Mateus 2.1-12
(ouça as prédicas por internet em www.luteranosuai.com)
A celebração da visita dos reis magos ao menino Jesus se celebra em várias partes do mundo. Também aqui no Brasil ele é chamada de reisado em Sergipe, Alagoas e Bahia. Em outros lugares é chamada de Bumba-meu-boi, de Boi dos reis, de Boi-bumbá. Aqui em Minas Gerais é chamada de Folia de Reis e desde 2017 essa festa religiosa e cultural foi elevada ao título de patrimônio cultural e imaterial de Minas Gerais. A folia de reis – com seus músicos, cantores e dançarinos vai de porta em porta anunciando o nascimento do menino Jesus e assim repete a viagem e a visita dos reis magos ao menino Jesus.
Na igreja luterana se denomina esse domingo de epifania, que significa manifestação da luz e da salvação de Deus. Com esta festa vamos concluindo o ciclo do Natal que nos permitirá contemplar a Jesus pequeno, humilde e pobre e que revela a grandeza do amor de Deus.
A carta de Paulo à comunidade de Éfeso faz com que todos as pessoas caiam na conta de que as promessas feitas ao povo de Israel agora se estendem a todos os povos do mundo, ou seja, a toda a humanidade. De tal maneira que a salvação de Deus não será propriedade exclusiva de um povo, mas ela é oferecida a todos os povos, a todos os seres humanos é dirigida essa boa notícia da salvação.
Conta o Evangelho de Mateus que os reis magos vieram de diferentes partes do mundo, decifrando os sinais. Fica óbvia a comparação entre os magos, que sabem entender os sinais dos tempos, e Herodes, os sacerdotes e escribas, que apesar de terem toda a informação nas mãos, não entendem nada.
A palavra mago (magoi) indicaria sábios do Oriente, que poderiam ser sacerdotes talvez da Pérsia (hoje Irã/Iraque). Eles têm outra religião. O texto não diz que pelo fato de adorar ao menino Jesus eles tenham mudando de religião. O que o texto diz é que eles voltaram para sua terra e provavelmente continuaram praticando sua religião. Mas o texto nos diz que diante de Jesus pode haver reconciliação entre as pessoas e entre os povos.
Isso é uma primeira coisa importante: Os magos não vieram visitar o menino Jesus porque eles reconheceram que a religião dos judeus era superior a religião deles. Eles vieram visitar o menino Jesus porque eles reconheceram que na religião dos judeus havia coisas boas que vale a pena conhecer e respeitar. Portanto, os reis nos ensinam a não julgar as religiões uma superior a outra, mas a respeitar a diversidade religiosa e reconhecer que nas outras religiões tem coisas boas.
O que impressiona aqui não é somente a ignorância de Herodes diante dos magos, mas o fato de ele e toda a cidade de Jerusalém ficarem alarmados. Como é que o nascimento de uma criança pode amedrontar um governo e toda a sua laia? O anúncio do nascimento de Jesus provoca medo nos grandes, nos que oprimem e empobrecem os marginalizados. Para eles, Jesus é uma ameaça. Na cidade de Herodes não há luz: a estrela não pode brilhar lá. Os projetos desse rei são de morte e não de vida. Herodes tenta enganar os reis, fingindo que quer também prestar homenagem ao recém-nascido. Mas os planos dele são para matá-lo. E, como muitos grandes, frustrado este plano, ele matará indiscriminadamente.
Jesus, nasce em Belém, uma pequena cidade quase na periferia de Jerusalém. Isso quer dizer que a ajuda de Deus não vem por meio dos governantes. Aliás, para os governantes a presença de Jesus é incômoda. Porém, os que sabem ler os sinais dos tempos e que buscam o projeto de Deus irão encontrá-lo e reconhecê-lo nos projetos sociais conduzidos no meio do povo. É ali que se cumprem as promessas de Deus.
Martin Lutero escreveu sobre esse texto o seguinte: Uma outra coisa que deveríamos aprender dessa história é como nos portar diante de nosso amado Senhor Jesus Cristo, a saber: que removamos todo escândalo e, juntamente com os magos, confessemos a Cristo, o Senhor, ao mundo, que o busquemos de coração e o adoremos como nosso Salvador. Além disso, porque nesse mundo seu reino se apresenta tão pobre e miserável, devemos ajudar voluntariamente com o nosso dinheiro, bens e tudo que temos, para que o mesmo seja promovido e cresça, pois esse reino sofre toda sorte de resistência e opressão do diabo e do mundo. Pois podemos muito bem imitar o exemplo dos magos, abrindo hoje nossos tesouros para Cristo e dando-lhe presentes. O motivo para tanto está em Mateus 25.40: “O que fizestes a um desses meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”.
