Advento – o convite para andarmos no caminho do Senhor
Proclamar Libertação – Volume 47
Prédica: Isaías 2.1-5
Leituras: Mateus 24.36-44 e Romanos 13.11-14
Autoria: Roger Marcel Wanke
Data Litúrgica: 1º Domingo de Advento
Data da Pregação: 27/11/2022
Introdução
Como Igreja de Jesus Cristo, iniciamos um novo ano. Advento marca o início do calendário litúrgico da igreja cristã. Aliás, é interessante notar que o calendário litúrgico termina e inicia com o tema da esperança. O Domingo Cristo Rei, ou também conhecido como Domingo da Eternidade, termina o ano da igreja apontando para a esperança do Reino de Deus na pessoa de Jesus Cristo, o Rei dos reis e o Senhor dos senhores, que não apenas trouxe o seu Reino, mas também venceu a morte e o pecado. Já no domingo seguinte, no 1º Domingo de Advento, somos exortados a esperar pelo Dia do Senhor, o dia de sua volta, “para julgar os vivos e os mortos”, como diz o Credo Apostólico. Mesmo que os domingos de Advento nos levam para o Natal, no qual celebramos o nascimento de Jesus, a vinda do Salvador, os domingos de Advento também nos conduzem liturgicamente para a expectativa do grande Dia do Senhor, de sua segunda vinda como soberano Senhor. Essas duas dimensões, ou melhor, duas vindas, uma como bebê e outra como Senhor, são colocadas lado a lado nesse período do ano litúrgico, alimentando assim a fé e a esperança cristã.
O texto previsto para a pregação deste 1º Domingo de Advento encontra–se no início do livro do profeta Isaías 2.1-5, no qual lemos a respeito do futuro glorioso de Sião. É um texto breve, também mencionado em Miqueias 4.1-3, contemporâneo de Isaías, o qual fala da exaltação da cidade de Jerusalém e de seu Templo, os quais serão no futuro um lugar de encontro de todas as nações para viverem reconciliadas com Deus, num reino de paz.
Como leituras bíblicas estão previstas duas perícopes do Novo Testamento. A primeira é de Mateus 24.36-44, que trata da vigilância em relação à vinda do Filho do Homem, no contexto da parábola da figueira, um dos pontos centrais do grande sermão profético de Jesus (Mt 24 – 25). Esse é o quarto discurso de Jesus apresentado pelo evangelista Mateus e entrelaça dois temas principais: a) o anúncio profético da queda de Jerusalém, que foi destruída pelo exército romano no ano 70 d. C. por meio da ordem do imperador Tito; b) o anúncio profético da vinda do Filho do Homem como cumprimento das profecias de Daniel 7.13. Ou seja, a vinda do próprio Deus a este mundo.
A segunda leitura nos leva para a Carta aos Romanos de Paulo. A perícope de Romanos 13.11-14 também nos fala da volta de Cristo. Após apresentar o conteúdo da obra salvífica de Deus em Jesus Cristo (Rm 1 – 11), Paulo exorta a comunidade de Roma a despertar do sono, já que eles conhecem o tempo, ou seja, eles sabem acerca dos últimos dias, o grande Dia do Senhor. Paulo tem convicção de que a consumação da salvação está cada vez mais perto do que quando eles começaram a crer (v. 11). Isso tem consequências concretas na vida da igreja. Quem tem esperança não anda mais nas trevas e nas obras das trevas (orgias, bebedices, perversidades, dissoluções, contendas, ciúmes), mas anda na luz, como filho da luz (v. 13).
A relação desses dois textos com a perícope da pregação está no fato de eles apontarem para a esperança da vinda do Senhor e para o compromisso que essa esperança futura traz para a vida do povo de Deus no presente. A vigilância diante da vinda do Senhor, que não tem hora marcada publicada, mas acontecerá sem que as pessoas saibam, leva a um novo relacionamento com Deus e com as pessoas. O povo de Deus é convidado sempre de novo a andar na luz do Senhor (confira, neste mesmo sentido, 1Ts 5.1-22). Andar na luz do Senhor não é apenas experimentar a salvação, mas testemunhá-la concretamente em sua vida às demais pessoas.
