Convite
Aquele que te glorifica diz: Vinde!
Proclamar Libertação – Volume 41
Prédica: Isaías 55.1-5
Leituras: Mateus 14.13-21 e Romanos 9.1-5
Autoria: Marivete Zanoni Kunz
Data Litúrgica: 9º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 06/08/2017
1. Introdução
Isaías é o profeta que viveu e trouxe sua mensagem no século 8 a.C. Ele apareceu no cenário e pregou quando as tribos do Reino do Norte estavam quase sendo destruídas pela Assíria, ou seja, no ano 736 a.C. O Reino do Norte foi conquistado pela Assíria no ano 722 a.C.
A partir de alguns textos, como 2 Reis 18.7, é possível perceber que o Reino do Sul serviu à Assíria devido a certo apoio que recebeu dela ainda no período de Acaz. Entretanto, embora tivesse esse apoio, Acaz pagava tributos para a Assíria. Porém, quando Ezequias assumiu o reino, não quis mais pagar tais tributos e recebeu o consentimento e apoio de Isaías. O profeta incentivou os reis a confiar no Senhor e não em outras nações. Ezequias permaneceu fiel a Javé, ainda que enfrentando ataques da Assíria, porém mais tarde acabou fazendo aliança com o Egito e a Babilônia e sofreu as consequências por essa decisão. Diante desse contexto, percebe-se que Javé julga e também livra seu povo. Tendo esse pano de fundo, fica mais fácil compreender o convite que o texto de hoje faz a seu povo, a saber, que confie em Javé e com ele renove sua aliança, não com outras nações.
2. Exegese
O capítulo 55 do livro de Isaías tem relação com a palavra de consolo apresentada no capítulo 40. O que temos em Isaías 55 é uma palavra de consolo, pois agora o povo da aliança será abençoado com o cumprimento da promessa de salvação que acontece com o retorno do povo para a terra natal. Assim, o bloco em que o texto de Isaias 55 está inserido é diferente da parte inicial do livro. A partir do capítulo 40 até o 55, o autor já não traz mais denúncias, mas palavras de esperança e conforto. Essa esperança não era algo distante, ou seja, era para aquele momento, tudo dependeria da atitude do povo. Agora Javé aparece como Senhor da história, que quer salvar seu povo.
V. 1 – Neste versículo, o autor apresenta aquilo que é básico para ser possível viver: pão e água. Em todo o Oriente, a água é muito importante, e sua abundância é sinal de bênção. Além disso, ele fala de uma bebida de banquetes, ou seja, o vinho. Este também pode ser símbolo de alegria. O leite é o produto da terra prometida. Todos esses alimentos apresentados são os de melhor qualidade. O anfitrião desse banquete é o próprio Javé. Todos os alimentos citados nesse versículo – o vinho, o leite e o pão – também faziam parte do cardápio de alimentos básicos da dieta dos judeus.
V. 2 – Naquela época, não havia dinheiro em moeda, por isso, conforme Crabtree, a ideia seria pesar a prata que possuíam, pois a prata e o ouro eram utilizados naquele contexto como moeda.
V. 3-4 – O versículo 3 traz um ensino ligado às bênçãos do Senhor, as quais recebe quem se submete à sua vontade. Essas bênçãos dizem respeito à salvação espiritual e não somente à física, salvação esta que não pode ser alcançada sem obediência, pois “escutar” e “ouvir”, nesse contexto, significam obedecer. A aliança que será feita não é um simples acordo. O termo no original diz respeito à obra de Deus para com seu povo. Essa aliança é diferente, ela não terá fim. Dessa forma, é comparada com a aliança de Davi, e a sorte da dinastia de Davi serve de representação para a aliança. Davi, nesse texto, é descrito como aquele que recebe as bênçãos que são transmitidas à sua dinastia e ao povo da nova aliança.
V. 5 – O v. 4 destaca Davi como testemunha aos povos, e o v. 5 destaca o povo de Israel como essa testemunha. No benefício dessa aliança também se destaca que o povo virá a ser testemunha de Javé na história. Deus usaria Israel para chamar os gentios à salvação. Assim, esse versículo é visto por alguns autores como uma predição de que os gentios serão convertidos e se juntarão a Israel por causa de seu Deus. Dessa forma, Deus será glorificado quando as nações, juntas com Israel, estiverem dando a honra ao Senhor.