Mas conta uma antiga lenda russa que os reis magos não eram 3, mas 4. Essa história foi escrita pela pastor presbiteriano, diplomata e escritor Henry van Dyke em 1896. Tem um vídeo no youtube com o filme O Quarto Sábio – https://www.youtube.com/watch?v=tJ0Exgb4l14
Uma das versões sobre essa história diz o seguinte:
Os magos que foram visitar Jesus não eram três, mas quatro. É isso que nos conta uma antiga lenda russa. Diz esta lenda que os quatro reis magos vinham viajando por quatro caminhos diferentes, e cada um trazia o que existia de mais precioso em seu país: um levava ouro reluzente, outro, incenso cheirosos, o terceiro, mirra excelente. O quarto mago era o mais jovem e trazia três diamantes de valor incalculável. A estrela misteriosa seguia à sua frente e, sem descanso, eles a seguiam.
Em nenhum deles ardia tão forte o desejo de ver a Jesus como no rei mais jovem. Ele cavalgava todo compenetrado em seus pensamentos e sonhos. E de repente, ele ouviu um choro, um soluçar tão triste. No meio da poeira, viu uma criança que estava muito machucada e ferida. Uma criança tão estranha, delicada e sem ajuda. Com grande compaixão, ele a colocou sobre os eu cavalo. Na vila, ninguém conhecia a criança. Mas o jovem mago afeiçoou-se tanto a ela que a entregou aos cuidados de uma boa senhora. De sua algibeira retirou um dos diamantes e o entregou à criança para que tivesse um futuro assegurado. A noite, olhando pela janela ele viu outra vez a estrela que o havia conduzido até ali. A estrela o convidava para seguir adiante na sua busca pelo menino Jesus.
Depois de vários dias, a estrela conduziu-o por uma cidade. Ao entrar na cidade, ele encontrou um cortejo fúnebre vinha ao seu encontro. Atrás do esquife seguia uma mulher com seus filhos. Uma expressão inconsolável marcava o rosto dela, e as crianças agarravam-se desesperadamente à mãe. O rei desceu do cavalo, porque reconhecia que não apenas a tristeza pelo falecimento causava tanta dor. Soube então que o pai estava sendo levado à sepultura e, depois disso, a mãe e os filhos seriam vendidos como escravos, para pagar as dívidas do falecido. O jovem rei ficou muito comovido e por isso tirou a segunda pedra preciosa da algibeira. Sobre a palma de sua mão o sol a fazia brilhar e reluzir. Ela era destinada ao rei recém-nascido. Mas, o jovem rei a colocou na mão da viúva e disse: Paguem as suas dívidas e, com o que sobrar, construam um novo lar!, Depois subiu no seu cavalo e voltar a seguir a estrela.
Depois de vários dias ele atravessou um país estranho. Havia guerra ali: dor, miséria e sangue cobriam a terra. Numa aldeia, os agricultores tinham sido ajuntados para serem executados pelos soldados invasores. O jovem rei ficou aterrorizado. Restava-lhe apenas um diamante. Esta desgraça era tão terrível que ele, com mãos trêmulas, entregou seu último diamante para resgatar as pessoas e a aldeia da destruição, do abuso e da morte.
Cansado e triste, seguiu seu caminho. A estrela tinha se apagado. Por muito tempo, continuou procurando pelo menino Jesus, mas nunca o encontrou. Uma profunda tristeza abateu-se sobre ele. Será que tinha sido infiel à sua vocação? Será que a estrela se apagou porque ele não tinha mais nenhum diamante para oferecer ao menino Jesus? O medo de nunca mais poder encontrar a Jesus corroía o seu coração. E assim peregrinou por anos. Ele já andava a pé, pois tinha doado também seu cavalo.
Certo dia, no porto de uma grande cidade, ele chegou no exato momento em que um pai estava sendo arrancado da esposa e dos filhos para ser levado como escravo a um navio de condenados, uma galé. O jovem rei intercedeu por aquele homem. Contudo, como nada adiantasse, ele ofereceu a si mesmo como escravo para que aquele pai ficasse livre. Como o jovem rei parecia muito mais saudável e forte que aquele pai de família, o dono do navio aceitou a troca.
