Proclamar Libertação – Volume 42
Prédica: Jó 38.1-11
Leituras: Marcos 4.35-41 e 2 Coríntios 6.1-13
Autoria: Roger Marcel Wanke
Data Litúrgica: 5º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 24/06/2018
1. Introdução
O texto previsto para a pregação do culto do 5º Domingo após Pentecostes deste ano se encontra no livro de Jó 38.1-11. Sem dúvida, esse é um dos textos mais curiosos e, ao mesmo tempo, mais sensacionais de toda a Bíblia. O drama de Jó, conhecido dentro e fora do âmbito da igreja, encontra nesse texto o seu ápice.
Deus vem ao encontro de Jó. Não o deixa sem palavras e se revela ao sofredor em meio à sua angústia. Os textos previstos para leituras bíblicas são ambos do Novo Testamento. Também eles falam da situação de angústia e livramento.
Na perícope de Marcos 4.35-41, o evangelista narra, por um lado, o desespero e a angústia dos discípulos ao estarem quase afundando em seu barco, por causa de uma tempestade e, por outro lado, a sua indignação ao verem Jesus dormindo no barco, sem se importar com esse momento de aflição. Marcos narra que Jesus, o Messias, tem autoridade sobre a tempestade. O fato de Jesus se levantar e acalmar a tempestade causa admiração e grande temor nos discípulos, que perguntam:
Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem? (v. 41). O evento narrado por Marcos aponta para a natureza divina de Jesus, que o identifica com Javé do Antigo Testamento, que não apenas é o criador de tudo o que há, mas aquele que tem toda autoridade e controle sobre a sua criação. Já o segundo texto previsto para a leitura bíblica é do apóstolo Paulo.
Em 2 Coríntios 6.1-13, após falar do ministério da reconciliação, Paulo menciona as dificuldades experimentadas nesse ministério da reconciliação. A igreja (nós), como cooperadora (embaixadora) de Cristo, não deve receber a graça de Deus em vão, mas sim assumir seu ministério tanto em circunstâncias favoráveis como em não favoráveis. Nessa direção, Paulo lista uma série de circunstâncias opostas entre si, que qualificam o ministério da reconciliação. Tais circunstâncias são oriundas da própria vivência do apóstolo.
Para Paulo, o que determina sua abnegação ao ministério, apesar de todas as circunstâncias, inclusive as contrárias, é o amor e a graça de Deus, daquele que estava em Cristo reconciliando consigo o mundo (dimensão cósmica – 2Co 5.19) e daquele que não conheceu pecado, mas foi feito pecado por nós, pelo próprio Deus, para que nele fôssemos feitos justiça de Deus (dimensão antropológica – 2Co 5.21). Porque Deus estava em Cristo reconciliando o mundo consigo, pode haver redenção tanto para o ser humano como para a criação. A perícope prevista para a pregação e essas mesmas leituras bíblicas foram já apresentadas em Proclamar Libertação 25, por Almir dos Santos, em 1999 (p. 221-225).
2. Exegese
Dois grandes discursos de Deus dão respostas a Jó em seu sofrimento e em sua angústia (Jó 38-39 e 40-41). Eles formam o ápice literário e teológico de toda a história do homem de Uz (Edom). Já não era sem tempo, diriam alguns hoje.
Deus parece vir sempre atrasado quando o ser humano clama por seu socorro. O livro de Jó, uma das mais belas obras da literatura sapiencial do Antigo Oriente e do Antigo Testamento, apresenta o justo e servo Jó em grande conflito com o seu Deus por causa de uma série de sofrimentos sem causa. Jó experimenta as perdas mais dolorosas da vida de um ser humano, mas se coloca diante de seu Senhor em perseverança, contra sua fé e contra sua razão, clamando para que Deus apareça e lhe dê as respostas e, ao mesmo tempo, compareça em seu julgamento.