3. Mensagem
Aquele que te glorifica diz: Vinde!
Um convite para saciar-se é o que pode ser encontrado no texto de Isaías 55.1-5. Nos versículos 1 a 3, o profeta apresenta um convite ao povo para comer e beber sem precisar pagar por isso. O autor mostra que Javé convida todos os que têm fome e sede para receber a provisão necessária, que o Senhor oferece abundantemente e sem custo. Essa bênção do alimento entregue ao povo é resultado de uma relação com Javé. Em vários momentos da história, ele usou a natureza para manifestar seu agrado ou desagrado. Não é possível dizer, hoje, em todos os momentos em que a natureza se manifesta de forma dura, que Deus esteja castigando seu povo, mas no contexto bíblico, em muitos momentos, essa era a realidade.
No texto apresentado, a relação de proximidade com Javé traria muito mais do que apenas benefícios naturais ligados ao físico, ou seja, essa relação era tão pertinente que atingiria as outras nações (v. 4, 5). Conforme o texto, o povo de Javé teria destaque diante das outras nações. O texto afirma que o próprio Javé os glorificaria. Assim…
Aquele que te glorifica diz: Vinde!
Observando o contexto apresentado na introdução, é possível entender que o profeta está falando ao povo e aos líderes que muita coisa parece trazer ou dar sustento, mas, se for avaliado com cuidado, muitos elementos nos quais o ser humano coloca sua segurança acabam sendo ilusão e não satisfazem física ou espiritualmente. O profeta Isaías é claro ao manifestar como e onde é possível buscar satisfação, ou seja, na aliança com Javé. Por isso há um convite para que eles venham e façam uma aliança com Javé. O profeta também mostra o resultado daqueles que fazem uma aliança com Javé.
Talvez seja necessário perguntar qual o motivo para fazer uma aliança com Javé, tendo em vista que havia tantas nações com quem essa poderia ser feita. Por que aceitar tal convite de Javé? O texto elucida algumas razões para a aceitação de tal convite.
1) Porque nele há verdadeira satisfação: o coração do ser humano é enganoso e, por incrível que pareça, em muitas situações difíceis, acaba por fazer exatamente o que não deve. O povo e os líderes descritos aqui no texto de Isaías estavam enganados e gastavam o que tinham em coisas erradas, ou seja, o ideal era o pão, mas gastavam naquilo que “[…] não é o pão […]” e o resultado do trabalho naquilo que não satisfazia. O povo não percebia que estava inserindo em sua vida algo que não o sustentava nem fortalecia. Ele não percebia que precisava daquilo que somente Javé poderia dar, e não as outras nações.
Mas o que acontecia? O texto também responde, a saber: faltavam ouvidos atentos (55.2b,3a). Observe a ênfase no “ouvir” em Isaías 55.2,3. Infelizmente, os descendentes de Davi estavam longe e não lembravam mais dos benefícios a eles prometidos. Quando Javé fosse parte real da vida da nação de Israel, outras nações, não somente ela, seriam beneficiadas. Quando Javé fosse ouvido (obedecido) por seu povo, ele também seria um bom testemunho para as outras nações, inclusive para aquelas que não conheciam Javé.
Nesse processo de encontrar a verdadeira satisfação há um porém: os benefícios para o povo de Javé e os outros povos conhecerem e também glorificarem Javé dependiam tanto de ouvir como de fazer ou aceitar fazer uma aliança com esse Deus. Esse convite é algo urgente, e os resultados ou benefícios físicos ou espirituais são provenientes da relação com Javé.
