A vida celebrativa na IECLB
Erli Mansk
Introdução
O Tema e o Lema do ano de 2015, na IECLB, nos desafiam: Igreja da palavra: chamad@s a comunicar. A pergunta feita por Jesus “Sobre o quê vocês estão conversando pelo caminho?” (Lc 24.17) é uma motivação para fazermos esta pergunta na área da liturgia e em relação ao culto. Como é a vida celebrativa na IECLB? As pessoas que vão ao culto estão satisfeitas com o que nele acontece? No intuito de ouvir a comunidade e numa tentativa de buscar algumas respostas, elaboramos perguntas às quais foram enviadas para pessoas das comunidades.
Além de nos oferecer subsídios para a reflexão e análise sobre a vida celebrativa na igreja, o resultado deste levantamento de opinião poderá nos orientar no desenvolvimento de ações para a área litúrgica da igreja, dentro dos próximos anos. Neste sentido, temos o desafio de perceber, a partir daquilo que as pessoas dizem, quais são as potencialidades e as necessidades da vida celebrativa na IECLB.
Instrumento utilizado: questionário, com dez perguntas enviadas, por escrito, através de e-mails, para pessoas, em geral, lideranças de comunidades da IECLB, em fevereiro e março de 2015;
Características do Grupo participante
Sínodos: 11 (Brasil Central, Vale do Taquari, Centro-Campanha Sul, Nordeste Gaúcho, Paranapanema, Vale do Itajaí, Rio dos Sinos, Amazônia, Noroeste Rio-grandense, Sudeste, ES a Belém)
Mulheres: 11
Homens: 8
Jovens: 4
Idades representadas – 17, 19, 20, 21, 27, 35, 45, 49, 59, 60, 67, 68, 72, 75, 77
Total: 19 pessoas
Área: rural – 4
Urbana – 15
Relação das pessoas participantes com a comunidade – todas com participação ativa na comunidade, tendo já exercido ou em exercício de alguma função na comunidade ou cargo na igreja;
Observação – visando maior abrangência, buscamos envolver pessoas dos mais variados grupos, linhas teológicas, contextos e sínodos. Contudo, não obtivemos retorno de todas as pessoas contatadas.
Uma sistematização do resultado
1. IMPRESSÃO GERAL
O culto na IECLB acontece, em geral, dentro da forma tradicional.
Numa descrição do que acontece no culto, os elementos litúrgicos mais destacados são: a ACOLHIDA, a CONFISSÃO DE PECADOS, as LEITURAS BÍBLICAS e a PRÉDICA.
Pela descrição, temos cultos com a liturgia tradicional antiga (de origem prussiana e bávara) e outras baseadas na liturgia proposta pelo Livro de Culto da IECLB, editado em 2003.
Via de regra, na IECLB, prevalece o Culto da Palavra. Uma das pessoas entrevistadas diz que em sua comunidade há Ceia uma vez por mês e outra informa que há de duas em duas semanas.
Para as pessoas entrevistadas, culto é espaço de comunhão, de ambiente familiar, lugar de encontro das pessoas entre si. A convivência e a comunhão que se estabelecem no culto são aspectos relevantes para as pessoas que dele participam.
“Para mim o culto é realmente fonte de alimento para minha espiritualidade, do estar juntos com irmãos na fé e ouvir e relembrar sempre a palavra de Deus me renova”.
