Nesta época do ano, quando alguém apara o gramado de seu quintal, vai perceber que, em poucos dias, a grama já apresentará sinais de crescimento. Se a pessoa quiser mantê-lo bonito e saudável, logo terá de novamente fazer um esforço. Quanto mais deixar o gramado crescer, permitindo que o mato e as ervas daninhas também se desenvolvam, terá mais trabalho para deixá-lo em bom estado. Não tem como ignorar ou cruzar os braços… Isto é parecido com a vida cristã. Constantemente, com a ajuda de Deus, precisamos aparar nosso “gramado” espiritual e arrancar o “mato” que cresce. Se relaxarmos, nosso caráter, nosso agir e nosso falar sofrem os prejuízos do domínio das obras da carne. Por outro lado, quando o fruto do ES é mais vistoso em nossas vidas, nosso gramado espiritual estará mais saudável (confira Gálatas 5.19-23).
Na Bíblia, o Antigo Testamento descreve os reis que governaram Judá e Israel. Entre estes, fala de um que começou a reinar com apenas 8 anos: Josias. A ele coube a tarefa de, com a ajuda de Deus, aparar o gramado espiritual do seu povo:
1Josias tinha oito anos de idade quando começou a reinar, e reinou trinta e um anos em Jerusalém. O nome de sua mãe era Jedida, filha de Adaías; ela era de Bozcate. 2Ele fez o que o Senhor aprova e andou nos caminhos de Davi, seu predecessor, sem desviar-se nem para a direita nem para a esquerda (2º Reis 22.1-2).
Josias era bisneto de Ezequias, rei temente ao Senhor. O avô de Josias, Manassés, porém, saiu totalmente ao contrário. Foi um dos piores reis: idólatra, assassino, sacrificou um de seus filhos. O pai de Josias, Amom, continuou esta triste história. Mas ela foi breve, pois Amom foi morto por seus oficiais e só reinou por dois anos. Por isso, tão cedo Josias foi proclamado rei. Mais interessante, porém, que sua pouquíssima idade, foi o testemunho póstumo a seu respeito: “Josias fez o que agrada a Deus, o Senhor; ele seguiu o exemplo do seu antepassado, o rei Davi, e não se desviou nem para um lado nem para o outro”. Se seu pai foi um “zero à esquerda”, parece que sua mãe Jedida foi uma ótima referência e influência na vida do filho.
O gramado espiritual de Judá (Reino do Sul) e Israel (o que tinha sobrado do Reino do Norte, destruído mais de 60 anos antes pelos assírios) ficou infestado de mato e ervas daninhas: idolatria, sincretismo religioso, sacrifícios de crianças a Moloque – deus dos amonitas, feitiçarias, superstições, espiritismo, injustiça social, assassinato de inocentes, imoralidade sexual, entre outros. Aos 16 anos, Josias chegou à fé e aos 20 começou a aparar o gramado espiritual do país, ao iniciar a derrubada de altares pagãos (confira 2º Crônicas 34.3). Aos 26, mandou que o templo de Jerusalém fosse purificado (símbolos pagãos foram acrescentados pelo seu avô) e reformado. Em algum lugar da construção, achou-se uma cópia muita antiga de, possivelmente, Deuteronômio (confira 2º Reis 22.3 e seguintes). Teria alguém a escondido para preservar da maldade de Manassés? Seja como for, ao ouvir a leitura da Palavra de Deus, Josias se entristeceu ao perceber a gravidade dos pecados da nação. Quando a profetisa Hulda é consultada, dá uma palavra ao rei de que ele seria poupado da destruição de Jerusalém e de Judá (confira 2º Reis 22.14-20).
Como Josias reagiu a esta profecia? Acomodou-se? Não! Vejamos o que aconteceu:
a) 2º Reis 23.1-3: Então o rei convocou todas as autoridades de Judá e de Jerusalém.
Depois o rei subiu ao templo do Senhor acompanhado por todos os homens de Judá, todo o povo de Jerusalém, os sacerdotes e os profetas; todo o povo, dos mais simples aos mais importantes. Para todos o rei leu em voz alta todas as palavras do Livro da Aliança, que havia sido encontrado no templo do Senhor.
O rei colocou-se junto à coluna real e, na presença do Senhor, fez uma aliança, comprometendo-se a seguir o Senhor e obedecer de todo o coração e de toda a alma aos seus mandamentos, seus preceitos e seus decretos, confirmando assim as palavras da aliança escritas naquele livro. Então todo o povo se comprometeu com a aliança.
