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Para que o amanhã seja melhor

 

Proclamar Libertação – Volume 45
Prédica: 
Jeremias 31.7-9
Leituras: Marcos 10.46-52 e Hebreus 7.23-28
Autoria: Astor Albrecht
Data Litúrgica: 22° Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 24/10/2021

 

1. Introdução

O texto de Hebreus 7 apresenta Jesus Cristo como sacerdote único e perfeito. Nele, encontramos ampla salvação. Toda a esperança de salvação flui do sacrifício de Cristo oferecido uma vez para sempre.

A leitura indicada do Evangelho de Marcos 10 trata da cura do cego Bartimeu, de Jericó. Ele clama pelo nome de Jesus e roga por misericórdia. Tem esperança de um amanhã melhor e nada impede esse seu clamor. Nessa fé é acolhido por Jesus e, abençoado, recupera a visão.

O texto de Jeremias 31, que serve de base para a prédica, apresenta o povo de Israel que está cativo na Babilônia. O povo está assentado à beira do caminho e carece de salvação. Há o clamor: Salva, Senhor, o teu povo (v. 7). Espera-se do Senhor um tempo novo. A palavra do profeta proclama um amanhã melhor.

 

2. Exegese

O tema central do capítulo 31 de Jeremias é a esperança gloriosa de que um dia Israel e Judá serão restaurados como nação. No v. 7 está em pauta o retorno dos exilados da Babilônia. Esse versículo continua a nota de alegria que já está presente no v. 4: haverá muito para ser celebrado quando o Senhor restaurar seu povo disperso. Haverá gritos de alegria e de triunfo. Cabeça das nações: “cabeça”, neste caso, é paralelo a “Jacó”, o que quer dizer que Israel é retratado como exaltado entre as nações, tornando-se a principal entre as nações, quando a restauração ocorrer. A Bíblia NTLH traduz: Cantem de alegria por causa de Israel, a maior de todas as nações.

No v. 8, o norte é mencionado e é uma referência à Babilônia e, talvez, à Assíria, lugares para onde israelitas do sul, Judá, e do norte, Israel, tinham sido levados. É o Senhor quem convoca todo o seu povo para novamente se congregar. Não haverá um só lugar em que a voz do Senhor não será ouvida e todo o povo vai responder ao chamado divino. Até aqueles que teriam maior dificuldade em viajar retornarão à terra natal. Isso é enfatizado, a começar pelos mais fracos, cegos e aleijados, alcançando todo o povo que retornará à terra prometida. O termo “congregação” é palavra técnica que indica a nação de Israel. As diversas classes apresentarão muitas necessidades especiais, mas nenhum indivíduo necessitado ficará sem a atenção do Senhor.

O v. 9 afirma que será um tempo de emoções muito fortes. Os israelitas chorarão de alegria e não de tristeza, pois serão muito bem conduzidos pelo Senhor. O povo voltará chorando, mas o Senhor é quem conduzirá em meio a consolações (NVI). O povo vai caminhar às margens dos ribeiros de águas, com todas as suas necessidades satisfeitas, pois a experiência do deserto passou. O caminho deles será reto, plano e fácil, porque o Senhor os guiará. Efraim: Jacó tratou Efraim como a um neto favorito, com a bênção do primogênito (Gn 48.13-20). Como tribo maior das dez tribos do norte, passou a ser um dos nomes coletivos dessas. Assim, Israel e Efraim são usados como termos sinônimos. Jeremias usa o simbolismo do relacionamento entre pai e filho para mostrar o profundo amor de Deus pelo seu povo. Coisa alguma faltará aos israelitas restaurados, o que será simbolizado pelo fato de que eles caminharão ao lado das águas. Isso tudo procede do amor de Deus, que o trata como “primogênito”: na família israelita, o primogênito tinha numerosos privilégios e era objeto de consideração especial.

 

3. Meditação

Eu proponho para este auxílio homilético o título “para que o amanhã seja melhor”. Claro que isso não é uma espécie de “receita”, mas sim palavra que desperta esperança. É dela que precisamos na época em que preparo este auxílio. É tempo de pandemia! Como será hoje quando você medita sobre essa passagem bíblica? Não tenho dúvidas que a esperança se faz necessária para viver e seguir adiante. Em nossa cidade, ontem, foi registrada a vigésima morte por Covid-19, além de centenas de pessoas enfermas. Tudo é muito novo e há poucas certezas. E talvez mais do que nunca esperamos por um amanhã melhor. Estamos como Bartimeu, sentados à beira do caminho. Antes de ouvir que Jesus passava, será que tinha esperanças de um amanhã melhor? Em todo caso, assim que soube e ouviu que Jesus passava ali, perto dele, a esperança se mostrou em insistentes gritos por compaixão. E ele não se calou!

Falar de um amanhã melhor é falar de esperança, de renovação, de restauração. É proclamar que as forças do mal não têm a última palavra; o medo pode dar lugar à coragem; o choro, à alegria. A fé no Senhor é maior e com ela os montes são jogados ao mar. De Deus vêm novas forças! Portanto não devemos em momento algum deixar de proclamar o nome de Deus e a sua vontade. Nestes tempos em que cultos, celebrações e encontros acontecem somente de modo virtual, é essa proclamação que desperta e mantém a fé. Anima-nos a ter boa esperança. Assim também o v. 7 destaca o canto e a alegria que acompanham a proclamação do agir de Deus. Enquanto que muita produção de música “evangélica” trata dos sentimentos das pessoas e dos seus desejos, devemos nos lembrar de dar a Deus o louvor pela consolação e ajuda que dele recebemos e que podemos partilhar com o próximo. Louvamos a Deus pelo que tem feito e devemos invocá-lo pelos favores futuros que seu rebanho precisa e espera.

