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Prédica: Mateus 5.17-20
Autor: Vitor Westhelle
Data Litúrgica: 6º. Domingo após Trindade
Data da Pregação: 22/07/1979
Proclamar Libertação – Volume: IV


É PRECISO SER MINEIRO

I – O Cristo por detrás

Guido Rocha, um artista brasileiro, tornou-se bastante conhecido pelas suas esculturas do Cristo crucificado, espalhadas por todo o mundo. Espanta olhar para aquele Cristo mulato com cara brasileira e cabelo pixaim. A boca escancarada, de dentes arrebentados, bem parece que ainda berra (Mc 15,37) de dor. Não duvido que essa imagem nos seja bem menos conhecida do que uma outra encontrada em poster até nas bancas de revista, mostrando a figura de um homem de olhar angélico, cabelos loiros, penteados, caindo em cachos, e de barba bem cuidada. Uso só esses dois exemplos de nossos dias pela maneira gritante como se chocam e se contradizem. São muitos os exemplos, nas artes e na literatura, de imagens de Cristo, moldadas e descritas segundo as motivações, nem sempre coincidentes, de determinadas épocas e grupos de interesse. De certo modo isso até é inevitável, para já não dizer que e indispensável que de alguma forma se expresse Cristo para cada época e também para hoje; tão indispensável quanto o foi para o próprio Novo Testamento! Mas também é inevitável, dado que existem versões contraditórias, que nem todos os Cristos atuais digam alguma coisa do que realmente significa Cristo hoje. E é isso que precisamos ver.

Para distinguir certos fatos é necessário ver através da bruma que os envolve; é preciso penetrar nela Ainda assim não e nada garantido que o sucesso na tarefa seja alcançado A isso que envolve os fatos e os reais motivos como urna bruma, visando dor ao fato uma outra face, ou harmonizá-lo dentro de um conjunto de outros elementos, dá-se o nome de ideologia.

Mas vamos ao que interessa. Sabemos que a posição de Jesus frente a tradição judaica e, por extensão veterotestamentária foi pelo menos, conflitiva. E certo que Jesus foi um judeu como redundou Wellhausen, mas é igualmente certo que para explicá-lo corne evento histórico é preciso aceitar que houve uma considerável descontinuidade entre ele e a tradição, como sustentou Käsemann. Aliás isso explica a reação que ele sofreu dos círculos mais tradicionais, tanto políticos, quanto religiosos. Por isso encontramos também reportadas as suas contestações ao jejum (Mc 2.18ss.), à lei de sábado (Mc 2.23ss), ao costume de lavar as mãos (Mc 7.1 ss.), a lei do divórcio (Mc 10.1ss.), ao templo (Mc 14.58), etc. Pode-se também lembrar aqui as antíteses do Sermão do Monte com a sua radicalização ética (eu, porém, vos digo… /sobre o significado do SM cf meditação sobre Mt 6.16ss.). Essa suplantação do próprio Moisés só poderia ser encarada como blasfêmia (cf. Mc 27) ao Deus da tradição veterotestamentária. Pois, é justamente nesse contexto do Sermão do Monte com o seu novo, que se encontram algumas palavras sobre Jesus e a tradição. Elas aparecem quase no início desse bloco narrativo, como que num tom de esclarecimentos iniciais Ei-Ias:

V. 17: Não penseis que vim para ab rogar a lei ou os profetas. Não vim para ab rogar, mas para cumprir.

V.18: Pois, em verdade vos digo, até que passem o céu e a terra, não passará nem um iota ou um til da lei, até que tudo se cumpra.

V.1V. Aquele, pois, que relaxar um desses mandamentos, mesmo um dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado o menor no reino dos céus. Aquele, porém, que os cumprir e ensinar, esse será considerado o maior no reino dos céus.

V.20: Porque vos digo que se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus.