Em Proclamar Libertação, encontramos mais duas abordagens sobre a perícope delimitada em Isaías 2.1-5. Elas podem inspirar o seu preparo e a sua pregação: a) PL VI (1980), p. 225-232; b) PL XVIII (1992), p. 9-14. Vale a pena conferir.
Análise exegética
O texto pode ser dividido em três partes principais: a) título [v. 1]; b) as nações e a profecia sobre o futuro de Sião [v. 2-4]; c) convite para a casa de Jacó andar na luz do Senhor [v. 5]. Quanto ao gênero literário, trata-se de uma profecia, ou anúncio de salvação. Contudo, essa profecia está inserida num bloco em que Isaías está denunciando a perversidade, a hipocrisia e anunciando o julgamento de Judá e Jerusalém. Isso é bem característico dos profetas. O anúncio da graça e da salvação de Deus nunca vem desacompanhado da denúncia do pecado e anúncio do juízo de Deus. O juízo de Deus, por sua vez, é sempre um convite para o seu povo se arrepender e experimentar a sua graça e salvação. Vejamos o texto a partir de alguns detalhes:
O v. 1 pode ser entendido como título não somente da perícope em questão, mas de uma coleção, que provavelmente vai até o final do capítulo 5. Ele retoma a informação de que se trata de uma visão de Isaías, assim como em Isaías 1.1. Literalmente, no hebraico, significa que Isaías enxergou a palavra do Senhor. A palavra de Deus que vem ao profeta pode ser vista. Ela é a forma de ver do Senhor. O profeta não apenas fala o que Deus lhe põe em sua boca, mas vê o que o Senhor lhe diz. O que Isaías vê tem a ver com Judá e Jerusalém. Isso significa que é uma visão acerca do Reino do Sul e sua capital.
Nos v. 2-4, temos a descrição do que Isaías viu. Sua visão é uma profecia de salvação que tem uma perspectiva universal, pois trata da vinda dos povos e nações até o monte Sião. Esse é um tema também encontrado no que podemos chamar de “salmos missionários” (Sl 47; 67; 93; 96; 97; 98; 99; 100; 117 e 150). Esses textos refletem o cumprimento da promessa que Deus deu a Abraão e Sara: em ti serão benditas todas as famílias da terra (Gn 12.3). Eles também refletem o que deveria ter sido o impacto da identidade do povo de Israel entre as nações como Reino de Sacerdotes e Nação Santa (Êx 19.6 e Dt 7.6). O v. 2 aponta para um novo tempo, descrito como os “últimos dias”. Trata-se de um grande período de redenção que está por vir. São os dias que completarão a história. Nessa plenitude e completude do tempo Isaías vê o monte da casa do Senhor. Trata-se do monte Sião, local onde está o Templo em Jerusalém, o lugar da habitação de Deus com o seu povo (cf. 1Rs 8). A visão aponta para duas realidades. A primeira é que o monte Sião será estabelecido como o monte mais alto, no cimo dos montes e se erguerá acima de todas as colinas. Ou seja, o monte do Templo será o principal dos montes, elevado acima de todos, de modo que todos possam vê-lo. Aqui é importante destacar que os montes eram os lugares dos templos dos ídolos. Também as colinas e os outeiros eram lugares considerados sagrados, nos quais se praticava culto aos ídolos. Isso significa que a visão de Isaías aponta para a supremacia do monte Sião. O local de culto ao Senhor é mais elevado do que as colinas e outros montes usados para os cultos das nações. Aqui fica clara também a segunda realidade apontada pela visão de Isaías. Pelo fato do monte do Templo do Senhor ser considerado o mais alto, os deuses dos povos e das nações não são mais suficientes nem eficientes. Eles não passam de ídolos. Por isso as nações fluirão em direção ao monte Sião, onde fica o Templo do Senhor, para adorá-lo, pois reconhecem sua soberania. A imagem aqui é impactante. Todas as nações (kol hagoyim) virão ao Templo como um rio caudaloso (fluir) que sobe o monte para adorar o Senhor. O verbo fluir é usado para o correr dos rios. Outro aspecto que impacta é que todas as nações reconhecerão o primeiro mandamento: Eu sou o Senhor teu Deus e não terás outros deuses diante de mim (Êx 20.3). Além do caráter universal da salvação, essas nações abandonam os ídolos adorados em seus montes, para servir e se render diante do Senhor, no monte Sião. Essa é uma das imagens mais impressionantes para se falar de missão no Antigo Testamento. A intenção missionária de Deus aqui é mais do que evidente. Há quem diga que o Antigo Testamento não fala de missão. Talvez, quem pensa assim, jamais se confrontou com um texto como esse.