Algumas pessoas chamaram atenção para outros elementos que podem ajudar a marcar positivamente um culto. Exemplos: – o cuidado com o espaço litúrgico (para uma pessoa foi marcante um culto onde foram utilizados cestos de pão, trigo, frutas); – o uso de recursos como o teatro para encenar textos, conforme afirmou outra pessoa, “uma forma diferente de transmitir uma mensagem e dar dinamicidade ao culto”;
Complementando o acima dito, na opinião de outra pessoa, o uso da liturgia oficial da IECLB e dos materiais da igreja possibilita mais dinamicidade ao culto;
Conforme uma entrevistada, o Gloria, o Kyrie e a Oração de Intercessão, como elementos ressignificados da liturgia (no sentido de como eles foram recuperados pela liturgia, no atual Livro de Culto da IECLB), ajudam a comunidade a externar diferentes necessidades (“No Gloria, a comunidade diz e canta suas graças e alegrias, na Intercessão choramos juntos, no Kyrie abraçamos o mundo em dores”);
Observações sobre a veste litúrgica e o conjunto da liturgia apontam para o reconhecimento de que esses são elementos ou sinais importantes da nossa identidade eclesial:
“Mas algo que eu vejo que diferencia nossa igreja principalmente das neopentecostais é a vestimenta dos ministros (talar); faz com que ministros no culto e em ofícios sejam mais respeitados e deveria ser uma unanimidade na IECLB, assim como em algumas comunidades não se vê mais liturgia no culto, só hinos, pregação e oração. Fosse assim não preciso nem sair de casa, pois a TV tem várias ofertas e muitas vezes tão bom quanto a nossa ou até melhor. Mas não abro mão da vida comunitária.”
Disso poderíamos concluir que a veste litúrgica não possui um fim em si mesmo, mas é parte de um todo mais amplo; traduz papel, função, identidade. A consciência de que o culto da comunidade é algo bem diferente do que o culto assistido traduz o espírito evangélico-luterano. Para as pessoas-membros da IECLB, nosso culto é diferente no jeito, no conteúdo, na função. Culto tem a ver com vida comunitária e a liturgia, incluindo a veste litúrgica, com identidade eclesial.
2. TEMAS EM DESTAQUE
JOVENS
A menção aos/às jovens e sua participação no culto foi um tema que apareceu espontaneamente, o que é muito positivo e isto veio da observação de pessoas com mais idade (e não necessariamente as pessoas jovens que participaram da pesquisa). De acordo com o observado, o culto na IECLB tem a participação de jovens. Essa participação não é expressiva em termos de número, mas chama atenção que há interesse e envolvimento de quem participa. Vejamos:
– “Jovens são poucos, porém unidos e empenhados.”
“Um aspecto que eu acho positivo é o envolvimento constante dos jovens nas celebrações”; “Os jovens estão participando de cultos de louvor com sua banda recentemente montada, que por sinal está ficando bem afinada para o incentivo de jovens, um amor!”;
“Usar hinos mesmo que antigos/tradicionais com um pouco mais de melodia, rapidez, faz com que as pessoas de mais idade possam cantar os hinos que lhes agradam mais e faz com que jovens gostem deste hinos, não sendo estes tão pesados (como da linguagem deles)”.
A “pouca participação de jovens”, conforme uma entrevistada, se deve ao fato de que o culto em sua comunidade é altamente desmotivador.
SOBRE OS OFÍCIOS E OUTROS MOMENTOS CELEBRATIVOS
Em geral, é feita uma avaliação muito positiva dos ofícios e de outros momentos celebrativos, além do culto dominical, destacando-se os momentos de “passagens da vida” como ofícios bem preparados. Os ofícios, conforme opinam, são momentos onde se estabelecem contatos mais próximos com as pessoas, com mensagens mais personalizadas, “há mais sentimento e emoção”. Cultos especiais, como o Culto de Tomé são bem vindos, são experiências diferentes e atraem mais pessoas.
