A fé do tamanho do grão de mostarda
Proclamar Libertação – Volume 40
Prédica: Hebreus 1.1-4; 2.1-4
Leituras: Lucas 17.5-10r 2 Timóteo 1.1-14
Autoria: Teobaldo Witter
Data Litúrgica: 20º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 02/10/2016
1. Introdução
Como foi bom ler novamente a Carta aos Hebreus! Como foi bom relacionar a reforma que Hebreus propõe para a segunda geração de comunidades cristãs no século I com a Reforma Protestante de 1517! O desafio é relacionar ambas com os atuais desafi os nos tempos pós-modernos.
Na época em que vivemos, em que nossos pensamentos e planejamentos na igreja se voltam para a comemoração da Reforma Protestante, é mais do que justa essa preocupação, pois em 2017 celebraremos os 500 anos. Certamente a igreja vai celebrar e refletir aspectos do legado da Reforma e sobre desafios e possibilidades atuais e futuras.
Segundo o calendário ecumênico, estamos vivendo no 20º Domingo após Pentecostes. Pentecostes é o período mais longo do ano da igreja. Unimos Pentecostes e Reforma, pois essa é obra do Espírito Santo de Deus.
Na época da redação da Carta aos Hebreus, as comunidades eram perseguidas e humilhadas por causa de sua fé e comunhão. Nesse contexto, algumas pessoas abandonavam as comunidades. A carta anima-as a permanecer fiéis na fé, confiança, comunhão e amor fraternal.
No tempo da Reforma, pessoas viviam oprimidas e amarguradas, porque não entendiam quem é Deus e o que ele faz. Sofriam, porque viviam na dependência da fé retributiva, de pagamentos e obras para chegar a Deus. A redescoberta da graça e fé provocou um grande alívio e libertou as pessoas de amarras da ignorância e do medo.
Hoje, certamente as pessoas vivem a grande euforia do prazer a qualquer custo. Na maioria das igrejas, os sofrimentos são ignorados, sendo que as pessoas sofrem sozinhas as amarguras de suas vidas. Na opinião geral, problemas são coisas de fracos. A fé delas não chega ao tamanho do grão de mostarda, o amor fraternal esfriou. A elas se vende a ideologia da prosperidade e do pensamento positivo. Tudo é lixo. Enganação.
A Carta aos Hebreus e a Reforma Protestante podem ajudar-nos a encontrar caminhos alternativos e novos. São caminhos de quem não engana, mas ama com compromisso.
2. Exegese
Não há informações sobre a data de redação da Carta aos Hebreus. Há exegetas que colocam a redação em torno do ano 70 d.C., antes da destruição do templo de Jerusalém. Outros afirmam que seria em torno do ano 80 d.C. Mas não se pode aceitar uma época muito tardia, pois Clemente de Roma a cita por volta do ano 95. Por outro lado, a relativa afinidade entre a sua teologia e as cartas da prisão (Efésios, Colossenses, Filemon) caminha para uma data próxima do martírio de Paulo, ocorrido no ano 67. Uma vez que o autor se refere à liturgia do templo de Jerusalém como uma realidade ainda presente, tudo parece convergir para que os últimos anos antes da destruição de Jerusalém e do templo, ocorrida no ano 70, sejam a data mais provável de sua redação.
Não se sabe quem é o autor, pois não há indicações claras sobre isso. Surgem algumas especulações que afirmam ser Paulo ou algum de seus amigos seguidores. Há uma referência a Timóteo (Hb 13.23), que, segundo referência da Bíblia de Jerusalém, seria o jovem companheiro de viagem de Paulo (At 16.1ss), filho de Eunice e neto de Loide, paradigmas da fé para muitas pessoas na época. Então o autor seria Paulo ou alguma pessoa muito próxima dele. Mas essa menção não identifica, claramente, o autor da carta. Pesquisadores, entre eles Lohse, afirmam que talvez nunca se descobrirá quem foi o autor ou os autores da carta.
