Caminhar juntos e juntas para cuidar bem do bem da IECLB, cujo enfoque principal está no cuidado com a fé, a ação missionária e as pessoas – esta é a proposta do novo Pastor Presidente da IECLB, P. Dr. Nestor Paulo Friedrich (gestão 2011-2014), eleito no XXVII Concílio da IECLB, realizado de 20 a 24 de outubro de 2010, em Foz do Iguaçu, no Sínodo Rio Paraná.
Filho de Lebrecht Teo Friedrich e Helmira Laura Lüdtke Friedrich, P. Nestor Friedrich, 53 anos, gaúcho de Agudo, é casado com Sofia Grau Friedrich, Professora, e pai de Paula e Laura.
P. Nestor estudou no Instituto Pré-Teológico, em São Leopoldo/RS (1971-1977), graduou-se em Teologia na Faculdade de Teologia, em São Leopoldo (1978-1982), e realizou o Doutorado em Teologia: Bíblia no Instituto Ecumênico de Pós-Graduação, em São Leopoldo (1995-1999).
Com experiência pastoral nas Paróquias de Canguçu/Piratini – DE Rio Camaquã/RE IV (1983-1989), Dr. Maurício Cardoso – DE Buricá/RE III (1989-1995) e Nova Hartz – Sínodo Nordeste Gaúcho (1999-2003), P. Nestor também atuou como Pastor Orientador da OASE – DE Extremo Sul, Pastor Distrital no DE Buricá/RE III (1991-1993), Vice-Pastor Coordenador da Juventude Evangélica – DE Buricá (1994), Pastor Orientador da OASE no Sínodo Nordeste Gaúcho (2000-2002), Vice-Pastor Sinodal do Sínodo Nordeste Gaúcho – gestão do P. Homero Severo Pinto (2002-2003), Professor na Faculdades EST, em São Leopoldo (2000/1), e na ESTEF, em Porto Alegre/RS (2002). Desde março de 2003, ocupa o cargo de Secretário Geral da IECLB.
Palavra do P. Nestor Friedrich
Tenho uma paixão especial pelo texto “No caminho de Emaús”, de Lucas 24.13-35. Ele tem sido fonte inesgotável de inspiração para o exercício do meu Ministério. Afinal, foram muitos caminhos trilhados em parceria com irmãos e irmãs na fé em Cristo, desde Canguçu/RS até Porto Alegre, na Secretaria Geral da IECLB. Poder experimentar a presença amorosa, instigadora, capacitadora e de cuidado por parte de Deus neste caminhar tem sido fonte de fortalecimento da fé, renovação diária da esperança e confirmação da convicção acerca do papel fundamental confiado por Deus à minha Igreja, a IECLB, no contexto em que vivemos.
Nos meus 27 anos de Ministério Pastoral essa passagem bíblica lançou novas compreensões a cada etapa da minha vida. Foi assim em Canguçu e Piratini/RS, nos anos 1983 a 1989. Recém-formado, cheio de ideias, formando família e querendo a todo custo ver crescer a Comunidade, comecei a entender o que significava na prática andar junto com a Comunidade. Em Dr. Maurício Cardoso (1989 a 1995) e, como Pastor Distrital, supondo estar no “alto da experiência”, compreendi melhor a importância do equilíbrio entre falar e ouvir. Com o Doutorado, exercitei a insistência com que Jesus indaga os discípulos para ir fundo nas questões. Em Nova Hartz/RS, já com a família constituída e como Vice-Pastor Sinodal do Sínodo Nordeste Gaúcho, compreendi com maior profundidade que o diálogo aberto com quem defende outra opinião não diminuía as minhas convicções e, pelo contrário, as qualificava.
Na Secretaria Geral, como Pastor com funções administrativas, tive o privilégio de conhecer a IECLB como um todo. Tem sido fascinante poder acompanhar colegas de Ministério por caminhos que vão da solidão à multidão, desde Comunidades mais distantes, pequenas e frágeis, até Comunidades localizadas em grandes centros urbanos. Não menos importante é o caminho que me levou a interagir com irmãos e irmãs das Igrejas parceiras da IECLB. Sou grato a Deus pela experiência adquirida nestes muitos caminhos percorridos. Grato por perceber melhor a força do trabalho em equipe, a necessidade de respeitar a capacidade e o momento de cada um e cada uma e que cabia a mim, como líder, conduzir essa diversidade de dons da forma mais harmônica possível.