PRÉDICA
Para a grande maioria a prédica é “momento de muita expectativa da comunidade”, “a parte mais importante do culto”, “representa o principal do culto, é alimento”. “A prédica é sempre muito aguardada, trazendo a palavra de Deus, consolo e orientação para as nossas vidas”, ”é onde recebemos uma mensagem para refletir sobre a nossa vida na sociedade, família, comunidade. Um verdadeiro momento para se alimentar da palavra de Deus, buscar refúgio e orientação”. “ … Nos atinge consideravelmente, nos fazendo mudar nossos atos para sermos cristãos de fato …”
Na opinião de outra, “A prédica é um momento de busca da fé e não é a sua duração, nem um palavreado rebuscado que comunica a mensagem, mas a postura do/a obreiro/a (viver e agir) na condução do tema. Não faz sentido ocupar muito tempo abstraindo e filosofando em profundidade quando quem está na plateia espera apenas uma mensagem trocada em miúdos”. Também há opinião de que a prédica deve estar conectada com o todo da liturgia: “A prédica em conjunto com outros momentos na liturgia seria como o ápice, uma vez que outros itens litúrgicos são utilizados para elevar a reflexão da pregação, outros itens litúrgicos nos ajudam a transportar a mensagem da predica para a nossa vida”.
Para uma entrevistada, no preparo da prédica, o ministro, ou a ministra, deveria se orientar pelas seguintes perguntas: O que quero falar ‘para quem’ e ‘por que’, para encontrar o fio condutor”. Prédica não é só uso de palavras: “gosto quando tem algo visual na pregação, algum elemento que faz a gente recordar do que foi dito”.
Há opiniões que revelam que as pessoas esperam algo mais do seu pastor ou sua pastora na pregação:
“A prédica ao meu olhar poderia ser mais incentivadora, no sentido de: a partir da palavra bíblica atingir nosso coração a uma atitude concreta. Cristo através das parábolas nos motivou a agir a partir da semente, das plantas, das flores, do amor, enfim…”
MÚSICA NO CULTO
A música não pode faltar no culto, sendo responsabilidade da comunidade e um instrumento de sua participação no culto. Os hinos preservam a identidade eclesial e são meios de assegurar conteúdo teológico, como expressam abaixo:
“Extremamente importante, … Melhorou muito na comunidade em que participo. E deve ser entendido como uma responsabilidade da comunidade e não apenas do ministro”;
“… não podemos deixar de utilizar hinos tradicionais…, eles ajudaram a construir quem somos, eles são a nossa história, deveriam ser mais valorizados.”
“Culto sem música para mim não seria um culto. … “Os hinos e canções na minha avaliação são um tesouro que temos”.
“É problemática a utilização de hinos de confissões conflitantes com a IECLB, sabendo que muitos membros não têm senso crítico e, uma vez aprendidos, estes hinos passam a fazer parte do hinário virtual de suas memórias. Exemplo: hinos que trazem letras que pregam a prosperidade, milagres exigidos, etc..”; (OBS: para esta entrevistada, faltam critérios teológicos evangélicos luteranos para o atual ministro de sua comunidade que faz uso de canções da prosperidade nos cultos da IECLB.)
Para uma participante, “os Hinos podem ser renovados, mas, sem esquecer os tradicionais”.
Boa parte das pessoas fala da importância de ter grupos musicais e esta importância é vista até lá onde se constata a sua ausência: “em minha comunidade não há grupos de musica/coral/ instrumental, apenas “capela”, canto sem instrumentos; às vezes, utilizamos músicas gravadas do Grupo Ânima, ou do próprio HPD online”.
PERFORMANCE do ministro ou da ministra
As pessoas entrevistadas dão a entender que o bom desempenho (performance) do ministro ou da ministra agrega qualidade ao culto:
“É tranquilo; nos cultos cumprimenta a todos e a todas, tem um cuidado na questão de gênero; acessível, simpático, com uma linguagem inclusiva que permite o entendimento”;
“Ele, no início, deixava pausas muito alongadas para reflexão durante a prédica. Ela é mais carismática, vai direto ao que quer dizer, é mais explicativa”.
“Tem facilidade de se expressar e de lidar com os membros da comunidade. Conhecem todo mundo nos detalhes da vida que levam, graças às visitas que realizam. Isto torna o culto quase uma reunião familiar”;
“Forma descontraída; tem uma comunicação muito boa; é acolhedora, humana, carinhosa, humilde e consegue se aproximar muito de quem está á sua frente”.
“(..) …no momento em que ela batiza com a água, ela convida as crianças para ver como é, acho muito acolhedor e inclusivo”.