Houve a leitura pública de Deuteronômio (?) e uma aliança solene com Deus.
b) 4-14: O rei deu ordens ao sumo sacerdote Hilquias, aos sacerdotes auxiliares e aos guardas das portas que retirassem do templo do Senhor todos os utensílios feitos para Baal e Aserá e para todos os exércitos celestes. Ele os queimou fora de Jerusalém, nos campos do vale de Cedrom e levou as cinzas para Betel.
E eliminou os sacerdotes pagãos nomeados pelos reis de Judá para queimar incenso nos altares idólatras das cidades de Judá e dos arredores de Jerusalém, aqueles que queimavam incenso a Baal, ao sol e à lua, às constelações e a todos os exércitos celestes.
Também mandou levar o poste sagrado do templo do Senhor para o vale de Cedrom, fora de Jerusalém, para ser queimado e reduzido a cinzas, que foram espalhadas sobre os túmulos de um cemitério público.
Também derrubou as acomodações dos prostitutos cultuais, que ficavam no templo do Senhor, onde as mulheres teciam para Aserá.
Josias trouxe todos os sacerdotes das cidades de Judá e, desde Geba até Berseba, profanou os altares onde os sacerdotes haviam queimado incenso. Derrubou os altares idólatras junto às portas, inclusive o altar da entrada da porta de Josué, o governador da cidade, que fica à esquerda da porta da cidade.
Embora os sacerdotes dos altares não servissem no altar do Senhor em Jerusalém, comiam pães sem fermento junto com os sacerdotes, seus colegas.
Também profanou Tofete, que ficava no vale de Ben-Hinom, de modo que ninguém mais pudesse usá-lo para queimar seu filho ou filha em sacrifício a Moloque.
Acabou com os cavalos que os reis de Judá tinham consagrado ao sol. Estavam na entrada do templo do Senhor perto da sala de um oficial chamado Natã-Meleque. Também queimou as carruagens consagradas ao sol.
Derrubou os altares que os seus antecessores haviam erguido no terraço, em cima do quarto superior de Acaz, e os altares que Manassés havia construído nos dois pátios do templo do Senhor. Retirou-os dali, despedaçou-os e atirou o entulho no vale de Cedrom.
O rei também profanou os altares que ficavam a leste de Jerusalém no sul do monte da Destruição, os quais Salomão, rei de Israel, havia construído para o poste sagrado, a detestável deusa dos sidônios, para Camos, o detestável deus de Moabe, e para Moloque, o detestável deus do povo de Amom.
Josias despedaçou as colunas sagradas, derrubou os postes sagrados e cobriu os locais com ossos humanos.
O corte do gramado espiritual e a remoção das ervas daninhas começou pelos locais públicos de Jerusalém. O vale de Ben-Hinom (ali se sacrificavam crianças) virou o lixão da cidade, onde lixo era continuamente queimado.
c) 15-20: Até o altar de Betel, o altar idólatra edificado por Jeroboão, filho de Nebate, que levou Israel a pecar; até aquele altar e o seu santuário, ele os demoliu. Queimou o santuário e o reduziu a pó, queimando também o poste sagrado.
Quando Josias olhou em volta e, viu os túmulos que havia na encosta da colina, mandou retirar os ossos dos túmulos e queimá-los no altar a fim de contaminá-lo, conforme a palavra do Senhor proclamada pelo homem de Deus que predisse essas coisas.
O rei perguntou: Que monumento é este que estou vendo? Os homens da cidade disseram: É o túmulo do homem de Deus que veio de Judá e proclamou estas coisas que tu fizeste ao altar de Betel.
Então ele disse: Deixem-no em paz. Ninguém toque nos seus ossos. Assim pouparam seus ossos bem como os do profeta que tinha vindo de Samaria.
Como havia feito em Betel, Josias tirou e profanou todos os santuários idólatras que os reis de Israel haviam construído nas cidades de Samaria e que provocaram o Senhor à ira.
Josias também mandou sacrificar todos os sacerdotes daqueles altares idólatras e queimou ossos humanos sobre os altares. Depois voltou a Jerusalém.
Os atos de purificação religiosa se estendem por Judá e no antigo Reino do Norte. Além da destruição e queima de objetos e símbolos pagãos, também se matou os sacerdotes destes cultos. Para garantir que não mais seriam usados aqueles lugares, se queimava ossos humanos ali (tornando o local permanentemente impuro). Isto o que Josias faria já havia sido profetizado uns 300 anos antes (confira 1º Reis 13.2 e seguintes). As sepulturas do profeta de Judá e do outro, de Samaria, que na ocaisão o enganou, não foram violadas.
d) 21-23: Então o rei deu a seguinte ordem a todo o povo: Celebrem a Páscoa ao Senhor seu Deus, conforme está escrito neste livro da Aliança.
