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Tema do Ano 2017

 

Alegres, jubilai! Igreja sempre em Reforma: agora são outros 500

Lema: Nele vivemos, nos movemos e existimos (Atos 17.28a)

Introdução

Chegamos ao Jubileu dos 500 anos da Reforma (1517-2017), momento para o qual as igrejas vinham apontando e preparando-se há tempos. No caso da IECLB, os últimos temas e lemas do ano sinalizaram para esse jubileu à medida que trataram sobre pontos centrais da teologia fundamentada no evangelho, conforme interpretado por Martim Lutero.

Em 2017, ano do Jubileu, o tema da IECLB convida para celebrar, com alegria e gratidão, a nossa história, destacando aspectos centrais da Reforma. Ao mesmo tempo, queremos avaliar a pertinência dessa herança no tempo presente e sua importância com vistas ao futuro da igreja, na perspectiva da missão.

A Igreja de Jesus Cristo é dinâmica. Segundo Lutero, a igreja carece de constante reforma. É característica sua, por isso mesmo é também uma característica da IECLB. Decisivo é que essa dinamicidade não depende da boa vontade humana. Ela se fundamenta na Palavra do Senhor da Igreja, e é isso exatamente o que queremos expressar, refletir e celebrar no Jubileu dos 500 anos da Reforma ao escolher como lema a palavra do apóstolo Paulo: “Nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17.28a). Essa palavra ilumina o tema do ano: Alegres, jubilai! Igreja sempre em Reforma: agora são outros 500.

 

Lema

“Nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17.28a). O versículo-lema faz parte do discurso de Paulo em Atenas, no Areópago (At 17.22-31), durante a sua segunda viagem missionária. Como acontecera em outras cidades, também em Atenas Paulo encontrou um contexto em que a religião e a religiosidade desempenhavam papel importante para a população.

Nesse lugar, Paulo abriu o seu “ponto de pregação” (v. 17). Foi questionado: “Qual é a tua, Paulo? Soa-nos muito estranho esse teu discurso!” (v. 18-19).

Como discutir religião fazia parte do cotidiano da cidade, Paulo foi convidado a explicar sua “crença”. Levado ao palco especial para debates públicos (o Areópago – um local retirado da cidade), Paulo pregou. Em sua abordagem, assumiu uma atitude respeitosa em relação à religiosidade reinante: “Vejo que vocês são pessoas religiosas (v. 22). Isso se confirma pelo número de altares”.

Apesar de sua estratégia respeitosa, o apóstolo avaliou esse contexto criticamente. Revoltou-se diante do que classificou como idolatria (17.16). Para Paulo, se Deus pudesse ser representado em imagens, seria um deus manipulável e controlável pela vontade humana.

Diante do que constata Paulo diz: “Quero lhes falar Daquele que também já recebeu a atenção de vocês, o DEUS DESCONHECIDO (v. 23). Quem é esse Deus?”. Então o apóstolo apresenta Deus, que é muito distinto do rol de divindades adoradas em Atenas. Ele conclama ouvintes ao arrependimento. Anuncia-lhes o evangelho. Para ele, passou o tempo de viver na idolatria. Agora há um imperativo que notifica e requer o arrependimento, pois o Deus do altar desconhecido é o Deus que não cabe nas imagens, nos conceitos, nas molduras e nas definições humanas. Ele sempre será maior do que quaisquer dessas representações. É o Deus que está próximo de cada pessoa. É o Deus Criador. É o Deus que não está preso a lugares, que não se assemelha a imagens, ainda que revestidas de ouro. É o Deus que serve ao invés de querer ser servido. É o Deus que dá e mantém a vida. É o Deus que é Senhor do tempo e dos limites. Ele se fez próximo em Jesus Cristo, aquele que veio, viveu entre nós, que morreu, foi ressuscitado dentre os mortos e que há de vir. Ali estava e está Deus. Assim é Deus. É nesse Deus que “vivemos, nos movemos e existimos” (v. 24-29).

 

Tema

As palavras acima apontam que tudo acontece perante Deus. Passado, presente e futuro estão em sua presença. Não se trata de um Deus severo, controlador. O seu interesse não é punir o ser humano, perante o qual deveríamos ter medo. Como Paulo, Lutero opôs-se a essa imagem de Deus e aos intentos de querer agradá-lo pelo cumprimento de regras ou da compra de indulgências.

No lugar do deus que exigia sacrifícios humanos, que teriam como resposta o atendimento dos favores desejados, Lutero descobriu o Deus que já está entre nós e que revelou gratuitamente (por graça) a sua compaixão por nós, seus filhos e suas filhas. A resposta que Deus espera é a aceitação desse presente em atitude de fé que atua no amor.