A visão de Isaías continua no v. 3. Desta vez, ele vê que todas essas nações, indo em direção ao monte Sião, têm algo a dizer. Elas têm um convite para elas mesmas: Venham (vinde) subamos ao Monte do Senhor, à Casa do Deus de Jacó. Mais um aspecto nos impacta aqui: as nações são missionárias. Elas convidam umas às outras para irem até Jerusalém, no monte Sião, no Templo, chamado aqui de casa do Deus de Jacó. Elas reconhecem que o Senhor se revelou a Jacó, também conhecido por Israel. Isso significa que as nações não encontrarão salvação em outro lugar. O único e verdadeiro Deus, revelado ao povo de Israel por meio de sua Torá, só pode ser encontrado na casa do Deus de Jacó. Essa imagem impactante nos lembra de um texto deuterocanônico muito importante da tradição sapiencial judaica que, inclusive, está no pano de fundo teológico do prólogo de João, o qual nos fala da encarnação do Verbo, um dos principais textos previstos para o Natal, ou seja, o ápice dos quatro domingos de Advento:
A Sabedoria faz o seu próprio elogio, ela se exalta no meio do seu povo. Na assembleia do Altíssimo abre a boca, ela se exalta diante do seu poder. Saí da boca do Altíssimo e como a neblina cobri a terra. Armei a minha tenda nas nuvens. Só eu rodeei a abóboda celeste, eu percorri a profundeza dos abismos, as ondas do mar, a terra inteira, reinei sobre todos os povos e nações. Junto de todos estes procurei onde pousar e em qual herança pudesse habitar. Então o criador de todas as coisas deu-me uma ordem, aquele que me criou armou a minha tenda e disse: Instala-te em Jacó, em Israel recebe a tua herança. Criou-me antes dos séculos, desde o princípio, e para sempre não deixarei de existir. Na Tenda Santa, em sua presença, oficiei, deste modo, estabeleci-me em Sião e na cidade amada encontrei repouso, meu poder está em Jerusalém. Enraizei-me num povo cheio de glória, no domínio do Senhor se encontra minha herança (Eclesiástico 24.1-16 – Bíblia de Jerusalém).
Esse “rio missionário” das nações em direção a Sião tem, conforme o texto, duas finalidades expressas por meio de dois desejos, bem como uma clara e profunda fundamentação teológica. Num primeiro momento, há o desejo das nações de serem ensinadas em relação ao caminho do Senhor. Elas não conhecem o caminho do Senhor. Mais uma distinção é feita aqui em relação à idolatria das nações. No Antigo Testamento, a conversão ao Senhor significa uma mudança total de direção, ou seja, é o abandono do caminho dos deuses para seguir o caminho do Senhor. Israel é sempre exortado a andar nos caminhos do Senhor, não se desviando para a idolatria (Dt 8.6; 26.17). O salmista clama para que o Senhor lhe ensine o seu caminho (Sl 27.11; 86.11; 143.8). Além de conhecerem os caminhos do Senhor, as nações desejam também aprender a andar em suas veredas. Andar com Deus é discipulado. É a atitude de Enoque (Gn 5.24), de Noé (Gn 6.9) e de Abraão (Gn 17.1). A fundamentação teológica de conhecer e andar nos caminhos do Senhor é destacada no final do v. 3: porque de Sião sairá a lei [instrução], e a palavra do Senhor, de Jerusalém. Percebe-se aqui um paralelismo sinonímico: Sião e Jerusalém formam um paralelo e significam, em si, a mesma coisa. A “Torá” [instrução] forma outro paralelismo com a “palavra do Senhor” (dabar adonay). Chama a atenção que as nações não fluirão para o Templo, no monte Sião, porque lá seria o local dos sacrifícios e holocaustos, mas porque de lá sairá a palavra e a instrução do Senhor. A palavra do Senhor é sua instrução de vida, é palavra de juízo e salvação. É palavra para as nações. As nações trocam os seus deuses pela palavra e pela Torá do Senhor. Impressionante!