A intencionalidade da mensagem é clara. Explica que a revelação de Deus em Cristo Jesus é definitiva e única, sendo que os testemunhos de todos os tempos e lugares estão fundamentados nessa revelação (Hb 1.1-2). Sua posição teológica procura animar e colaborar com cristãos e cristãs da segunda geração. A carta quer animar essas pessoas a superar a tentação e o desânimo que pairam na comunidade. Procura animá-los na fé e na prática do amor (Hb 2.1-4).
A carta não se dirige a uma comunidade específica, nem define a que grupos étnicos se reporta. Destina-se a pessoas que conhecem o Antigo Testamento e o serviço dos sacerdotes, pois explica várias passagens antigas sobre o assunto. Mas não podemos afirmar que se destina somente a judeus convertidos à fé cristã, pois também havia gregos convertidos que liam as Escrituras Sagradas do Antigo Testamento. Certamente as pessoas tinham muita familiaridade com as Escrituras e o sacerdócio em Israel.
Ao longo da carta relata-se sobre sofrimentos e humilhações que atingem as pessoas fiéis. Hb 10.32ss e 13.3 mencionam humilhações, insultos públicos, perseguições, prisões e confiscos de bens. No Testemunho, a comunidade solidariza-se com as pessoas que sofriam como escravas, prisioneiras e humilhadas. Defendia os rejeitados e apoiava os explorados… Por seu testemunho, a comunidade havia perdido o seu status dentro da sociedade e via-se desonrada. Estava cansada e enfraquecida…Perguntava pelo sentido do sofrimento de Jesus Cristo e pelo sentido de seu próprio sofrimento… O risco de fraquejar era grande. Algumas pessoas abandonavam a comunidade (MARKUS, p. 300).
A carta exorta para a prática da fidelidade. As comunidades precisam ler seu presente, fazendo uma releitura do passado. E olhar para o futuro com esperança. Em meio às difi culdades, precisam permanecer fiéis ao Senhor Jesus, que revelou os mistérios de Deus. A carta exorta para não abandonar a confi ança e a fé por conta das dificuldades que enfrentam. Deus ama seu povo. Esse participará da glória do Filho de Deus. Ele nunca deixou de falar e de se revelar. Nesse sentido, a comunidade da segunda geração precisava de uma “reforma da igreja”. Jesus ainda não havia chegado. Mas a vida continua. A sua igreja está presente no mundo. A revelação definitiva de Deus em Cristo deve continuar no testemunho cristão. A carta explica aspectos importantes da “reforma”, indo às fontes e fazendo releituras.
A carta faz uma releitura da história da salvação. Estabelece uma relação entre o Antigo e o Novo Testamentos numa perspetiva cristológica. O tema central são o sacerdócio de Cristo e o culto cristão. A novidade é radical, completamente atual. Uma pessoa, Jesus Cristo, Filho de Deus e irmão dos seres humanos, é o Sumo Sacerdote. Ele é superior a Moisés e a todos os que vieram antes e que vêm depois dele. Pela sua morte e glorificação, ele é o único mediador entre Deus e as pessoas. O seu sacrifício substitui todos os sacrifícios antigos, que já não têm capacidade para elevar as pessoas até Deus. Pela sua morte, Cristo realiza o perdão dos pecados uma vez por todas, estabelece uma aliança nova e eterna com a humanidade e inaugura um novo culto, imagem do culto celeste. Ainda não estamos lá, mas estamos caminhando para esse culto pleno e radical. No caminho estão as estações que levam à conversão, à fé fiel e perseverante, à celebração da palavra e à vivência do amor. A vida cristã é um contínuo exercício da fé, da esperança e do amor. As pessoas precisam permanecer integradas em comunidade cristã, escutar a palavra e viver em comunhão com Deus e com os irmãos e as irmãs, pois Deus nos encontra e integra na unidade com Cristo e seu povo.
