1. Fundamentação
O que diz a Confissão de Augsburgo sobre confessionalidade:
(…) há uma só essência divina, que é chamada Deus e verdadeiramente é Deus. E todavia há três pessoas nesta única essência divina, igualmente poderosas, igualmente eternas, Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, todas três uma única essência divina, eterna, indivisa, infinita, de incomensurável poder, sabedoria e bondade, um só criador e conservador de todas as coisas visíveis e invisíveis. E com a palavra persona se entende não uma parte, não uma propriedade em outro, mas aquilo que subsiste por si mesmo, conforme os Pais usaram esse termo nessa questão.
(…) depois da queda de Adão todos os homens naturalmente nascidos são concebidos e nascidos em pecado, isto é, que desde o ventre materno todos estão plenos de concupiscência e inclinação más, e por natureza não podem ter verdadeiro temor de Deus e verdadeira fé em Deus. Também, que essa inata pestilência e pecado hereditário verdadeiramente é pecado e condena à eterna ira de Deus a quantos não renascem pelo batismo e pelo Espírito Santo.
(…) Deus Filho se fez homem, nascido da pura Virgem Maria, e que as duas naturezas, a divina e a humana, inseparavelmente unidas em uma única pessoa, são um só Cristo, que é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que verdadeiramente nasceu, padeceu, foi crucificado, morreu e foi sepultado, a fim de ser oblação não só pelo pecado hereditário, mas ainda por todos os outros pecados, e para aplacar a ira de Deus. Ensina-se, outrossim, que o mesmo Cristo desceu ao inferno, no terceiro dia ressurgiu verdadeiramente dos mortos, subiu ao céu e está sentado à destra de Deus, para dominar eternamente sobre todas as criaturas e governá-las, a fim de santificar, purificar, fortalecer e consolar, pelo Espírito Santo, a quantos nele crêem, dar-lhes também vida e toda sorte de dons e bens, e proteger e defendê-los contra o diabo e o pecado. Também se ensina que o mesmo Cristo Senhor, conforme o Symbolum Apostolorum, no fim virá visivelmente, para julgar os vivos e os mortos. etc.
(…) não podemos alcançar remissão do pecado e justiça diante de Deus por mérito, obra e satisfação nossos, porém que recebemos remissão do pecado e nos tornamos justos diante de Deus pela graça, por causa de Cristo, mediante a fé, quando cremos que Cristo padeceu por nós e que por sua causa os pecados nos são perdoados e nos são dadas justiça e vida eterna. Pois Deus quer considerar e atribuir essa fé como justiça diante de si, conforme diz São Paulo em Romanos 3 e 4.
(…) Para conseguirmos essa fé, instituiu Deus o ofício da pregação, dando-nos o evangelho e os sacramentos, pelos quais, como por meios, dá o Espírito Santo, que opera a fé, onde e quando lhe apraz, naqueles que ouvem o evangelho, o qual ensina que temos, pelos méritos de Cristo, não pelos nossos, um Deus gracioso, se o cremos.
(…) essa fé deve produzir bons frutos e boas obras, e que, por amor de Deus, se deve praticar toda sorte de boas obras por ele ordenadas, não se devendo, porém, confiar nessas obras, como se por elas se merecesse graça diante de Deus. Pois é pela fé em Cristo que recebemos perdão dos pecados e justiça, como diz o próprio Cristo: “Depois de haverdes feito tudo isso, deveis dizer: Somos servos inúteis.” Assim também ensinam os Pais. Pois Ambrósio diz: “Assim está estabelecido por Deus que aquele que crê em Cristo é salvo, e tem a remissão dos pecados não por obras, mas pela fé somente, sem mérito”.
(…) haverá e permanecerá uma única santa igreja cristã, que é a congregação de todos os crentes, entre os quais o evangelho é pregado puramente e os santos sacramentos são administrados de acordo com o evangelho.
Porque para a verdadeira unidade da igreja cristã é suficiente que o evangelho seja pregado unanimemente de acordo com a reta compreensão dele e os sacramentos sejam administrados em conformidade com a palavra de Deus. E para a verdadeira unidade da igreja cristã não é necessário que em toda a parte se observem cerimônias uniformes instituídas pelos homens. É como diz Paulo em Efésios 4: “Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo.”
(…) a igreja cristã, propriamente falando, outra coisa não é senão a congregação de todos os crentes e santos (…).
(…) Do batismo se ensina que é necessário e que por ele se oferece graça; que também se devem batizar crianças, as quais, pelo batismo, são entregues a Deus e a ele se tornam agradáveis. Por essa razão se rejeitam os anabatistas, os quais ensinam que o batismo infantil não é correto.
(…) Da confissão se ensina que se deve conservar a privata absolutio,33 não a deixando cair em desuso na igreja, ainda que na confissão é desnecessário enumerar todos os maus feitos e pecados, porque tal nem é possível. Salmo 18: “Quem conhece os delitos?”34
(…) Do arrependimento se ensina que os que pecaram depois do batismo, recebem perdão dos pecados a qualquer tempo em que cheguem ao arrependimento, não lhes devendo a igreja negar a absolvição. Agora, arrependimento verdadeiro, autêntico, propriamente outra coisa não é que sentir contrição e pesar ou terror por causa do pecado e todavia crer ao mesmo tempo no evangelho e na absolvição, isto é, crer que o pecado foi perdoado e que por Cristo foi obtida a graça, fé essa que volta a consolar e serenar o coração. Deve seguir-se a melhora de vida e o abandono do pecado; pois esses devem ser os frutos do arrependimento, como diz João Mt 3: “Produzi, pois, fruto digno do arrependimento.”
(…) Com respeito ao uso dos sacramentos se ensina que foram instituídos não somente para serem sinais por que se possam conhecer exteriormente os cristãos, mas para serem sinais e testemunhos da vontade divina para conosco, com o fim de que por eles se desperte e fortaleça a nossa fé. Essa também a razão por que exigem fé, sendo usados corretamente quando a gente os recebe em fé e com isso fortalece a fé.
(…) Da ordem eclesiástica se ensina que sem chamado regular, ninguém deve publicamente ensinar ou pregar ou administrar os sacramentos na igreja.
(…) Das ordenações eclesiásticas estabelecidas por homens se ensina observar aquelas que possam ser observadas sem pecado e contribuam para a paz e a boa ordem na igreja, como, por exemplo, certos dias santos, festas e coisas semelhantes. Esclarecemos, porém, que não se devem onerar as consciências com essa coisas, como se fossem necessárias para a salvação. Ensina-se, ademais, que todas as ordenanças e tradições feitas pelo homem com o propósito de por elas reconciliar-se a Deus e merecer graça são contrárias ao evangelho e à doutrina da fé em Cristo. Razão por que votos monásticos e outras tradições concernentes a distinção de alimentos, dias, etc. pelas quais se pensa merecer graça e satisfazer por pecados, são inúteis e contrários ao evangelho.
(…) Da ordem política e do governo civil se ensina que toda autoridade no mundo e todos os governos e leis ordenados são ordenações boas, criadas e instituídas por Deus, e que cristãos podem, sem pecado, ocupar o cargo de autoridade, de príncipe e de juiz, proferir sentença e julgar segundo as leis imperiais e outras leis em vigor, punir malfeitores com a espada, fazer guerras justas, combater, comprar e vender, fazer juramentos requeridos, possuir propriedade, casar, etc.
(…) Condenam-se, outrossim, aqueles que ensinam ser perfeição cristã abandonar fisicamente casa e lar, mulher e filhos, e renunciar as coisas citadas, quando o fato é que apenas verdadeiro temor de Deus e verdadeira fé constituem a perfeição autêntica. Pois o evangelho não ensina uma forma de vida e justiça exteriores, temporais, senão uma interior e eterna vida e justiça do coração, e não abole o governo civil, a ordem política e o casamento, querendo, ao contrário, que se guarde tudo isso como genuína ordem divina e que cada qual, de acordo com sua vocação, mostre, em tais ordenações, amor cristão e obras verdadeiramente boas. Por isso os cristãos têm o dever de estar sujeitos à autoridade e de obedecer-lhe aos mandamentos e leis em tudo o que não envolva pecado. Porque se não é possível obedecer à ordem da autoridade sem pecar, mais importa obedecer a Deus do que aos homens. Atos 5.
