A palavra escrita prolonga, aprofunda e ajuda a memorizar o testemunho verbal. Cristo, Palavra viva, comissionou seguidores para testemunhar por sua maneira de crer e viver, por suas palavras e seus atos e também por suas palavras escritas, em cada novo contexto. Paulo foi um grande mestre no uso da palavra verbal e escrita. Assim o foram muitos outros seguidores de Cristo, como os Reformadores.
Em especial, Lutero deixou uma herança de 127 volumes, mas o que desencadeou a Reforma foi um modesto papel com as 95 teses de Lutero (1517). Divulgadas em forma de folhetos pela Alemanha, elas caíram em solo fértil vindo ao encontro de anseios por uma reforma ‘na cabeça e nos membros’.
Os Pastores que vieram atender os imigrantes evangélicos dispersos no Brasil levavam livros, folhetos e periódicos nas mochilas. Por meio dos boletins e jornais que surgiram, as Comunidades inicialmente isoladas passaram a caminhar juntas em várias regiões.
Voz do Evangelho: resultado de convergências – Em Santa Catarina, os primeiros jornais foram Die Koloniezeitung (Joinville/ 1862) e Blumenauer Zeitung (1881- 1939), jornais seculares lidos amplamente também nas Comunidades. No âmbito eclesiástico, o P. Faulhaber lançou o jornal Der Urwaldsbote (Mensageiro da Selva – Blumenau/1893). Em Brusque/1895, o P. Lange iniciou a publicação de um Sonntagsblatt (Folha Dominical), incorporando o Mensageiro de Blumenau. Quando, em Joinville (1905), foi fundado o Sínodo Evangélico-Luterano de Santa Catarina, Paraná e outros Estados (Espírito Santo), ele passou a publicar o Evangelisch- Lutherisches Gemeindeblatt. Em 1908, em Blumenau, surgia o Christenbote, que, em 1911, se tornaria órgão de comunicação do Sínodo Evangélico de Santa Catarina e Paraná. Em 1962, os dois Sínodos se fundiram no Sínodo Evangélico Luterano Unido (Selu), que adotou como órgão de comunicação o Mensageiro do Evangelho, depois Voz do Evangelho. A edição mensal bilíngue teve tiragem de 8.500 exemplares, em 1971, quando se fundiu com o Jornal Evangélico.
Folha Dominical: Rio Grande do Sul – Cabe grande mérito ao P. Dr. Wilhelm Rotermund (1843-1925), no âmbito das publicações no Estado. Tendo assumido a Paróquia de São Leopoldo/RS, em 1875, criou uma livraria evangélica, tipografia e casa editora (1877), passando a publicar o jornal Deutsche Post (Correio Alemão, até 1928), com um suplemento Sonntagsblatt (Folha Dominical) para as Comunidades evangélicas e o almanaque Kalender für die Deutschen in Brasilien (1881), que, em 1922, passou a ser Kalender für die deutschen evangelischen Gemeinden, com prontuário de Comunidades e Pastores. Usando as ferramentas da imprensa, Rotermund participou decisivamente na construção do perfil confessional das Comunidades e na criação do Sínodo Riograndense (1886). Deixando de ser suplemento, o semanário Sonntagsblatt (Folha Dominical) se tornou órgão do Sínodo (1887). No ano da fusão com o Jornal Evangélico (1971), a Folha Dominical era publicada com tiragem de 10 mil exemplares.
A Cruz no Sul: São Paulo – Em 1912, após uma fase de várias Conferências Pastorais, se formou o Sínodo Evangélico do Brasil Central, abrangendo Comunidades em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. O periódico Kreuz im Süden (A Cruz no Sul) surgiu em 1936 como boletim informativo da Comunidade Evangélica de São Paulo e Vila Mariana e passou a ser o principal periódico eclesiástico no Sínodo. Na época da fusão com o Jorev, A Cruz no Sul circulava com tiragem de 2 mil exemplares. O seu Redator, Asclepíades Pommê, participou intensivamente dos diálogos sobre os rumos da imprensa na IECLB.
Heimatbote: Espírito Santo – As Comunidades evangélico-luteranas no Espírito Santo também tiveram um periódico para fortalecer a coesão naquele Estado: Heimatbote (Mensageiro da Pátria). Surgiu em 1935 por iniciativa do P. Hermann Roelke, mas só durou até 1938, devido às dificuldades no período da nacionalização. Depois da II Guerra, em 1951, coube ao P. Siegmund Wanke reativar a publicação. O jornal era publicado com tiragem em torno de 2 mil exemplares, até pouco antes da fusão dos periódicos no Jorev.
(P. Johannes Hasenack)