II – Os Motivos de Mateus

Dentre os escritores do NT, Mateus é o mais digno representante do pensamento judaico-cristão (Käsemann, p. 83). Embora tendo escrito o seu relato do evangelho depois do período mais ativo da comunidade de Jerusalém, pode-se perceber claramente a sua dependência dessa comunidade em algumas questões teológicas (como a presença do pensamento profético-apocalíptico no v. 19). Na época em que Mateus escreveu (fins do primeiro século), o cristianismo definia o seu rumo. O encontro fecundante do pensamento hebreu com a filosofia grega foi o berço no qual ele se desenvolveu. Isso não nos deixa longe da afirmação de Toynbee: O cristianismo… era uma transformação do judaísmo, e essa metamorfose fora provocada pela infiltração de uma ideia helênica que, para os judeus, era a própria antítese de sua religião. É uma explicação um tanto determinista. Por certo não esclarece o problema teológico, mas talvez lance uma luz na compreensão da problemática enfrentada pela ala judaizante do cristianismo, que se debateu pela sobrevivência, desde o Concílio dos Apóstolos até, quem sabe, o séc. IV. Nesse ambiente sufocado pela ortodoxia judaica, os judaico-cristãos, entre eles Mateus, buscavam sua identidade, buscavam tornar Jesus, o Cristo, compatível com a tradição e, mais do que isso, queriam mostrá-lo como o próprio cumprimento da profecia. Possivelmente foi dessa comunidade que Mateus tomou e ampliou o texto acima. Não importa, de momento, distinguir entre aquilo que o evangelista recebeu da tradição da comunidade primitiva (vv. 17.18 (cf. Lc 16.17) e 19?) e a sua redação (v. 20). Trata-se de apurar isso que poderíamos chamar de ideologia de Mateus, mirando os motivos ocultos nessa harmoni¬zação de Jesus com a tradição.

Kasemann em um artigo polêmico (cf. bibl.) caracterizou essa comunidade primitiva, que às vezes tem em Mateus um porta-voz, de apocalíptica. Atribui-lhe um tipo de formulação (sen-tenças do direito sagrado) ainda presentes nos evangelhos, sobretudo em Mateus. Uma dessas sentenças seria o v. 19. A esse tipo de influência apocalíptica corresponderia uma ênfase nas ações, o que Mateus claramente revela. Os escribas e fariseus dizem e não fazem (23.3), mas o decisivo é praticar a vontade de Deus (7.24), pelo que nada vale expelir demônios e fazer milagres (7.24). Os frutos desses falsos profetas são abrolhos (7,15ss). Mateus proclama contra toda piedade que não é decorrente do critério 'o que faz a vontade de meu pai que está nos céus’, a maldição do juiz desse mundo: 'nunca vos conheci' (Kasemann, p. 84). Tanto a parábola dos dois filhos (21.28), quanto o grande julgamento (25.31), matérias exclusivas suas, dão mostras da preocupação de Mateus. Talvez ele quisesse transmitir exatamente essa ideia com o v. 20. Parece certo que a expressão exceder em muito esteja designando uma separação de ordem qualitativa, i.e., o caminho para o cumprimento da lei proposto por Jesus alcança um outro nível daquele atingido pelos escribas e fariseus, à sua maneira. Mas na minha opinião não se pode falar aqui do evangelho como cumprimento pleno da lei.

Se, por um lado, Mateus defende a simbiose judaico-cristã. por outro, ele se posta contra as críticas judaicas. Isso revela-se quando ele se adianta aos próprios escribas e fariseus, estabelecendo o novo critério de cumprimento, decorrente do fazer a vontade de Deus. O v. 17, por sua vez, mostra com clareza os motivos do conflito entre judeus e judaico-cristãos: os primeiros eram da opinião que Jesus ab-rogava a lei. A resposta foi programática e, sem dúvida, defensiva: Não penseis que vim ab-rogar a lei ou os profetas. Não vim ab-rogar, mas vim cumprir. O ou entre lei e profetas não é designativo de uma exclusão, mas deve ser entendido como conjunção aditiva, onde os profetas são vistos apenas como intérpretes da lei (Grundmann, p. 144). Portanto, a tese defendida é que a prática de Jesus, a despeito das aparências, é o cumprimento da lei em seu pleno sentido.