(…) Também se ensina que nosso Senhor Jesus Cristo voltará no último dia para julgar, e que ressuscitará todos os mortos, dará aos crentes e eleitos vida e alegria eternas, porém condenará os homens ímpios e os demônios ao inferno e castigo eterno.
(…) Quanto ao livre arbítrio se ensina que o homem tem até certo ponto livre arbítrio para viver exteriormente de maneira honesta e escolher entre aquelas coisas que a razão compreende. Todavia, sem a graça, o auxílio e a operação do Espírito Santo o homem é incapaz de ser agradável a Deus, temê-lo de coração, ou crer, ou expulsar do coração as más concupiscências inatas. Isso, ao contrário, é feito pelo Espírito Santo, que é dado pela palavra de Deus. Pois Paulo diz em 1 Coríntios 2: “O homem natural nada entende do Espírito de Deus”.
E para que se possa reconhecer que nisso não se ensina novidade, eis aí as claras palavras de Agostinho a respeito do livre arbítrio, aqui citadas do livro III do Hypognosticon: “Confessamos que em todos os homens há um livre arbítrio, pois todos têm entendimento e razão naturais, inatos. Não no sentido de que sejam capazes de algo no que concerne a Deus, como, por exemplo, amar e temer a Deus de coração. Somente em obras externas desta vida têm liberdade para escolher coisas boas ou más. Por obras boas entendo as de que é capaz a natureza, tais como trabalhar ou não no campo, comer, beber, visitar ou não um amigo, vestir-se ou despir-se, edificar, tomar esposa, dedicar-se a um ofício ou fazer alguma outra coisa proveitosa e boa. Tudo isso, entretanto, não é nem subsiste sem Deus; ao contrário: dele e por ele são todas as coisas. Por outro lado pode o homem também praticar por escolha própria o mal, como, por exemplo, ajoelhar-se diante de um ídolo, cometer homicídio, etc.”
(…) Com respeito à causa do pecado ensina-se entre nós que, embora o Deus onipotente haja criado a natureza toda e a conserve, todavia é a vontade pervertida que opera o pecado em todos os maus e desprezadores de Deus. Pois esta é a vontade do diabo e de todos os ímpios, a qual, tão logo Deus retraiu a mão, desviou-se de Deus para o mal, conforme diz Cristo João 8: “Quando o diabo profere a mentira, fala do que lhe é próprio.”
(…) Visto, pois, que a doutrina da fé, que é o artigo principal no cristianismo, foi negligenciada por tempo tão longo, como é forçoso confessar, havendo-se pregado apenas doutrina de obras por toda a parte, os nossos deram a seguinte instrução a respeito:
Em primeiro lugar, que nossas obras não nos podem reconciliar com Deus e obter graça; isso, ao contrário, sucede apenas pela fé, quando cremos que os pecados nos são perdoados por amor de Cristo, o qual, ele só, é o mediador que pode reconciliar o Pai. Agora, quem pensa realizar isso mediante obras e imagina merecer a graça, esse despreza a Cristo e procura seu próprio caminho a Deus, contrariamente ao evangelho.
Essa doutrina com respeito à fé é tratada aberta e claramente por Paulo em muitas passagens, de modo especial em Efésios 2: “Pela graça fostes salvos, mediante a fé; e isso não vem de vós, porém é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie, etc.”
E que aqui não se introduziu interpretação nova é coisa que se pode provar com Agostinho, que trata essa questão diligentemente e também ensina assim, a saber, que alcançamos a graça e nos tornamos justos diante de Deus por intermédio da fé em Cristo e não por obras, conforme mostra todo o seu livro De spiritu et litera.
Conquanto essa doutrina seja muito desprezada entre pessoas não experimentadas, verifica-se, todavia, que é muito consoladora e salutar para as consciências tímidas e apavoradas. Porque a consciência não pode alcançar descanso e paz mediante obras, porém somente pela fé, quando chega à segura conclusão pessoal de que por amor de Cristo possui um Deus gracioso, conforme também diz Paulo Romanos 5: “Justificados mediante a fé, temos descanso e paz com Deus”.
(…) Dá-se, outrossim, instrução para mostrar que aqui não se fala da fé possuída também pelos demônios e os ímpios, os quais também creem os relatos que contam haver Cristo padecido e que ressuscitou de entre os mortos; fala-se, ao contrário, da fé verdadeira, que crê alcançarmos por Cristo a graça e a remissão dos pecados.
Aquele que sabe que por Cristo possui um Deus gracioso, esse conhece a Deus, o invoca, e não está sem Deus, como os gentios. Porque demônios e ímpios não creem nesse artigo da remissão dos pecados. Por isso é que são inimigos de Deus, não o podem invocar, e nada de bom podem esperar dele. A Escritura fala sobre a fé no sentido que acabamos de indicar, e não entende por fé um conhecimento que demônios e homens ímpios têm. Pois em Hebreus 11 ensina-se, com respeito à fé, que crer não é apenas conhecer a história, mas ter confiança em Deus e receber sua promessa. E Agostinho também nos lembra que devemos entender a palavra “fé”, na Escritura, como significando confiança em Deus de que nos é clemente, não apenas conhecer tais notícias históricas que também os demônios conhecem.
(…) boas obras devem e têm de ser feitas, não para que nelas se confie a fim de merecer graça, mas por amor de Deus e em seu louvor. Sempre é a fé somente que apreende a graça e o perdão dos pecados. E visto que pela fé é dado o Espírito Santo, o coração também se torna apto para praticar boas obras. Porque antes, enquanto está sem o Espírito Santo, é demasiadamente fraco. Além disso, está no poder do diabo, que impele a pobre natureza humana a muitos pecados, como vemos nos filósofos que se lançaram à empresa de viver vida honesta e irrepreensível e contudo não conseguiram realizá-lo, porém caíram em muitos pecados graves e manifestos. É o que acontece ao homem quando está sem a fé verdadeira e sem o Espírito Santo e se governa apenas pela própria força humana.
Por isso não se deve fazer a essa doutrina concernente à fé a censura de que proíbe boas obras; antes de ser louvada por ensinar que se façam boas obras e oferecer auxílio quanto a como se possa chegar a praticá-las. Pois que sem a fé e sem Cristo a natureza e capacidade humanas são por demais frágeis para praticar boas obras, invocar a Deus, ter paciência no sofrimento, amar o próximo, exercer com diligência ofícios ordenados, ser obediente, evitar maus desejos, etc. Tais obras elevadas e autênticas não podem ser feitas sem o auxílio de Cristo, conforme ele mesmo diz em João 15: “Sem mim nada podeis fazer.”
(…) Do culto aos santos os nossos ensinam que devemos lembrar-nos deles, para fortalecer a nossa fé ao vermos como receberam graça e foram ajudados pela fé; e, além disso, a fim de que tomemos exemplo de suas boas obras, cada qual de acordo com sua vocação, (…) Entretanto, não se pode provar pela Escritura que se devem invocar os santos ou procurar auxílio junto a eles. “Porquanto há um só reconciliador e mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo,” 1 Timóteo 2, o qual é o único Salvador, o único Sumo Sacerdote, Propiciatório e Advogado diante de Deus Romanos 8. E somente ele prometeu que quer atender a nossa prece. E buscar e invocar de coração a esse Jesus Cristo em todas as necessidades e preocupações também é o culto divino mais elevado segundo a Escritura: “Se alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo, etc.”
Esta é, aproximadamente, a suma da doutrina que é pregada e ensinada em nossas igrejas, para correta instrução cristã e consolo das consciências, e para melhora dos crentes. Pois que de modo nenhum vamos querer pôr as nossas próprias almas e consciências diante de Deus no mais sério, no maior dos perigos, mediante abuso do nome ou da palavra de Deus, nem deixar ou herdar aos nossos filhos e descendentes doutrina diversa da que concorda com a palavra pura, divina, e com a verdade cristã. Visto, pois, que essa doutrina se fundamenta claramente na Sagrada Escritura, e além disso não é contrária nem se opõe à igreja cristã universal, e, na verdade, tampouco à Igreja Romana, quanto se pode coligir dos escritos dos Pais, pensamos também que os nossos oponentes não podem estar em desacordo conosco nos artigos acima indicados.