Lutero novamente desvelou o Deus desconhecido que Paulo anunciou no Areópago. Afirmou que a imagem de Deus está em Jesus Cristo crucificado e ressurreto. Trata-se de um Deus que, na cruz, por amor, solidariza-se plenamente com a fragilidade e a miséria humanas. Isso significa que a dor, o sofrimento, a morte e todas as contradições nossas e da criação não são indiferentes a Deus. No Cristo ressurreto encontramos a face do amor como poder que vence os males deste mundo – e até a própria morte. Se o ofendemos, é concedida a nós a possibilidade para o arrependimento e o perdão. Essa aproximação, que nos sustenta em meio à vida e salva-nos da morte, é graça de Deus. Dela nos apropriamos mediante a fé, confiando no anúncio do que Deus faz em Cristo. Essa perspectiva é descrita maravilhosamente em um dos hinos de Lutero: “Alegres jubilai; com fé e com fervor cantai. O que por nós fez o Senhor custou-lhe a própria vida” (HPD 155). É com essa convicção de fé que nos baseamos para, em uma perspectiva de esperança renovada, no Jubileu dos 500 anos da Reforma anunciar: Alegres, jubilai! Igreja sempre em Reforma: agora são outros 500.

 

Celebrando a nossa herança

Agradecemos a Deus, que guiou a sua igreja na fé, na esperança e no amor. Celebramos o fato de que a sua Palavra interpelou a igreja para a constante reforma, dispondo-a para ser instrumento do Santo Espírito. Como Lei, a sua Palavra denunciou caminhos errados da igreja, chamando-a para a confissão e o arrependimento. Como evangelho, a sua Palavra apontou para a reconciliação que vem do amor de Cristo, que tudo transforma e fortalece.

Com alegria celebramos que Deus, por meio de sua Palavra, forma e sustenta comunidade de fé. Isso se dá quando, pelo evangelho, Ele chama pessoas, compromete-as pelo Batismo e envia-as a ser testemunhas da sua missão no mundo por meio da evangelização, da comunhão, da adoração e da diaconia.

Celebramos a fidelidade de Deus para com sua igreja e com o mundo, pois Ele sempre vocacionou pessoas para a liderança e os ministérios, fazendo com que a palavra do evangelho fosse proclamada e encarnada na prática da misericórdia, da justiça e da paz.

 

Celebrando o nosso presente

Celebramos com alegria o fato de que nosso viver como igreja de confessionalidade luterana só é possível porque Deus, que se fez presente através de Jesus Cristo, nos carrega, salva, consola e anima. Uma liderança da IECLB traduz essa convicção de fé ao assim descrever a comunidade que integra: “Em meio a teologias que oferecem sucesso, o grupo pequeno da nossa comunidade experimenta que vida de fé não é exclusivamente sucesso, mas alegria, apesar do sofrimento. A perda do filho para a morte ou para a droga. O sofrimento com o cônjuge, com os pais, com os filhos, a perda de emprego.

A descoberta de que a vida nos confronta com o sofrimento e as nossas contradições (que somos pessoas justificadas por Deus, mas continuamos simultaneamente pecadoras) não se elimina com êxtase e não se exorciza com palavras de efeito, mas com gestos na comunidade. No centro do evangelho está o Cristo crucificado e ressurreto. Nele vemos para onde Deus olha (Mt 25) e aprendemos a mudar a orientação de nosso olhar”. E ela conclui, citando Paulo: “Decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado” (1Co 2.2).

Jubilamos porque Deus nos conduziu pelo seu Santo Espírito. Sob a sua orientação, o Plano de Ação Missionária da IECLB (PAMI), fruto de decisão construída conjuntamente, é o instrumento que, nas últimas décadas, nos ajudou a perseguir metas e a assumir compromissos decorrentes do evangelho. É também dessa caminhada histórica que derivam os traços que identificam o “rosto” da IECLB. É por isso que alegres, jubilamos!