Os discípulos no caminho para Emaús estavam tão perplexos com os acontecimentos que não reconheceram Aquele que caminhava ao seu lado. Apenas lhe relataram os fatos e o convidaram a abrigar-se com eles. Não é diferente conosco hoje.
O sociólogo Zygmund Baumann, em sua obra Tempos Líquidos, assevera que “o medo é reconhecidamente o mais sinistro dos demônios que se aninham nas sociedades abertas de nossa época. Contudo, é a insegurança do presente e a incerteza do futuro que produzem e alimentam o medo mais apavorante e menos tolerável. Essa insegurança e essa incerteza, por sua vez, nascem de um sentimento de impotência”. É desta angústia que as mulheres da OASE falam na pesquisa de 2003 e é a ela que se refere boa parte dos internautas no Portal Luteranos. Violência, desentendimentos, drogas, crises, desesperança, desinteresse, falta de rumo, dor física e dor de alma levam as pessoas às Igrejas, mas também as tiram de lá por falta das respostas que anseiam.
Respostas que Obreiros e Obreiras também buscam e elas não se resumem a questões previdenciárias e de subsistência. Esses são apenas sinais de uma questão muito mais profunda, que diz respeito ao nível do acolhimento e amparo com que podem contar nessa comunhão-igreja à qual dedicam seu Ministério.
Deus chama sua Igreja para que não feche os olhos para quem caminha desconsolado e sem rumo. Incumbe a cada um de nós e a cada instância da sua Igreja com essa tarefa. Nesse cenário, a Presidência da IECLB é chamada a reunir, compor, valorizar, promover, entender e, sobretudo, tirar consequências. O Pastor Presidente é, por excelência, um ouvidor, com atitude. Precisa perceber onde existem entraves para a missão e coordenar a construção de soluções.
Jesus não se contenta com a primeira resposta dos discípulos. Tem paciência, mas insiste no aprofundamento da conversa. Atualmente, afirmações não precisam de muita comprovação, mas podem ser postadas e, depois, corrigidas. Revelam cada vez menos análise e mais cópia. Para saber se um produto é bom, entra-se na internet na busca da opinião de usuários, muito mais do que na apresentação do fabricante. Essa forma de encarar as coisas também se aplica mais e mais às questões da fé e da vida comunitária.
Cuidar da fé implica renovar constantemente as formas de proclamar com credibilidade o Evangelho, acompanhando a dinâmica da vida. Ao Pastor Presidente cabe promover investimentos em pesquisa teológica (acadêmica e prática), seminários e elaboração de material de estudo qualificado para subsidiar posicionamentos, planejamentos, políticas de comunicação e de ação missionária. Cabe-lhe investir na qualificação do cuidado pastoral para promover reconciliação, libertação, conversão, perdão, confiança, amparo mútuo, justiça e paz em uma época de busca de valores para uma vida com sentido.
Os discípulos reconheceram Jesus na comunhão do pão. É para o espaço da comunhão que somos convidados diariamente, também em concílios, conselhos e presbitérios, nas gestões administrativas e ministeriais, para buscar forças e reforçar a unidade, de acordo com a liberdade responsável pela qual nós mesmos optamos ao ingressarmos como membros e ao assumirmos o Ministério com ordenação nesta Igreja.
Unidade não se impõe, mas constroi-se a cada dia, em conjunto e estando presente. Tem a ver muito mais com os propósitos que nos são comuns do que com unidade estrutural. Não há e nunca haverá um único modo de viver e proclamar o Evangelho. Há, isto sim, uma única Verdade, Jesus Cristo. Ele é o fundamento de nossa união. É à luz deste fundamento que devemos avaliar nossas intenções, fazer nossos planejamentos e aparar as farpas de nossas diferenças que machucam e nos enfraquecem.
Com temor, mas com os olhos e o coração abertos, os discípulos voltaram à conflituosa Jerusalém para contar que Jesus tinha ressuscitado. Penso que é com esses mesmos olhos e coração abertos que somos desafiados hoje – como pessoa e como Igreja – a proclamar com maior eficiência ao mundo que há razões sólidas para viver a fé, a esperança e o amor (ICo 13.13).