Essa mesma formulação de Mateus vale para diferentes elaborações da imagem de Jes,us. Em um outro contexto judaico-cristão, onde uma das ênfases era a rejeição do sacrifício cultual, o mesmo estilo de frase diz: Vim para eliminar o sacrifício e, se não deixardes de sacrificar, a ira não vos deixará (cf. Evangelho Ebionita). Aqui não se trata tanto de uma tentativa de harmonização, mas, ao contrário, supõe a autoridade de Jesus para combater o sacrifício.

E mais uma vez o mesmo tipo de sentença programática é usado para um propósito bem oposto. Marcião, em ambiente helénico, eivado por objetivos contrários aos de Mateus, dá a sua versão: Não vim para cumprir a lei, mas para ab-rogar.

III — Deus fala através dos inimigos da Igreja

Observamos como em ideários diferentes as imagens de Jesus também se cunham de maneiras diversas, senão opostas: algo assim como ocorre hoje com as figuras de Jesus. Porém, ainda nos faltam critérios que nos confirmem ser a utilização feita por Mateus mais correia que a do Evangelho Ebionita, ou a de Marcião. Ou mesmo que nos digam se há alguma correia, se todas são, ou se nenhuma é cristologicamente procedente. O único critério que Mateus traz é escatológico, o que não resolve a questão, pelo menos dentro do texto. No entanto, creio que o elemento comum nessas passagens de Mateus, do Evangelho Ebionita e de Marcião podem nos ajudar a andar um eito nessa questão. Tenho em mente o dado conflitante: a postura de Jesus frente à tradição judaico-veterotestamentária. Caso olharmos para fora dos textos e tentarmos confrontá-los com a atividade de Jesus, veremos que, como Mateus, também Marcião, por vias opostas, não faz jus ao Jesus de Nazaré. Esse, mesmo se opondo em alguns aspectos, em outros segue os costumes judaicos, conhece a lei e os profetas e deles faz uso. (Talvez a formulação do Evangelho Ebionita ainda se sabe, justo por tratar de uma questão bem específica.) Ao contrário do que possa parecer, na minha opinião, aqui está a unidade. Basta olharmos para essa assim chamada tradição veterotestamentária, para vermos que a homogeneidade é o que nela há de mais raro. Poderíamos citar desde os propósitos distintos das tradições do pentateuco até os profetas, passando peia releitura deuteronomista. Vejamos como se deu com os profetas que melhor exemplificam a questão: o que significaria lei e os profetas (tradição veterotestamentária) à luz da oposição de Jeremias ao culto no templo, de Trito-lsaías em relação ao jejum, de Oséias quanto aos sacrifícios, de Amos e Jeremias contra a profecia oficial, etc ? Se existe algum elemento de continuidade, esse inclui essencialmente o protesto e a releitura da tradição, de modo a trazer resultados até opostos aos que a tradição consagrara. Se esse protesto à religião oficial é elemento constituinte da própria religião, então encontramos Jesus plenamente inserido nessa tradição. Ele a cumpre, sendo a manifestação mais radical de protesto contra ela e dentro dela.

É elucidativa a interpretação que Lutero fez desse texto de Mateus (WA 32,355ss., provavelmente do ano de 1530). Esse lhe é de atualização extremamente fácil. Aquilo que disseram os escribas de Jesus era o mesmo que diziam os inimigos da Reforma dos reformadores. Mas, a esses todos, Cristo tem a mesma resposta: não! Lutero respondia como Mateus, afirmando ser a Reforma a continuidade da verdadeira tradição da Igreja. Roma fizera as vezes dos escribas e fariseus, deturpara a tradição dos santos pais.