Na opinião de uma pessoa, “Ministros/as com grande facilidade de comunicação e expressão oral e corporal, conseguem enfatizar temas diferentes e, às vezes, polêmicos e mesmo assim cativar as pessoas.”
“Tem uma ótima dicção, utiliza-se de linguagem corporal para se expressar, acompanha os hinos, sempre cantando, e por algumas vezes tocando violão; conduz o culto de forma dinâmica; antes do início do culto o pastor faz questão de cumprimentar todas as pessoas, uma a uma.”
Das observações mais críticas, são expressos os seguintes comentários:
Deveria fazer “menos comentários desnecessários”;
“Percebo com grande facilidade quando o pregador/a não está preparado/a para o tema proposto ou procura auxílio na WEB ou redes sociais.”
“O desleixo, a falta de preparo, o não envolvimento do ministro ou ministra com o culto – com aquilo que faz – deixam a comunidade desmotivada, tímida em participar e prejudica a frequência das pessoas no culto comunitário.”
PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE
Os espaços em que a comunidade se vê mais participativa no culto são:
Auxílio nas leituras; na distribuição da Ceia do Senhor, nos cantos, no recolhimento das ofertas, em alguns lugares, nos avisos e “nos setores de trabalho em cultos especiais”.
A comunidade vê na Acolhida, um espaço para a sua participação, entre outros: “plantonistas recebem as pessoas; auxiliam os ministros em todas as etapas do culto conforme o programado em conjunto”.
Assim alguém se expressa: “ … grupos organizados como OASE, Idosos, Casais e outros, são mensalmente incumbidos de auxiliar o pastor [a pastora]: abrem a Igreja, batem sinos, preparam a Ceia, entre outras atividades, …”.
Há também observações da falta ou da pouca participação da comunidade:
“A comunidade participa mais do culto como ouvinte, ….”
“A comunidade é muito passiva, talvez por falta de motivação, pois quando esporadicamente se canta parabéns a você todos cantam e aplaudem; é esta motivação que precisamos também quando cantamos Castelo Forte”.
“A comunidade participa em leituras… percebe-se um certo receio na participação”;
“A comunidade participa somente através dos cantos,… distribuição da Ceia do Senhor”;
Outras reflexões, críticas e sugestões …
– Ampliar a participação da comunidade no culto
“Incentivar os membros para que participem de forma mais ativa nos cultos e celebrações, não apenas com leituras bíblicas e na distribuição da Ceia do Senhor”;
– Preservar a identidade comunitária através do Culto
“.projetores vêm para auxiliar, mas começamos a perder um pouco a identidade dos nossos hinários, notas musicais e Bíblias. Há 30 anos, cada um tinha sua Bíblia e a levava para a igreja, hoje têm Bíblias na igreja, não preciso comprar, portanto não tenho mais Bíblia em casa. Amanhã a Bíblia vai estar projetada e talvez não seja mais necessário tê-la na igreja. Fica a sugestão e reflexão”.
“Sinto falta de uma certa tradicionalidade, de se ter um padrão [litúrgico] a seguir, … somos uma igreja que deve manter seus pilares; (…)”.
“Acredito que ao nos fundir demais com hinos, jeitos e falares de outros, perdemos nossa singularidade”. “Sobre a tradicionalidade esclareço: não é fazer sempre a mesma coisa da mesma maneira. Tradicionalidade pra mim é cantar os hinos antigos, não precisa ser devagarinho como eu aprendi na infância, podemos dar a eles uma nova roupagem, não mudar a melodia, mudar o jeito de cantar, canta-se mais rápido, com acompanhamento um pouco mais ativo”.
“No culto, podemos manter um certo padrão, ensinar isto aos mais jovens, que ao meu ponto de vista deveriam, no ensino confirmatório, uma vez, criar uma liturgia para aprenderem como eu aprendi a ter senso crítico, saber o que podemos e o que não devemos colocar na liturgia”.