Deus vem. Sua chegada, ansiosamente esperada por Jó, acontece de forma inusitada e bem diferente do que se esperava. O livro, até então, além do sofrimento e da postura de Jó narrou seus diálogos com seus três amigos: Elifaz, Bildade e Zofar, bem como com um quarto amigo, chamado Eliú, que parece ter “furado a fi la” para chegar antes de Deus no evento. Com essa série de diálogos, o autor do livro de Jó torna o drama de Jó insuportável, ao ponto do leitor ora se compadecer de Jó,
ora concordar com os amigos, ora lamentar e sofrer junto com Jó, ora condená-lo junto com os amigos. Fato é que, em todo o enredo do livro, o leitor é tentado a se posicionar ou em favor de Jó e suas razões, ou em favor do argumento dos amigos.
Quando não há mais o que dizer, todos, Jó, seus amigos e os leitores do livro de Jó, se fazem uma única pergunta: onde está Deus, afinal de contas, que ainda não se manifestou? Todos os personagens envolvidos, inclusive você e eu, leitores do livro, estamos na expectativa de saber o que Deus vai dizer de toda essa situação. Que respostas Deus tem para as perdas e para o sofrimento de Jó? Quem terá razão no final, Jó ou seus amigos? Deus vem! Mas vem diferente do que o esperado.
O texto diz que Deus vem e responde a Jó a partir da tempestade (38.1). O termo usado para tempestade expressa um vendaval, um vento forte e furioso, que espalha tudo o que há pela sua frente (2Rs 2.1; Jr 23.19; Zc 7.14). Esse fenômeno meteorológico é na Bíblia muitas vezes utilizado para descrever a teofania divina (1Rs 19.12; Sl 18.8-16; 50.3; Ez 1.4; Na 1.13). Ele aponta tanto para a distância e grandeza de Deus quanto para a sua indescritível presença, sem, contudo, automaticamente ser sinal de ira e juízo de Deus. Abalos sísmicos e cósmicos, bem como a admiração e o medo do ser humano são típicas reações dessas teofanias. No entanto, em todas elas e também aqui nesta perícope, o que se percebe é que a revelação de Deus e sua presença significam ao ser humano o voltar-se gracioso e salvador de Deus, que vem para livrá-lo de sua angústia (cf. Sl 18).
Deus vem de forma graciosa até Jó. Isso se manifesta também pelo fato de Deus não acusar Jó de algo. Diferente de Elifaz, que se aproximou de Jó com uma lista de pecados (Jó 22), Deus não atribui a Jó falta alguma. Só esse fato já indica que os amigos de Jó e sua doutrina da retribuição estavam equivocados. Deus fala com Jó. Deus tem palavras para Jó, diferente de seus amigos, que no início não sabiam o que dizer-lhe diante de tamanho sofrimento (Jó 2.13) e, durante os diálogos, apenas disseram palavras de acusação e condenação ao amigo sofredor. Deus não acusa Jó, mas também não lhe explica a razão de seu sofrimento.
O que acontece na cena do céu (Jó 1.6-12; 2.1-7) não é revelado a Jó. Os questionamentos de Jó não são respondidos por Deus, como era de se esperar diante de um julgamento, lembrando que Jó, ao final, chamou Deus de réu e o convocou para o tribunal (Jó 13 e 31). Pelo contrário, Deus é quem questiona Jó. Uma série de perguntas retóricas é lançada (como uma metralhadora) sem parar ao miserável e encarquilhado Jó. Ao todo, considerando os dois discursos de Deus (Jó 38-41), são feitas 70 perguntas retóricas a Jó, que só pode dar uma única resposta a Deus: “Não sou eu”.