Para um amanhã melhor, nossa resposta ao chamado divino tem seu lugar e não pode ser negligenciada. Jeremias proclama que cegos e aleijados, as mulheres grávidas e as de parto voltam junto com todo o povo. Duas observações poderiam ser feitas. Primeiro, que ninguém que tenha a Deus como seu guia alegue ser cego, ou que ninguém que tenha a Deus como sua força alegue ser aleijado. Quando Deus chama, não devemos alegar qualquer incapacidade de ir. Porque aquele que nos chama nos ajudará e nos fortalecerá. Observemos que para onde Deus chama o seu povo, ele lhes fará um caminho adequado. Segundo, o dever cristão de nos ajudarmos uns aos outros. Lembremos as palavras de Jó: Eu me fazia de olhos para o cego, e de pés para o coxo (Jó 29.15). Um amanhã melhor pede que cuidemos uns dos outros hoje. Que ajudemos. Examinemos nosso proceder se não somos como aquelas pessoas que repreendiam Bartimeu e mandavam ele se calar. Quando Jesus parou e mandou que o chamassem, essas pessoas mudaram sua atitude e ajudaram. Nós somos daqueles e daquelas que já ouviram Jesus. Se não ajudamos, estamos nos fazendo de surdos. Se ajudamos, respondemos com obediência ao seu chamado. Precisamos ser generosos. Isso, sim, constrói um amanhã melhor.

Para um amanhã melhor importa vivermos nossa espiritualidade com toda a força e de todo o coração, pois Cristo é quem pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus (Hb 7.25). Como os israelitas, podemos nos voltar a Deus com choro, e com súplicas (v. 9). O pranto e a oração andam juntos. As lágrimas colocam a vida em espírito de oração e expressam sua vivacidade, enquanto as orações ajudam a enxugar as lágrimas.

O alicerce da esperança para um amanhã melhor descansa na confiança do agir de Deus. Ele é nosso Pai! Ele ama suas filhas e filhos! A mesma razão que foi dada para o livramento dos israelitas do cativeiro babilônico foi dada na libertação da escravidão no Egito: Israel é meu filho […] Deixa ir meu filho, para que me sirva (Êx 4.22,23). Fomos libertos para não mais ser escravizados! Podemos esperar um amanhã melhor. Deus assim nos ajude.

 

4. Imagens para a prédica

Segue uma ilustração de como um pouco de bondade pode fazer grande diferença para construir um amanhã melhor.

Meu amigo Paulo e sua família visitaram o castelo da Cinderela na Disney. O local estava repleto de pais e filhos. De repente, todas as crianças correram para um lado. Cinderela havia entrado.

Uma linda jovem, com um sorriso brilhante, foi cercada até a cintura por um jardim de crianças, todas querendo tocar e ser tocadas.

Nesse exato momento, Paulo se virou e olhou para o lado do castelo. Tudo estava vazio, a não ser por um menino de sete ou oito anos de idade. Ele tinha uma deficiência física e ficou ali olhando quieto e melancólico, segurando a mão de um irmão mais velho.

Você não acha que ele desejava estar no meio daquela multidão de crianças que estavam atrás da Cinderela clamando seu nome?

De repente, a jovem vestida de Cinderela percebeu aquela criança. Caminhou rapidamente em direção ao menino, ajoelhou-se, a ponto de olhar nos olhos daquele pequeno menino surpreso, e deu um beijo em sua face.

Ao encontrar uma pessoa generosa, você se vê no lugar onde a graça está acontecendo.

 

5. Subsídios litúrgicos

Voto inicial

Eu manterei a aliança que fiz com você na sua mocidade e farei com você uma aliança que durará para sempre (Ez 16.60). Teu pacto de bênção vigora para sempre, tua palavra é sim e amém; que ela nunca desapareça do nosso espírito e da nossa boca, nem de nossa posteridade! Dá que tua palavra nos admoeste, console e guie em todos os tempos. Em ti está a nossa esperança e, por teu amor, aguardamos um amanhã melhor.

Oração

“Senhor, quando tu olhas para nós, é porque nos amas. E assim como teu olhar me fita com tal atenção, que jamais de mim se desvia, assim faz também o teu amor. O teu ser não abandonou o meu ser. Eu existo apenas à medida que tu estás comigo. Eu amo a minha vida, porque tu és a alegria do meu viver. O teu olhar nada mais é do que um vivificar, um constante infundir do mais felicitante amor a ti. Nele se originam todas as alegrias” (Nicolaus von Kues, teólogo alemão, 1401-1464).

Sugestão de hinos

Confio em Deus (LCI 618); Salmo 121 (LCI 131); Não temas, pois que eu te remi (LCI 172); Por tua mão me guia (LCI 627)

 

Bibliografia

CHAMPLIN, Russel Norman. Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo: Hagnos, 2001. v. 5.
HARRISSON, R. K. Jeremias e Lamentações – Introdução e comentário. São Paulo: Mundo Cristão; Vida Nova, 1985. (Série Cultura Bíblica).
ORAÇÕES DO POVO DE CRISTO – Coletânea de Orações de 20 Séculos. Seleção e tradução Lindolfo Weingärtner. Curitiba: Encontrão; São Leopoldo: Sinodal, 1996.

 

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Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).