A oferta de Cristo ao Pai “uma vez para sempre” (Hb 10.10-14 e Hb 9. 26-28) constitui o grande acontecimento escatológico. Por meio desse gesto histórico cumpriu-se o ato de salvação que Deus nos oferece e permite nossa participação. Agora, continuemos a caminhada histórica da humanidade até a sua entrada na glória. Quando todos os inimigos forem submetidos a Cristo e forem vencidas a morte e todas as forças históricas do mundo, do pecado e de nossa carne, confirma Martim Lutero (Catecismo Menor), teremos, então, a realização do último ato da história da salvação. Ao encontro desse momento a humanidade toda está caminhando.
Hebreus 1.1-2 – Estes dois versículos enfatizam a revelação de Deus. O cristianismo é revelação. A fé está fundamentada na revelação de Deus. Ele se revelou a nós de muitas maneiras, no passado pelos profetas. Hoje, definitivamente, fala e revela-se por meio de seu próprio Filho. Deus fala e age através dele. Além disso, o Pai constitui-o herdeiro de todo o universo. Deus constitui Jesus como zelador e cuidador das vidas preciosas de sua criação. Toda e qualquer fala em nome de Deus deve ter fundamento nessa revelação e ação de Deus. Por isso, entre outros elementos, a carta faz uma releitura cristológica do Antigo Testamento. Em Jesus Cristo Deus cumpriu sua promessa de vida e salvação feita aos antigos. A viagem continua, mas sempre e somente nessa perspectiva cristológica e comunitária.
V. 3 – Depois de descrever a relação do Filho com a criação divina, a carta fala da relação do Filho com o Pai. É um versículo que resume a história da caminhada de Jesus. Ele é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser. Essa pregação está no mesmo sentido das palavras de Jesus no Evangelho segundo João, quando diz: Quem vê a mim, vê o Pai (Jo 14.9), e Eu e o Pai somos Um (Jo 10.30).
Em seguida, o versículo menciona três momentos importantes: 1) Jesus está na centralidade do equilíbrio do universo: “… sustentando todas as coisas pela palavra de seu poder”. A palavra poderosa é a mesma palavra criadora que colocou paz no caos, conforme Gênesis 1.1ss. Apesar da situação de caos em que vivem as comunidades, Jesus não permite que o caos vença. Pelo contrário, ele sustenta e cuida do universo, das comunidades e das pessoas sofredoras e perseguidas para as quais a carta é escrita. 2) O Filho, como imagem exata do ser do Pai, é o mesmo ser que encarnou na história humana. A expressão “a purificação dos pecados” significa o sofrimento vicário e a morte expiatória em favor do outro e da outra, de Jesus e do serviço sacerdotal que nos limpa dos pecados. O Filho oferece sua vida, derramando seu sangue e entregando a sua vida em favor do povo para a purifi cação dos pecados. A caminhada do Jesus encarnado vai à cruz, derramando seu sangue como sua obra de salvação do mundo. 3) Na posição de escravo de escravos, Jesus passa por sofrimentos, perseguições públicas, humilhações, dores e culmina na morte de cruz. Numa obra do Pai, ressuscita. O versículo menciona a ascensão do Filho que ocupa posição de honra e autoridade, à direita do Pai. Ele está lá, em pé à direita do Pai (At 7.56), pronto para atender nosso chamado por vida e salvação.
V. 4 – Este versículo nos quer ensinar que Jesus é, de fato, o único intermediário entre nós e Deus. Na época de Jesus e na história de Israel, em certos momentos pensava-se que anjos ocupavam lugares importantes de serviço, de mando, de proteção e de intermediação. Agora Jesus é superior a todos, não há nada na terra e no céu que seja superior a Jesus junto ao trono da majestade, Deus. Deus deu-lhe o nome acima de todo nome. Diante dele dobre todo joelho, na terra, no céu e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai (confira Fp 2. 9ss).