Confissão de Augsburgo – 1530
Texto completo da Confissão
O que diz o Credo Apostólico sobre Confessionalidade:
Creio em Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra. E em Jesus Cristo, seu Filho unigênito, nosso Senhor, o qual foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da virgem Maria, padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu ao mundo dos mortos, ressuscitou no terceiro dia, subiu ao céu, e está sentado à direita de Deus Pai, todo-poderoso, de onde virá para julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na santa Igreja cristã, a comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição do corpo e na vida eterna.
O que diz o Catecismo Menor a cerca do texto do Credo Apostólico:
Creio que Deus me criou junto com todas as criaturas, e me deu corpo e alma, olhos, ouvidos e todos os membros, inteligência e todos os sentidos, e ainda os conserva;
além disto, me dá roupa, calçado, comida e bebida, casa e lar, família, terra, trabalho e todos os bens.
Concede cada dia tudo de que preciso para o corpo e a vida; protege-me de todos os perigos e guarda-me de todo o mal.
E faz tudo isso unicamente por ser meu Deus e Pai bondoso e misericordioso, sem que eu mereça ou seja digno.
Por tudo isso devo dar-lhe graças e louvor, servi-lo e obedecer-lhe.
Isto é certamente verdade.
(…) Creio que Jesus Cristo, verdadeiro Deus, gerado do Pai desde a eternidade, e também verdadeiro ser humano, nascido da virgem Maria, é meu Senhor.
Ele perdoou a mim, pessoa perdida e condenada, e me libertou de todos os pecados, da morte e do poder do diabo. Fez isto não com dinheiro, mas com seu santo e precioso sangue e sua inocente paixão e morte. Fez isto para que eu lhe pertença, seja obediente a ele em seu reino e lhe sirva em eterna justiça, inocência e felicidade, assim como ele ressuscitou da morte, vive e governa eternamente.
Isto é certamente verdade.
(…) Creio que, por minha própria inteligência ou capacidade, não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem chegar a ele.
Mas o Espírito Santo me chamou pelo Evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé.
Assim também chama, reúne, ilumina e santifica toda a Igreja na terra, e em Jesus Cristo a conserva na verdadeira e única fé. Nesta Igreja ele perdoa, cada dia e plenamente, todos os pecados a mim e a todas as pessoas que creem. E, no último dia, ressuscitará a mim e a todos os mortos e dará a vida eterna a mim e a todas as pessoas que creem em Cristo.
Isto é certamente verdade.
Catecismo Menor de Martim Lutero
Texto completo do Catecismo
O que diz a Constituição da IECLB sobre confessionalidade:
A IECLB tem como fundamento o Evangelho de Jesus Cristo, pelo qual, na forma das Sagradas Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos, confessa sua fé no Senhor da una, santa, universal e apostólica Igreja. Os credos da Igreja Antiga, a Confissão de Augsburgo (“Confessio Augustana”) inalterada e o Catecismo Menor de Martim Lutero constituem expressão da fé confessada pela IECLB. A natureza ecumênica da IECLB se expressa pelo vínculo de fé com as igrejas no mundo que confessam Jesus Cristo como único Senhor e Salvador.
Constituição da IECLB (art. 5º)
Texto completo da Constituição
O que diz o Guia Nossa Fé – Nossa Vida sobre confessionalidade:
Cremos que Deus cria a nós, o universo e tudo que nele existe; cremos que somos sua propriedade.
Cremos que Deus nos salva por Jesus Cristo. Pelo seu poder ele nos liberta do campo de força do pecado.
Cremos que Deus nos santifica pelo Espírito Santo. Ele nos faz renascer para uma nova vida e nos torna seus discípulos e suas discípulas.
Guia Nossa Fé – Nossa Vida
Texto completo do Guia
O que diz o Regimento Interno da IECLB sobre confessionalidade:
Como parte da universal, una, santa e apostólica Igreja cristã na terra, a Comunidade congrega os membros da Igreja de Jesus Cristo, através da participação fraterna nesse corpo universal, em comunhão com as demais Comunidades filiadas à IECLB, através do reconhecimento de que seu fundamento de fé é o Evangelho de Jesus Cristo, na forma das Sagradas Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos e, como expressão de fé, os credos da Igreja Antiga, a Confissão de Augsburgo (Confessio Augustana) inalterada, e o Catecismo Menor de Martim Lutero.
Regimento Interno da IECLB (art. 3º)
Texto completo do Regimento
O que diz o Plano de Educação Cristã Contínua – PECC sobre confessionalidade:
A prática do amor
O amor é elemento básico da existência humana e da relação com Deus. Todos os mandamentos convergem para ele: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento… Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22.37,39). O amor a Deus como entrega total implica confiança plena em Deus e agir ético a partir da observância dos mandamentos. O amor ao próximo nos faz reconhecer que somos semelhantes, mutuamente dependentes e responsáveis uns para com os outros. Educar para a prática do amor é despertar sentimentos de desprendimento, liberdade, compaixão, solidariedade. O amor a si mesmo, nesse sentido, leva à valorização pessoal e à autoestima, sem cair no egoísmo, pois está vinculado ao amor ao próximo e a Deus.
O serviço como essência cristã
Deus nos chama a servir na comunidade e no mundo. O serviço (diaconia) é uma característica central da igreja e do ser cristão (Marcos 9.33-37;10.35-37). Servir uns aos outros é ação comunitária. Diversos tipos de serviço tornam possíveis a promoção da vida e a edificação de comunidade.
(…) A esperança vivida
A prática da esperança permite olhar para além dos problemas e desencantos. Ela motiva e inspira a vivência de um projeto de vida digna e justa. Nesse sentido, esperança é atitude ativa, que exercita a promoção da dignidade humana e o serviço ao próximo (Romanos 12.12-14).
(…) A reconciliação com Deus e com o próximo
O pecado afasta-nos de Deus, mas Deus nos procura em amor e bondade e oferece-nos o perdão. Em Cristo, somos reconciliados com Deus (Romanos 5.11; 2 Coríntios 5.18). A misericórdia de Deus é a fonte da reconciliação.
(…) O diálogo e o respeito como expressão de unidade
Uma comunidade cristã é plural por natureza. Como parte de um corpo, cada membro tem sua função. A diversidade está baseada no princípio da complementaridade: todos os membros trabalham para que o corpo funcione (1 Coríntios 12.12-27). Preservar a unidade significa agir com respeito, valorizando cada pessoa no seu modo de ser. Também significa apostar no diálogo como forma de aproximação e resolução de conflitos. A unidade na igreja é alcançada quando ouvimos as escrituras, interpretamos a tradição confessional e dialogamos como irmãs e irmãos.
(…) Em Jesus Cristo, Deus revela-se ao mundo como aquele que, por sua misericórdia, resgata a criação toda e, em especial, a dignidade humana. A oferta de sua graça e o dom da fé, frutos do amor incondicional de Deus, dispensam a necessidade de retribuição, pois a ação de Deus antecede qualquer intenção humana.
(…) A liberdade cristã não é uma conquista humana, mas fruto da ação de Deus entre as pessoas. Cristo faz de nós pessoas livres para viver o amor de Deus de uma forma responsável a cada dia.
A pessoa cristã está sob o amor e a graça de Deus que, por gratidão alegre, se sente convocada a agir em favor dos outros. A pessoa cristã sabe que não é senhora de sua vida, mas que Cristo é seu Senhor. Assim sendo, ela é livre para fazer escolhas com discernimento e critério.
(…) Deus chama por intermédio de Jesus Cristo e envia seus seguidores a pregar o evangelho. O sacerdócio geral de todas as pessoas que creem é o ministério de Jesus confiado a cada pessoa no Batismo e a cada comunidade que professa Jesus como Senhor e Salvador.