No contexto de sofrimento, muitas são as perguntas que o ser humano faz: por quê? Como? Onde? Para quê? Nesse contexto, Deus tem uma pergunta diferente: Quem? Esse pronome interrogativo aponta para a soberania de Deus em meio ao sofrimento. Por trás dele está a pergunta: quem está no controle de todas as coisas? Aqui se pergunta pela identidade de Deus Esse “quem” inicia a primeira pergunta retórica feita pelo Senhor diretamente a Jó: Quem é aquele que torna em trevas o meu conselho com palavras sem entendimento? Aqui, por sua vez, pergunta-se pela identidade do ser humano. O conselho de Deus é algo que remete à tradição sapiencial e pode significar as decisões de um sábio. Ao ser de Deus, esse conselho aponta também para os seus planos, que são cumpridos e executados plenamente (Sl 33.11; 119.24; 2Rs 18.20; Is 46.11; 1Cr 12.20). Jó sabe dos planos de Deus e que eles são executados e cumpridos. Jó sabe que o que Deus decide acontece. Em Jó 12.13-16 ele deixa claro que o conselho de Deus é como o próprio Deus, ou seja, soberano.
Somente Deus tem poder de concretizar o seu plano, conforme o seu conselho e sua decisão. Ao ser humano isso permanece oculto. A sabedoria deste mundo não tem condições de compreender a sabedoria de Deus. Em outras palavras, dizemos que Deus sempre sabe o que é melhor para nós, mesmo que para nós seja difícil de compreender. No texto em estudo, Deus diz que Jó está obscurecendo esse conselho, esse plano de Deus, justamente porque ele fala sem entendimento. Já Eliú, o quarto amigo, havia dito que Jó falava sem entendimento (Jó 34.35; 35.16). Entendimento é outro termo típico da tradição sapiencial. Ele se refere às questões profundas da vida, aquelas que a mera observação superficial não dá conta de compreender. É como cavar bem fundo para ver o que há nas mais profundas camadas da terra. É como querer perscrutar algo olhando em um microscópio.
Entendimento, conforme a tradição sapiencial, só tem aquele que enxerga por detrás dos fenômenos que acontecem na vida e os compreende porque reflete com profundidade sobre eles. Deus diz a Jó que este está transformando o conselho daquele em trevas, por não saber com profundidade do que está falando. Jó, assim como todo o ser humano, só consegue ver o seu sofrimento. Deus é o único que pode enxergar para além do sofrimento e o que está por trás do sofrimento.
Diante dessa constatação, Deus dá um desafio a Jó: Cinge, pois os lombos como homem, pois eu te perguntarei, e tu me farás saber (v. 3). Cingir os lombos é uma linguagem que vem do contexto militar. O texto da vocação do profeta Jeremias pode ser usado aqui como um paralelo (Jr 1.17): Tu, pois, cinge os lombos, dispõe-te e dize-lhes tudo quanto eu te mandar; não te espantes diante deles, para que eu não te infunda espanto na sua presença. Deus desafia, dessa forma, Jó a estar preparado para responder aos questionamentos que agora tem para ele.
Tanto para Jeremias como para Jó o desafio de Deus de cingir os lombos é um desafio a não temer. Jeremias, como profeta, não precisa temer os seus ouvintes. Jó não precisa temer os questionamentos de Deus ao ser seu ouvinte nesse grande discurso, que vem do meio da tempestade. Na verdade, Jó está agora onde queria desde o início de seus lamentos: diante de Deus (cf. 9.34-35; 13.3, 18-22; 23.3; 31.35-37). Deus veio ao seu encontro. Deus não o deixou sem palavras. Mas Deus deixa bem claro que ele é Deus. Jó, porém, deve chegar-se diante de Deus como “homem”. O texto hebraico usa um termo também militar: “homem valente, homem forte, vigoroso, herói, campeão” (gibbor). Assim, nesses termos, Deus está chamando Jó para uma disputa (linguagem militar). Essa formulação pode ser entendida, inclusive, como irônica.