Hebreus 2.1-4 – Depois da exaltação de Jesus Cristo, para a glória do Pai, a carta exorta sobre os perigos e problemas da negligência na fé e na prática de fé. Se quem não era fiel ao testemunho de anjos no passado, já era castigado, muito mais será agora que o testemunho vem do próprio Filho e confirmado pelos que o ouviram (os da primeira geração de cristãos). Fé e comunhão são pura graça de Deus. Desprezá-las significa atrair sobre si o juízo de Deus.
3. Meditação
Reformas são feitas para mudar algo. Se a casa está caindo, chovendo dentro, então se precisa reformar as paredes ou a cobertura. Se o casamento está afundando, então se precisa tomar jeito de reformar, de mudar de atitude e de mudar de comportamento. Se a vida na igreja não está dando certo, então se precisa planejar e mudar. A palavra dita e vivida de outro jeito, quem sabe, pode provocar a fé e esquentar as práticas do amor que estão esfriando. Na Carta aos Hebreus, o tema da reforma não é mencionado, mas ele está bem presente. Há pessoas que estão questionando o jeito da comunidade, as perseguições por parte de quem está fora. Pessoas estão preocupadas com a indiferença e o abandono de alguns membros. A carta tira algumas teias de aranha e mofos das comunidades para reanimar a fé através da mesma palavra de ontem, hoje e sempre.
Inicia o mês de outubro. Outubro é um mês para celebrar, refletir e dialogar a partir de fatos importantes que fizeram desencadear a Reforma da igreja. Ela ocorreu em 31 de outubro de 1517. No próximo ano, serão realizadas atividades alusivas aos 500 anos da Reforma em todos os cantos da Terra. No presente ano, planejamentos e atividades convergem para as celebrações de 2017. Sob o prisma da Reforma Protestante, a igreja não parou. Pelo contrário, mudanças profundas internas e externas da igreja continuaram e continuam desafiando os povos em todos os tempos e lugares. O que Deus quer? O que ele nos oferece para que a vida e salvação possam ser a nossa a realidade? Qual é o seu jeito atual de revelação? O que Jesus espera de sua igreja em suas relações no mundo? As implicações da Reforma para a graça e fé que salva; para o amor que transforma; para a misericórdia que sustenta respeito e convivências; para a justiça restaurativa; para a educação que promove cidadania; para o povo que luta por liberdade; para o Estado que deve cuidar do pão e da justiça para todas as pessoas; para a defesa, promoção e garantia dos direitos humanos que deve fundamentar o direito à vida e dignidade na área civil; para o diálogo ecumênico que deve vencer a intolerância e construir a paz humana e planetária, incluindo todos os seres, a Terra. A Reforma refere-se à igreja cristã, mas teve infuências em muitas áreas de diferentes ciências, entendimentos e práticas sociais. Por certo há muitas perguntas que movimentam a vida. O culto de hoje não consegue abordar tudo. Mas pelo menos dois temas são preciosos para as leituras bíblicas de hoje: graça e fé e suas consequências.
O cristianismo é religião da revelação. Testemunha que Deus revelou-se de diversas maneiras. A revelação é graça. Quer provocar fé e salvação nas pessoas que presenciam ou que ouvem, veem, experimentam a graça de sua revelação. Ser amigo ou amiga de Deus, nesse sentido, significa aceitar a sua revelação, crer e confiar nele. É dessa revelação para a vida e salvação que Hebreus 1.1-4; 2.1-4 fala. E convida para que “nos apeguemos com firmeza às verdades ouvidas…” (Hb 2.1a).