– Ter formação litúrgica para a comunidade
“Ter formação em liturgia luterana para leigos para assumirem o trabalho na ausência do pastor [da pastora]”.
“Formação de grupos de liturgia nas comunidades seria algo muito positivo, o que também poderia melhorar o culto como um todo”.
– Recuperar o interesse pelo culto
“Temos saudades dos tempos em que os cultos eram mais frequentados, inclusive por mais crianças e jovens, hoje quase desaparecidos”. “… Tornar as celebrações mais atrativas, talvez usando mais recursos para trazer os que não vêm. Quem sabe, cultos especiais como de aniversário de batismo, de confirmação, de casamento e natalícios, com distribuição de mimos”.
“ … aproveitar melhor as oportunidades e os momentos que temos, quando nos reunimos na casa do Senhor.”
“Cultos mais breves; ter tempo para as pessoas conversarem mais ao final dos cultos, a liturgia também poderia ser diferente ou ter cultos com algumas modificações quando ouvimos sempre a mesma coisa já nem prestamos mais atenção”. “A pregação eu não mudaria. O Culto tem o seu ritual que deve ser seguido, mas ao mesmo tempo ele precisa ser significativo, as pessoas precisam da palavra de Deus e querem ouvi-la”.
“Podemos tornar um culto mais atrativo e participativo, mesmo na forma tradicional de celebrar, isso depende dos ministros ou das ministras que o conduzem”.
“Não tenho lembrança da celebração de um culto por uma pessoa leiga em nossa comunidade.”
“A principal mudança seria nos hinos, pois alguns são desanimados. Na época em que havia a Banda da JE o pessoal da comunidade sempre elogiava o culto em si e o louvor.” (opinião de jovens participantes).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
1. Primeiramente, as respostas dadas pelas pessoas entrevistadas são resultado de uma percepção sensível e análise consciente do culto. Do ponto de vista de quem administra o culto, é comum admitir que as pessoas que vão ao culto são sujeitos passivos, que “assistem” e não participam conscientemente do culto; mas, diante das respostas dadas ao questionário sobre culto e liturgia na IECLB, temos que reconhecer que as pessoas não só participam do culto e o veem como um evento de suma importância para a sua vida, mas também identifica as suas partes, a sua forma, e percebem a liturgia como sinal de identidade eclesial.
2. Jovens – se os jovens não participam do culto ou sua frequência é mínima, será porque o jovem não se interessa por sua igreja? Pelas manifestações dos jovens, tanto na pesquisa realizada, quanto em encontros realizados com os jovens, inclusive com a temática da liturgia, constata-se que eles e elas têm muito interesse pela igreja, querem conhecer mais o “por que” da nossa liturgia, gostam de celebrar com símbolos e buscam respostas para os seus anseios, pessoais e sociais.
3. As pessoas entrevistadas, em termos gerais, não manifestam resistência ao ordo da liturgia ou a ao fato de termos um “culto tradicional“. Elas expressam, antes de tudo, que aquilo que acontece com base no ordo tenha conteúdo, esteja conectado com a vida das pessoas, seja coerente com a teologia e com a identidade eclesial.
4. Em termos de insatisfação, há um reclame quanto ao desleixo para com o culto, à superficialidade e falta de preparo do culto, ao canto desanimado e sem acompanhamento instrumental de qualidade, questões que levam a comunidade a se afastar desse evento que é central para a vida comunitária.
5. Do seu jeito, seja apontando para aspectos positivos ou negativos, a maioria das pessoas expressam que a performance do/a ministro/a é importante na liturgia: seu jeito de agir, de falar, de se relacionar, de se comunicar com a comunidade influenciam o culto.
