As muitas águas não poderiam apagar o amor, nem os rios, afogá-lo. Ainda que alguém oferecesse todos os bens da sua casa para comprar o amor, receberia em troca apenas desprezo.
Cântico dos cânticos 8.7
Todos e todas nós conhecemos a força das águas, dos rios, das enchentes. A destruição que as torrentes de água podem fazer. No entanto, o texto nos convida a testemunhar que o amor é maior, está acima da força das águas, da torrente. Os pequenos córregos com sua beleza distinta formam o grande rio. Este exemplo da natureza nos mostra que pequenos gestos, ações, iniciativas podem formar algo grandioso de forma positiva ou negativa, construtiva ou destrutiva.
Quais são as correntes que nos movem? Neste tempo de Quaresma somos lembrados e lembradas, de forma muito especial, a nos identificar com qual corrente a ser seguida. Não só neste tempo, mas sempre temos o convite para buscar o comprometimento com tudo o que promove vida digna para todas as pessoas. A palavra é água que muda a minha e a sua vida. Não é só teoria tão somente, é conduta que gera caráter, postura condizente com toda a minha espiritualidade, sem a necessidade de provar algo para alguém.
O livro de Cântico dos Cânticos quer ser um guia que retrata o amor e a misericórdia de Deus para com a humanidade. Guarda-nos para o amor! Muitos e muitas de nós conheceram, experimentaram e experimentam o amor. No entanto, ainda existem muitas pessoas que não sabem nada sobre o amor. O seu coração está endurecido em si mesmo, nos seus traumas e feridas externas e internas. Gratidão é algo que não terão, pois talvez não experimentaram generosidade. Para estas pessoas fica extremamente difícil dizer “querido e bondoso Deus”. A essas Deus também pretende alcançar. Pois em Jesus de Nazaré temos: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu darei descanso a vocês”. (Mateus 11.28)
A acolhida é algo divino. A acolhida não é opção. É necessidade. A palavra nos adverte a não sermos tão ávidos em nossos julgamentos (julgar um ao outro ou uma à outra) e nos comprometermos com aquilo que não promove a vida. Por isso, aquelas pessoas que já experimentaram o amor no dia-a-dia de sua vida podem disponibilizá-lo como algo que não lhe é merecido. Aqui o relacionamento com Deus não se refere de forma vertical – eu e Deus, sem me importar com aquelas pessoas que vivem e convivem comigo. Mas num relacionamento horizontal onde eu me importo e me incomodo com o sofrimento da outra pessoa.
Inclusão e acolhimento são dois pilares fundamentais do ser cristão. Em Jesus, Deus nos procurou e continua fazendo isso para que ninguém se sinta órfão ou órfã. Isto experimentamos neste tempo em que vivemos, seja ele reverso ou qual for. Nesta caminhada devemos experimentar a parceria que é tarefa da cristandade sabendo que Deus já fez um grande investimento em nós. Assim vamos usar tudo o que Deus já nos deu para que a vida tenha plenas condições de acontecer. Por isso, usamos os conhecimentos científicos e tecnológicos como promotores do bem estar comum.
Existe um pacto de Deus para com os seres humanos. E somos convidados e convidadas a conduzir seu curso inspirados neste amor. Assim como o pequeno córrego que sabe de onde veio e para onde vai, o amor de Deus pela criação e pela pessoa pecadora não é algo que pode ser limitado por atos cotidianos de virtude. Jesus orientou as pessoas a não serem arrogantes e presunçosas. Precisamos conseguir fazer a trajetória da outra pessoa para ter atos de amor… Deus direciona o mundo para o bem. Com amor e paixão começamos mudanças fundamentais, onde já estamos ajudando para que haja mais luz. Deus olha com amor para dentro do caos de exclusão que nós seres humanos criamos. Assim: Que a luz de Cristo brilhe, nos envolva em amor e que o seu poder nos venha proteger. Pra sempre, e sempre e sempre. Amém. (Livro de Canto da IECLB, 285)
O amor tem a ver com Deus. O amor não procura seu próprio interesse, não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Verdade tem a ver com ARREPENDIMENTO! Pensemos nisso.
Oração: Querido e bondoso Deus! Gratos e gratas somos pela Tua Palavra que nos orienta. Temos ela de forma bem concreta através de pessoas que te serviram sem temor, sem comodismo, e não realizaram acordos que não promovem o teu Reino entre nós. Em arrependimento pelas vezes que o fizemos, nos colocamos humildemente diante de Ti reconhecendo nosso erro e falta de amor por tudo que já fizeste. Perdoa-nos em nossas fraquezas, também pela falta de amor que deixa de acontecer no trato com as pessoas que seguem o curso da vida conosco. Que a Igreja possa desempenhar o seu papel de anunciar a tua graça sem olhar posições ou status sociais ou de importâncias. E que a tua palavra possa estar acima de tudo e ter em mim, em nós, o poder de transformar a nossa vida para que ela possa ter sentido. Graças por não desistires de nós. Não permita que o mal se instale em nosso ser e aumenta em nós a confiança em Ti, e que possamos Te ver na face de nossos e nossas semelhantes e em tudo o que criaste com amor. Que este tempo de Quaresma possa ser um tempo de arrependimento, auto análise, de reconciliação com as pessoas e contigo. Envia teu Santo Espírito para que possamos Te ouvir e cuidar das nossas crianças, jovens, casais, famílias, pessoas idosas, lideranças. Por Jesus Cristo que, contigo e o Espírito Santo, vive e reina de eternidade a eternidade. Amém.
P. Jorge Rucks Hirt
Pastor na Paróquia Evangélica de Rolante e Representante do Sínodo Nordeste Gaúcho no Conselho da Igreja