O sacerdócio geral de todas as pessoas que creem tem relação direta com a compreensão do ministério compartilhado na IECLB. Por meio dele, as pessoas, a partir dos dons recebidos do Espírito Santo e do chamado ao discipulado, exercem atividades distintas na promoção do evangelho. As diferentes funções e atividades exercidas devem ser vistas como serviço em favor do testemunho do reino de Deus e da integridade da criação. Nesse sentido, o sacerdócio geral exige também o exercício da cidadania e a compreensão de que a responsabilidade social e política é exercida por cada pessoa em conjunto com outras.
(…) A IECLB, junto com outras igrejas de confissão evangélico-luterana, tem critérios que marcam sua confessionalidade e que são determinantes para a educação cristã.
Destacam-se os seguintes critérios:
a) Salvação somente por graça, mediante a fé
Em Cristo, Deus mesmo nos torna justos e nos dá a salvação. Deus nos reconcilia consigo não pelo mérito de nossas obras, mas por graça. É pela fé na ação de Cristo em nosso favor que podemos alcançar a paz. Da fé na salvação, que não depende de nossas obras, brotam a alegria e a gratidão, que se manifestam nas atitudes em favor do próximo.
b) Liberdade cristã
Como pessoas livres, podemos cooperar para transformar este mundo. Educação cristã na fé acentua o duplo sentido da liberdade cristã: a fé nos faz livres de ter de construir a própria salvação, pois confiamos na salvação que vem de Deus. E a fé nos faz livres para agir em favor da vida em abundância para toda a criação.
c) Existência sob a cruz
Essa existência nos aproxima de um Deus que é amor e misericórdia. Viver como discípulo e discípula é perceber a presença e a proximidade de Deus onde ele parece estar ausente. É entender que não somos nós que encontramos Deus, mas é ele que nos encontra em nossa solidão e desespero. Educação cristã ajuda a compreender que viver sob a cruz de Cristo possibilita que nos conheçamos inclusive como nem sempre queremos.
d) Somos justos e pecadores
Quando somos vistos a partir da obra que Deus realizou por nós e em nós, somos justos. No Batismo, fomos marcados com o sinal que liberta do pecado e da culpa. Porém ainda vivemos sob a influência do mal que reina neste mundo. Paulo expressou essa realidade assim: “Não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço” (Romanos 7.19). Por isso existência cristã só é possível onde há confissão e absolvição dos pecados diariamente. A confissão de pecados e o perdão de Deus alimentam nossa alegria de viver.
e) Sacerdócio geral de todas as pessoas que creem
As pessoas precisam de orientação fundamentada no evangelho para suas buscas pelo sentido da vida. Isso, por sua vez, não resulta em fé individualista, mas conduz a algo que é uma característica fundamental da IECLB – e nas outras igrejas luteranas – e que é parte essencial da educação cristã contínua: o sacerdócio geral de todas as pessoas que creem. A igreja de Cristo quer membros do corpo de Cristo com maturidade de fé, de sorte que permita a cada membro ler e interpretar a Bíblia com liberdade e saber testemunhar a esperança que tem (1 Pedro 3.15).
(…) A missão é obra de Deus. Ele é o doador e o executante da tarefa. A missão é um dom da graça de Deus. Não depende da igreja e tampouco do ser humano. Ambos são instrumentos do agir de Deus em favor de seu mundo. Essa forma de entender a missão faz de cada pessoa e da comunidade toda testemunhas do evangelho, que abraçam a fé e promovem a paz na terra. A missão de anunciar e viver o evangelho não é um programa ou uma tarefa entre outras. Missão faz parte da própria compreensão do povo de Deus presente na realidade, na qual é convocado a ser o evangelho da paz.
Plano de Educação Cristã Contínua – PECC
Texto completo do PECC
O que dizem as Diretrizes da Política Educacional da IECLB sobre confessionalidade:
O sentido da existência humana pode ser entendido a partir de três indicativos presentes em Mateus 22.37,39: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento… Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
a) O primeiro indicativo é o amor a Deus a partir da entrega total. Entregando-se a Deus, a pessoa não idealiza a si mesma, ao próximo e aos bens materiais;
b) O segundo é o amor ao próximo. Esse indicativo exige a construção de relações baseadas no reconhecimento de que somos semelhantes e nos reconhecemos pertencentes à mesma espécie, dependentes do cuidado de uns para com os outros;
c) O terceiro indicativo é o amor a si mesmo. Reconhecer-se como um ser capaz de amar está diretamente relacionado ao reconhecimento como um ser de amor e um ser amado por Deus. Amar e aceitar o outro implica em amar e aceitar a si mesmo.
A prática do amor, nesses três sentidos, desperta o sentimento de compaixão e solidariedade. Ter compaixão, compadecer-se, é ser capaz de sentir o sofrimento do outro de forma profunda em seu próprio corpo. Ser misericordioso é ter um coração voltado para a miséria do outro. É sentir-se afetado por causa da situação deplorável e triste na qual o outro está imerso.
Por causa do sentimento de compaixão e misericórdia, as pessoas sentem-se motivadas a agir em favor do outro, instituindo a prática do respeito e da fraternidade.
O amor de Deus exige responsabilidade para com a vida do outro e o conjunto de Sua criação. A educação é uma das formas de responsabilizar-se pela Criação e pelo desenvolvimento integral da pessoa.
2.1.2. A prática da esperança e da reconciliação
“Regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, na oração, perseverantes; compartilhai as necessidades dos santos; praticai a hospitalidade; abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis.” (Romanos 12.12-14).
A esperança motiva e inspira a vivência de um projeto de vida digna e justa. Os laços que uniram a escola e a igreja na história são caracterizados por um projeto de esperança: esperança por justiça e paz, liberdade e fraternidade.
O projeto de esperança se realiza através da defesa da dignidade humana e do serviço concretizado através de ações com vistas a uma vida digna. A tarefa de cuidar desse projeto é atribuição da família, da escola, da igreja e dos seus diferentes grupos, da sociedade.
A prática e a construção de um projeto de esperança são inspiradas pela ação de Deus entre nós e experimentadas através de testemunhos de fé e de ações de justiça. Praticar atos de justiça e de misericórdia, proclamar a esperança e vivenciar a reconciliação entre as pessoas é tarefa anunciada por Deus: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus.” (Miquéias 6.8).
A misericórdia de Deus e a reconciliação com Ele nos liberta da preocupação com o futuro e nos faz perceber a importância da ação concreta na defesa e promoção da vida, através da educação, da saúde, do trabalho. A esperança torna possível a vivência de um projeto de paz e justiça que se faz através da reconciliação.
A reconciliação provém de Deus, que a tornou possível através da morte e ressurreição de Jesus (2 Coríntios 5.18). Através de Cristo, fomos reconciliados com Deus. Por isso, somos embaixadores e embaixadoras de Jesus que fala e age por meio das pessoas. Deus nos incumbe de uma missão que abrange o âmbito público e particular: ser emissários do seu amor para com seus filhos e suas filhas.
(…) Em Jesus Cristo, Deus revela-se ao mundo e, de forma especial, ao ser humano. Deus concede a sua misericórdia, oferece a sua graça e o dom da fé, resgatando a dignidade humana. O ser humano, em sua busca pela transcendência, encontra-se com o Deus revelado e encarnado, e, deste encontro, surge a possibilidade da nova criação, da nova vida.
A revelação de Deus é decorrência de seu amor pela humanidade e ocorre independentemente de méritos humanos. A radicalidade da graça e do amor de Deus dispensa a necessidade de retribuição humana. O apóstolo Paulo afirma: “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Romanos 5.20).
O amor de Deus antecede qualquer intenção humana, qualquer boa vontade, qualquer desejo de realizar algo bom. Deus declara: “Não vos teve o Senhor afeição, nem vos escolheu, porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, (…), mas porque o Senhor vos amava e para guardar o juramento que fizera a vossos pais” (Deuteronômio 7.7-8).
A radicalidade da graça e do amor de Deus nos compromete a agirmos de forma semelhante e nos desafia a amarmos o nosso interlocutor no processo educacional. A aceitação da pessoa e a abertura para o diálogo não dependem dos méritos do nosso interlocutor, mas são decorrência da nossa relação com Deus.
