho Lutero insistia para que ficasse bem claro que lidamos com dois reinos, um deste mundo e o outro de Deus, com suas obrigações decorrentes.
O que está em jogo no diálogo em questão não é o confronto dos cristãos com os governos como propuseram os desafiantes. O conflito está entre ser autêntico e ser hipócrita. Não basta ter uma religião. Não basta ter uma fé fingida. Como cidadão, nos afazeres diários estou a serviço do Reino de Deus. O que posso e o que devo fazer em busca de uma sociedade mais justa e igualitária, devo fazer com alegria, deixando sempre o meu testemunho de fé. Em humildade, aprendemos e servimos a Deus acima de tudo. A fé n’Ele é que me leva em direção ao compromisso com a sociedade, igualmente com o próximo. Então, cabem agora as perguntas: Como eu posso ser um cidadão que testemunha a fé em Jesus? Como Comunidade Luterana, é possível uma colaboração com o poder público para melhorar a cidade? Que Deus continue nos iluminando e fortalecendo no chamado. Amém!
Vamos orar: Senhor! Só conseguimos dar o que já é teu, seja este dom qual for. Só temos o que vem do céu, por ti confiado a nós. Amém!
No embalo de “Tributai ao Senhor”.