No v. 4, Deus é apresentado como juiz e governante dos povos e nações. Seu governo se estabelece desde Sião e abrange todo o mundo. Seu governo promoverá a paz entre as nações. A guerra deixará de existir. A imagem apresentada aqui também é impactante: as espadas serão trituradas em lâminas de enxada (relhas de arados) e as lanças serão trituradas em lâminas de podadeiras. O que era usado antes como armas para guerras será transformado em ferramentas agrícolas. O que causava morte será transformado em instrumento de sustento. Quem aprende o caminho do Senhor anda no caminho da paz. Há uma mudança de mentalidade entre as nações. Precisamos considerar aqui que a guerra era, na época (infelizmente até o dia de hoje), a forma de nações resolverem suas causas conflitos. Com o governo do Senhor sobre todas as nações, a paz, fruto de sua palavra e de sua Torá, será a sua característica principal.
Por fim, no v. 5, vemos mais um aspecto impactante. As nações agora fazem um segundo convite. Desta vez, elas se dirigem ao povo de Jerusalém e Judá. Com a expressão casa de Jacó, o v. 5 faz um contraponto com a expressão casa do Deus de Jacó. A casa de Jacó parece não fluir para a casa do Deus de Jacó, a fim de conhecer os caminhos do Senhor, andar neles, porque de Sião sairão a instrução e a palavra do Senhor. A casa de Jacó está indo para outras colinas e altares, servindo outros deuses e andando nos caminhos dos ídolos. No Antigo Testamento, o termo luz significa revelação, salvação (Sl 27.1), mas também é o símbolo da presença salvadora de Deus. O povo de Deus deve andar na luz do Senhor. Ele havia se desviado de seu propósito: ser bênção e ser luz para as nações. Ele é agora convidado pelas nações para andarem na luz do Senhor, da qual Israel deveria ter testemunhado entre as nações. Parece irônico, mas é a triste realidade na qual pode cair o povo de Deus. O texto, de forma inusitada, apresenta Israel como espectador e convidado e não como protagonista e testemunha da salvação ou como um povo missionário. São as nações que cumprem a missão de Deus em favor de Israel! A que ponto se chega quando o povo de Deus se esquece de sua identidade missional e de sua tarefa missionária!
Meditação
Advento é tempo de espera e de esperança. Por um lado, Jesus já veio. Ele cumpriu essa profecia de Isaías nascendo na manjedoura de Belém. Os sábios do Oriente, representando todos os povos e nações, vieram e se prostraram diante do Salvador (Mt 2.1-12). Interessante é que o cumprimento dessa profecia não se deu, num primeiro momento, no monte Sião, em Jerusalém. Os sábios até vão para o palácio real, na cidade santa, mas a estrela os guiou para a periferia, para Belém, e lá na estrebaria estava o Filho de Deus, deitado numa manjedoura. Dias mais tarde, Jesus é levado ao Templo, em Jerusalém. Um homem bastante idoso, justo e piedoso, chamado Simeão, aguardava com esperança os últimos dias. Simeão pegou Jesus no colo e diz, louvando a Deus: Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra, porque os meus olhos já viram a tua salvação, a qual preparaste diante de todos os povos: luz para revelação aos gentios e para a glória do teu povo de Israel (Lc 2.25-32).