O modo como Deus age em nosso favor também nos desafia a testemunharmos por meio de obras a sua graça. É nossa tarefa promover, através da educação escolar, comunitário-eclesial e popular, o bem-estar, a igualdade social e econômica entre as pessoas, cuidando e zelando pela integralidade da Criação.
A ação de Deus em favor do ser humano nos desafia a acolher a alteridade, que decorre do respeito à dignidade da pessoa. Deus age em favor da pessoa, que não vive de forma isolada, mas em comunidade. Deus age em favor do coletivo (Êxodo 3.14-19). Isto nos ensina o valor do comunitário, lembrando a interdependência e a colaboração mútua como valores essenciais para a coletividade.
(…) A liberdade cristã é um dos pilares fundamentais da teologia luterana. Lutero define a liberdade da seguinte forma: “O cristão é um senhor livre de tudo, a ninguém sujeito – pela fé. O cristão é um servo dedicado a tudo, a todos sujeito – por amor”. Por causa do perdão e da salvação, dados por meio da morte e ressurreição de Jesus, nós podemos viver em alegria, sem precisar fazer por merecê-los. A liberdade não é uma conquista humana, mas fruto da ação de Deus entre as pessoas.
O princípio da liberdade cristã exclui toda forma de fanatismo e dogmatismo, seja teológico ou pedagógico. Ele estabelece um processo que avalia continuamente a forma como acontecem o testemunho da fé e o ensinamento do conteúdo da fé, evitando toda e qualquer imposição ou constrangimento na transmissão do Evangelho.
Quem assume a liberdade para a qual Cristo nos libertou não precisa ter medo de nada e pode dispor de tudo. A pessoa cristã sabe que não é senhora de sua vida, mas Cristo é o seu Senhor. Portanto, ao fazer escolhas, mesmo sabendo que tudo lhe pertence, a pessoa seleciona com critério. Quando ficamos dependentes de algo ou de alguém, voltamos “de novo ao jugo da escravidão” (Gálatas 5.1).
Na medida em que vivemos a liberdade em Cristo, não nos submetemos a nada e nem nos sujeitamos a ninguém. Ser cristão evangélico luterano implica servir aos semelhantes como Cristo se deu às pessoas (Marcos 10.45). Neste sentido, Lutero diz que a pessoa cristã é um servo dedicado a tudo, a todos sujeito. E, como disse Lutero, baseando-se em Mateus 25.31-46, de forma mais concreta: “Deve-se ler a vontade de Deus nos olhos dos necessitados”. Cristo faz de nós pessoas livres para viver a cada dia o amor de Deus de uma forma responsável. Este é o jeito luterano de seguir a Jesus Cristo.
(…) A IX Assembleia da Federação Luterana Mundial (FLM), realizada em julho de 1997, declara: “As comunidades cristãs são chamadas a serem luz do mundo e sal da terra. Portanto, recebem poder para serem confessantes, includentes, tolerantes, serviçais e solícitas, reconciliadoras e inspiradas pelo amor abnegado de Cristo, se reúnem regularmente em torno de Cristo e do Espírito Santo para receberem o amor de Deus e serem capacitadas para levá-lo ao mundo”.
A declaração da FLM tem sua base no Evangelho de Jesus. Nosso Senhor chamou, instruiu e enviou pessoas para exercerem diferentes funções e atividades. O ministério é de Jesus. É ele quem nos chama e orienta à ação. O sacerdócio geral de todos os crentes é o ministério de Jesus confiado a cada pessoa, a cada comunidade que professa Jesus como Senhor e Salvador.
O princípio do sacerdócio geral de todos os crentes nos desafia a sermos participantes efetivos do processo de ensino e aprendizagem, tornando-nos co-responsáveis na proclamação do Evangelho, na comunicação do Evangelho. O sacerdócio geral de todos os crentes exige o exercício da cidadania e a compreensão de que a responsabilidade social e política não são delegadas às outras pessoas, mas exercidas por mim, em conjunto com outras pessoas.
A partir deste princípio, assume-se a tarefa teológico-pedagógica de convocar as pessoas para o exercício da cidadania. A convocação não é somente uma ação de conscientização social, mas de adesão voluntária. A compreensão teológica do sacerdócio geral de todos os crentes implica uma relação igualitária entre os diferentes. Cada ser humano, na sua individualidade, é diferente; tem conhecimentos e experiências diferenciadas; tem construções simbólicas distintas e vive em contextos específicos, estabelecendo redes de relações de forma peculiar e própria.
O sacerdócio geral de todos os crentes tem relação direta com a compreensão de ministério compartilhado na IECLB. Por meio dele, diferentes pessoas, a partir dos dons recebidos do Espírito Santo e do chamado ao discipulado, exercem atividades distintas na promoção do Evangelho. Também aqui, as diferentes funções e atividades exercidas devem ser vistas como serviço em favor do testemunho do Reino de Deus e da integralidade da Criação.
Diretrizes da Política Educacional da IECLB
Texto completo das Diretrizes
O que dizem manifestos e posicionamentos da Direção da IECLB sobre confessionalidade (ver também desdobramentos por tema nos demais itens de Palavra da IECLB):
Somos gratos por todos aqueles e aquelas que anunciaram, preservaram e testemunharam o Evangelho da graça e da misericórdia do Deus que, em Jesus Cristo, aceita incondicionalmente o ser humano e que, pela ação do Espírito Santo, mantém viva a fé apesar de todas as dificuldades. Nossa história nos compromete a proclamar no Brasil o que está expresso nas palavras de Lutero: “Devemos temer e amar a Deus e confiar Nele sobre todas as coisas“. É necessário que saibamos conclamar a todos, para que deixem Deus ser Deus. Isso significa aceitar a mensagem evangélica de que Deus acolhe a pessoa pecadora incondicionalmente. Deus se compadece das pessoas injustas, das pessoas pecadoras que creem. Disso decorre que, na Palavra de Deus, todos e, em especial nossos pregadores, deveriam saber distinguir entre Lei e Evangelho. Em nossa pregação, no centro sempre deverá estar o Cristo crucificado (1 Co 1.23). O rosto que Deus nos apresentou é o rosto do crucificado. Nossa sabedoria quer reconhecer a Deus na prosperidade. Deus, porém, quer ser reconhecido na cruz e no sofrimento de Jesus. A Bíblia nada mais é que uma manjedoura, na qual Cristo está deitado. Se não o encontrarmos, teremos palha somente (Lutero).
Assim, a Bíblia é clara, não necessitamos de revelações especiais que só distorcem o rosto de Deus revelado em Cristo. Como Igreja, somos “povo santo de Deus no mundo”, fundamentado na Palavra de Deus, Jesus Cristo; por ele somos alimentados, mantidos e fortalecidos. Somos reconhecidos, onde o evangelho da graça e da misericórdia é pregado, onde os sacramentos do Batismo e da Eucaristia são administrados conforme a instituição de Cristo, onde o perdão dos pecados é anunciado e vivido, onde a oração e o meio de santificação da santa cruz estão presentes: tentação e perseguição.
Posicionamento sobre os 190 anos da IECLB – 2014
Texto completo da Mensagem
Movidos pelo Espirito Santo, testemunhamos a nossa fé, a nossa confiança e o nosso compromisso com o Cristo ressurreto! Ele é o fundamento da nossa esperança e também motivação a nos engajarmos para buscar a paz da cidade, apesar das cruzes e em meio às cruzes que ainda hoje se erguem. Nesta perspectiva, não existe Pentecostes sem cruz. Por que cremos no Cristo crucificado e ressurreto, não renunciamos à esperança nem nos conformamos com o mal. Ao contrário, apostamos em valores como: civilidade, paz, justiça, democracia, cuidado, liberdade, diversidade, presença, diaconia, ecumenismo, fé, vínculo, harmonia, gratidão, respeito, esperança, diálogo e partilha.
Mensagem a Ministros e Ministras – 2014
Texto completo da Mensagem
A diversidade de espiritualidade existente na IECLB é, em princípio, bela e enriquecedora para a igreja. Não são poucas pessoas que têm se sentido atraídas para a IECLB ou a apreciam particularmente porque há nela um espaço bastante amplo para desenvolver de maneira peculiar e característica, a experiência de fé, a edificação comunitária e o projeto missionário. A diversidade tem, porém, seus limites, que são ultrapassados precisamente quando de algum modo são atingidos os pilares da confessionalidade luterana e/ou se instala na vida da comunidade um espírito divisionista que é incompatível com a compreensão de igreja como corpo de Cristo, em que os diferentes membros cooperam para sua edificação.