Uma disputa entre Deus e o ser humano, mesmo que esse seja chamado de “homem valente”, será sempre uma disputa entre pares desiguais. No entanto, ao chamar Jó de valente e forte, Deus destaca aqui sua coragem em lutar. Deus aceita esse desafio sem condená-lo, sem proibi-lo. O ser humano, mesmo que não seja “como Deus” (cf. Jó 40.9), pode lutar com Deus em seu sofrimento. O interessante é que Deus transforma essa disputa em instrução. Essa instrução é o conteúdo central dos dois discursos de Deus, no final do livro de Jó. O primeiro discurso (Jó 38.1-39.30) é uma instrução sobre o cosmo e a ordem da criação, no qual Deus fala do espaço criado por ele neste cosmo (38.4-38) e dos seres que nele habitam (38.39-39.30). Parte da perícope para a pregação se encontra exatamente no início dessa instrução sobre o cosmo. Vejamos alguns detalhes. Os v. 4-11 se concentram na criação do cosmo, especificamente, a criação da terra (v. 4-7) e a criação dos mares (v. 8-11). Em forma de hino, Deus vai instruindo Jó retoricamente sobre a fundação do mundo. O fato de Deus criar a terra e o seu fundamento é parte fundamental da tradição sapiencial e hinológica do Antigo Testamento (cf. Sl 24.2; 89.12; 104.5; Pv 3.19). O pronome “quem” do v.2, utilizado por Deus para se referir a Jó, contrasta fortemente com o que é usado por Deus para falar dele mesmo nos v. 4-7 ao se referir àquele que criou a terra e os seus fundamentos. Assim, Deus leva Jó a fazer distinções, em primeiro lugar entre Deus como criador e Jó como criatura. Essa distância entre criador e criatura é essencial para o temor do Senhor, princípio básico da sabedoria bíblica (Pv 9.10; Jó 28.28).
Essa distinção leva Jó a refletir sobre o seu entendimento acerca da ordem da criação. Por isso Jó só pode dar uma única resposta a Deus à pergunta por quem está por detrás da criação da terra e de seus fundamentos: Deus, somente Deus. A isso Jó responde mais tarde: na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia (Jó 42.3). Um segundo tema é abordado por Deus em forma de pergunta retórica para ajudá-lo a refl etir sobre a ordem da criação: a criação do mar. No Antigo Testamento e também no Antigo Oriente, o mar representa um poder caótico, uma forte ameaça à vida humana. Contudo, em seu discurso a Jó, Deus deixa claro que pôs limites para o mar (portas – v. 8). Também aqui, por meio de sua Palavra, Deus diz ao mar: “Até aqui virás e não mais adiante, e aqui se quebrará o orgulho das tuas ondas” (cf. Sl 104.6-9; Pv 8.29; Jr 5.22).
Fica evidente o uso das perguntas retóricas, que não tem como função esperar uma resposta clara, mas sim trazer um fato à tona, que leva o ser humano à seguinte reflexão: a criação é obra somente de Deus. Jó tem os seus horizontes alargados por Deus, que não apenas pode enxergar o que não se vê, mas também aquilo que lhe é estranho e misterioso: os fundamentos da terra e dos mares.
Podemos perceber três aspectos importantes da instrução de Deus a Jó, a partir desta perícope:
a) Percepção da criação: O caos faz parte da criação de Deus, mas tem seu limite posto pelo próprio Deus. O caos não é inimigo da criação, mas vencido por Deus. O discurso de Deus, em sua totalidade, não apresenta um mundo idílico e sem problemas. Pelo contrário, mostra que a vida do ser humano diante de Deus é possível apesar de sua ambivalência, contraste e limites.
b) Percepção do Criador: Em sua revelação a Jó, como Criador, Deus deixa claro a sua distância, por um lado, à criação e, por outro, ao ser humano. Deus é Deus, o ser humano e a criação não são deuses. Essa distinção preserva a identidade de Deus contra toda e qualquer tentativa de qualificar Deus. O conceito de Deus no livro de Jó exclui toda imagem que se tenta fazer de Deus (Das Gottesbild im Hiobbuch schliesst alle Bilder Gottes aus – Wanke, 2013, p. 369). Isso explica teologicamente o que o pronome “quem” expressa gramatical e sintaticamente.