Essa ação é conjunta, é comunitária, porque fé, esperança e amor agregam. Decorrem da graça e levam à responsabilidade de uns pelos outros. Tiram pessoas e organizações da apatia. Contagiam e provocam mudanças. Viabilizam a sustentabilidade, evitando desperdícios e sobrecargas. Organizam e geram responsabilidade. É ação conjunta que conta com a Presidência para intervir nas situações que fragilizam a comunhão, discriminam ou paralisam a missão. Pastorear nacionalmente a vida eclesiástica da IECLB implica assumir a atitude de:
– apontar a direção, fazer a frente, assumir riscos, fazer escolhas. Para fazer isso bem feito, o Pastor ou a Pastora Presidente visita, ouve, está junto a Comunidades, setores e organizações, membros, Obreiros, Obreiras, responsáveis por setores, irmãos e irmãs da ecumene;
– perceber as diferentes formas da Igreja se expressar ao fazer missão e promover a interação e a divulgação dessas formas, para que a missão seja fortalecida e contagiante;
– supervisionar as instâncias administrativas que atuam no âmbito da IECLB, com a finalidade de otimizar o suporte à missão;
– resgatar os princípios da descentralização missionária e administrativa e investir em amplo debate sobre os fundamentos básicos comuns a todos.
A vivência da fé, da esperança e do amor passa pelo respeito e pela confiança. É nesse aspecto que o cenário atual merece os maiores investimentos, para que regulamentos entrem como balizadores de princípios e de procedimentos assumidos conjuntamente, aceitos como essenciais para a promoção da missão, para que as relações entre pessoas e entre instâncias se pautem pelo que é fundamental, o Evangelho.
Gestão do cuidado
1. Qualificar o cuidado com a fé
1.1 ouvir, por meio de pesquisas e contato pessoal, os setores envolvidos nas áreas da educação cristã, diaconia, formação teológica, educação formal, habilitação ministerial, formação ministerial continuada, levantando necessidades, expectativas e o potencial colaborativo;
1.2 viabilizar alternativas, por meio de seminários e da tecnologia da informação, para uma ampla análise e sistematização dos recursos de pessoal, teológicos, financeiros e infra-estruturais disponíveis e necessários que envolva os Sínodos, centros de formação de Obreiros e Obreiras, congregações ministeriais, movimentos, setores e organizações;
1.3 promover, junto aos órgãos representativos nacionais – encontro de Pastores e Pastoras Sinodais (PPSS), Conselho da Igreja e Concílio, a discussão e a definição de estratégias de ação no cuidado teológico para os próximos anos;
1.4 incentivar processos que promovam maior compromisso e clareza confessional de membros, lideranças leigas, Obreiros e Obreiras.
2. Qualificar o cuidado com a ação missionária
2.1 identificar necessidades e expectativas de Obreiros e Obreiras, presbitérios e diretorias e responsáveis por setores e organizações;
2.2 viabilizar espaços, por meio de encontros e da tecnologia da informação, para identificar entraves na ação missionária, no suporte estrutural e administrativo, para sistematizar investimentos, promover a inovação das iniciativas missionárias e o respeito às formas diferenciadas de fazer missão, sem descaracterizar o rosto da IECLB;
2.3 estabelecer critérios e prioridades para a representação ecumênica;
2.4 apoiar o desenvolvimento e a disponibilização de melhores ferramentas de gestão ministerial e de gestão administrativa, vendo-as como meio para o fim maior da Igreja;
2.5 promover a inovação da gestão administrativa e a desburocratização dos processos, com o estabelecimento de uma agenda consensuada com a Secretaria Geral, os PPSS e o Conselho da Igreja.
3. Qualificar o cuidado com as pessoas
3.1 aprofundar e aprimorar os processos que constituem a política de habilitação e do exercício do Ministério com ordenação;
3.2 viabilizar encontros regionalizados para Obreiros e Obreiras, com o objetivo de conhecer as motivações e expectativas individuais e discutir a constituição de grupos de apoio informais e interdisciplinares focados na busca de alternativas de cuidado e restabelecimento de Obreiros e Obreiras;
3.3 estabelecer, em parceira com PPSS, rotinas de trabalho a partir das atribuições de cada cargo. Criar espaço de diálogo, presença e proximidade junto aos PPSS;
3.4 diagnosticar as reais necessidades dos PPSS e Secretários e Secretárias no acompanhamento pastoral e administrativo aos Obreiros e às Obreiras e oferecer programa de capacitação, com assessoria especializada;
3.5 estabelecer uma agenda de temas teológicos juntamente com os PPSS e criar oportunidades para a formação continuada de Obreiros e Obreiras;
3.6 fortalecer nos Obreiros e nas Obreiras a paixão pelo cuidado das pessoas, sua tarefa precípua;
3.7 divulgar e ampliar experiências positivas existentes em termos de cuidado das Comunidades, especialmente daqueles membros aflitos e desesperançados.
P. Nestor Friedrich em família