Posicionamento referente ao Movimento Carismático – 2005
Texto completo do Posicionamento
(…) Não há, nem pode haver, qualquer dúvida de que a proclamação e o ensino dos dez mandamentos (Êxodo 20) é parte integrante e irrenunciável da prática da IECLB. Igualmente é sabido que Jesus Cristo resumiu todos os mandamentos no duplo mandamento do amor a Deus e ao próximo (Mateus 22.34-40). De nossa confissão luterana sabemos que o cumprimento da lei de Deus não se dá por nossas próprias forças, mas apenas a partir da graça de Deus. Assim, o cumprimento do primeiro mandamento, reconhecer que Deus está acima de todas as coisas, é a base para o cumprimento de todos os demais mandamentos. Por isso, em sua explicação dos mandamentos, no Catecismo Menor, Lutero, iniciou todos eles com “Devemos temer e amar a Deus, para que…” Ou seja, o pleno cumprimento dos mandamentos se dá apenas no temor e amor a Deus, em fé, sob a orientação do Espírito Santo.
Manifesto sobre o Dia mundial de luta contra a AIDS – 2004
Texto completo do Manifesto
A vida humana, e tudo o que lhe diz respeito, é maravilhosa dádiva de Deus, com origem no seu amor incondicional. Deus concede permanentemente esse seu amor de maneira gratuita, sem demandar previamente mérito algum de nossa parte. Por intermédio de Jesus, o Pai aceita a nossa imagem, o nosso rosto, mesmo em sendo nós pessoas indignas e fracas. Na morte de cruz do Deus-Filho, vítima ele próprio do pecado e da violência humanas, fomos aceitos de forma cabal e definitiva. O valor ilimitado de cada pessoa está estabelecido a partir dessa realidade: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). O amor de Deus em Jesus foi de tamanha magnitude que tomou sobre si toda a miséria humana. Ele assumiu inclusive a nossa imagem aviltada e destruída, assumiu a nossa dor, o nosso sofrimento e abandono radical. Assumiu até mesmo a nossa própria morte. Ele o fez para que tivéssemos vida, e “vida em abundância” (João 10.10).
Manifesto sobre a Violência no País – 2002
Texto completo do Manifesto
A unidade está em Cristo que por nós morreu na cruz e ressuscitou para que tivéssemos aquela esperança que conduz à vida eterna todas e todos que nele creem. Por isso, ELE é a nossa paz (Ef 2.14). Por meio do Santo Batismo somos incorporados no corpo de Cristo, na grande família de Deus. Essa membresia e essa fé é um presente, dado por Deus. A salvação não é resultado dos esforços de vocês; portanto, ninguém pode se orgulhar de tê-la (Ef 2.8,9). Por gratidão, pois, servimos uns aos outros, já que Cristo nos serviu, serve e servirá. Sendo ELE o cabeça, o Senhor ao qual com grata alegria nos subordinamos, somos livres para nos sujeitarmos uns aos outros (confira Ef 5.21). Não temos mais necessidade de sermos donos da verdade, mas procuramos compartilhar o poder de decisão.
Posicionamento sobre Unidade – 2001
texto completo do Posicionamento
Sempre preparados para dar “razão da esperança que há em vós” (1 Pedro 3.15)
A teologia da graça nos anima e fortalece na esperança e no compromisso transformador diante da ideologia do crescimento e acumulação ilimitados. Ela também previne contra uma teologia que enaltece o consumo como um fim em si mesmo ou glorifica a prosperidade desvinculada dos valores da justiça. O que temos e somos não constitui mérito nosso, mas representa dádiva e graça de Deus. Somos tão somente parte da criação divina. A criação nos é confiada a nosso cuidado, jamais para sua exploração.
Realçamos a teologia do amor que se doa, em oposição a uma ideologia que promove a exclusão e alimenta uma cultura da auto-satisfação.
Cremos no Deus da vida que ouve o clamor do povo sofrido e os gemidos de sua criação.
Cremos no Deus da vida que espera misericórdia e não impõe sacrifícios.
A idolatria de nossos dias fica excluída como opção autêntica já nas palavras de Jesus: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um, e amar ao outro; ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.” (Mateus 6.24) O reino de Deus e a sua justiça não combinam com a acumulação de riqueza por parte de alguns em detrimento do atendimento das necessidades existenciais da coletividade.
Confessamos que a fé no Deus da vida, ao relativizar a centralidade da economia, nos liberta para ações de graça e serviço, de trabalho e descanso, de festa e solidariedade.
Ao mesmo tempo, confessamos nossos limites e nossa precariedade quando se trata de viver e experimentar a partilha e a promoção da justiça e de vida digna para todos. Estamos conscientes das contradições, fracassos e tentações presentes nas comunidades e na Igreja. Sentimo-nos também envolvidos pelo sistema político-econômico vigente, a ponto de sermos co-participantes de um jogo com regras e fins dos quais até discordamos. A crise de valores traz em seu bojo outras graves consequências, como o tráfico e o consumo de drogas e o crescimento da corrupção no âmbito público e privado, em escala nunca imaginada. Nessa ambiguidade vivemos. Carecemos todos de libertação, renovação e mudança de rumo. Necessitamos de arrependimento e nova vida.
No entanto, em fidelidade à Palavra de Deus e à fé despertada e animada pelo Espírito Santo, somos instados a proclamar a razão de nossa esperança numa época de enormes desafios bem como de imensas necessidades e tentações.
Cremos em Deus que cria, mantém, salva e consola.
Por isso, rejeitamos doutrinas pseudo-religiosas mascaradas de projetos e sistemas político-econômicos que promovem a morte e exigem para si mesmos veneração e adoração.
Cremos em Jesus Cristo, a partir de quem recebemos vida nova. Somos perdoados e libertos de todas as amarras para servir, de forma livre e agradecida, a todas as criaturas, porque Deus em seu amor envolve a tudo e a todos, e a ninguém exclui.
Por isso, rejeitamos doutrinas que pregam a separação das esferas espiritual e material, depreciando o mundo e a sociedade e enaltecendo apenas valores espirituais. Igualmente rejeitamos todas as formas de preconceito racial e discriminação étnica.
Cremos no Espírito Santo, que pela Palavra e pelos sacramentos cria e mantém a Igreja. Esta é formada não por pessoas isentas de culpa, mas por pecadores justificados pela graça de Deus, pessoas que são chamadas a constituir comunidade, prestar culto a Deus e a testemunhar sua fé num mundo marcado pelo pecado. Esta fé move a Igreja e todos seus membros a viver em amor e a doar-se no serviço ao próximo, em especial aos mais pequeninos e fracos, aos desamparados e desconsolados, aos injustiçados e que padecem qualquer tipo de necessidade. Enquanto instituição humana, a própria Igreja e seus membros deixam questionar-se, pela Palavra, em suas falhas, a fim de que seu serviço seja mais consoante com a vontade de Deus.
Por isso, rejeitamos doutrinas que adaptam a Igreja ao mundo a ponto de ela servir aos interesses ideológicos e políticos hegemônicos, perdendo assim toda sua dimensão crítico-profética. Igualmente rejeitamos um individualismo que, mesmo afirmando a dignidade de cada pessoa humana, despreza na prática a importância de sua inserção e vivência fraterna em comunidade. Negamos que a pessoa se baste a si mesma, mas afirmamos a necessidade do servir uns aos outros.
Manifesto de Chapada dos Guimarães – 2000
Texto completo do Manifesto
Deus se revelou como aquele que justifica e liberta, por graça e mediante a fé, a quem não tem mérito próprio. É o que o apóstolo Paulo classificou de “justificação do ímpio”, e não dos justos! (cf. Rm 5.6-8). Jesus também recordou: “Não vim chamar justos, e sim, pecadores”. (Mc 2.17).