Advento é tempo de espera e de esperança. Espera pela salvação. Não se trata de uma libertação sociopolítica. Jesus não destronou Herodes, muito menos baniu o Império Romano. Pelo contrário, Herodes tentou matar Jesus e o Império Romano destruiu Jerusalém e o seu Templo em 70 d. C. A salvação da qual fala o tempo de Advento e o texto previsto para este seu primeiro domingo fala de salvação num âmbito muito maior. Fala-se da reconciliação de Deus com o mundo. Se todas as nações são convidadas a se colocarem na presença do Senhor e se o mesmo vale para o povo de Israel (casa de Jacó), então é porque se trata do perdão e da salvação do pecado. Trata-se da paz (shalom) de Deus, que é muito mais profunda do que apenas ausência de guerras, fim de poderes opressores. O trono de Jesus não é deste mundo. Seu Reino não é deste mundo. Mas este mundo recebe o convite para estar em seu Reino de paz.
Somente a partir dessa perspectiva é que faz sentido falar de missão. O texto de hoje não fala de construirmos o Reino de Deus neste mundo, mas sim do mundo ser reconciliado com Deus e ser convidado a viver em seu Reino para além deste mundo. Por isso esperança cristã jamais pode ser confundida com utopias. O texto nos fala de uma realidade de Deus que vem de Deus e que não se conquista na terra. O texto nos fala da missão reconciliadora de Deus em favor deste mundo e não apenas de um melhoramento do mundo ou de sua transformação por meio de engajamentos humanos. O texto fala de uma mudança e de uma inversão da realidade, não por mecanismos humanos, mas pela palavra de Deus (v. 3). Esse é o ponto central do texto previsto para essa pregação. A palavra de salvação não vem deste mundo, mas vem da casa do Deus de Jacó, do lugar que o Senhor revelou a sua Torá, a sua vontade ao seu povo e às nações.
Falamos bastante de missão na IECLB. A pergunta é se entendemos o que a Bíblia fala de missão. No Antigo Testamento, a missão de Deus tem dois fundamentos centrais. O primeiro é a iniciativa de buscar o ser humano pecador, que se distanciou dele. Em Gênesis 3.9, Deus pergunta: Adão, onde tu estás? Essa pergunta aponta para a inciativa salvífica de Deus de vir ao encontro e buscar o pecador para junto de si. O segundo é o chamado de Abraão e Sara, que saíram de sua terra e foram para a terra que o Senhor lhes mostrou, para serem bênção a todas as famílias da terra. O texto previsto para a pregação leva em consideração e tem como pressuposto esses dois fundamentos da missão de Deus no Antigo Testamento. As nações refletem a humanidade perdida e pecadora, que a partir da história de salvação de Deus, através dos descendentes de Abraão e Sara, serão alcançadas. A existência do povo de Israel como povo de Deus só se justifica se for para ser bênção para as famílias dos povos e luz para as nações. A Igreja de Jesus Cristo não é diferente. Ela está inserida dentro dessa grande missão de Deus. A igreja cristã só tem legitimidade para sua existência se for missionária, se for para anunciar o perdão dos pecados, a salvação em Jesus Cristo e a paz com Deus, que se reflete neste mundo. Caso contrário, ela estará sob o juízo de Deus. Sobre isso valeria a pena ler os três primeiros capítulos do livro de Apocalipse.
O texto da pregação é um convite ousado, dirigido a um povo que se esqueceu que já havia se esquecido de Deus e de seus caminhos. O povo, que recebeu a Torá revelada de Deus e a partir dela deveria testemunhar e anunciar o amor de Deus, não conhecia mais a Deus e seus caminhos, muito menos andava com o Senhor. O povo de Deus desprezou a sua palavra, a sua Torá. Advento é um convite amoroso de Deus a abandonarmos os ídolos, a subirmos ao Calvário e nos colocarmos diante da loucura da cruz (1Co 1) e da loucura da manjedoura (Lc 2), dois locais onde Deus se revelou neste mundo em favor de todas as nações e do seu próprio povo.