Os antepassados creram e confiaram. Graças a Deus, pelo testemunho, assim nós também temos a oportunidade de crer e confiar. Paulo escreve a seu jovem amigo Timóteo: “Lembrado das tuas lágrimas, estou ansioso por ver-te, para que eu transborde de alegria pela recordação que guardo de tua fé sem fingimento, a mesma que, primeiramente, habitou em tua avó Loide e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também habita em ti” (2Tm 1.4-5). Orienta e admoesta o amigo para permanecer na fé e não entrar na onda dos que desistem. Prega para guardar a palavra com fé e amor em Cristo Jesus.
Jesus, queremos fé forte e grande. Sim, queremos muita fé. Pedem: “Senhor, aumenta-nos a fé” (Lc 17.5). Quem não quer uma fé forte e grande? Até mesmo a maioria das pessoas que se declara ateia gostaria de ter. No entanto, Jesus não atende os apóstolos, mas ministra aula de ensino confirmatório. Ensina, explicando qual é o problema: se vocês tivessem a fé do tamanho de um grão de mostarda, que é a menor de todas as sementes, até mesmo as árvores ouviriam as palavras de vocês (Lc 17.5-10). Isso significa que o principal problema nesse texto não é fé, mas obediência (ou desobediência) e desejo por retribuição (v. 10).
Certamente a comunidade já ouviu muitas pregações com base no texto de Hebreus. Ele já serviu em outros auxílios na história do PL, em diferentes épocas do ano litúrgico. O que muda na vida das pessoas? Lembramos que é mês de outubro, tempo de celebrar a Reforma. É também época de Pentecostes, pois é o 20º Domingo após Pentecostes. É também tempo de celebrar a vida e o entusiasmo que Deus, através do Espírito Santo, concede a seu povo. O testemunho apaixonado e firme da comunidade é graça de Deus. O Espírito que agiu no primeiro Pentecostes é o mesmo que age hoje. Através dele Deus permite que sejamos igreja com compromisso de fé e amor que cuida e transforma. Através do Espírito Santo a obra de Jesus continua e nos trouxe até aqui. A revelação de Deus foi realizada, decisivamente, por seu próprio Filho Jesus Cristo e continuada por profetas, apóstolos e povos de todos os tempos e lugares. A comunidade e seus membros são hoje as testemunhas vivas de Jesus da revelação. E ela tem continuidade.
4. Imagens para a prédica
4.1 – Na aldeia havia uma casa de compra e venda de comidas. O comerciante já estava ali há muito tempo. Era conhecido de todas as pessoas. Com o passar do tempo, a ferrugem e a sujeira desequilibraram a proporção da medida dos produtos que eram pesados e vendidos por ele. Quando seu comércio completou 20 anos, ele verificou a sua balança. Constatou que a diferença da medida em seu favor era de 15%. Sendo assim, 850 gramas de arroz pesavam 1 kg na sua balança. Pensou em lavar, lixar e regular a balança. Mas como ninguém reclamou, deixou assim mesmo. Todos os dias enganava seus clientes em 15% no peso das comidas vendidas.
Certo dia, chegou um homem simples, descalço e com roupas velhas no corpo. Disse que sua esposa estava doente e que precisava reforçar a comida. Seu dinheiro dava para comprar 1 tomate, 1 kg de arroz e 200 gramas de carne. Comprou a comida, pagou e foi embora.
À noite, o comerciante teve uma crise de consciência. Aquele homem empobrecido com seu pequeno pacote de comida, saindo descalço pela estrada, não saía de sua cabeça. O tempo foi passando. E a crise de consciência do comerciante foi aumentando. O remorso corroía-o por dentro.
Seis meses depois, o homem simples estava novamente em seu comércio. Mais do que depressa, o comerciante disse que estava arrependido porque o enganara com a sua medida. E agora queria restituir três vezes mais do que roubara. Portanto o homem poderia escolher o que queria. Esse, então, disse que precisava de tomate, arroz e carne. O homem comprou a mesma quantia, agora acrescida dos 45% de devolução do roubo na compra anterior.