Pela pregação da palavra, pela administração dos sacramentos e pelo testemunho prático do amor, o Espírito Santo faz crer nesse Deus. Assim cria e mantém a igreja. Ele é autor, mantenedor e consumador da fé. Esta atua pelo amor, no mundo em que vivemos, a fim de que muitos reconheçam Cristo como Senhor e que Deus seja glorificado.
(…) Teologia luterana conhece e enfatiza a “teologia da cruz”, em contraposição a toda e qualquer manifestação de “teologia da glória”, mesmo e principalmente em suas variantes “espirituais”. A igreja luterana tem razões evangélicas para uma espiritualidade sóbria, que nem por isso deixa de ser profunda. Mesmo o “poder de Deus”, conceito tão caro ao movimento carismático, conhecemos na Escritura como manifestando-se “na fraqueza” (1 Co 12.9). O rei Jesus entrou em Jerusalém montado sobre um jumentinho (Mt 21.5) e, quando pendurado na cruz, exclamou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46) – um escândalo aos “olhos do mundo”! Da teologia da prosperidade decorre a tentação de merecer, por meio da contribuição financeira, a promessa de recompensa. Cria-se, assim, uma motivação bastante egocêntrica e, não raras vezes, uma propensão a práticas com características mercantilistas.
(…) Deus se comunica de maneira concreta, toma forma, encarna no mundo relativo e passageiro. O veículo da comunicação divina, por excelência, é Jesus de Nazaré. Os olhos da fé o reconhecem como verdadeiro ser humano, segundo a imagem de Deus, e como verdadeiro Deus. É vontade de Deus que o seu santo amor se manifeste de maneira sensível e experimentável pelos sentidos humanos. Ele é criativo e se utiliza de elementos terrenos como símbolos da comunicação divina. São símbolos relativos e, por conseguinte, sujeitos à ambiguidade. Há símbolos com caráter universal, tais como: cruz, Bíblia, vela, cores litúrgicas, as iniciais X e P juntadas, peixe (“ixthys”), coroa, estrela, água, pão, uva e derivados. Esses e tantos outros símbolos não são propriedade individual de ninguém. Pertencem a toda a cristandade. Além destes podem surgir, a partir da experiência do cotidiano que transcende para o eterno, em cada novo tempo e lugar, símbolos novos.
Posicionamento IECLB no Pluralismo Religioso – 2000
texto completo do Posicionamento
Por sua morte e ressurreição, Jesus Cristo nos reconciliou com Deus e nos oferece gratuitamente a salvação (2 Co 5.14-21). Justificação, salvação e santificação são obra exclusiva de Deus. Por isso, nem justificação, ou seja, salvação, nem santificação são propriedade nossa. Somos pessoas simultaneamente justas e pecadoras. Quando olhamos para nós mesmos, sempre vemos uma pobre pessoa pecadora que depende totalmente da graça de Deus; quando olhamos para Cristo, nos vemos e nos sabemos pessoas justificadas, salvas e santificadas perante Deus, por sua morte expiatória por nós (“pro nobis”). Assim, segundo Lutero, ocorre uma maravilhosa troca: Jesus Cristo assume nosso pecado e nós recebemos a sua justiça, de modo que podemos viver, alegre e gratamente, uma nova vida com Deus. Mesmo assim, após termos experimentado o ponto de apoio e a mão salvadora (“extra nos” = fora de nós), ainda fazemos parte do mundo em que somos tentados pelo campo de força do mal (Rm 7.18ss).
Segundo esta doutrina, os membros da Igreja sempre permanecem pecadores. Não têm em si mesmos nenhuma justiça ou mérito que os torne agradáveis e aceitáveis perante Deus. O que nos justifica e torna agradáveis a Deus está fora de nós (“extra nos”), está em Cristo. Somos pessoas justas ou justificadas tão somente porque Cristo nos declara como tais, imputando-nos o mérito de sua morte expiatória. Somos justos no sentido forense, porque por Cristo fomos absolvidos de nossos pecados e libertados da morte e do poder do diabo. Assim, somos pessoas simultaneamente justas e pecadoras. Contudo, não devemos entender isso como porta aberta para a licenciosidade. Pelo contrário, quando em fé acolhemos a justificação, somos nova criatura e portanto também libertos para uma nova vida, caracterizada por gratidão a Deus e serviço ao próximo. Isso tem a seguinte consequência eclesiológica: concretamente, passamos a fazer parte da comunhão dos santos através do batismo, pelo qual somos incluídos no corpo de Cristo (Rm 6.4).
(…) Estudo e meditação da palavra, em particular e em comunidade, penitência, confissão, arrependimento e santa ceia são os meios pelos quais se renova e se mantém a fé que atua pelo amor. Essa fé é dada e mantida pelo iniciador e consumador da fé, Cristo. Exclusivamente ele é origem e alvo da fé, e ao mesmo tempo é o caminho da fé (Jo 14.6). A caminhada da fé acontece na comunidade que Cristo cria pelo batismo, mantém pela palavra e pela santa ceia e conduz à consumação por sua promessa da segunda vinda, no final dos tempos. A caminhada da comunidade, portanto, acontece entre Pentecostes e a volta de Cristo. Neste ínterim, Cristo age, na comunidade e através dela, fazendo surgir sinais concretos de nova vida que é oriunda do Eterno e para o Eterno aponta e conduz.
A doutrina da justificação liberta o cristão da preocupação com sua própria salvação. Essa lhe é assegurada pela fé, que é fruto do Espírito Santo e nasce através da pregação do evangelho. Assim sendo, o crente está habilitado para dedicar-se, com seus dons, talentos, forças e todo seu ser, ao serviço da missão de Deus no mundo. Seu servir a Deus e ao próximo, no dia a dia da vida, é o verdadeiro culto a Deus (Rm 12.1ss.). Somos Igreja disposta ao diálogo ecumênico com todos os que estão comprometidos com a vida. Estamos abertos para compartilhar e celebrar culto a Deus com todos aqueles que confessam Jesus Cristo como seu único Senhor e Salvador (Atos 4.12; cf. também a Constituição da IECLB, Art. 5º, § 2º).
(…) A fé, que anima as pessoas, é dom que se experimenta na total entrega em confiança a Deus, independente de qualquer sentimento ou afirmação humanas. A confiança leva à obediência, mesmo contra todas as evidências negativas do cotidiano da vida, aparentemente irrefutáveis. Trata-se de uma vivência a ser renovada constantemente dentro das contradições humanas. A renovação e o fortalecimento da fé acontecem na comunhão da santa ceia, na prática da oração, no serviço ao próximo, na animação, admoestação e consolação mútuas entre irmãos e irmãs.
(…) O Deus Criador, que cuida de nós e preserva a criação, como confessamos no primeiro artigo do Credo, também nos liberta e convoca a viver de acordo com sua santa vontade. A cruz de Cristo nos proporciona constantemente a salvação gratuita; ela, a cruz, é também o signo de todo discipulado. Por conseguinte, o Espírito Santo não anula nem supera a cruz de Cristo, mas é o poder divino que nos faz andar em comunhão e amor, nos conforta em nossas tribulações, nos anima e nos sustenta em nossa caminhada como Igreja sob o signo da cruz. Concluímos que, dentro de um contexto de mercado religioso, onde proliferam as mais diversas propostas esotéricas, nós, como IECLB, precisamos resgatar e testemunhar essa dimensão trinitária da eclesiologia.
(…) Como justificados por graça e fé, somos comprometidos com o ensaio da prática de gratuidade, na vida em família, em comunidade e sociedade. A graça é vida, o legalismo mata. A graça barata inflaciona o evangelho, profana a santidade de Deus e ilude pessoas.
Posicionamento A IECLB às Portas do novo Milênio – 1999
Texto completo do Posicionamento
Como cristãos confessamos que a vida é uma dádiva de Deus. Tudo o que somos, e tudo quanto temos dele provêm: Nossas capacidades técnicas e intelectuais, a natureza e o mundo. A responsabilidade pelo uso disto devemo-la ao próprio Deus doador (Gn 1.26-28). Ao nosso lado se encontram os nossos semelhantes, igualmente aquinhoados (Is 11.1-10). Não temos direito a fazer uso deles. Ao contrário, devemos garantir-lhes tudo quanto lhes é de direito. Mais uma vez devemos prestar contas ao Criador, Senhor único de todos os homens.