As batidas surdas ecoavam pelo navio, marcando o ritmo das remadas. Acorrentado ao banco dos condenados, em caso de tempestade ou luta, ele com certeza morreria. Tinha agido de forma absurda? Que loucura foi essa que ele cometeu? Nesse momento de dúvidas e angústias que endureciam o seu coração, certa noite – no meio do mar – ele olhou para o céu e viu que aquela que ele tinha perdido a anos atrás voltou a brilhar. E então ele teve a certeza que ele ainda estava no caminho correto para encontrar-se com Jesus. Consolado, tomou o remo. Esqueceu-se de contar os anos. Um dia, aconteceu o que ele jamais tinha esperado: deram-lhe a liberdade. Numa praia desconhecida, desceu do navio. Um pescador o hospedou durante a noite.
Naquela noite, ele sonhou. Uma voz lhe dizia: Apressa-te! Na mesma hora, ele se pôs a caminho. E – que milagre – a estrela reluziu diante dele. Seu brilho era vermelho como o pôr-do-sol.
Apressou-se e chegou às portas de uma grande cidade. Nas ruas havia um alvoroço barulhento. Grupos de pessoas agitadas eram dispersados à força. E muitos saíam fugiam daquele tumulto. A multidão o arrastou, ele nem sabia o que estava acontecendo. Um medo profundo angustiava seu peito. Com muito esforço ele conseguiu subir num pequeno muro. Ao longe ele conseguiu ver que um grupo de soldados romanos estavam erguendo três troncos, três cruzes. Que era aquilo?
A estrela que devia conduzi-lo ao rei da humanidade parou sobre a cruz do meio, reluziu mais uma vez e se apagou. Ele foi ao encontro daquele homem pendurado na cruz do meio. Toda a dor, todo o sofrimento do mundo ardia naqueles olhos, mas também transpirava de sua pessoa toda a bondade, todo o amor e uma misericórdia infinita. As palmas de suas mãos, perfuradas por pregos, estavam retorcidas, no entanto, parecia que raios de luz saíam dessas mãos.
Subitamente, o jovem rei teve a certeza: Este é o rei da humanidade, é Jesus, o salvador do mundo, pelo qual ele procurou a sua vida inteira. Mas, o que ele tinha a oferecer? Estendeu suas mãos vazias ao Senhor. Então três gotas de sangue caíram em suas mãos. Elas se transformaram em três diamantes. Neste momento, um grito ecoou pelos ares. Jesus inclinou a cabeça e expirou.
Essa história nos quer perguntar; Quais são as joias que você tem para oferecer a Jesus. Certamente não são diamantes, mas temos outras joias a oferecer ao nosso próximo: nossa AMIZADE, nosso AMOR, nossa SOLIDARIEDADE. É assim que encontramos a Deus.
Amém.
Oração
Ó Deus, Deus único, Deus de todos os nomes com que os homens de todos os tempos vos buscaram. Vós que vos fizestes buscar por todos os povos e a todos eles também saístes ao encontro em sua própria vida espiritual, em sua própria religião, concedei-nos abertura de coração para sentir vossa presença integral em todas as religiões da Terra. Vós que viveis e dais vida, e dialogais com todos os povos, agora e desde sempre, pelos séculos dos séculos. Amém.
Deus de Muitos Nomes – (Milton Schwantes e Elaine Neuenfeldt)
Deus de muitos nomes vem e caminha conosco, para que possamos caminhar em tua graça e paz. Enche-nos de esperança para que possamos romper as barreiras.
Inspira-nos em nossa caminhada ecumênica, tornando possível o encontro e o diálogo. Envia Teu Espírito para nos fortalecer em nosso compromisso profético de proclamar libertação.
Que Teu Espírito seja uma suave brisa quando necessitamos consolo e segurança, mas que seja vento forte quando estivermos demasiadamente acomodados e devamos falar com firmeza.
Que Tua paz vivificadora entre em nossos corpos expresse em ações de paz entre as pessoas, entre as igrejas e religiões e entre as nações.
Que Tua graça, que transforma o mundo, nos inspire a unir nossas mãos e a declarar a liberdade que teu amor nos dá
Derrama, Senhor, as Tuas bênçãos sobre nós em nosso caminhar anunciando a boa nova da justiça, do serviço e da aceitação. Amém.