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Ouvir não é tão simples como nos parece num primeiro momento. Para ouvir temos que nos colocar no lugar dos outros, perceber suas dores e necessidades sociais, suas angústias. Compreender as causas da timidez, da agressividade, dos comportamentos estranhos. Entender o que as pessoas querem nos dizer mesmo sem falar, ouvir mesmo o que não queremos. Enfim, emprestar o nosso ombro para chorarem, rirem ou simplesmente reclinarem a cabeça.
“Inclina, Senhor, os teus ouvidos, e ouve-me, porque estou necessitado e aflito.” (Sl 86.1).
Também dialogar não é tão simples, para isso precisamos coragem. Coragem para nos abrirmos sem medo, sem vergonha das nossas falhas e fracassos. Respeitarmos os limites e os conflitos dos outros.
Tanto para ouvir como dialogar, precisamos confiar sem cobrança excessiva.
“O pior desespero não durará muito se desabafarmos com um amigo que nos entenda.”
Numa relação familiar; cônjuges, pais e filhos, parentes; é onde mais se sente a dificuldade do ouvir e dialogar. É difícil ouvir ou falar de mágoas, conflitos, dificuldades. Talvez porque têm medo de serem criticados, incompreendidos, ridicularizados. Têm medo da guerra emocional que se instala quando falam os segredos do coração, quando comentam sobre os reais sentimentos.
Abra seu coração; conte seus sonhos, seus fracassos, suas alegrias, suas tristezas, não seja somente um crítico, saiba valorizar e elogiar também.
Se você errar, dê o exemplo, peça desculpas, reconheça seus erros. Tais atitudes não o farão perder a autoridade. Nem profissionalmente, nem com amigos, nem com a família.
Se você deseja ter uma família perfeita, filhos que não o decepcionem, alunos que não o frustrem e colegas de trabalho que não o aborreçam, é melhor mudar-se para outro planeta. Aceite as pessoas com seus limites e construa relações saudáveis com elas.
O MESTRE DOS MESTRES DA QUALIDADE DE VIDA.
(Mc 14.32-42 Jo 10.10 Lc 22.39-46 Mc 10.43-45 )
Há muitos padres, pastores, rabinos, líderes muçulmanos que entram em crises de depressão, por receio de falar de seus conflitos. A mesma realidade acontece com líderes empresariais, políticos e sociais.
Jesus Cristo, como Mestre dos mestres da qualidade de vida, não reagiu desse modo. Ele teve a coragem de chamar um grupo de amigos (Pedro, Tiago e João) e falar para eles que sua emoção estava profundamente triste. Teve a coragem de mostrar seus sofrimentos e sintomas psicossomáticos para discípulos tão jovens e inexperientes.
Horas depois, eles fugiram amedrontados, abandonando-o. Mas foi para essas frágeis pessoas que Jesus revelou sua dor mais intensa. Não teve medo de ser incompreendido, julgado e criticado. Ele precisava ensinar que dependemos uns dos outros, que necessitamos ser confortados e encorajados uns pelos outros. Mostrou que para ter qualidade de vida precisamos ser seres humanos e não heróis.
A pessoa mais forte que passou nesta terra chorou sem medo das suas lágrimas.
O fenômeno RAM (Registro Automático da Memória) registrou uma imagem excelente dEle no inconsciente dos Seus discípulos. Eles aprenderam a amá-Lo em toda situação. Entenderam que também passariam por crises e precisariam enfrentá-las e compartilhá-las.
Jesus mostrou-nos que não devemos ter vergonha das nossas misérias e fragilidades. Para Ele, os fortes as declaram, pelo menos para os mais íntimos. Os fracos as escondem.
Jesus Cristo foi um excelente vendedor de sonhos. Ele inspirava as pessoas que O seguiam. Levava-as a sonhar com grandes conquistas. Ele amava existir, pensar, sonhar, criar, dialogar, ouvir. Amava o espiritual.
Nós amamos o material.
Sempre dócil, ouvia os absurdos dos seus discípulos e, pacientemente, trabalhava no fundo da emoção deles. Disse que o maior não é o que dominava, mas o que servia, o que emprestava seus ouvidos e seu coração e não cobrava retorno.
Para Jesus, as pessoas que hoje mais nos dão dor de cabeça poderão vir a ser as que mais nos darão alegrias no futuro.
Plante sementes. Não espere resultados imediatos. Colha com paciência.

Silvia Renate Baxmann Carrupt