A ajuda ou salvação que Javé traz, a partir do que é apresentado no texto, não é o que aparece nos capítulos anteriores do livro de Isaías, a saber, a libertação do exílio, mas agora a ajuda diz respeito ao problema que o povo enfrentava e vivia naquele momento. Nesse sentido, o texto de Isaías apresenta um grande desafio, o desafio da aliança, e o povo precisa dar uma resposta. O povo tinha buscado satisfação em muitas coisas erradas. Agora o profeta dá o recado, ou seja, somente Deus poderia trazer a satisfação para o físico e para a alma humana. Depois de longos anos no cativeiro, os exilados seriam saciados e agora poderiam receber as bênçãos de seu Deus; teriam a comunhão espiritual na terra sagrada, Jerusalém. Essa graça estendeu-se e ainda é oferecida a todos os que têm sede espiritual. Mas para isso é preciso aceitar o convite e fazer uma aliança individual com Javé.
2) Porque nele não há acepção e porque ele é quem te glorifica: É isto mesmo, para Javé todos são bem-vindos. Embora seja necessário lembrar que, no contexto da época, o convite era primeiro para seu povo, ainda há um convite especial na contemporaneidade. Nesse sentido, talvez realmente surja a pergunta: mas para quem esse convite é estendido? Logo no início do texto, é possível ler: “Todos vós, os que tendes sede, vinde […], e vós, os que não tendes dinheiro, vinde […]”. Todo aquele que tiver interesse pode fazer uma aliança com Javé, não importa a situação financeira.
Javé pode glorificar seus filhos, mas é importante que seus filhos também o glorifiquem. Em alguns momentos da história, o povo de Israel pode glorificar seu Deus. Um momento especial foi quando Deus libertou seu povo da Babilônia e levou-o de volta para Jerusalém. Isso foi um testemunho para as outras nações, pois assim todos souberam que Javé era Deus e era mais poderoso do que os outros deuses. Assim, Israel pode ser luz para outros povos, e não somente o povo de Israel, mas outras nações também puderam ter proximidade com Javé.
Muito mais do que sustento físico e espiritual, o que pode ser encontrado numa aliança com Javé é algo nem mesmo esperado por muitos: a glorificação. No contexto do mundo antigo, as nações buscavam ser reconhecidas e glorificadas diante de outras, mas somente as que eram fiéis e obedientes, as que se prostravam diante de Javé poderiam receber tal glória, pois nele estava a vitória contra o inimigo. Conforme o texto lido, a partir do momento em que a aliança com Javé acontecia, qualquer povo poderia ser glorificado por ele.
Conclusão: Um convite foi manifesto, quem irá aceitá-lo? O convite para fazer a aliança com Javé é para todos. Ainda que a decisão de aceitá-lo seja individual, não devemos demorar para tomá-la, pois tal convite manifesta a verdadeira graça e amor de Deus. Embora não seja natural para o ser humano receber benefícios gratuitos e da melhor qualidade, o convite feito por Javé é diferente de muitos convites apresentados na contemporaneidade. Esse é confiável, garantido e traz muito mais do que benefícios físicos; ele traz benefícios para a vida espiritual, pois aproxima o ser humano de seu Deus.
4. Imagens para prédica
As palavras de Spurgeon podem ajudar a entender a importância de aceitar o convite feito há tanto tempo pelo profeta Isaías. Spurgeon disse: “Tenho pregado o evangelho de Cristo por muitos anos e jamais conheci alguém que tenha confiado em Cristo e pedido perdão pelos seus pecados e Ele o tenha lançado fora. Nunca me encontrei com um só homem que tivesse sido recusado por Jesus. Tenho conversado com mulheres às quais Ele restituiu a pureza primitiva; com bêbados a quem Ele livrou dos hábitos vis, e com outros culpados de horríveis pecados que se tornaram puros como crianças. Sempre ouço a mesma história: ‘Busquei o Senhor e Ele me ouviu; lavou-me no seu sangue e estou mais branco do que a neve’”.
5. Subsídios litúrgicos
Alguns versículos para auxiliar na liturgia do culto que também falam sobre graça:
– Diz ao Senhor: Meu refúgio e meu baluarte, Deus meu, em quem confio (Salmo 91.2).
– Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve (Mateus 11.28-29).
Bibliografia
CRABTREE, A. R. A profecia de Isaías: texto, exegese e exposição. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1976.
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento. Santo André: Geográfica, 2006.
Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).