Alegres, jubilamos:

– pelo fato de homens, mulheres, jovens e crianças aceitarem o chamado de Deus e colocarem os seus dons a serviço da causa de Deus, vivenciando o sacerdócio geral das pessoas batizadas;
– com a prática da diaconia transformadora, que se compromete com ações de inclusão e solidariedade no sofrimento;
– com o zelo pela vida celebrativa e a realização de ofícios, proporcionando comunhão e presença em todos os momentos da vida;
– com a valorização da música em suas mais diversas formas de expressão;
– com as comunidades que procuram ser atrativas e assumem uma prática inclusiva e missionária;
– com o testemunho público, assumido por meio de pronunciamentos, manifestos e cartas pastorais sobre temas relevantes da sociedade e do mundo, refle- tindo a relação indissociável entre ser pessoa cristã e cidadã;
– com a presença ativa em espaços ecumênicos e o respeito por parte de igrejas e organismos desse âmbito para com a IECLB;
– com o engajamento na questão da justiça socioambiental e do cuidado com a criação;
– com a busca persistente por justiça de gênero e pela presença de mulheres em cargos de liderança e no Ministério com Ordenação;
– com o anúncio da Palavra, que convida e leva as pessoas a assumir responsabilidades decorrentes da liberdade cristã e capacita-as para o discernimento entre o bem e o mal;
– com o batismo de crianças e sua participação plena na Ceia do Senhor;
– com o envolvimento na vida educacional de crianças, adolescentes, jovens e adultos e também com a formação continuada das diversas gerações na fé cristã;
– com a abertura para o diálogo intereclesiástico e inter-religioso e com o cultivo e a vivência de relações ecumênicas;
– com a busca por transparência e o empenho de esforços por uma gestão responsável na vida eclesiástica;
– com o fato de sermos Igreja no Brasil, um país continental, abençoado por Deus, com seu colorido cultural, racial, territorial, lugar privilegiado para testemunharmos o evangelho.

 

Celebrando o nosso futuro

À semelhança do apóstolo Paulo e de Lutero, vivemos em um contexto determinado. Queremos continuar sendo igreja que pensa e vive a fé luterana no Brasil. Nessa realidade, estamos dominados e dominadas pela lógica do “deus-mercado”, que não busca comunhão, mas lucro e satisfação de clientes. A força e a sedução desse deus requerem de nós vigilância e autocrítica. Quais são os nossos pecados? Onde e como, à luz dos 500 anos da Reforma, erramos, fomos omissos e omissas, deveríamos ter agido diferente? Onde e quando promovemos o conflito? Buscamos reconciliação? Qual é a culpa que devemos confessar? O que temos aprendido para evitar a repetição desses pecados amanhã? Enfim, que igreja desejamos ser nos próximos 500 anos?

Agora são outros 500! Como igreja que carrega marcas da Reforma, a nossa herança e os traços do rosto da IECLB encorajam-nos a olhar com confiança para o futuro. Podemos vislumbrar o futuro com esperança a partir da vida e das ações que são fatos reais em nossas comunidades. Dificuldades, reveses e decepções também nos acompanharão no futuro, como foi até aqui. São componentes da Igreja de Jesus. Ainda assim, podemos olhar o futuro e em direção a ele caminhar com alegria perseverante.

Decisivo é que a presença da IECLB na missão de Deus não seja obra do acaso, mas fruto do cerne de sua confissão de fé no Cristo revelado pelo Deus desconhecido, identificado por Paulo. Com essa confissão de fé e com esse compromisso queremos continuar a nossa caminhada, sendo igreja que se caracteriza pela comunhão, a qual nos é dada na pessoa de Jesus. Nele é que a comunidade vive, se move e existe em comunhão. Há culpa? Em Jesus há perdão. Há conflito? Em Cristo há reconciliação e transformação. Agora são outros 500.

A força que nos moverá é a Palavra, compreendida como a comunicação do amor de Deus, que se dá no testemunho missionário da fé (evangelização), na vivência concreta do corpo de Cristo (comunhão), no agir restaurador e curador (diaconia) e na celebração do amor divino (liturgia). Ao assim firmar-se na Palavra do Senhor, a IECLB procura ser fiel à herança da Reforma, traduzindo-a para o contexto brasileiro. Ao fazer o melhor uso dos seus dons e recursos, a IECLB ocupa um lugar reservado para uma igreja com seu perfil no mapa da Igreja de Jesus Cristo. Assim é que queremos e podemos participar mais e melhor na missão integral de Deus, que liberta, perdoa e consola.

Somos uma igreja histórica. Sob a graça de Deus, na companhia e em parceria com outras igrejas, ajudamos a escrever a história da Igreja de Jesus Cristo. Vivemos dessa mesma graça e, a partir dela, cremos e agimos, comunicando o amor e a justiça de Deus. Vislumbramos que a IECLB seja, cada vez mais, reconhecida como igreja de comunidades atrativas, acolhedoras, inclusivas e missionárias.

Ao nos associarmos às celebrações do Jubileu dos 500 anos da Reforma, podemos dizer com alegria redobrada: Sou luterano! Sou luterana! Sou parte dessa Igreja sempre em Reforma e agora são outros 500!

 

Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).