c) Percepção da criatura: Diante de Deus, em meio à tempestade, sendo levado pelo próprio Deus a refletir sobre “quem” Deus é, Jó acaba refletindo e chegando à conclusão de “quem” ele, ser humano, é. Jó reconhece que Deus é o Senhor. Ele, porém, é ser humano e limitado. O ser humano não é o centro do mundo, e adquire através dessa instrução divina a certeza de que existe ordem no mundo mesmo quando o sofrimento parece prevalecer. Assim, o discurso de Deus a Jó (não apenas esses versos previstos para a pregação) aponta para o limite entre a vida e tudo aquilo que a ameaça e dá a certeza de que Deus mesmo, por um lado, colocou esse limite e, por outro, é esse próprio limite. Por isso, diante de Deus, a experiência da abscondicidade marcada muitas vezes pela realidade de sofrimento humano não é excluída da vida do ser humano e do seu encontro e confronto com Deus. Também ela, porém, serve para o seu conforto.
3. Meditação
A realidade do sofrimento humano perpassa a história da humanidade. Muitas pessoas, nesse contexto, fazem a pergunta: onde está Deus? Neste texto, no entanto, percebemos que o foco não está, num primeiro momento, na pergunta pela presença de Deus, mas sim na identidade de Deus: “Quem?”. Interessante é perceber que essa mesma ênfase aparece no texto de Marcos 4. Após ter exortado o vento e acalmado a tempestade, os discípulos de Jesus estão admirados e perguntam: Quem é este, que até o vento lhe obedece?. Como vimos, a disputa de Deus é transformada pelo próprio Deus em instrução. Essa instrução, típica da tradição sapiencial, tem como objetivo levar o ser humano à reflexão e à certificação, ou seja, à certeza de que Deus está presente e no controle de todas as coisas, mesmo quando o ser humano não consegue compreender tudo o que está por trás dos planos de Deus e da ordem de sua criação. A vinda de Deus para o confronto com Jó, a fi m de lhe trazer conforto, é sinal de sua graça.
Por mais sábio ou experiente que seja o ser humano, ele nunca terá palavras para consolar aquele que sofre. O sofredor necessita das palavras que vêm do próprio Deus. Jó não se sentiu consolado por seus amigos, nem encontrou consolo em si mesmo. O consolo teve que vir de Deus, que se revelou, vindo ao seu encontro em confronto e conforto, em meio à tempestade. A pregação não deve buscar dar respostas à realidade do sofrimento humano, mas sim apontar para a vinda de Deus em meio à tempestade, causada pelo sofrimento humano. O texto quer assegurar, dar certeza ao ser humano, que mesmo diante de situações de catástrofes, angústias, sofrimento e morte, Deus está no controle. Ele teve a primeira palavra ao criar este mundo, os fundamentos da terra, o mar e o próprio ser humano. Ele tem as palavras que trazem a ordem onde há o caos, a graça onde há a desgraça. Ele tem a última palavra, que traz redenção ao ser humano e a este mundo, que lhe pertencem; em Jesus Cristo tem autoridade também sobre as tempestades. Somos assegurados que o nosso sofrimento não tem a última palavra sobre as nossas vidas. Sugestão homilética: A perícope tem uma intenção poimênica e pedagógica.
Assim poderia ser também a direção da pregação. Tema da pregação: Deus está comigo no meio da tempestade
