Prezada comunidade, meus irmãos e irmãs em Jesus Cristo,
Juntamente com o Pai nosso, a oração do Salmo 23 é certamente um dos textos mais conhecidos das Sagradas Escrituras. É um texto tão conhecido que até mesmo pessoas que não pertencem a nenhuma igreja ao ouvir o início da oração “O SENHOR é meu pastor” sabem como ela continua. “O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará”. E entre as pessoas que participam de uma igreja, algumas conseguem recitar de cor, recitar do coração as palavras desta oração. É um texto rico de imagens que despertam nossa imaginação e alimentam nossa confiança em Deus. Hoje temos a oportunidade para meditar e se deixar conduzir por esta oração.
O primeiro verso “O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará” praticamente dá o tom para tudo que se segue. O salmista evoca a figura de um pastor que cuida de seu rebanho. E a pessoa que faz deste salmo a sua oração é chamada a confiar no pastor, a se deixar conduzir pelo pastor. O salmo nos transporta para um mundo antigo, onde não existia toda a tecnologia que dispomos hoje. É um tempo e lugar em que o pastor de ovelhas é muito próximo de seu rebanho. O pastor conhece as suas ovelhas. O Salmo evoca esta proximidade: “O SENHOR é o MEU pastor”. Uma a uma o pastor conhece as ovelhas pelo nome e elas seguem seu pastor porque reconhecem sua voz e confiam em seu cuidado. O Pastor me faz repousar em pastos verdejantes, o pastor me leva junto às águas de descanso, o pastor me refrigera a alma, o pastor me guia pelos caminhos de justiça. Nestas quatro ações (repousar, levar, refrigerar, guiar) sempre é o pastor quem está agindo em favor de suas ovelhas. A imagem que se abre diante de nós é de prados verdes e águas limpas onde as ovelhas podem se alimentar. Aqui existem segurança, proteção, renovação das forças, e a proximidade entre as ovelhas e seu pastor. São palavras apropriadas para descrever a comunhão que Deus deseja ter com cada pessoa e com todo seu povo. Assim como o pastor conhece as ovelhas pelo nome, Jesus conhece as pessoas pelo nome e as chama para nele confiar e seguir. Como Jesus mesmo afirma, “As minhas ovelhas escutam a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem”.
Não podemos nos esquecer que no mundo de Israel a maior parte da terra é árida, seca, o sol é abrasador, e os caminhos aos prados verdes e águas limpas podem ser longos e tortuosos. Mas o pastor sabe onde encontrar capim e água, essenciais para a vida. O pastor conhece o caminho e quer conduzir o rebanho. O rebanho e cada ovelha, por sua vez, precisam se deixar conduzir pelo pastor. Porque de fato perigos e ameaças existem. O caminho pode ser difícil e perigoso. “Pelo vale da sombra da morte” é a imagem do salmo – uma imagem que pode descrever todo tipo de perigo que quer desviar as ovelhas do caminho. O vale da sombra da morte são os descaminhos da vida, os ventos fortes que arrastam o que está à sua frente, as pedras de gelo que caem do céu, os lugares de angústia e sofrimento, os lugares de incertezas e questionamentos, onde a escuridão e desespero finalmente nos conduzem à morte, morte como separação, morte como quebra de comunhão entre pessoas que se amam, morte como solidão e perdição.
Mas também ali o pastor, o SENHOR meu pastor, caminha com suas ovelhas. “Tu estás comigo; teu bordão e teu cajado me consolam”. O bordão é um tipo de bastão curto e pesado com uma ponta redonda na extremidade que serve como uma arma para defender de animais selvagens, de agressores que querem nos tirar a vida. O cajado, por sua vez, é um bastão mais comprido que serve para guiar as ovelhas, especialmente quando o caminho é tortuoso e escuro. O salmista, como a ovelha, confia no seu pastor – confia que Deus também é pastor nos descaminhos da vida. E o salmo igualmente nos chama a confiar nesta mão que segura o cajado, que dirige nossos passos, que tranquiliza nosso coração, ainda quando a visibilidade não é boa, ainda quando o nosso olhar não consegue diferenciar entre o passo certo e o passo falso. “Tu estás comigo” é a confissão de fé radical que confia na proximidade de Deus e que esvazia toda ameaça e perigo. “Tu estás comigo” é um eco da promessa de Jesus, “Eu dou às minhas ovelhas a vida eterna, e por isso elas nunca morrerão. Ninguém poderá arrancá-las da minha mão”.
Continuando em nossa meditação, a imagem do SENHOR como bom pastor agora dá lugar a uma nova imagem, a uma cena diferente. Ainda estamos em Israel. Estamos ainda em terra árida sob sol escaldante, terra de pastores e rebanho de ovelhas. Mas agora estamos entrando numa tenda que se abre para acolher, “preparas uma mesa na presença de meus adversários, unges minha cabeça com óleo, meu cálice transborda”. Esta é a imagem de uma pessoa viajante, um peregrino no deserto, uma pessoa de passagem que encontra abrigo e acolhida. Agora, o salmista evoca a figura de um anfitrião. O anfitrião é atencioso e generoso. Como sinal de hospitalidade a mesa é preparada para que o viajante possa renovar suas forças. É gesto de partilha não só de alimento, mas partilhar também a vida, a comunhão e a amizade que cria vínculos e que expressa solidariedade. Outro sinal de hospitalidade é o óleo, um sinal de honra e respeito, mas também usado para curar ferimentos e refrescar a pele machucada pelo sol, animando o espírito com seu perfume. E como se isto não fosse suficiente, e de fato para a generosidade do anfitrião não o é, a taça transbordante de vinho é compartilhada. Alimento, óleo, vinho: presentes que fazem viver e dão alegria, porque expressam fartura, abundância de cuidado e amor.
Cuidado e amor estes que testemunhamos hoje quando o rebanho se reúne para ouvir de seu pastor uma palavra de esperança e ânimo. Cuidado e solidariedade que testemunhamos nos dias de ontem, quando pessoas de perto e de longe arregaçaram suas mangas para cuidar da família vizinha, vítima de ventos fortes e grandes pedras de gelo. O bom pastor usa pessoas assim como cajado e bordão para proteger e conduzir seu rebanho no caminho da vida. Cuidado e acolhida que testemunhamos nos dias de hoje e amanhã ao trazer em oração famílias preocupadas com seu futuro, diante da lavoura destroçada – famílias em luto pela frustração de mais uma colheita perdida, mas trazidas em oração confiante que o poder do Pai é maior do que tudo e ninguém pode arrancar as ovelhas de Jesus das mãos do Pai. Cuidado e amor que testemunhamos sempre no amor de mãe, que hoje e esperamos que não somente hoje, recebem sua justa homenagem e respeito que devem receber todos os dias. Cuidado e amor que testemunhamos na eternidade quando a voz do bom pastor nos para se deixar conduzir pela sua palavra e nos acolhe na comunhão e proximidade, onde bondade e misericórdia certamente nos seguirão todos os dias de nossas vidas. Amém.
Textos Salmo 23 e João 10.27-30
Por ocasião do tornado que arrasou a sede do município de Maripá e Dia das Mães no calendário civil