Deus fala de forma mais tangível através dos inimigos da Igreja do que através da própria Igreja, afirmou Tillich (pp. 30s), acrescentando que isso está plenamente inserido no espírito da profecia bíblica. E diz também que, vendo-se historicamente, o espírito crítico radica na própria religião (p. 307). Com isso nem é preciso dizer que ele chama a atenção dos grandes críticos contemporâneos da religião, afirmando que eles se encontram no espírito da profecia, no princípio protestante, na continuidade da religião! Gostaria de lembrar aqui lambem as palavras de M. Buthelezi quando, na VI Assembleia da FLM, lembrou às igrejas tradicionais que é da natureza do cristianismo a liberdade de Deus escolher para si o seu povo. Por incrível que pareça, nem sempre nos lembramos dessa evidência, sem a qual não seríamos cristãos, nem herdeiros das promessas de Javé.

Até aqui vai o texto. Ele indica o protesto contra a religião estabelecida como sendo um elemento constitutivo do caminhar do povo de Deus na história. Poderíamos ficar por aqui, restringindo-nos a essa passagem. Mas com isso perderíamos o critério para estabelecer o que é protesto e o que não passa de intriga.


Uma possibilidade seria sacar esse critério do livro de Mateus. Nesse caso o acento recairia na opção que ele enfatiza pela prática, pelos frutos concretos. Como referência poderia-se indicar a parábola dos dois filhos (21.28ss), ou o grande julgamento (25.31 ss). No entanto, esses textos estão inseridos dentro dos propósitos ideológicos de Mateus, na sua polêmica com os grupos que o desafiavam teologicamente. É preciso chegar à atualidade e aquilatar quais são esses critérios cristológicos, numa sociedade tal como a que vivemos. Portanto, não é tarde para salientar que o protesto supõe oposição, contestação, isso é certo, mas também apoio. A quem cabe o apoio e a quem a contestação?

IV — Um trabalho de mineiro.

Nunca fomos catequizados… Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará. Esse é um trecho do Manifesto Antropofágico (1927) de Oswald de Andrade. Se não esgota a necessidade que temos em especificar o que significa protesto hoje, pelo menos é uma indicação de resistência cultural. Não deixa de ser uma oposição à catequese que veio aliada à colonização. Não obstante, percebe-se de imediato que algo da tradição encontra acolhida. Jesus. Mas isso acontece sob a égide de um protesto que teima em colocar a manjedoura na Bahia (quiçá em uma senzala), ou em Belém do Pará, que, convenhamos, está mais correio que a sublime imagem de uma estrebaria tão higiênica quanto um hospital e de um cocho que faria inveja a muitos berços. Essa polemica, se para nada mais serve, indica uma clara oposição à catequese oficia! e alienígena: e, então, indica o lugar do Cristo como sendo o lugar do protesto (algo de bom pode vir da Bahia mulata, cia Bahia do Candomblé? cf. Jo 1,46). É aí que nasce o Cristo e não na catequese, por mais ortodoxa que possa ser. Nasce nos lugares menos aconselháveis, como a semente morta, imunda e estercada, que viçosa germina. Ou é comparável ao diamante que se forma no subsolo ao longo do tempo, sob pressão… sob opressão.

Assim vemos que esse protesto tem um lugar e que só faz sentido a partir desse lugar, fora disso é intriga. E é bem por isso que para a catequese oficial os sinais evangélicos de protesto estavam nos índios e nos negros… Fora da Igreja, certamente, mas tanto quanto os cristãos gentílicos também estavam fora da tradição veterotestamentária. E hoje, onde estão esses sinais para a Igreja oficial, que cultua uma tradição étnica, ou que está amigada com aqueles que dominam, ou ainda preocupada com a autopreservação institucional? Onde está o protesto evangélico contra o poder secular que se diviniza (Lutero: toda tirania na terra é sempre uma realidade transcendente WA 12,470). Cito aqui um trecho de uma cristologia elaborada a partir da América Latina, no intuito de descobrir onde e em favor de quem se ergue esse protesto, perguntando pelo lugar de Jesus:

– os pobres são os que melhor entendem o significado do reino, ainda que esse conhecimento seja subcontrário;

– Jesus reforça a sua experiência da necessidade da justiça em seu contato real com os pobres;

– o serviço à totalidade (do reino) Jesus o faz diretamente como serviço aos pobres;

– experimenta a pobreza em sua vida pessoal, ou pelo menos uma relativa pobreza que de alguma forma o inclui no grupo dos pobres;

– Jesus faz a experiência de classe (embora seja anacró¬nico buscar em Jesus uma análise de classes no sentido das sociologias atuais), sobretudo ao experimentar as consequências de sua solidariedade com o grupo dos pobres: o poder do outro grupo recai sobre ele. (Sobrino, p. 108). Já pensando em exemplificações, gostaria de fazer menção a um exemplo marcante para a vida nacional, onde é possível perceber sinais evangélicos. Refiro-me às greves de 78 por melhores salários. Certamente os operários em países como o Brasil estão longe de ser aqueles que nada têm a perder. Abaixo deles há muitos outros em piores condições. No entanto, eles são dignos representantes das classes subalternas, oprimidas em função dos interesses dominantes. As greves foram ilegais, não obstante alcançaram uma legitimidade de baixo para cima. Os fariseus e os escribas de hoje não se cansaram de gritar que essa era uma tentativa de ab-rogar a divinizada lei vigente. Porém, esse movimento, transcendendo os objetivos específicos dos que dele participaram, foi o dado concreto mais marcante em toda conjuntura nacional até agora (08/78). Conseguiu opor-se ao poder discricionário e, portanto, a essa realidade transcendente que de Deus é que não veio. Nem é preciso acrescentar que isso acarretou reflexos para o uso do poder em geral. Não que ali estivesse um eventual evangelho puro(?), mas manifestou-se o protesto como sinal evangélico de que a lei fora só então cumprida, contra a deturpação ' farisaica (a lei foi feita para o homem e não ao invés; cf Mc 2.23).

Poderia-se ainda lembrar os índios e as terras de sua sobrevivência, que passam a garantir, os posseiros e suas lutas, o Movimento pelo Custo de Vida, os Centros de Defesa dos Direitos Humanos, etc. Os exemplos se multiplicam em cada local com as suas especificidades. Porém, nem de longe, tenciono oferecer um esquema de interpretação daquilo que pode significar o protesto como sinal evangélico (protesto que, vale ressaltar, está também impregnado pelas mazelas do homem). Uma vez, porque não é privilégio da Igreja reconhecer sua deturpação, por outra, porque o espírito profético anda por caminhos que o vento dita (Jo 3.8), à revelia dos próprios concílios. Há que ser mineiro com os mineiros, para encontrar o diamante nas profundezas do chão, sujar-se para também ver seu brilho realçado na palma da mão e infestar os pulmões para poder dizer o que viu.

Não poderia deixar de voltar a fazer menção àquele escultor exilado de que falei bem no início. Sempre procurou representar o Cristo: o Cristo crucificado, oprimido, marginal e torturado. Perguntado por que era sempre esse o seu motivo, respondeu: De longe fico querendo fazer a escultura de minha gente. E desde menino… aprendi que nada é mais parecido com o povo do que o Cristo. (ISTO É12/10/77)

V — Bibliografia:

– BULTMANN. R. Die Geschichte der synoptischen Tradition. 8a ed.. Göttingen. 1970.
– GRUNDMANN. W. Das Evangelium nach Matthäus. 2a ed.. Berlin. 1971.
– KÄSEMANN. E. Die Anfänge christlicher Theologie. em: Exegetische Versuche und Besinnungen II. Göttingen. 1964. pp. 82-104.
– SOBRINO. J. Cristologia desde América Latina. México, 1977.
– TILLICH. P. Religion und die freie Gesellschaft. em: Gesammelte Werke X. Stuttgart. 1968. pp. 303-312.