1. O ser humano experimenta sofrimentos (tempestades)
1.1 Os sofrimentos na vida do ser humano
1.2 As tempestades tendem a querer nos derrubar
1.3 Em meio ao sofrimento, sentimo-nos sozinhos e desamparados
1.4 Pergunta: onde está Deus?
2. Deus vem e confronta o ser humano em seu sofrimento
2.1 Deus vem no meio da tempestade
2.2 Deus não vem para o julgamento, mas com sua graça
2.3 Deus mostra ao ser humano que este não é capaz de compreender os
seus propósitos eternos
3. Deus vem e conforta o ser humano em seu sofrimento
3.1 Deus mostra ao ser humano quem está no controle de todas as coisas
3.2 Deus tem palavras para o ser humano sofredor
3.3 Em Jesus Cristo, Deus venceu o sofrimento
4. Imagens para a prédica
Com o auxílio de projetor (data show), fotos com cenas do sofrimento humano podem ser mostradas para iniciar a pregação, que pode iniciar com a famosa frase: onde está Deus diante dos sofrimentos e das “tempestades” da vida? Em muitas palestras sobre o livro de Jó que eu, pessoalmente, tenho feito em comunidades e sínodos, apresento algumas imagens do sofrimento humano em power point e coloco como música de fundo, o hino “Deus está presente” (HPD 1, 124).
A letra do hino é projetada junto com as imagens. A ideia é reforçar o paradoxo entre a letra do hino e as imagens vistas. Esse contraste ilustra o diálogo de Deus com Jó nos capítulos finais do livro (Jó 38-42) e o contraste da experiência do ser humano em seu sofrimento. O hino pode ser também cantado com a comunidade, enquanto as imagens são mostradas. O efeito é provocar na comunidade a reflexão acerca da certeza da presença de Deus, mesmo em meio a contextos de dor e sofrimento. A primeira estrofe do hino 124 deveria ser repetida ao final e a última imagem a ser mostrada deveria ser da cruz, para se encaixar com a última frase do hino: “Vinde ao Pai clemente!”. Assim, ficaria evidente, pedagogicamente, o convite de Deus a Jó e o consolo. Na cruz de Jesus Cristo, toda pessoa sofredora pode encontrar-se diante do seu sofrimento.
5. Subsídios litúrgicos
Como dito anteriormente, o tema deste culto tem um caráter mais poimênico e didático, por conta da natureza do texto bíblico previsto para a pregação. Liturgicamente, esses dois elementos poderiam ser bem explorados. No aspecto poimênico, o momento do Kyrie na liturgia do culto cristão tem essa função de interceder pelas dores deste mundo. Situações atuais de sofrimento e dor podem ser projetadas, comentadas ou, ainda, testemunhadas por pessoas da comunidade; após cada um desses momentos pode-se cantar o hino “Pelas dores deste mundo, ó Senhor”.
Vejamos algumas sugestões para a liturgia do culto:
Liturgia de entrada: No início do culto pode ser cantado o hino “Deus está presente” (HPD 1, 124).
Kyrie: já foi abordado anteriormente.
Liturgia da Palavra: Após a leitura do texto previsto de Marcos 4.35-41, pode-se cantar o hino 98: “Qual barco singra pelo mar” (HPD 1). Esse hino apresenta um aspecto mais comunitário, comparando a igreja de Jesus a um barco que navega em meio ao temporal e que confia no amparo e no guiar de Deus. Após a leitura do texto apostólico de 2 Coríntios 6.1-13 e antes da pregação, pode-se cantar o hino 97: “Deus é castelo forte e bom”. Após a pregação sugere-se cantar o hino 221: “Senhor, porque me guarda a tua mão”.
Ou, ainda, do mesmo hinário o número 216: “Se as águas do mar da vida”.
Liturgia de despedida: Ao final do culto sugere-se cantar o hino 118: “Deus vos guarde pelo seu poder”. O hino expressa a bênção e aponta para o poder e cuidado
de Deus.
Observação: Na ocasião da elaboração deste auxílio homilético, o novo hinário da IECLB ainda não havia sido publicado. Por isso sugere-se procurar no novo hinário os mesmos hinos ou outros, compatíveis com a temática da pregação.
Bibliografia
SCHWIENHORST-SCHÖNBERGER, Ludger. Um Caminho através do sofrimento. O Livro de Jó. São Paulo: Paulinas, 2011.
WANKE, Roger Marcel. Praesentia Dei. Die Vorstellungen von der Gegenwart Gottes im Hiobbuch. Berlin; Boston: De Gruyter, 2013.
Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).