Alocução de Sepultamento
Situação: Alocução proferida no ofício de sepultamento de um jovem de 17 unos, integrante do grupo de jovens da comunidade, assassinado com um tiro numa briga com meninos que roubaram-lhe o boné, quando estava a caminho para participar de um programa da juventude e encontro de confirmandos.
Texto bíblico: Jo 19.25-27.
Prezada família enlutada (citar os nomes), prezada comunidade.
Neste momento buscamos uma orientação em Deus, em Jesus Cristo, no Espírito Santo. Estamos todos aflitos. Não sabemos o que fazer e onde encontrar forças diante dessa tragédia.
Estamos assustados diante de tanta coisa errada e injusta. (Nome) … foi brutalmente assassinado. Assim como ele, muitos são vítimas dessa violência descontrolada. Todos nós corremos perigo. A nossa comunidade corre perigo. As famílias estão ameaçadas por esse sistema de morte que cria o ódio, a injustiça, a desigualdade, a fome, o desemprego, a falta de teto, a ausência de abrigo, de carinho e de educação para crianças e adolescentes. Temos motivos para temer. O mal está com suas garras de fora. Estamos arrasados diante do poder da morte. Estamos desorientados diante da despedida desse corpo brutalmente assassinado.
Graças a Deus, ainda existem muitas coisas boas. Graças a Deus, a sua palavra está no meio de nós para nos orientar e iluminar neste momento de sombra, de escuridão e de desânimo. Orientados pela palavra de Deus, encontramos forças para lutar e reagir. Forças para levantar a cabeça, andar, começar de novo. Não podemos ficar parados, presos, amarrados diante desse sofrimento.
Lembro-me, neste momento, de palavras do Salmo 23: O Senhor é o meu pastor; nada me faltará. (…) Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum.
Prezados … (nome da família enlutada), a ação de Deus é o nosso consolo. Através de Jesus, Deus venceu a morte. Pela fé temos parte na vitória de Deus sobre a morte. Participamos, assim, da vida que Ele cria, participamos do seu reino, da vida eterna. Não precisamos temer a morte.
Mas o que fazer com o nosso sofrimento neste momento? O que fazer com o vazio que … (nome do falecido) deixa entre nós, no seu quarto, na escola onde estudava, no grupo de jovens de que participava, no bairro onde morava? O que lazer? Vamos ficar parados?
Não! Nós vamos reagir deixando-nos guiar pelo evangelho. Refutam comigo: Deus não está longe do nosso sofrimento. A cruz de Cristo revela o sofrimento de Deus em favor da mudança das coisas erradas, em favor da vitória sobre a morte. Nosso Deus companheiro e poderoso quer nos aconselhar. Tomemos por exemplo o conselho de Jesus quando estava pregado na cruz. Ele aconselhou Maria, sua mãe, outras mulheres ali presentes e um discípulo que estavam ajoelhadas, paradas e derrotadas diante da sua crucificação.
O conselho de Jesus, naquele momento de sofrimento, foi poderoso e libertador. Assim está escrito em João 19.25-27… (ler o texto bíblico.)
Maria, mãe de Jesus, Maria de Clopas, Maria Madalena, também um discípulo, estavam todas desoladas, assustadas, presas pela violência, pela dor. Não encontravam saída. Assistiam a tudo e não podiam fazer nada.
A situação era muito parecida com esta que vivemos agora. Naquele momento, Jesus disse para Maria, sua mãe: Mulher, eis aí o seu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí a sua mãe. Foram, então, para casa.
Com essas palavras, com esse conselho, Jesus sugeriu a solidariedade. Sugeriu a comunidade. Foi a mesma coisa que dizer: Levante e ande! Vá! Siga! Viva! Não fique aí parado!
Nesse momento de dor e de desespero, Jesus sugere a solidariedade. Pregado na cruz, Jesus mostra um caminho que vence o sofrimento. Ele abre os nossos olhos. Ensina o abraço e sugere que carreguemos o sofrimento uns dos outros.
Jesus Cristo não quer que fiquemos assistindo a tudo sem fazer nada. Na solidariedade, repartindo a dor, encontramos o rumo da luta, da vida. Encontramos meios para sarar a nossa dor e preencher o vazio deixado pelo nosso irmão.
Jesus propõe a solidariedade entre os sofridos e derrotados, entre os assustados e violentados. Jesus diz: eis aí a sua mãe, eis aí a sua irmã, o seu irmão, o seu pai, o seu amigo, o seu filho. A solidariedade é um caminho. É uma força que rompe o mal e cria esperança. Jesus na cruz resgata para nós a chance de ressurgirmos do nada. Com a solidariedade a vida ressuscita.
Nós cremos no amor de Deus. Cremos na comunhão. Cremos na ressurreição. Esta é a nossa força. Esta é a nossa liberdade, a nossa salvação.
Vamos aceitar o conselho de Jesus e praticar a solidariedade entre nós. Juntos, unidos, vencemos a dor. Amém.
Observação: Esta alocução foi seguida por uma oração. Durante a oração todos foram convidados a colocarem a mão direita no ombro da pessoa ao lado. O tema da oração foi a solidariedade.