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A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) trabalha para a superação das desigualdades baseadas em gênero, gerações e etnias. Este trabalho se dá a partir da confissão de fé de que homem e mulher são criaturas, feitas à imagem e semelhança de Deus.

Por conta disso, a Campanha “Por um lar sem violências”, desde 2020, promove ações e propõe debates buscando uma vida digna para todas as pessoas, bem como a superação da violência doméstica e familiar.

Em 2023, a cada 24 horas, ao menos oito mulheres foram vítimas de violência doméstica. Os dados mostram um aumento de 22%, de acordo com a Rede de Observatórios da Segurança.

De acordo com o Pastor Alexander Busch, refletir sobre o tema e promover ações para superar a violência doméstica exige a presença dos homens. Para ele, vivemos em uma cultura violenta, na qual a violência se manifesta de inúmeras formas, além da violência física.

“Os homens estão inseridos nesta cultura e muitas vezes agem/são impelidos a agir de uma forma violenta com palavras, imposição da vontade própria e pressão psicológica sobre outras pessoas. São formas violentas de ser homem, de expressar sua masculinidade. A igreja não está livre desta cultura de violência, não somente devido a influências externas, mas também internamente influenciada pelo poder do pecado que deforma as relações e machuca as pessoas”, avalia.

A Igreja precisa ser um lugar para quebrar o silêncio e a participação dos homens é fundamental.

 

Tratar o tema a partir da Bíblia

Para Busch, dois movimentos são necessários: por um lado, é preciso reconhecer que há uma tentativa de usar os textos bíblicos para oprimir e, por vezes, fomentar a violência doméstica. Por outro lado, é  fundamental apontar para os textos bíblicos que visam superar a violência e que estabelecem formas de respeito, dignidade de vida, serviço mútuo e diálogo.

“No mundo antigo, somente o rei, o homem com poder e autoridade, era considerado ‘imagem de Deus’. Diferente desta perspectiva hierárquica e exclusiva, o testemunho bíblico declara que todas as pessoas, homens e mulheres, são imagem de Deus. A única hierarquia que permanece é entre o Criador e a sua criação. Entre os seres humanos, criados à imagem de Deus, não há distinção de superioridade e inferioridade. A dignidade de cada pessoa e a igualdade irrestrita entre elas são estabelecidas por Deus”, lembra.

A palavra de Gálatas 3.27-28 diz: “porque todos vocês que foram batizados em Cristo de Cristo se revestiram. Assim sendo, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vocês são um em Cristo Jesus”.

“O batismo em Cristo confere uma nova dignidade entre as pessoas, em que identidade étnica, status social e identidade de gênero (homem e mulher) perdem sua força visto que a comunidade é uma só”, ilustra Busch. Neste sentido, destaca o Pastor, a comunidade cristã é espaço de vivência de fé, de respeito e valorização da vida.

“É importante aproveitar oportunidades diretas e indiretas para trabalhar com o tema, seja na pregação, nos hinos ou nas dinâmicas em grupos menores. Numa prédica em que o texto menciona perseguição e violência se pode indiretamente tocar no assunto da violência doméstica. Oportunidades diretas são promover encontros para se falar sobre o tema”, exemplifica.

 

O tema na IECLB

Além da Campanha “Por um lar sem violências”, a IECLB dispõe de materiais e prepara pessoas para lidar com a temática. O material “Missão com mulheres em situação de violência: criando e multiplicando grupos de apoio nas comunidades da IECLB” reúne informações sobre o contexto da violência contra a mulher, o papel missionário da Igreja na superação dessa realidade e recursos para articular grupos de apoio nas Comunidades.

O tema “Violência Doméstica e Institucional” também está presente nas Metas Missionárias da IECLB 2019-2024, bem como na Política de Justiça de Gênero da instituição.

A exposição “Nem tão doce lar” é outra forma de dar visibilidade ao tema. O trabalho é uma casa-exposição itinerante e interativa que busca popularizar o debate sobre a violência doméstica e familiar, atuar na incidência por efetivação de políticas públicas, na constituição de redes de apoio, no empoderamento de grupos e na superação de violências.

 

Como denunciar

Casos de violência doméstica podem ser denunciados em diferentes canais, como delegacias de polícia, disque-denúncia, promotorias e defensoria pública.

Você também pode buscar orientação, ajuda e apoio na sua igreja. Então, acesse a Rede de Apoio e Escuta pelo telefone (11) 94088-5783 ou pelo e-mail psicotraumatologia@cshh.org.br.

Além disso, também utilize o “Ligue 180” para casos de violência contra a mulher acima de 18 anos. O “Disque 100” atende situações de violência e vulnerabilidade envolvendo menores de idade e pessoas idosas. Os dois números estão disponíveis 24 horas por dia.

A campanha “Por um lar sem violências” é uma parceria entre Coordenação de Gênero, Gerações e Etnias da Secretaria Geral da IECLB e o Programa de Gênero e Religião da Faculdades EST.