6. O movimento de renovação litúrgica na IECLB, iniciado pelos anos 90, tinha como motivação a busca por um culto mais “pé no chão”, queria-se uma igreja com uma liturgia autóctone, identificada com o nosso contexto, com um rosto mais latino-americano, com cantos litúrgicos mais atualizados, um culto mais significativo para a nossa gente. Tinha-se como meta envolver mais a comunidade no culto através da constituição de equipes de liturgia. O XVII Concílio Geral da Igreja, realizado em Três de Maio, RS, de 16-21 de outubro de 1990, posicionou-se a favor da renovação litúrgica da IECLB. Desde lá, desenvolveu-se, na IECLB, um processo que redundou na elaboração do Livro de Culto, aprovado pelo XXII Concílio Geral da Igreja, em 2000, e lançado em 2003. Depois de 12 anos de Livro de Culto, não temos uma unanimidade litúrgica na IECLB. O culto prussiano ainda é forte. Há críticas por parte de ministros/as de que a liturgia atual é por demais “católica”, embora esta observação não apareça nesta pesquisa de opinião sobre o culto na IECLB. Conforme o que as pessoas destacaram, a prédica é vista como o centro da palavra proclamada no culto. Contudo, a ideia presente no Livro de Culto é de que todo o culto é palavra proclamada, todos os elementos litúrgicos são importantes e necessitam ser bem desenvolvidos e conectados com o tema central do culto. As pessoas precisam sair do culto com o sentimento de que foram alimentadas pela Palavra do início ao fim, desde o momento da Acolhida até o Envio. Isto, contudo, não significa perder a centralidade da palavra no culto que aparece, em especial, na Liturgia da Palavra e da Ceia.
7. Merece atenção ainda o fato da ausência ou da pouca frequência nos cultos. O culto não deixa de ser importante para quem dele não participa. Pois, dado o significado do culto, como espaço de comunhão, de encontro com Deus, com irmãos e irmãs, a ausência das pessoas no culto, ou a sua pouca frequência, pode significar não a falta de interesse pelo culto, mas o não atendimento de suas necessidades pelo culto oferecido. Sabemos de outras pesquisas, como por exemplo, Culto e Cultura em Vale da Pitanga, realizada em 1994/95, pela disciplina de Culto Cristão, da Faculdades EST, que o culto está relacionado às necessidades existenciais das pessoas. Na mencionada pesquisa, é afirmado que as pessoas compreendem Deus como quem “orienta, ajuda, cuida e protege, tanto nos momentos limítrofes da vida quanto nas tensões do cotidiano”. Como o nosso culto vai ao encontro dessas necessidades? O que está no centro das preocupações das pessoas hoje? Ou seja, fazendo referência ao Tema do Ano de nossa igreja deste ano: Igreja da Palavra: Chamad@s a comunicar, iluminado pelo lema “Então Jesus perguntou: O que vocês estão conversando pelo caminho?”, podemos fazer esta pergunta em relação ao culto: o que as pessoas estão conversando pelo caminho, quando vão ao culto? Quais são suas angústias e suas perdas? Como estamos nos aproximando das pessoas, ouvindo-as, perguntando sobre o que as preocupa? Estamos dizendo palavras que conferem sentido à vida das pessoas? As pessoas saem do culto com o coração ardendo? Independentemente da forma do culto, é isto que interessa às pessoas quando vão ao culto. É este o comprometimento que nós, ministros e ministras, assumimos com a administração do culto. Mas, a liturgia é um instrumento necessário ao culto e, neste sentido, acreditamos que a proposta litúrgica do Livro de Culto da IECLB vem ao encontro dessa necessidade, à medida que oferece variados elementos litúrgicos, com diferentes funções: acolhimento, orações de graças e louvor, de confissão, de clamor pelas dores, de intercessão, de bênção, além de espaço para a pregação da palavra e a administração da Ceia. Evidentemente, a forma litúrgica por si só não atinge o objetivo do culto. Para que o culto seja significativo para a comunidade, é necessário que os seus elementos, além de embasamento bíblico-teológico e confessional, estejam conectados, a cada encontro, com a vida de quem participa do culto.
Cat. Erli Mansk – coordenadora de liturgia da IECLB
30 de agosto de 2015.