Os dados que eu estou trazendo são provisórios. Conforme as águas baixam, vão sofrendo alterações. Segundo estudos da UFRG, foram mais de 60 mil pessoas (46,5%), em 11 municípios do Vale do Taquari, que foram afetadas (https://independente.com.br, 10/05/24, texto de Ricardo Sander). Os próprios Ministros e Ministras estão impedidos de chegarem a determinadas localidades. Estradas destruídas, deslizamentos e pontes caídas, dificultam a locomoção. A situação fica pior ainda quando a própria família pastoral é atingida, com a inundação da casa paroquial. Fica difícil ajudar quando se precisa de ajuda. É o caso do P. Mauro e da Pa. Alessandra Bourscheidt Alves, de Cruzeiro do Sul; do P. Valmir Simon e família, de Arroio do Meio; e da Pa. Margane Beatriz de Vargas, pela segunda vez, de Roca Sales.
A enchente foi histórica, não somente para o Vale do Taquari, mas para todo o Estado do Rio Grande do Sul e, talvez do Brasil. Os estragos vão se revelando conforma as águas baixam. Bairros inteiros sumiram. Não restou nem os fundamentos para reconstruir sobre. No campo, muitos distritos ficaram isolados, sem qualquer forma de comunicação ou acesso. Galinheiros e chiqueirões foram destruídos. Corpos de animais são encontrados espalhados pelos caminhos. Um estudo preliminar da URGS, o panorama é o seguinte:
“Segundo o estudo, 60.776 pessoas foram atingidas pelas águas. Lajeado puxa a frente com 20.002 pessoas (21,4% da população), seguido de Estrela com 14.958 moradores, Arroio do Meio com 7.311 e Encantado (6.223). Ainda aparecem na lista Cruzeiro do Sul (2.495), Taquari (2.122), Muçum (1.551), Bom Retiro do Sul (1.088), Marques de Souza (834) e Colinas (460). Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo, também teve 2.253 pessoas de 1.356 domicílios foram atingidas.” (https://independente.com.br)
A Pa. Miriam Diefenthaeler, o P. Henrique Luiz Arnold (ambos de Lajeado) e o P. Jair Dragon, de Forquetinha tiveram que sair de casa para não ficarem ilhados, sem luz, água e internet. A Pa. Margane, de Roca Sales, conseguiu retirar alguns bens e sair da casa reformada recentemente, antes que ela fosse novamente invadida pelas águas, como em setembro do ano passado. A casa pastoral de Colinas, sem inquilinos ainda, que também passou por reformas e pintura nova, ficou totalmente coberta pelas águas. Em 1 de junho, o P. Jandir Ilton Sossmeier deve começar os seus trabalhos pastorais. A Paróquia terá que alugar uma casa. Os colegas P. Ademir e Diác. Roselaine Trentini, ficaram ilhados por um período, assim como a cidade de Marques de Souza. A casa paroquial, no entanto, não foi atingida. A comunidade de Tamanduá teve suas 2 igrejas, salão comunitário, cemitério, completamente alagados, além das casas da maioria dos membros. A Pa. Elisângela Borschardt Röwer, informa que na cidade há perigo de deslizamentos de encostas. A Comunidade de Seca Baixa também foi invadida pelas águas. As e os demais colegas, de Bom Retiro, Taquari, Conventos, Languiru, Teutônia e Canabarro prestaram relevante socorro e auxílio aos colegas do Sínodo, membros das suas próprias comunidades e abrigos, fornecendo alimentação (cuca, bolachas, lanches, etc.), carinho e cuidado.
Em Paverama, a Pa. Cledes Markus, fez o sepultamento de uma das primeiras vítimas dessas enchentes, um idoso, levado pelas águas. Na Paróquia de Cruzeiro do Sul, 84 famílias foram atingidas, 10 delas com a casa totalmente perdidas. Em Lajeado, foram 4 as famílias que perderam tudo. Praticamente metade da cidade de Estrela ficou embaixo d’água (46,5). A presidente da Comunidade perdeu todas as suas coisas dentro do apartamento, no segundo andar. O P. Ademar Giese fez o sepultamento de um casal de idoso que morreu afogado dentro de casa, sem poder sair. Na Comunidade de Fazenda Lohmann, a Pa. Margane, notifica que há pessoas desaparecidas e 90% das famílias da Paróquia foram atingidas. Na Paróquia Teutônia Centro famílias tiveram que deixar as suas casas, invadidas pelas águas, mas já puderam voltar. A Associação dos Funcionárias da Languiru, onde o XI dia Sinodal da Igreja seria realizado, não foi poupada, ensejando o cancelamento desse encontro. A Paróquia Teutônia Norte relata que, nas várzeas a enchente foi forte e famílias perderam todos os móveis. Além disso, em torno de 200 pessoas foram orientadas a deixar as suas casas em virtude do risco de deslizamento de encostas em harmonia Alta e Harmonia Baixa.