O comerciante ficou muito aliviado e feliz. De noite, fez a janta e lavou a louça para ajudar a sua esposa nas lidas da casa. No outro dia, voltou para o seu comércio e continuou medindo e pesando os produtos com a mesma balança enganadora. A experiência dolorosa não ajudou a mudar seu comportamento. Não teve mudança, porque nada nas relações comerciais mudou naquela aldeia.
O comerciante devia ter reformado a balança e regulado a exatidão dos pesos e medidas e ser um homem de negócios justo.
A Reforma da igreja, quando for o caso, deve fazer uma faxina e tirar as teias de aranha, a ferrugem e a poeira que enganam o povo, ofuscando a sua vida de fé e amor. A Carta aos Hebreus fez uma limpeza dessas quando pregou sobre a revelação, a fé, a comunhão e o sacerdócio de Jesus. Não permitiu que o povo fosse enganado.
A Reforma Protestante em 1517 fez uma grande faxina na igreja. E possibilitou que a palavra fosse pregada de forma pura e reta. E as relações de trabalho e convívio fundamentam-se no sacerdócio das pessoas que creem. A fé em Jesus Cristo libertador integra o povo na comunhão divina e comunitária e na prática da esperança e do amor solidário.
Como você avalia a sua comunidade? Está tudo bem? Ou que reforma ela necessita? A medida da fé, da comunhão, da vida e de todas as coisas em uso foi aferida pela palavra ou está enferrujada, suja e poeirenta?
E Jesus disse: “Se tiverdes fé como um grão de mostarda…” (Lc 17.6a).
E ainda: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6) .
E mais: “Ora, se eu, sendo Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros” (Jo 13.14).
4.2 – A leitura da exegese e da meditação é necessária para a pregação. Proponho 4 pontos para a prédica.
4.2.1 – A fé. A fé e a graça. Mas é graça que não se despreza, que não deixa as pessoas indiferentes às mil e uma dores humanas. A fé vem pela revelação de Deus. A revelação de Deus é fundamental para percebermos quem é Deus, o que ele faz e o que ele espera do seu povo.
4.2.2 – Jesus é divino, a imagem exata do Pai. Superior a todos os seres na terra, no céu e debaixo da terra.
4.2.3 – Deus, em Jesus, é humano. Está presente, cuidando, amando e fortalecendo nas lutas diárias, em que o povo passa por dificuldades. A comunidade não está sozinha, pois Deus está aqui, na igreja e na vida de cada dia e noite de cada pessoa.
4.2.4 – Viver a fé na gratuidade significa vida e salvação. Desprezá-la significa morte e condenação.
5. Subsídios litúrgicos
Saudação
Senhor, quem acreditou em nossa pregação? E, assim, a fé vem pelo ouvir a pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo (Rm 10.16b-17).
Oração do dia
Deus, tira de nós os embrulhos dos ouvidos, que atrapalham o nosso ouvir com atenção à pregação da tua palavra. Tira de nós as teias de aranha de nosso coração e mente, que prejudicam a nossa percepção e assimilação da tua palavra. Tira de nós o véu de nossos olhos, que não querem ver o clamor de teu povo. Desamarra as correntes de nossos pés e mãos, que impedem que assumamos compromissos com as pessoas para as quais muitas coisas saem erradas na vida. Tira de nós as rugas da racionalidade e da afetividade, que impedem legitimar a encarnação de tua palavra na realidade humana. Livres, libertados, agora fala conosco, Senhor, por tua palavra revelada. Vem e permaneça conosco, Deus.
Antes das leituras bíblicas
Visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé (Rm 1.17).
Bibliografia
LOHSE, Eduard. Introdução ao Novo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 1972. MARKUS, Cledes. 19º Domingo Após Pentecostes. HOEFELMANN,Verner (coord.). Proclamar Libertação. São Leopoldo, RS: IEPG, Sinodal, 2014. p. 299-304, v. 39.
A CARTA AOS HEBREUS. Disponível em: Acesso em: 20 jun. 2015.
Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).