Será que essa realidade não pode, infelizmente, ser vista em nossa própria igreja? Muitas pessoas em nossas comunidades não conhecem os caminhos do Senhor e também não andam neles apesar de dizerem que são parte da nossa igreja. O texto da pregação apresenta o que poderíamos dizer, a partir da missiologia, que a missão externa do povo de Deus deu certo: as nações estão vindo ao Senhor. Mas a missão interna precisa ser revitalizada: a casa de Jacó não anda na luz do Senhor. O povo de Deus recebe um convite das próprias nações para experimentarem, curiosamente, o que Israel conhecia desde a sua origem. Quem não é missionário acaba se tornando alvo da missão de Deus. Aqui valeria a pena ler e refletir sobre o livro de Jonas. É mais fácil converter os marinheiros e os ninivitas (representantes das nações e dos povos) do que o profeta de Deus (representante de Israel). Precisamos refletir urgentemente sobre isso na IECLB. Não vivemos mais num regime de cristandade. Não basta mais ser batizado. Sobre isso a história de Lídia em Atos 16 pode nos servir de inspiração. A pregação do 1º Domingo de Advento é um convite para pregarmos sobre isso em nossas comunidades.
Imagens para a prédica
Introduzir a prédica situando o contexto dos domingos de Advento. Parece óbvio, mas não é. Não é mais possível pressupor em nossa igreja que seus membros saibam o que significa teológica e liturgicamente o Advento. Percebe-se que raramente se enfatiza em nossas pregações o tema da volta de Jesus. Pode-se também perguntar por imagens que remetem à esperança. O fato da visão de Isaías apresentar dois convites seria de forma homilética bem refletido, abordar o tema do Advento como tempo de esperança, mas também como tempo de convite ao discipulado, para andarmos no caminho e na luz do Senhor.
Tema da pregação: Advento – o convite para andarmos no caminho do Senhor.
O Senhor nos convida a abandonar os ídolos
A visão de Isaías, mostrando nações indo para Jerusalém por causa da palavra de Deus é sinal claro e evidente de que elas abandonaram os seus ídolos, deixaram para trás os seus montes e se converteram ao Senhor. Neste primeiro tópico da prédica, pode-se trabalhar exatamente esse aspecto.
Vinde e andemos no caminho do Senhor
Enfatizar aqui os dois desejos (finalidades) e a razão teológica para as nações irem até o Templo do Senhor. Conhecer e andar nos caminhos do Senhor porque o Senhor é o único que tem palavras de salvação e de paz. Conhecer os caminhos e andar nos caminhos significa ser julgado e corrigido pelo Senhor, para que haja paz no mundo.
Vinde e andemos na luz do Senhor
Aqui se pode aplicar o texto fazendo um convite claro e convincente à comunidade para que ela desperte do sono das trevas e ande na luz do Senhor, que faça a diferença no contexto em que vive na esperança e na perspectiva da volta
do Senhor. Aqui a ênfase recai sobre a identidade missional do povo de Deus e na
sua tarefa missionária entre as pessoas.
Subsídios litúrgicos
Vejamos algumas sugestões para a liturgia do culto:
Liturgia de entrada: Como cântico inicial pode ser cantado o hino “Jesus em tua presença” (LCI 200). No momento da confissão dos pecados, pode-se cantar com a comunidade o hino “Se sofrimento te causei, Senhor” (LCI 36).
Liturgia da palavra: Sugere-se aqui cantar hinos de Advento. Para isso, confira no LCI os hinos 353-366.
Liturgia de despedida: Ao final do culto, sugere-se cantar o hino “Muitos virão te louvar” (LCI 579) ou o hino “Convite à liberdade” (LCI 586).
Bibliografia
SCHÖKEL, L. Alonso; DIAZ, J. L. Sicre. Profetas I: Isaías, Jeremias. São Paulo: Paulinas, 1988.
ANDIÑACH, Pablo R. Introdução Hermenêutica ao Antigo Testamento. São Leopoldo: Sinodal; EST, 2015.
MUELLER, Ênio R. Isaías 1-12. Belo Horizonte: Missão Editora; Curitiba: Encontrão, 1992. (Série Em Diálogo com a Bíblia, v. 19.1).
Proclamar libertação (PL) é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)