Nem nos dias dos juízes que lideraram Israel, nem durante todos os dias dos reis de Israel e dos reis de Judá, foi celebrada uma Páscoa como esta.
Mas no décimo oitavo ano do reinado de Josias, esta Páscoa foi celebrada ao Senhor em Jerusalém.
Acabou a negligência à celebração da Páscoa. O testemunho foi que em séculos jamais havia sido celebrada de modo tão reverente e festivo.
e) 24-30: Além disso, Josias eliminou os médiuns, os espíritas, os ídolos da família, os ídolos e todas as outras coisas repugnantes que havia em Judá e em Jerusalém. Ele fez isto para cumprir as exigências da lei escritas no livro que o sacerdote Hilquias havia descoberto no templo do Senhor.
Nem antes nem depois de Josias houve um rei como ele, que se voltasse para o Senhor de todo o coração, de toda a alma e de todas as suas forças, de acordo com toda a Lei de Moisés.
Entretanto, o Senhor não voltou atrás do fogo de sua grande ira, que se acendeu contra Judá por causa de tudo o que Manassés fizera para provocá-lo à ira.
Por isso o Senhor disse: Também retirarei Judá da minha presença, tal como retirei de Israel, e rejeitarei Jerusalém, a cidade que escolhi, e este templo, do qual eu disse: ‘Ali porei o meu nome’ .
Os demais acontecimentos do reinado de Josias e todas as suas realizações, estão escritos no livro dos registros históricos dos reis de Judá.
Durante o seu reinado, o faraó Neco, rei do Egito, avançou até o rio Eufrates ao encontro do rei da Assíria. O rei Josias marchou para combatê-lo, mas o faraó Neco o enfrentou e o matou em Megido.
Os oficiais de Josias levaram o seu corpo de Megido para Jerusalém, e o sepultaram em seu próprio túmulo. O povo tomou Jeoacaz, filho de Josias, ungiu-o e o proclamou como rei no lugar de seu pai.
O corte e limpeza do gramado espiritual de Judá e Israel chegou aos lares. Incluiu também acabar com todo culto a outras divindades, bem como feitiçaria, espiritismo e superstição. Mais um bom testemunho de Josias é lembrado (cumpriu à risca Deuteronômio 6.5: amar a Deus de todas as forças, entendimento, alma e coração). Embora isso tivesse acontecido, o povo sofreria as consequências dos seus pecados. Mesmo os filhos de Josias, que reinaram depois de sua morte, não seguiram os caminhos do Senhor (confira 1o Reis 23.31-37). Vinte anos mais tarde, a Babilônia invadiria Judá e levaria parte da população para o exílio. Josias não viu, pois foi morto num confronto fútil com o exército do faraó Neco.
Nós somos como aquele povo. Também o nosso gramado espiritual necessita de constantes cuidados. Se o mato e as ervas daninhas do pecado tomam conta, sufocarão a boa semente do Evangelho que foi lançada em nós e germinou pela ação do ES (confira Mateus 13.1-8). O que acontecerá? O amor a Jesus vai se esfriando. A autoridade da Bíblia sobre nossas vidas vai se perdendo. O conformismo com as situações de pecado (“todo mundo faz”, “tem coisa pior”, “isso não é mais errado”) pode abafar a voz do Espírito Santo em nós. Nossas palavras, ações e atitudes não mais farão diferença em meio a violência, desigualdade e injustiça na sociedade. Corremos o risco de perder a salvação conquistada por Cristo mediante o derramamento do seu sangue.
Então, como está o gramado da sua vida espiritual? Saudável e em bom estado? Você tem continuamente, com a ajuda de Deus, aparado a grama e arrancado mato e ervas daninhas? Ou ele está mal cuidado? Você relaxou e o deixou de qualquer jeito? Mas há esperança: por mais trabalho que dê, Deus é misericordioso em perdoar e ajudar a reverter a situação! Ele ama seus filhos(as). Assim, quem crê em Jesus começou o corte e limpeza do seu gramado espiritual. Isto é contínuo..
Estamos em plena Quaresma. É tempo também de refletir a respeito e fazer o que é da vontade de Deus. Pense nisso…