O Colégio Evangélico Evangélico Alberto Torres-CEAT (Lajeado) e Região Alta (Roca Sales) foram fortemente atingidos. No Sínodo, temos, pelo menos, 6 igrejas atingidas pelas cheias (Palmas Sul, Roca Sales, Arroio da Seca Baixa, Cruzeiro do Sul, e Tamanduá). Os Centros Comunitários são 5 (Roca Sales, Lajeado, Cruzeiro do Sul, Palmas Sul e Tamanduá). Casas pastorais atingidas somam 4 (Roca Sales, Colinas, Arroio do Meio e Cruzeiro do Sul). Deve-se somar também uma sala da OASE (Roca Sales) e uma Casa da OASE (Colinas). Especialmente no caso das igrejas, há perda de hinários, livros de canto, Bíblias, bancos, cadeiras estofadas, que ficam danificados e, alguns irrecuperáveis. Casas pastorais abrigam, muitas vezes, o escritório da Paróquia. Nesses casos, há perda de livros de registro de batismos, confirmação, bênção matrimonial e sepultamentos e outros documentos, além de equipamentos.
Não são apenas estragos materiais. Estruturas emocionais, psicológicas e até espirituais são abaladas. Por onde a gente anda, as pessoas se perguntam pelas razões de tal catástrofe climática. No grupo dos Ministros e Ministras divulgamos uma iniciativa do grupo de Mentoria Ministerial, para oferecer um espaço de acolhida e escuta para quem precisa.
A ajuda humanitária vem chegando de todo o Brasil. Há muita solidariedade de comunidades e Paróquias locais e de fora do Estado. Caminhões carregados de donativos são direcionados diretamente para os municípios atingidos. A campanha de Oração e Solidariedade foi divulgada e já tem recursos sendo investidos no socorro primário. As próprias comunidades e paróquias locais deram início às suas campanhas, pensando especialmente naqueles produtos que não costumam vir, ou vêm em menor quantidade. Membros das comunidades formam seus próprios grupos e/ou se engajam ali onde pessoas estão preparando comida para as pessoas abrigadas, tirando entulhos, lavando as residências e casas comerciais.
O drama dessa enchente histórica ainda está se desenrolando. Depois da lama e dos entulhos retirados, vamos ter uma dimensão melhor dos estragos, também em nossas Comunidades e Paróquias. Para a reconstrução, teremos que fazer um esforço nacional, através de campanhas em dinheiro e doações de materiais necessários. O Vale, com 3 enchentes em 8 meses, vai precisar novamente de auxílio. As famílias estão descapitalizadas. Vamos sentir isso no recolhimento dos dízimos e campanhas, como a Vai e Vem. De alguma forma, necessitamos participar das discussões sobre o futuro das áreas afetadas. Os municípios vão ter que reconstruir bairros inteiros em áreas não alagáveis. Como comunidade de fé temos uma contribuição a dar para o poder público. Temos o Mecanismo de Atuação em Emergências, de 2013. Precisamos nos apropriar dele e praticá-lo.
O volume acumulado de chuvas em uma única área tem sido frequente. Esse fenômeno é percebido em outras regiões do planeta. Também as secas têm atormentado a vida e a economia de populações inteiras, em intervalos cada vez mais curtos. Estamos experimentando, da maneira mais dolorida, as mudanças climáticas. Alguns especialistas já falam de um “colapso climático” em algumas regiões. Essas mudanças já sempre existiram no decorrer da história. No entanto, a frequência, seus curtos intervalos e a sua intensidade revelam a influência do humano. Nossos hábitos de produção, de comercialização e de consumo têm interferido nesse processo. De alguma forma, o tema das mudanças climáticas e suas consequências precisam ser pautadas mais intensamente pela IECLB, suas instâncias e instituições afins.
Não temos tratado bem a nossa “mãe natureza” ou, em termos teológicos, a boa Criação de Deus. Ela nos foi confiada para a nossa sobrevivência e cuidado (Gênesis 1). No entanto, junto conosco, “sujeita à vaidade daquele que a sujeitou”, ela “geme e suporta angústia” por redenção (Romanos 8.18-25). Para que a redenção seja experimentada concretamente, é preciso uma mudança de rumo, uma “conversão”. A questão é: Somos capazes disso, também em relação ao cuidado da boa Criação de Deus?
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