A boa criação compreende para todos trabalho e saúde, moradia e sustento, cultura e lazer, convivência e liberdade. Sempre que um desses elementos faltar para um só ou mais seres humanos divisamos o mundo caído, rebelde a Deus (Rm. 1.28-32). A consciência cristã acusa o pecado – tanto na esfera individual quanto na social (Rm. 3.9-18). O excesso e o abuso, bem como as distorções destes elementos, são o outro lado da moeda: Sustenta sem trabalho próprio, mas às custas do alheio (Ts 3.10-13); consumismo esbanjador em vez de sustento básico (Ex 20.8-11); trabalho escravo sem lazer, convivência marginalizada sem escola (Jr. 6.11-17); subsistência sem liberdade são apenas algumas das possibilidades (Is 5.8). Destruição da natureza, concentração de riqueza, emprego da força, infração dos direitos dos outros são apenas algumas das consequências daquelas distorções fundamentais (Am 5.7, 10-12). Seu resultado para os homens é auto-suficiência, orgulho, ganância, ânsia de consumo e arbitrariedade entre os privilegiados (Am 8.4-6); fome, miséria, desalento e injustiça entre os demais. De qualquer modo, sofrimento sem fim (Tg. 5.1-6).
Contudo, onde a consciência acusa, o Evangelho levanta a voz profética para chamar ao arrependimento, à libertação e à mudança radical (Mc 1.15). O Evangelho é o próprio Jesus Cristo que sofreu o mundo caído para libertar o homem pecador (Lc 4.18-21). Em sua cruz confessamos a ação de Deus (I Cor 1.18-25). Por isso também hoje não conseguimos ver Deus no progresso, mas sim naqueles que são por ele triturados não no poder, mas naqueles que são por ele abatidos, não no dinheiro, mas naqueles que não tem como comprar o elementar para suas vidas (Mc 8.34-38). Deus simultaneamente padece e liberta ainda hoje. Assim a neutralidade se nos torna impossível (Rm 12.9-21). Somos chamados a tomar partido: Queremos subir na vida ou descer à cruz de nosso semelhante? Queremos nos unir ao círculo dos interessados em si mesmo ou dar as mãos para viver o amor de Cristo?
A renúncia a nós mesmos e o discipulado de Cristo nos são possíveis quando acatamos esse mesmo serviço de Deus na cruz, que nos arranca de nossa profunda insegurança e nos faz andar o caminho de Deus no mundo (I Jo 4.9-17). Assim colocamos toda a nossa capacidade, profissão, obra, posição, bens e vida a serviço de quem de nós necessita. Esse caminho da renúncia e da solidariedade é e será vitorioso. Isso confessamos como nossa esperança inabalável.
Manifesto Nossa Responsabilidade Social – 1978
texto completo do Manifesto
2. Desdobramentos práticos de confessionalidade:
O que diz o Guia Nossa Fé – Nossa Vida sobre Confirmação:
O que é a Confirmação?
Para viver conscientemente a fé, à qual somos chamados pelo Batismo, e ser eficientes cooperadoras e cooperadores de Deus, devemos estar preparados. Pois a aliança, que Deus faz no Batismo, requer de nós uma resposta pessoal:
Sim, Senhor, quero viver contigo em tua comunidade e servir-te com meu tempo, meus dons, talentos e bens.
O culto de Confirmação
O culto de Confirmação nos irmana com a comunidade, com mães, pais, padrinhos e madrinhas. Deus, através de sua palavra e sacramento da Ceia do Senhor, confirma-nos sua aliança e nos fortalece e envia para a missão.
Como professamos nossa fé?
Confessamos publicamente nossa fé com as palavras do Credo Apostólico ou Niceno, que temos em comum com todas as pessoas cristãs na terra, ou com palavras próprias. Expressamos o propósito de aceitar a incumbência de Deus, de servir como seus instrumentos, junto com as irmãs e os irmãos dentro e fora da comunidade.
Na oração da comunidade e na imposição das mãos, Deus renova sua bênção.
Por meio do Espírito Santo, certifica-nos de seu amor, proteção e amparo em todo o mal. Dá luz a nossos passos pela palavra que nos é dada como lema para a vida.
Deposita em nós sua confiança e nos valoriza como pessoas colaboradoras em sua missão salvadora no mundo.
Como nos preparamos para a Confirmação?
Participamos do ensino confirmatório, a partir dos onze anos, em encontros e cursos, seminários e retiros, com duração mínima de 50 horas.
Qual a finalidade do preparo?
O preparo nos quer ensinar as bases da fé, através da mensagem bíblica, da confissão de nossa Igreja, do testemunho do Catecismo Menor e da vivência da comunhão cristã.
O preparo também quer facilitar a experiência e prática de uma vida de fé e amor. Como parte do preparo pode haver, após devida conscientização, a celebração da Ceia do Senhor, no grupo do ensino confirmatório.
Quem prepara?
O preparo é dado por catequista, pastor, pastora ou por um membro sob sua orientação, devidamente incumbido desta tarefa.
Participam também as mães, os pais, padrinhos e as madrinhas. Segundo a promessa que fizeram no Batismo, incentivam os jovens e as jovens para o estudo, acompanhando-os em seu desenvolvimento; apoiando-os com sua convicção, seu exemplo e testemunho pessoais.
Qual a finalidade do culto de apresentação de confirmandos e confirmandas?O preparo é concluído num culto, antes da Confirmação, em que os confirmandos e as confirmandas, juntamente com seus pais, mães, padrinhos e madrinhas e a comunidade, participam de um diálogo. Nele é evidenciado que os jovens foram instruídos conscienciosamente nas principais partes da fé evangélica de confissão luterana, que implica participar ativamente da vida comunitária.
Quem não pode participar da Confirmação?
Na prática da responsabilidade pela edificação e santificação dos membros da comunidade, o presbitério não admite à Confirmação quem, notoriamente, não é sincero no testemunho da fé; quem se propõe a levar uma vida sem Deus; quem se nega a participar do preparo, ou é negligente no mesmo.
O que resulta da Confirmação?
A Confirmação compromete com a participação responsável na vida comunitária: participar nas celebrações, nos grupos de estudo e serviço e nas assembleias; servir de madrinha ou padrinho no Batismo e de testemunha na bênção matrimonial; contribuir com seu tempo, seus dons e seu dinheiro.
Assim a nossa Confirmação, como dom e compromisso, nos fortalece e incentiva a viver diariamente o Batismo.
Guia Nossa Fé – Nossa Vida
Texto completo do Guia
O que dizem os manifestos e posicionamentos da IECLB referente a desdobramentos práticos de Confessionalidade:
São membros da Comunidade as pessoas batizadas conforme a ordem de Jesus Cristo, reconhecidas as bases confessionais da IECLB.
Regimento Interno da IECLB (art 13)
Texto completo do Regimento
A fé quer ser vivida conscientemente. Passaram-se os tempos em que a Igreja podia confiar na força de sua tradição. Comunidade precisa ser constantemente reconstituída. É este um dos bons serviços que o pluralismo religioso presta: força a Igreja, incluindo a IECLB, à permanente prestação de contas de seu credo, exigindo o membro motivado. Devemos ocupar-nos com nossa fé, reafirmá-la em confissão realmente assumida, vivê-la conscientemente em nosso dia a dia. Isto tem por premissa também a informação sobre a fé divergente e a avaliação de outros credos. Evidentemente não podemos ser todos especialistas em assuntos religiosos. Ainda assim, a instrução na fé deve ser a mais ampla e intensiva possível, com o que seguimos um dos princípios básicos da Reforma do século XVI. Os catecismos de M. Lutero tinham em vista a maturação da comunidade e a responsabilização de cada cristão pela sua fé. A concorrência religiosa a que nos vemos expostos requer a comunidade consciente e, por isso, capaz de distinguir o joio do trigo e de resistir às pechinchas sedutoras do supermercado da religião.
Posicionamento A confissão luterana na concorrência religiosa – 1993
Texto completo do Posicionamento