As multidões iam se encontrar com João para serem batizadas por ele. Ele dizia a todos:
— Ninhada de cobras venenosas! Quem disse que vocês escaparão do terrível castigo que Deus vai mandar? 8 Façam coisas que mostrem que vocês se arrependeram dos seus pecados. E não digam uns aos outros: “Nós somos descendentes de Abraão.” Pois eu afirmo a vocês que até destas pedras Deus pode fazer descendentes de Abraão! 9 O machado já está pronto para cortar as árvores pela raiz. Toda árvore que não dá frutas boas será cortada e jogada no fogo.
10 Então o povo perguntava:
11 Ele respondia:
— Quem tiver duas túnicas dê uma a quem não tem nenhuma, e quem tiver comida reparta com quem não tem.
12 Alguns cobradores de impostos também chegaram para serem batizados e perguntaram a João:
13 — Não cobrem mais do que a lei manda! — respondeu João.
14 Alguns soldados também perguntavam:
E João respondia:
— Não tomem dinheiro de ninguém, nem pela força nem por meio de acusações falsas. E se contentem com o salário que recebem.
15 As esperanças do povo começaram a aumentar, e eles pensavam que talvez João fosse o Messias. 16 Mas João disse a todos:
— Eu batizo vocês com água, mas está chegando alguém que é mais importante do que eu, e não mereço a honra de desamarrar as correias das sandálias dele. Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo. 17 Com a pá que tem na mão, ele vai separar o trigo da palha. Guardará o trigo no seu depósito, mas queimará a palha no fogo que nunca se apaga.
18 João anunciava de muitas maneiras diferentes a boa notícia ao povo e apelava a eles para que mudassem de vida.
Prédica
Estimada Comunidade:
Qual foi a importância que João Batista teve na vida de Jesus?
m que sentido a mensagem de João Batista preparou o caminho para Jesus?
Gostamos de pensar que Jesus teve plena consciência desde sua infância de que ele era o Filho de Deus, de que ele havia vindo ao mundo para pregar o Reino de Deus e que deveria morrer na cruz, para assim salvar a humanidade. Imaginamos também que Jesus sabia que, a partir de determinado momento de sua vida, ele teria que abandonar a carpintaria de seu pai José, e começar a anunciar a vinda do Reino de Deus. Mas, será que Jesus nunca precisou da ajuda de outras pessoas para compreender sua tarefa e sua missão no mundo? João Batista, esse pregador do rio Jordão batizou a Jesus. Mas João Batista fez muito mais do que isso?
Flavio Josefo foi um historiador do primeiro século da era cristã. É curioso saber que ele dedica mais comentários à atuação de João Batista do que à Jesus. Flavio Josefo fala da originalidade do movimento de Joao Batista: Aparece no deserto e mesmo assim tem uma extraordinária popularidade. As pessoas vão para o deserto para escutá-lo. João inventa o batismo. A água sempre foi um elemento religioso importante para a purificação, mas antes de João ninguém havia submergido outra pessoa na água em nome de Deus. E por fim, Flavio Josefo menciona a novidade do discurso de João Batista, ao dizer que praticar a justiça entre as pessoas é mais importante do que fazer sacrifícios a Deus.
No primeiro século a religião judaica vivia um período de profundo desinteresse das pessoas. A situação política opressiva que reinava no país pela dominação do exército romano, o cansaço moral pela espera de um Salvador que não chegava nunca, a vida escandalosa da classe governante e a degradação dos próprios sacerdotes do templo (mais preocupados com os seus próprios interesses, do que em animar a fé do povo), tudo isso havia esfriado a devoção das pessoas e desanimado a prática da fé.
Nesse contexto, aparece João, o filho de um sacerdote do templo, chamado Zacarias. João também havia se afastado dessa sociedade e vivia no deserto, levava uma vida austera. Vestia-se com pele de camelo e um cinturão de couro, ao estilo dos velhos profetas,, e se alimentava de insetos e de mel silvestre (Mc 1.6). No entanto, João Batista tinha um discurso forte. Ele enfatizava que ser religioso não significava rezar mais e nem significava fazer mais sacrifícios no templo. Ser religioso para João Batista era fazer o bem as pessoas, praticando a justiça e a misericórdia.
A sua pregação sobre o juízo de Deus se assemelhava a dos profetas do Antigo Testamento. Mas enquanto os profetas falavam em purificação, João Batista era mais duro, ele dizia que o juízo de Deus viria com castigo e era iminente. Em pouco tempo Deus mesmo iria castigar com fogo a todos que não se arrependessem de seus pecados (Mt.3.7-12).
