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Proclamar Libertação – Volume 39
Prédica: Isaías 52.7-10
Leituras: Mateus 12.14-21 e Colossenses 1.24-27
Autora: Ana Isa dos Reis
Data Litúrgica: Epifania de Nosso Senhor
Data da Pregação: 06/01/2015

1. Introdução

A celebração de Epifania convida-nos a dar continuidade ao testemunho dos sábios do Oriente – também conhecidos, na tradição, como Reis Magos – de que Jesus é Senhor e Salvador do mundo inteiro, também meu e para dentro da minha vida.

O texto da pregação anima o povo ao afirmar que Javé vem restaurar Jerusalém e trazer o povo de volta ao lar, inaugurando um novo tempo, revelando-se a todos os povos como Deus forte, consolador e resgatador. Essa notícia traz ânimo e coragem ao povo exilado.

Epifania reatualiza o texto de Isaías 52, afirmando que, em Jesus de Nazaré, o próprio Deus veio morar entre nós, revelando-se e doando-se a nós. Essa mensagem é grande e alegre demais para ficar guardada. Ela anseia ser anunciada até os confins da terra. Eis o nosso chamado: como pessoas batizadas, que se dobram aos pés do Menino, levamos adiante a boa-nova do evangelho, colocando sinais do reino de Deus onde estivermos.

 

2. Exegese

2.1 – Momento histórico e autoria

A perícope está inserida no período do exílio. Porém não mais como nos primeiros tempos em 597 e 587 a.C., quando se recomendava “plantar pomares”. A nossa perícope deve estar situada por volta dos anos 550 e 540 a.C., quando o império babilônico está em decadência e a Pérsia avança. Por volta de 550 a.C., Ciro, imperador da Pérsia, começou a dominar os povos vizinhos, pretendendo chegar à Babilônia. A grande estratégia dos persas é seu jeito político de atuar, mantendo os dominados em sua própria terra, concedendo-lhes maior liberdade religiosa e cultural, tudo em troca de submissão política e pagamento de
impostos.

É graças a esse avanço persa que os exilados, através de seu grupo profético, renovam as esperanças e a possibilidade de reconstrução e retorno à sua terra natal.

Quanto à autoria, hoje a pesquisa aponta que o Dêutero-Isaías não seria uma única pessoa, e sim uma obra coletiva, uma composição de diferentes manifestações proféticas entre os exilados na Babilônia. Seria uma espécie de “compêndio” da profecia, surgida entre os exilados. Milton Schwantes ainda nos ajuda quanto à autoria, situando o “Segundo Isaías entre os cantores do templo”, encontrando-se na atmosfera hínica do culto.

2.2 – Estrutura do Dêutero-Isaías

O Segundo Isaías pode ser dividido em duas partes, além da introdução e conclusão:

40.1-11 – Introdução: o novo êxodo e a Palavra de Deus.

40.12-48.22 – Primeira parte. Libertação e retorno a Jerusalém, tendo como modelo o êxodo. Insistência em Javé como único Deus da história.

49.1-55.5 – Segunda parte. Projeto de reconstruir Jerusalém. Predominam a figura do servo e a cidade de Jerusalém.

55.6-13 – Conclusão e resumo. O poder da palavra de Deus e a realização do novo êxodo.

2.3 – Observações exegéticas sobre a perícope

A perícope poderia ser examinada a partir de três momentos:

– mensageiro;

– atalaia;

– ruínas de Jerusalém.

O mensageiro tem como principal ação o anúncio sobre o reinado de Deus. O mensageiro traz a boa notícia de que Javé reina, ele é o Senhor, não mais a Babilônia. Ou seja, os algozes nada podem contra o poder de Javé. Os atalaias são os que observam a chegada do mensageiro sobre os montes e, entendendo a mensagem, transmitem-na aos gritos. As ruínas de Jerusalém são a quem a mensagem é destinada.

V. 7 – O texto aponta os pés como sinal de dinamismo, deslocamento, caminhante ativo e que traz como mensagem central: Javé reina. Para um povo que sofreu o exílio e a subjugação, esse anúncio é de esperança. Com Javé será tempo de paz, bem e salvação.

V. 8 – Os atalaias (guardas) ouvem a mensagem e a compreendem e, mais do que isso, veem a chegada de Javé reinante. É a boa notícia que provoca os gritos, não mais de horror e medo, mas sim de alegria, esperança e júbilo.

V. 9 – Às ruínas de Jerusalém são dirigidos os gritos de júbilo. O verbo “rompam” ou “explodi” está no imperativo, como um chamado aos que estão nas ruínas e, quem sabe, já não conseguiriam mais acreditar. O motivo para a explosão de alegria é aqui apresentado: Javé reina e sua ação dá-se através dos verbos: consolou e remiu/resgatou. Javé faz novas todas as coisas.

V. 10 – Mais uma ação de Javé é descrita: ele usa seu braço para salvar e o faz diante de todas as nações, porque ele é Deus e sua ação é universal.

 

3. Meditação

Para dentro do tempo de Epifania somos chamados a ser mensageiros, ou seja, aqueles que levam a mensagem do reinado de Deus, de sua revelação em Jesus Cristo. Ao mesmo tempo, também poderíamos dizer que somos atalaias, aqueles que ouvem a mensagem e, cheios de júbilo, gritam-na adiante. E também somos as ruínas de Jerusalém, a quem a mensagem é destinada, em quem a mensagem “cala fundo”, inaugurando um novo tempo.

