O poeta Mário Quintana disse certa vez: “A velhice é algo notável! É uma pena que seja entregue aos velhos”.
Muito já foi escrito e manifesto acerca do envelhecimento humano. Dados estatísticos e diferentes estudos têm mostrado a situação que vive a pessoa idosa no mundo contemporâneo. Durante alguns anos já se percebeu que, na medida em que as pessoas envelhecem cada vez mais, há também uma crescente tendência de marginalização da pessoa idosa.
A postura da humanidade frente ao envelhecimento humano pode ser caracterizada pelo respeito e a veneração e também pelo desprezo e marginalização. Alguns povos primitivos deram lições de civilização, respeitando, ocupando e honrando os seus velhos. Por outro lado, temos também exemplos de povos que admiravam a força física e desprezavam a velhice. Este último hábito ainda se conserva sutilmente hoje. Somos uma sociedade que venera os valores novos. Admiramos por demais o exterior. A vida interior se tornou menos importante. A sabedoria, a historicidade e a experiência de vida não estão no mesmo nível ou acima das experiências, sucessos e realizações materiais.
Não foram poucas as vezes que a Igreja denunciou, à luz da palavra de Deus, essa realidade que machuca tantas vidas. Mesmo assim, no ano que celebramos os 200 anos da Presença Luterana no Brasil, precisamos perguntar: Onde estão os nossos velhos? Qual o lugar das pessoas idosas na Igreja hoje? Não temos também assimilado por demais valores da sociedade de consumo e orientado as nossas relações na comunhão dos santos com os mesmos “pesos e medidas”?
Relatos bíblicos nos revelam que, em todos os tempos houve conflito de gerações. Mas eles também trazem testemunhos que mostram a importância das pessoas idosas na normatização do convívio, na educação e formação das diferentes gerações do povo de Deus.
Vemos com alegria o trabalho com a terceira idade em muitas Comunidades e Instituições. Pessoas idosas são reunidas, visitadas e valorizadas através do reconhecimento de sua história, de seu engajamento no trabalho atual e no atendimento de suas necessidades. Muitas são as lideranças que, durante muitos anos, colocam a sua vida a serviço da causa do Reino de Deus. Vemos pessoas idosas que lideram, servem, visitam, cantam, estudam a Palavra e participam ativamente da vida comunitária.
Por outro lado, precisamos reconhecer e confessar que corremos o risco de nos desviarmos dos propósitos de Deus quando reproduzimos na nossa prática comunitária a indiferença, a não valorização ou até a marginalização de pessoas idosas.
Isso acontece quando, em nome de uma dita renovação e contextualização do testemunho cristão, menosprezamos a história e a expressão própria de fé das pessoas idosas; quando não há mais vez e voz para elas nos presbitérios e espaços de decisão; quando não há mais lugar para elas nos templos que ajudaram a edificar; quando formas litúrgicas e hinos são autoritária e radicalmente abolidos e o novo canto e instrumentos musicais soam por demais estranhos; quando pessoas que dedicaram sua vida à causa do Reino de Deus na comunidade cristã são esquecidas em seus leitos de enfermidade e dor, ou sua ausência não percebida; quando “sepultamos” nossos velhos estando eles ainda vivos.
Se, como Igreja, anunciamos o amor de Deus, a possibilidade de nova vida, renovação, conversão, então isso precisa perpassar toda nossa prática comunitária. Nada disso tem valor e será hipocrisia se o amor a Deus não passa pelo amor ao próximo. Se a sociedade marginaliza nossos velhos, entre nós não pode ser assim, pois somos corpo de Cristo. Temos o desafio de dizer ‘não’ ao etarismo, assim como temos a missão de testemunhar ao mundo a vontade de Deus, os propósitos de vida digna e plena a todas as gerações.
“Não me rejeites no tempo da velhice; não me desampares, quando se for acabando a minha força.” Salmos 71.9
Texto do Pastor Enos Heidemann, Secretário do Conselho da Igreja.
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