As pessoas que o escutavam, ficavam magnetizados pelo seu discurso. Muitos vinham de longe em busca de seus conselhos. Aqueles que aceitavam seus ensinamentos e se dispuseram para essa mudança de vida, João lhes pedia que recebessem o sinal do batismo no rio (Mc 1.4-5). Esse batismo não se limitava a um ritual de purificação como no judaísmo. O Batismo requeria um arrependimento e uma mudança ética da pessoa. Já não bastava com dizer “sou filho de Abraão”. O compromisso do batismo deveria “dar bons frutos” em relação a outras pessoas.
O êxito desse fervoroso pregador foi extraordinário. João não ia ao encontro das pessoas, mas as pessoas vinham ao encontro dele. Era muito difícil ficar indiferente. Muitos jovens que se haviam afastado da religião, voltaram a comprometer-se com Deus.
Também o jovem Jesus foi atraído pela mensagem de João Batista e, por isso, viajou uns 60km, de Nazaré até o vale do rio Jordão para ver e ouvir o profeta.
Este encontro com João Batista impressionou tanto a Jesus, que Jesus compreendeu que havia chegado a hora de ele iniciar a sua vocação. Antes de ser batizado por João Batista, Jesus era um desconhecido. O batismo de Jesus fez com que ele abandonasse sua vida silenciosa, que até então ele levava em Nazaré. Conforme os Evangelhos, no momento do batismo, desceu sobre Jesus o Espírito Santo, proclamando publicamente que Jesus é o Filho de Deus.
Depois disso, Jesus se retirou 40 dias para o deserto, como preparação para iniciar a sua missão de proclamar o Reino de Deus. João Batista vivia no deserto. Por isso, o texto parece sugerir que Jesus – continuou com o grupo de João Batista.
Para João Batista o juízo e o castigo de Deus eram iminentes. Jesus, no entanto, não anunciava o castigo de Deus, mas sim a misericórdia e o amor de Deus.
Certamente Jesus era Deus. Mas ele também foi plenamente humano. E uma das características do ser humano é a lenta assimilação das coisas novas. Jesus parece ter experimentado esta mesma pedagogia, como nos demonstra o Evangelho de Lucas 2.51-52: “Conforme crescia, Jesus ia crescendo também em sabedoria, e tanto Deus como as pessoas gostavam cada dia mais dele”. Os Evangelhos dizem que Jesus era Deus e que dentro dele habitava toda a divindade de Deus. Mas para exteriorizar essa divindade, Jesus precisou da ajuda de outras pessoas.
Pensar que Jesus sabia de todas as coisas com total clareza e perfeição, revela uma concepção simplista do Senhor. Desde que o Filho de Deus se fez ser humano, ele precisou da ajuda de seus pais, de seus familiares, de pessoas que o reconheceram como filho de Deus. Jesus teve fome, teve sede, calor, sono, alegrias, tristezas e até dúvidas no momento da prisão e crucificação. Assim como Maria e José foram o fator humano para que Jesus tivesse uma família, assim também parece que Joao Batista foi o fator humano para que Jesus descobrisse sua vocação.
O Evangelho de hoje nos convida a despertar também a nossa vocação, o nosso serviço a vontade de Deus. Como pai, como mãe, como padrinho, como madrinha – também nós somos referência para alguém. Que referência nós temos sido? Uma referência que desperta e anima outras pessoas, ou uma referência que entristece, desanima e confunde a vida das pessoas?
Certo dia o fósforo disse para a vela:
– Minha missão é te acender.
– Ah, não, disse a vela. Tu não vês que se me acendes meus dias estarão contados. Não faz uma maldade dessa não.
– Então queres permanecer toda a tua vida assim dura, fria, sem nunca ter brilhado, perguntou o fósforo.
– Mas ter que me queimar. Isso dói. Consome as minhas forças, murmurrou a vela.
– Tens toda razão, respondeu o fósforo, esse é precisamente o mistério de tua vida. Tu e eu fomos feitos para ser luz. O que eu, como fósforo, posso fazer é muito pouco. Mas se passo a minha chama para ti, cumprirei com o sentido de minha vida. Eu fui feito justamente para isso: para começar o fogo. Tu és vela. Tua missão é brilhar. Toda tua dor, tua energia se transformará em luz e calor.
Ouvindo isso a vela olhou para o fósforo que já se estava apagando e disse:
– Por favor, acende-me.
Amém
P. Nilton Giese