Nos diferentes momentos da vida, ora somos um, ora outro. A interação entre esses três, no entanto, deve ser interativa, em que um completa o outro. E a ação é do Senhor.

Para aquelas pessoas deportadas/exiladas, “consolo” e “paz” traziam à memória realidades muito concretas, sonhadas e almejadas. O exílio é uma vida sem lugar, sem chão, sem terra, porque ali não é onde desejamos estar, mas para onde fomos levados à força. Ali não é espaço de construção, porque não é da gente. Ao ouvir que Javé reina, que ele está junto, isso mexe com a esperança, reaquece o coração, implica poder voltar à terra da gente, onde a gente tem um lugar para plantar, viver, crescer, adorar Deus. Esse Javé que reina, que está voltando é o mesmo que foi junto para o exílio com o povo, que também experimentou não ter terra, ter a liberdade cerceada. Javé é solidário. Seu regresso acontece em companhia de seu povo.

Olhando para o tempo de Epifania, Javé vem morar entre nós em Jesus de Nazaré. Ele vem para junto de seu povo. Ele reina, não em castelos afastados, mas entre o povo que está em ruínas. Como mensageiro, Jesus anuncia o reino de Deus. Como atalaia, grita que Javé já está entre nós. E às ruínas traz vida nova e salvação.

A partir de nosso Batismo, somos chamados a ser mensageiros. Não quaisquer mensageiros. Mas aqueles que anunciam o reino de Deus. Reino de paz e justiça, que nos compromete com a causa da vida digna e boa para todas as pessoas, que nos inspira e anima a agir com honestidade, respeito para com os demais e os diferentes, rompimento com toda e qualquer forma de violência e injustiça. Somos mensageiros porque, em primeiro lugar, o Senhor veio até nós, compartilhou com a gente a sua mensagem viva. Nossos pés tornam-se formosos à medida que levamos adiante e partilhamos a mensagem do reino de Deus. Posso imaginar que, para alguns que compactuam com as forças do mal, esses são pés amaldiçoados porque não anunciam a mensagem que o “mundo” quer que seja anunciada, mas a mensagem do evangelho.

Ao ouvirmos a mensagem, sejamos atalaias que vibram, extasiados, que gritam adiante, que se deixam envolver totalmente pelo Senhor que vem, na pobreza do Menino, na radicalidade da cruz e na transformadora ressurreição. Ser atalaia remexe a poeira, coloca em alerta, chama a atenção. Tem algo novo, promotor de vida a todos e não apenas a alguns em detrimento de outros.

Lembremos: às ruínas é que fora destinada a mensagem. Também nós enfrentamos ruínas, sofrimentos, lutos, doenças, perdas, frustrações, fracassos, pobreza, miséria, desemprego, incapacidade de lidar com a opressão. Talvez algumas pessoas sentadas ali na igreja se sintam em ruína. A mensagem é dirigida especialmente a elas. Uma mensagem transformadora e desafiadora. O Senhor reina, ele consola, resgata, mas também chama à ação, à reconstrução.

 

4. Subsídios litúrgicos

Recepção:

Uma equipe deve estar à porta recebendo as pessoas que chegam para a celebração.

Confissão de pecados:

Misericordioso Deus, confessamos que somos pessoas pecadoras e que carecemos de tua graça e de teu perdão. Perdoa-nos quando não ouvimos tua mensagem. Perdoa-nos quando não somos teus mensageiros, quando não levamos adiante a boa-nova do teu reino de graça e amor. Perdoa-nos quando nem sequer cremos nesse reino de justiça. Confessamos, Senhor, nossa omissão em anunciar o evangelho de Jesus Cristo. Nem sempre queremos ouvir os gritos alegres dos atalaias que repartem a mensagem da tua chegada transformadora. Perdoa-nos quando não levamos tua mensagem às ruínas, aprisionando-a dentro de nossos muros. A ti, Senhor, confessamos o que pesa em nosso coração, nossas atitudes e omissões que nos têm afastado de ti e do próximo. Que teu perdão, Senhor, nos transforme. Que teu perdão nos anime a ser os pés formosos que, sobre os montes, anunciam a tua boa-nova. Por Jesus Cristo. Amém.

Anúncio da graça:

Antes de tudo e de todos estão o amor e a graça de Deus. Ele ouve nossa confissão sincera e tem compaixão, perdoando-nos e chamando a viver em novidade de vida. Por Jesus Cristo. Amém.

Oração do dia:

Misericordioso Deus, que vieste a nós em Jesus Cristo, nós te agradecemos porque estás presente na história de teu povo e também em nossa vida. Como os sábios do Oriente, adoramos o Menino Jesus, confiando-lhe tudo o que somos. Abre nossa mente e coração para ouvir tua Palavra, reconhecer tua presença e ser testemunhas da tua boa-nova. Que teu consolo e remissão nos alcancem e, alegres, sejamos mensageiros do teu reino, atalaias da tua graça e alvo do teu amor. É o que te pedimos em nome de Jesus Cristo, o Messias, nosso Salvador. Amém.

 

Bibliografia

BORTOLLETO Filho, Fernando. Auxílio homilético sobre Isaías 52.7-10. In: Proclamar Libertação XXXIII, p.70-75.
CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo: Milenium, 1986.

 

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Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).